quinta-feira, 28 de maio de 2009

Contando causo(3)

Getúlio
*Apparicio Silva Rillo


Quando Getúlio Vargas praticamente exilou-se na sua estância do Itu - enquanto país afora crescia o movimento do "queremismo" -, gente de todos os quadrantes chegava para visitar o caudilho gaúcho. Políticos, em especial; jornalistas em regular quantidade; velhos amigos seus de São Borja e adjacências e, de inhapa, toda uma variada malta de curiosos.
Dentre esses, certa feita, um repentista do Norte. Cara chata, violinha à mão, calça corrida e chapéu de vaqueiro, era uma figura que contrastava com a peonada da estância, capataziada pelo mulato Aristeu.
Chegou, depois de dois meses de caronas, na carroçeria de um caminhão de carga. A segurança do ex-presidente . gente de sua estrita confiança - passou a limpo, em dois tempos, a identidade e intenções do nordestino. Concluíram, logo, que não passava de um pobre diabo que tinha como ofício a garganta sempre pronta para o improviso em versos. Ademais, getulista ferrenho. Seu pai, já falecido, teria sido - segundo suas palavras - admirador de João Pessoa, um dos artífices da Aliança Liberal; por conseguinte, também Getúlio Vargas, "pescador da mesma jangada".
O ex-presidente mandou que liberassem o cabeça-chata; que ficasse pelos galpões do Itu, divertindo com seus versos e emboladas,a peonada e os visitantes.
O doutor Getúlio costumava, quando em quando, churrasquear no galpão, entreverado com os que o visitavam, sem discriminar a ninguém.
Foi numa dessas oportunidades que sucedeu a chegada, na estância, de um trovador famoso de Santiago do Boqueirão. Pilchado a preceito, tocador de gaita de oito baixos, tinha realmente qualidades o santiaguense. Estando Getúlio no galpão, aguardando que Aristeu lhe trouxesse o assado que mais apreciava, o gaúcho abriu o peito, improvisando versos laudatórios.
Alguém lhe disse que ali estava um trovador do Norte, que cantava como gente grande. Quem sabe se um desafio, confrontando os dois? Foi upa e teve! Chamaram o nordestino e o santiaguense, de saída, abriu o peito:
-Você que vem lá do Norte,
terra de secas amargas,
me diga na relancina
sem ficar na retaguarda,
qual a maior qualidade
do doutor Getúlio Vargas.

Palmas e vivas para o gaúcho. O nordestino esperou a volta da gaita e respondeu, na sua voz com timbres de araponga:
O doutor Getúlio Vargas,
sem lhe fazer desacato,
é esperto como um jegue
aqui lhe deixo o retrato:
tira o carpim de seu pé
sem descalçar o sapato!

O doutor Getúlio sorriu em meio dos aplausos. E antes que o desafio descambasse - trovador é bicho atrevido - mandou servir o churrasco.

Últimas Ceias

Aliás, por falar em Yeda, bem feito, Yeda! Social-democrata, socialista tucano, tem que se ralar nas mãos totalitárias de Tarso Genro e Berzoini e seus berrantes. Vou morrer denunciando que foram os socialistas róseos tucanos que destruíram a Educação no Brasil. Yeda já foi útil ao socialismo, agora pode ser jogada fora. E vai ser. A próxima defenestração será a do DEM, o novo Judas do povo brasileiro.

Uma semana inteira de aflições, notícias ruins, presságios maus. Sem trégua, a agenda comunista avança. Nada fica no seu caminho. Nós não somos esse nada, mas nossas palavras não ecoam mais nessa guerra assimétrica. Depois da bolsa-família para os criminosos do MST; da passeata dos toxicômanos do ministro do Lula; das leis negras de Nuremberg; do circo da CPI da Petrobrás; da “legitimidade” homofóbica, a ameaça maior da semana é a da idéia requentada do terceiro mandato de Lula. Os lacaios integrantes da gang governista, como Fernando Marroni, acorrem à mídia sequiosa, receptiva, quase prostituta corintiana, urrando que a legitimidade (o povo na rua do juiz Barbosa) é maior que a legalidade. Mas legalidade de quem, se acabei de citar um deles da Suprema Corte? Há uma penca deles, quase todos lacaios do Tarso Genro o schmittiano-chefe. Carl Schmitt deixou herdeiros (de qualidade bem inferior, é claro) no Brasil. Para esses a legalidade, o normativismo positivista, vale menos do que odecisionismo sociológico, aquele que ouve a voz rouca das sarjetas e dos demagogos tipo Hitler, Lula, Mussolini, Hugo Chávez e outros tantos aprendizes de feitiçaria. Aqui no Brasil apóiam-se nas pesquisas de opinião que eles mesmos mandam fazer apelando à “legitimidade” e à popularidade do Lula. E se a pesquisa ainda assim dá o contrário do que queriam, eles vão em frente e atropelam a opinião pública. Para isso contam com o Congresso todo, com a mídia quase completa (o apoio da mídia só não é completo porque temos que contar também os que estão calados), com a Igreja Católica quase toda (há os silenciosos obsequiosos e jubilados), com os movimentos criminosos todos. A vox populi socialista não permite desafinados – quem piar contra é cortado da orquestra! A voz rouca das sarjetas, das universidades do PROUNI, da Educação à distância, da Moral à distância, dos presídios, das favelas companheiras e dos manicômios sociais engajados, são mais importantes para fantoches lacaios como Fernando Marroni que a Lei; essa coisa incômoda de crimes e criminosos, de códigos penais. Lei para quê, se o povo pode decidir plebiscitariamente em favor da ditadura eterna da corruptocracia do governo do PT? Lei para quê? Para ameaçar a Febre Vermelha de Lula ou sua gripe asinina?

A manobra do terceiro mandato ainda serve a outro propósito: esfriar o caso mensalão, lembrando a cada momento ao Supremo que alguns dos seus pares têm capangas a soldo, e outros uma inveja danada deste poder. Nesse clima protototalitário, com plena vigência do estado policial gestapiano intimidador de Tarso, não tenho dúvidas que o terceiro mandato prosperará nesse país de covardes e vendidos. A inteligentzia de Tarso Genro tem que ter sua eficiência reconhecida. Não é coincidência que a CPI da Yeda Cruzius ocorra no mesmo instante da CPI da Petrobrás. Quia bono? Ora, meus amigos...

É também o melhor momento para vermos como opera a mídia, como ela é mestra em botar lenha no churrasco do Lula – melhor se chamaria Mídia do Torto! Isso é que é mídia amiga: assa a carne e edita até as moscas! Aqui no RS, na RBS, por exemplo, a CPI da Yeda já foi batizada de CPI da Corrupção. Tem até cheiro de champagne, provavelmente da mesma marca saboreada quando do 11 de setembro. Ou é cheiro de saliva?

Aliás, por falar em Yeda, bem feito, Yeda! Social-democrata, socialista tucano, tem que se ralar nas mãos totalitárias de Tarso Genro e Berzoini e seus berrantes. Vou morrer denunciando que foram os socialistas róseos tucanos que destruíram a Educação no Brasil. Yeda já foi útil ao socialismo, agora pode ser jogada fora. E vai ser. A próxima defenestração será a do DEM, o novo Judas do povo brasileiro. Em breve assistiremos à última ceia do DEM e dos tucanos e peemedebistas trouxas que trabalham para as agendas revolucionárias do big (brother) government de Lula et caterva.

Por isso comecei o texto falando em aflições, em notícias ruins para o Brasil e o RS. Pior, não para o Brasil de hoje, porque o país que está no prejuízo total é o Brasil do passado e o do futuro; o do presente não está nem aí. Melhor digo, anestesiado e intoxicado pela dissonância cognitiva de quem nem separa mais a água do óleo, e vota em ladrões confessos, o Brasil dos nossos dias é uma desolação moral completa. Não há vacina contra a Gripe Vermelha. Não há esperança. É hora dos místicos. Dos salvadores e dos profetas. Chegou a hora da quimioterapia divina. Mas ainda assim temos que dar uma geral nos textos sagrados, nas rezas, e revistar anjos e demônios.

Por falar nisso, a cultura informa que os anjos se corromperam de vez e que os demônios estão ganhando de goleada – até já mostram algum enfado. As emoções novas para o grande público praticamente acabaram. Só resta o cinema. A mídia torta tem que se desdobrar para continuar alimentando o caldeirão de confusão onde somos fervidos. Fabrica CPIs enquanto nos distrai com a continuação do Código da Vinci. Como isso ainda vai operar um tempo enorme, sendo suficiente para mais uns três ou quatro mandatos de Lula, eu já estou preparado – que outros sejam os revelados de João.

Por falar em bestas apocalípticas, quanto à Dilma (Vanda, Estela) Roussef e seu linfoma, a minha opinião ainda não está formada: eu gostaria muito de botar os olhos naquele exame anátomo-patológico e naquele câncer revolucionário para ver até onde pode chegar a Gestapo do Tarso Genro e sua central de falsos atentados. Por que não inventariam um anátomo-patológico convidativo para um terceiro mandato do führer de Garanhuns? Um lembrete aos amigos: parem de propagar pela internet aquela foto da Dilma no DOPS: assim, até o câncer dela termina e ela pede aumento na indenização. Não se esqueçam que somos nós que pagamos tudo.

Homem Vitruviano

Homem Vitruviano (desenho de Leonardo da Vinci)

Homem Vitruviano
Leonardo da Vinci, 1490
Lápis e tinta sobre papel
34 × 24 cm
Gallerie dell'Accademia

O Homem Vitruviano é um desenho famoso que acompanhava as notas que Leonardo da Vinci fez ao redor do ano 1490 num dos seus diários. Descreve uma figura masculina desnuda separadamente e simultaneamente em duas posições sobrepostas com os braços inscritos num círculo e num quadrado. A cabeça é calculada como sendo um oitavo da altura total. Às vezes, o desenho e o texto são chamados de Cânone das Proporções.

O desenho actualmente faz parte da colecção/coleção da Gallerie dell'Accademia (Galeria da Academia) em Veneza, Itália.

Examinando o desenho, pode ser notado que a combinação das posições dos braços e pernas formam quatro posturas diferentes. As posições com os braços em cruz e os pés são inscritas juntas no quadrado. Por outro lado, a posição superior dos braços e das pernas é inscrita no círculo. Isto ilustra o princípio que na mudança entre as duas posições, o centro aparente da figura parece se mover, mas de fato o umbigo da figura, que é o verdadeiro centro de gravidade, permanece imóvel.

O Homem Vitruviano é baseado numa famosa passagem do arquitecto/arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio na sua série de dez livros intitulados de De Architectura, um tratado de arquitetura em que, no terceiro livro, ele descreve as proporções do corpo humano:

  • Um palmo é a largura de quatro dedos;
  • Um é a largura de quatro palmos;
  • Um antebraço ou cúbito é a largura de seis palmos;
  • A altura de um homem é quatro antebraços (24 palmos);
  • Um passo é quatro antebraços;
  • A longitude dos braços estendidos de um homem é igual à altura dele;
  • A distância entre o nascimento do cabelo e o queixo é um décimo da altura de um homem;
  • A distância do topo da cabeça para o fundo do queixo é um oitavo da altura de um homem;
  • A distância do nascimento do cabelo para o topo do peito é um sétimo da altura de um homem;
  • A distância do topo da cabeça para os mamilos é um quarto da altura de um homem;
  • A largura máxima dos ombros é um quarto da altura de um homem;
  • A distância do cotovelo para o fim da mão é um quinto da altura de um homem;
  • A distância do cotovelo para a axila é um oitavo da altura de um homem;
  • O comprimento da mão é um décimo da altura de um homem;
  • A distância do fundo do queixo para o nariz é um terço da longitude da face;
  • A distância do nascimento do cabelo para as sobrancelhas é um terço da longitude da face;
  • A altura da orelha é um terço da longitude da face.

Vitrúvio já havia tentado encaixar as proporções do corpo humano dentro da figura de um quadrado e um círculo, mas suas tentativas ficaram imperfeitas. Foi apenas com Leonardo que o encaixe saiu corretamente perfeito dentro dos padrões matemáticos esperados.

O redescobrimento das proporções matemáticas do corpo humano no século XV por Leonardo e os outros é considerado uma das grandes realizações que conduzem ao Renascimento italiano.

O desenho também é considerado frequentemente como um símbolo da simetria básica do corpo humano e, para extensão, para o universocomo um todo. É interessante observar que a área total do círculo é idêntica 'a área total do quadrado e este desenho pode ser considerado um algoritmo matemático para calcular o valor do número irracional phi (=1,618).

O ovo da serpente

Fernando Henrique Cardoso e seus seguidores socialistas serão os autores originais desse mal que ficará como nódoa por muito tempo na Nação brasileira, de fabricar-se o racismo com sinal trocado. O discurso da igualdade suportando o seu contrário semeou o germe da discórdia racial que terá desdobramentos imprevisíveis e de nenhuma forma positivo.

Sábado, 23, rodando os canais da TV no fim de noite, deparei-me com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fazendo o discurso de paraninfo da turma de formandos da faculdade de Administração Zumbi dos Palmares. O ex-presidente sublinhou na sua fala o mantra que está na boca de todos os socialistas, que é aquele cunhado por Rousseau: igualdade. O discurso até seria bonito se diante da câmara não tivéssemos precisamente o contrário da igualdade: um universo predominantemente de pessoas da raça negra. Eu me perguntei: onde a igualdade? Vi ali muitas exortações ao racismo oficial. Mas quero me referir aqui não à escola, mas ao discurso. FHC é um legítimo representante da nossa elite, seja ela a política, a econômica ou a acadêmica. Um discurso dessa natureza na boca de FHC merece um único adjetivo: demagogia. Toda a nossa política, desde 1985, tem sido isso, a demagogia pura e crua nascida dos delírios do genebrino. E, quando referida ao problema racial, essa demagogia resvala para o mais perigoso e contrário à realidade nacional: as tais políticas afirmativas, que têm feito aqui precisamente o contrário da busca da igualdade. Estamos a construir os muros dos guetos do apartheid social, não os mecanismos da igualdade.

Fernando Henrique Cardoso e seus seguidores socialistas serão os autores originais desse mal que ficará como nódoa por muito tempo na Nação brasileira, de fabricar-se o racismo com sinal trocado. O discurso da igualdade suportando o seu contrário semeou o germe da discórdia racial que terá desdobramentos imprevisíveis e de nenhuma forma positivo. A serpente inteira que está contida nesse ovo de peçonha. A figura do ex-presidente, a discursar esse monte de mentiras políticas, me fez lembrar do filme de Ingmar Bergman sobre a gênese do nazismo. O mesmo fermento do rancor, o mesmo populismo que permitiu que a figura nefasta de Hitler emergisse para o seu epílogo sangrento.

Não posso deixar de pôr nos ombros do ex-presidente a máxima responsabilidade sobre o que vier a acontecer. Ele tem os meios de saber que essa demagogia está prenhe dos piores propósitos. Mais que ninguém ele sabe que as ideais de Rousseau são imorais e irracionais. Ele sabe que tudo que é revolução, desde o século XVIII, congregou lunáticos berrando pela igualdade de fato, quando na verdade a igualdade única possível é a igualdade diante da lei, aquela defendida por Locke. Esses revolucionários mataram muita gente. Nesse sentido, tanto quanto Rousseau, FHC é um sociopata, um maluco que passa por bom mocinho e que tomou o comando da política nacional. De um ovo de serpente só pode nascer uma serpente, já pronta para realizar sua missão maléfica no mundo.

Não há qualquer atenuante para FHC. Ele tem plena consciência intelectual dos seus atos. Não percebo nele nem mesmo a fé dos acólitos dos delirantes seguidores de Rousseau, percebo o oportunismo daqueles que fizeram da política o seu vício mais devastador.

O discurso de FHC deve ser ouvido e estudado. É o silvo da serpente que se arrasta sobre a terra. Para se saber o caráter de alguém basta lhe perguntar o que pensa sobre Rousseau. FHC o disse e repetiu. É a amoralidade personificada.

domingo, 24 de maio de 2009

CPI da Petrobrás


Diogo Mainardi

Eu pedi a CPI da Petrobras. Ela saiu. E saiu, em parte, porque denunciei o acobertamento de um relatório da PF sobre um esquema de fraudes da ANP, envolvendo Victor Martins. O relatório tem outros nomes e outros fatos que precisam ser investigados. Se os membros da CPI quiserem, mando-o imediatamente. Alguém quer?

Nos últimos dias, reli meus artigos sobre a Petrobras. Muitos deles acusam o PT de usar o dinheiro da estatal para bancar seu projeto partidário. O setor em que isso é mais simples de se demonstrar é o da publicidade. Se os senadores se interessarem pelo assunto, basta comparar os gastos em propaganda da Petrobras ao de qualquer outra grande empresa de capital aberto. Já posso adiantar o resultado: a Petrobras beneficiou ostensivamente os apaniguados do petismo na propaganda e na imprensa.

Em 27 de setembro de 2006, quando a IstoÉ publicou aquela reportagem comprada pelos aloprados, eu disse o seguinte:

Os gastos em publicidade da Petrobras competem somente a ela mesma. O presidente manda. O jornalista publica. O contribuinte paga. Mas nunca fica sabendo onde foi parar o tutu. É o esquema perfeito. AIstoÉ foi acusada por seu próprio editor de ter vendido a matéria de capa com os Vedoin. Quem forneceu o dinheiro? Meu conselho é perguntar ao diretor de marketing da Petrobras, Wilson Santarosa. Ele é homem da CUT, como muitos dos que foram pegos em flagrante nessa trama golpista. E é amigo de José Dirceu. Sempre desconfio de quem é da CUT e amigo de José Dirceu. Um dos principais petistas implicados na compra de matéria da IstoÉ foi Hamilton Lacerda. Ele era coordenador da campanha de Aloizio Mercadante. O repórter Ricardo Brandt descobriu que Lacerda "atuou como intermediador de contratos da Petrobras com órgãos de imprensa".

Dois meses depois, voltei ao tema:

Quando a IstoÉ publicou a entrevista com o chefe dos sanguessugas, sugeri que ela poderia ser recompensada com anúncios da Petrobras. Ninguém deu bola para o assunto. Na ocasião, indiquei o nome dos intermediários: Hamilton Lacerda, assessor de Aloizio Mercadante, e Wilson Santarosa, diretor de marketing da Petrobras. Agora a CPI dos Sanguessugas revelou que os dois trocaram dezenas de telefonemas no período de negociação do dossiê contra os tucanos. Na última quarta-feira, encontrei mais um dado comprometedor para a Petrobras. Analisando os telefonemas de Hamilton Lacerda, em poder da CPI, descobri que ele recebeu chamadas do celular de Dudu Godoy. Dudu Godoy é um dos sócios da Quê, a agência de propaganda que atende a Petrobras. Dudu Godoy fez carreira em Campinas, assim como Wilson Santarosa, que presidiu o sindicato dos petroleiros local. Em 1998, ele foi um dos marqueteiros da campanha de Lula. De maio a setembro de 2006, a IstoÉ veiculou 58 páginas de anúncios da Petrobras. Pelos dados do Ibope Monitor, foram 2,6 milhões de reais investidos pela estatal na revista. Carta Capital lucrou ainda mais, proporcionalmente à sua tiragem. Foram 789.000 reais.

Qual foi o senador que mais trabalhou para afundar a CPI da Petrobras? Ele mesmo: Aloizio Mercadante. Eu tenho muitos dados sobre os gastos em propaganda da Petrobras. Alguém quer?

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Contando causo(2)

Meu rosilho "Piolho"


J. Simões de Lopes Neto

Não gosto nem admito fanfarrices perto de mim.

Freqüentemente encontro sujeitos maturrangos contando façanhas e fazendo gatimonhas de campeiros e a todo instante falando - no meu cavalo... porque o meu cavalo... e o meu cavalo... e vai-se a ver e trata-se de um sotreta qualquer, assoleado ou manco.

Cavalo, o que se diz - cavalo -, de chapéu na mão, foi o meu rosilho "Piolho"!
Isso, sim, era de se lavar com um bochecho d'água; de cômodo, era uma rede! de patas, um raio! de rédea, como uma balança! E manso como um cordeiro, de boa boca como um frade, faceiro como uma rosa, e armado, de barba ao peito, como um conde de baralho!

A não ser um azulego do capitão Manduquinha Pereira nunca encontrei outro pingaço para cotejo. Foi domado pelo Chico Piola e não preciso dizer mais nada.

Morreu de garrotilho, até hoje ainda me treme a raiz da alma quando lembro o garbo do meu rosilho...Uma vez, andava eu, de escoteiro, para as bandas do Alegrete. Calor de rachar. Lá pelas tantas, desviei-me da cruzada sobre uma restinga, disposto a dar um alce ao rosilho e ao mesmo tempo tirar uma sesteada, até abrandar a quentura.

Apeei-me à sombra de um salsal; dei água ao flete e mandei-o, para um verdeiozito. Era ele cavalo mui mestre nestas cousas.Em seguida estendi os arreios e aplastei-me sobre os pelegos, de carnal pra cima; puxei o chapéu para os olhos e encruzei os braços sobre a boca do estômago, tendo antes posto de jeito o facão e a pistola, por um - se acaso... Nem as folhas buliam, nem um passarinho cantava, apenas um que outro trilirim de gafanhoto vermelho saltando nas macegas. Nem quero-quero fazia ronda!...

Assim tirei uma cochilada morruda e iria a mais se...Amigo! ouvi um tronar forte, de tremer o chão! Era um temporal de verão, desses que não dão tempo nem de se apagar o cigarro!Foi o quanto saltei das caronas e trouxe o rosilho, enfrenei-o - num vá! - sentei-lhe as garras - num vu! - e montei de pulo... A trovoada roncava, logo ali no outro lado da canhada.

Via-se cair a chuva, em manga, em linha, e via-se muito bem porque o sol dava de refilão pela esquerda. E todo aquele borbotão d'água que desabava corria sobre mim, no pé-do-vento.
Levantei as rédeas, firmei-me nos estribos e trepei a coxilha... e no que achei campo em frente, rumbeei para a estância do falecido João Silvério, que branqueava lá longe, obra de três quartos de légua, cortando à direita.Nisto senti um - tchá! tchá! tchá! - atrás de mim; olhei, de relancina apenas, porque nem tempo para mais, tive; era o temporal, a bomba d'água que se despenhava, quase nos garrões do rosilho! Foi o quanto amaguei o corpo e toquei, de meia rédea.

Cupins e buracos de caranguejos, tacurus, macegas e carquejas, sangas, lagoas, barrais - o diabo! - não vi mais nada! Se rodasse, nem o sebo da coalheira se me aproveitava!...Mas o rosilho "Piolho" era firme e bonzão, sem mais nada!Eu corria, é verdade, porém a manga d'água também corria... A polvadeira que eu levantava a chuvarada engolia logo.
Eu sentia-lhe a frescura, percebia que estava-me na garupa, na anca do rosilho, nos garrões dele! Um que outro pingo de chuva mais ponteiro batia-me às vezes na aba do chapéu...Era um duelo esquisito. Um duelo, em que um valente fugia para ficar vencedor!Vencer, aqui, era chegar enxuto.

E assim viemos, eu e a tormenta, na mesma disparada: a que te pego! a que te largo! a que te pego! a que te largo! - Já perto das casa, vi a gente do João Silvério, e ele mesmo, todos de mão em pala sobre os olhos, gozando aquela gauchada.

Isso foi rápido, pois logo todos entraram, a fechar portas e janelas, quando viram que eu vinha feito sobre o galpão.Quando ia mesmo a entrar, saiu-me a cachorrada, furiosa, enovelando-se, em latidos e investidas: suspendi a rédea com pena de matar algum debaixo das patas...
Olhem que isto foi como um pensamento; mas foi o tempinho bastante para o demônio da chuva molhar a anca do cavalo!Fiquei furioso! Se não tenho a pieguice de poupar um daqueles ladrões daqueles cachorros, a chuva não me tocava, nem na cola do rosilho: chegaria enxuto!Assim é que entendo cavalo bom.

O João Silvério ficou doido pelo "Piolho"; dava-me cem onças de ouro, um apero completo, de prataria lavrada, por fim, de quebra, por cima de tudo, ainda me tenteou com um rodeio tambeiro.Um horror de propostas. Mas eu não quis.

Durante muitos anos aí esteve ele vivo e são, que podia contar este caso, tal qual eu. Hoje não sei que fim levou essa gente, e mesmo se eu quisesse ir agora a essa estância, talvez não atinasse mais com o caminho, por causa da divisão dos campos, estradas novas, cercas e corredores que despistam muito um vaqueano... Mas o caso passou-se, isso, passou-se!! mal... apenas a chuva tocou a anca do baio... e isso mesmo por causa dos cacchorros do João Silvério!

Competitividade

Brasil está mais competitivo, mas ainda dá vexame

Economia(Veja)

Brasil ganha 3 posições em ranking global de competitividade

O Brasil ganhou três posições em um ranking de competitividade mundial, ocupando o 40º lugar na lista de 57 países pesquisados pela escola suíça de negócios IMD. A nova edição do Relatório Anual de Competitividade da IMD, divulgada nesta quarta-feira, mostra os Estados Unidos mantendo a liderança, seguidos por Hong Kong, Cingapura, Suíça e Dinamarca.
Logo adiante do Brasil estão Espanha, Bulgária, Peru e Cazaquistão. Atrás do país estão Jordânia, Indonésia, Filipinas e Polônia. O componente de performance econômica brasileira aumentou 10 posições, para o 31º lugar, enquanto o de setor empresarial subiu 2 posições para o 27º lugar. Segundo o estudo, além do Brasil ter subido na colocação geral de competividade, a distância entre o país e as economias mais competitivas diminuiu.
"Essa mudança foi influenciada tanto pela redução das diferenças entre as economias analisadas, principalmente em relação aos EUA, quanto pelos ganhos competitivos reais vivenciados pelo Brasil", afirmou o relatório. Mas o Brasil ainda tem trabalho a fazer, inclusive investindo em reformas, para "manter essa capacidade de resistência a instabilidades", segundo Carlos Arruda, professor da Fundação Dom Cabral e responsável pela análise do Brasil na pesquisa.
"O Brasil necessitaria manter políticas cambial, de juros e de inflação adequadas ao perfil do país, estimular o consumo através da redução da carga tributária, incrementar os níveis de emprego e renda através de revisão das leis trabalhistas e previdenciárias e manter os níveis de investimento em infraestrutura através da implementação efetiva do Plano de Aceleração para o Crescimento", afirma Cabral em comunicado divulgado à imprensa.
Os últimos três lugares do ranking de competitividade foram ocupados por Argentina, que caiu da 52ª posição para a 55ª; Ucrânia e Venezuela. O Japão, segunda maior economia do mundo, ficou com o 17º lugar, subindo cinco degraus na lista. Já a China continental, caiu da 17ª para a 20ª colocação.
(Com agência Reuters)

terça-feira, 19 de maio de 2009

Sábios conselhos

Pontos de vista de George Carlin sobre envelhecer

Colaboração de meu amigo Amadeo Toigo

Você sabia que a única época da nossa vida em que gostamos de ficar velhos é quando somos crianças? Se V. tem menos de 10 anos, V. está tão excitado sobre envelhecer que pensa em frações.


Quantos anos V tem? Tenho quatro e meio! Você nunca terá trinta e seis e meio. Você tem quatro e meio, indo para cinco! Este é o lance!

Quando V. chega à adolescência, ninguém mais o segura. V. pula para um número próximo, ou mesmo alguns à frente. 'Qual é sua idade?'

'Eu vou fazer 16!' Você pode ter 13, mas (tá ligado?) vou fazer 16 porra !
E aí chega o maior dia da sua vida! Você completa 21! Até as palavras soam como uma cerimônia: VOCÊ ESTÁ FAZENDO 21. Uhuuuuuuu!

Mas então V. 'se torna' 30. Ooooh, que aconteceu agora? Isso faz V. soar como leite estragado! Êle 'se tornou azedo'; tivemos que jogá-lo fora. Não tem mais graça agora, V. é apenas um bolo azedo. O que está errado? O que mudou?

V. COMPLETA 21, V. 'SE TORNA' 30, aí V. está 'EMPURRANDO' 40. Putz! Pise no freio, tudo está derrapando! Antes que se dê conta, V. CHEGA aos 50 e seus sonhos se foram.

Mas, espere! Você ALCANÇA os 60. V. nem achava que poderia!
Assim, V. COMPLETA 21, V. 'SE TORNA' 30, 'EMPURRA' os 40, CHEGA aos 50 e ALCANÇA os 60.

Você pegou tanto embalo que BATE nos 70! Depois disso, a coisa é na base do dia-a-dia; 'Estarei BATENDO aí na 4ª.. feira!'

Você entra nos seus 80 e cada dia é um ciclo completo; V. bate no lanche, a tarde se torna 4:30;

V. alcança o horário de ir para a cama. E não termina aqui. Entrado nos 90, V. começa a dar marcha à ré; 'Eu TINHA exatos 92.'

Aí acontece uma coisa estranha. Se V. passa dos 100, V. se torna criança pequena outra vez. 'Eu tenho 100 e meio!'

Que todos Vocês cheguem a um saudável 100 e meio!!


COMO PERMANECER JOVEM

Livre-se de todos os números não-essenciais. Isto inclui idade, peso e altura. Deixe os médicos se preocupar com eles. É para isso que V. os paga.

Mantenha apenas os amigos alegres. Os ranzinzas, os que só reclamam da vida só deprimem.
Continue aprendendo. Aprenda mais sobre o computador, ofícios, jardinagem, seja o que for, até radio-amadorismo. Nunca deixe o cérebro inativo. 'Uma mente inativa é a oficina do diabo.
Trabalhe, estude! E o nome de família do diabo é ALZHEIMER.
Aprecie as coisas simples.

Ria sempre, alto e bom som! Ria até perder o fôlego.

Lágrimas fazem parte. Suporte, queixe-se e vá adiante. As únicas pessoas que estão conosco a vida inteira somos nós mesmos. Mostre estar VIVO enquanto estiver vivo.

Cerque-se daquilo que ama, seja família, animais de estimação, coleções, música, plantas, hobbies, seja o que for. Seu lar é seu refúgio.

Cuide da sua saúde: se estiver boa, preserve-a. Se estiver instável, melhore-a. Se estiver além do que V. possa fazer, peça ajuda.

Não 'viaje' às suas culpas. Faça uma viagem ao shopping, até o município mais próximo ou a um país no exterior, mas NÃO para onde V. tiver enterrado as suas culpas.

Diga às pessoas a quem V. ama que V. as ama, a cada oportunidade.
E LEMBRE-SE SEMPRE:

A vida não é medida pela quantidade de vezes que respiramos, mas pelos momentos que nos tiram a respiração.

Se V. não mandar isso para pelo menos 8 pessoas- quem se importa? Mas compartilhe isto com alguém. Todos nós temos que viver a vida ao máximo a cada dia!

A jornada da vida não é para se chegar ao túmulo em segurança em um corpo bem preservado, mas sim para se escorregar para dentro meio de lado, totalmente gasto, berrando:

"PUTA MERDA, QUE VIAGEM!" VIVA SIMPLESMENTE, AME GENEROSAMENTE,IMPORTE-SE PROFUNDAMENTE, FALE GENTILMENTE,DEIXE O RESTO PARA DEUS.


"NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI"



UM GRANDE DOCUMENTÁRIO. ASSISTAM!!!
Por Reinaldo Azevedo

Imperdível, caros leitores, por uma coleção de motivos, o filme Ninguém Sabe O Duro que Dei, dirigido por Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal, que relata a ascensão e queda — e que queda! — do cantor Wilson Simonal. Há muito mais ali do que o simples relato da trajetória de um ídolo brasileiro, de raro talento, que caiu em desgraça. O que se vê na tela é a exposição detalhada de como uma máquina de difamação ideológica pode destruir uma carreira, apagar uma história, eliminar um pedaço da memória cultural do país. E não posso deixar de pôr isto aqui, já no primeiro parágrafo: a fita traz depoimentos dos cartunistas Ziraldo e Jaguar, que eram do jornal O Pasquim, que ajudou a destruir Simonal. Levem suas crianças (acima de 10 anos), como fiz, para ver também esses dois senhores. É um bom pretexto para que digam: “O papai (ou mamãe) promete jamais falar tanta asneira mesmo que visitado por aquele velhinho alemão...” Se algumas pessoas são para nós um norte moral, essa dupla é o sul. Já chego lá.


Negro, filho de uma empregada doméstica, saído literalmente da pobreza, Simonal se tornou um dos mais populares cantores brasileiros. Até aí, vá lá, a estupidez também pode render aplauso. Acontece que ele era bom. Muito bom. Um dueto com Sarah Vaughan ou sua habilidade em reger um coro de 30 mil vozes no Maracanãzinho dão algumas pistas do seu talento. Fragmentos de entrevistas e shows, habilmente costurados no documentário, revelam um homem inteligente, chegado ao cinismo e à auto-ironia. E, vê-se ao longo do filme, não era do tipo chegado ao coitadismo, ao vitimismo, ao pobrismo, a mascarar deficiências técnicas com sua origem humilde, essa coisa tão asquerosa e corriqueira hoje em dia. Ao contrário: tinha plena consciência de seu gigantesco talento e ganhou a fama de arrogante — de “preto arrogante”. E vocês sabem o quanto isso podia e ainda pode ser indesculpável.


Cantor excepcional, criativo, capaz de transitar na fronteira de vários estilos, Simonal era uma das possibilidades do pop brasileiro, abortado por um conjunto de infaustos acontecimentos: da ditadura dos militares à ditadura dos “profundos”, que tomou conta da música. Outro, de estilo diferente, mas não menos marginalizado, era Tim Maia — leiam Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia, de Nelson Motta, que, diga-se, ilumina aquele período, neste documentário, com a lucidez habitual. Simonal não tinha grandes “mensagens” a passar, sabem? E sua música dispensava manual de instrução e guia para entendimento de metáforas.


Mas Simonal fez, sim, uma grande besteira. Em 1971, desconfiado de que seu contador, Raphael Viviani, que fala no filme, andava metendo a mão na sua grana, contratou dois seguranças, um deles ligado ao famigerado Dops, para "resolver" a questão. O homem foi raptado, torturado e obrigado a assinar uma confissão. A mulher de Viviani chamou a polícia. Simonal se complicou. Para tentar se safar, afirmou que tinha “contatos com os homens” — sim, os homens do regime...


Era o seu fim. Passou a ser tratado como dedo-duro e delator dos colegas — embora, como lembra Chico Anysio, não haja uma só pessoa que possa dizer ter sido prejudicada por Simonal — além de Viviani, é claro. A imprensa o tratava como agente dos órgãos de segurança, assim, como um aposto comum, desses que servem para identificar pessoas: “Simonal, ligado ao Dops...” Ele passou a ser a pessoa mais demonizada no Pasquim, de Ziraldo e Jaguar (o sul moral do Brasil; já volto ao caso). Num dos quadrinhos, aparece, acreditem, dando um tiro na cabeça!!!


Não, Simonal nunca foi agente do DOPS. Acontece que as esquerdas já se incomodavam com os seus hits muito pouco engajados. Foi ele quem transformou num sucesso estupendo País Tropical, de Jorge Benjor. Aquele trecho da música cantado só com as primeiras sílabas das palavras foi uma “bossa” sua: “Mó, num pa tro pi/ abençoá por De/ que boni por naturê/ mas que belê...” “Patropi” virou substantivo, às vezes adjetivo. Aquela parte da crítica que acreditava que boa música tinha de falar das nossas mazelas e, eventualmente, acenar com a “revô sociali dos oprimi” já estava na sua cola. Era considerado ufanista e instrumento da ditadura. Em 1970, havia acompanhado a Seleção Brasileira na Copa do México. Simonal, em suma, era o alienado do “patropi”.


O episódio truculento de 1971 — pelo qual ele tinha, de fato, de prestar contas, e ninguém está a dizer o contrário — era a fagulha que faltava num barril de vários preconceitos combinados: o “preto arrogante”, que chegou a se declarar “de direita” e que era tido como o cantor “do regime”, passou a ser considerado, também um dedo-duro. Os shows desapareceram. Artistas que antes faziam questão de dividir o palco com ele passaram a rejeitá-lo. O Pasquim o esmagava impiedosamente, difamando-o entre artistas e intelectuais. A grande imprensa não ficava atrás. Foi banido das televisões. Estabeleceu-se uma espécie de stalinismo midiático: Simonal foi apagado da história brasileira. O homem que fizera o dueto com Sarah Vaughan — é visível o encantamento da diva — era um proscrito. Depois de demonizado, decretou-se o silêncio. Seu nome foi apagado. Em 2000, morreu em razão do agravamento de uma cirrose hepática.


Ninguém Sabe o Duro que Dei, título do filme, é verso de um dos seus sucessos. Justamente uma música que ironizava o fato de que muitos criticavam ou invejavam a sua boa vida e a sua riqueza. E ele, então, respondia: “Ninguém sabe o duro que dei”. Pois é... O que é espantoso, mas muito próprio da indústria da difamação, é que não havia prova, evidência ou indício da ligação de Simonal com a “repressão”. Inútil!


O filme é equilibrado. Não há qualquer esforço para desculpar Simonal pela bobagem. O depoimento do contador é bastante longo, e não há a menor intenção de desacreditá-lo. Faço essa observação para deixar claro que Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal não maquiam a vida do artista, corrigindo com a simpatia o que há nela de condenável. Mas não há como não se deixar capturar pelo óbvio talento de Simonal. Talvez pudéssemos sair do cinema um tanto divididos: “Pô, também quem mandou fazer aquela tolice?” Mas Zirado e Jaguar nos tiram dessa sinuca.


VELHOS NA ALMAZiraldo comandava O Pasquim. E isso quer dizer que comandava, também, a difamação contra Simonal. Os diretores estão de parabéns por terem deixado o homem falar à vontade. Quando ele fala, o mundo se ilumina porque nos damos conta de quem ele é. O cara reconhece que parte do ódio que havia contra o artista decorria do fato de ele ser, vamos dizer, um preto bem-sucedido. Mais: admite que aqueles eram tempos em que um lado era o bem, e o outro, o mal. E Simonal estava do lado errado...


Ziraldo sabe, hoje em dia, que o cantor jamais fez parte dos órgãos de repressão. Se, à época, ainda podia alegar alguma ignorância, hoje não pode mais. Tem clareza de que o cantor caiu vítima da máquina de difamação ideológica não por aquilo que fez, mas por aquilo que não fez. Pensam que há nele alguma sombra de arrependimento ou, vá lá, de reconhecimento ao menos das injustiças cometidas? NADA!!!


O cartunista recorre a uma imagem canalha, asquerosa, nojenta mesmo, para se referir ao caso. Segundo diz, os confrontos ideológicos eram como lutas de capoeira, com pernadas para todos os lados. E alguns tinham a má sorte de estar na frente. Entenderam? Ziraldo e as esquerdas davam as pernadas, e o pobre Simonal tomou a sua. Para este senhor, isso é parte do jogo.


Jaguar, que continua a investir na personagem do bêbado profissional, vejam lá por quê, não fica atrás em grandeza moral. Faz um relato debochado da tragédia de sua vítima e diz: “Ele morreu de cirrose; poderia ter sido eu”. E cai na gargalhada. Ah, sim: ao falar sobre negros de sucesso, cita o nome de Pelé e diz: “Se bem que Pelé é branco...” Entenderam? Para Jaguar, um negro só é negro se exibir sinais explícitos de sofrimento e for engajado. A propósito: o depoimento de Pelé é um dos grandes momentos do filme. A dupla do Pasquim, mesmo sabendo que Simonal era inocente, não o anistia, não. Nem a anistia moral eles lhe concedem.


É que os dois não sabem o que é isso. Só conhecem o perdão traduzido em reais A Comissão de Anistia mandou pagar R$ 1.000.253,24 ao milionário Ziraldo e R$ 1.027.383,29 ao nem tão rico Jaguar (confessadamente, ele “bebeu” todo o dinheiro que o jornal lhe rendeu). Mais: ganharam também o direito a uma pensão mensal permanente de R$ 4.375,88. Por quê? Ora, porque eles foram considerados “perseguidos pelo regime militar” por conta de sua atuação no Pasquim, aquele que desenhou Simonal dando um tiro na cabeça...


Sensatas e até comoventes são as palavras dos cantores e compositores Simoninha e Max de Castro, filhos de Simonal. Tentam entender a personagem na lógica dos confrontos de um período e dizem ser necessário resgatar sua obra, sem qualquer viés de confronto. O ódio de que Simonal foi vítima (ainda presente nas falas irresponsáveis de Ziraldo e Jaguar) não turvou o pensamento dos filhos, a cujos shows o pai chegou a ir. Mas os via escondido, sem mostrar a cara. Não queria, como conta sua segunda mulher, “prejudicar os meninos”.


Não deixem de ver o filme. Vale como divertimento e também como advertência: a máquina de difamação, que dá pernada a três por quatro (e dane-se quem está na frente), continua ativa. e agora está no poder.


PS: O filme merece uma atenção bem maior do que a que vem recebendo. De certo modo, a maldição continua. Como NÃO diria Chico Buarque, as esquerdas inventaram o pecado, mas se esqueceram de inventar o perdão.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O dia em que bebi com Jânio(fim)

Por Augusto Nunes

Última parte

O GOLPE DE MISERICÓRDIA

Ele cambaleou, exulto ao ouvir de dona Eloá que o marido assinara o cheque na linha da data e preenchera o espaço da assinatura com o dia, o mês e o ano do duelo em curso no Guarujá. Resolvo acelerar o ritmo dos goles e partir para a contra-ofensiva infiltrando na conversa temas que Jânio Quadros considera irritantes. A história da renúncia, por exemplo. Meio mundo ainda não entendeu aquilo, provoco. Está arrependido do que fez?
─ Não, não e não ─ três esquiva-s antes do contragolpe. ─ É que, neste país, ninguém renuncia nem ao cargo de síndico. É natural que muitos brasileiros tenham dificuldade para entender gestos de grandeza e desprendimento.
Gastone enche gentilmente meu copo. Ataco pelo flanco com miudezas que o ex-presidente sempre considerou excessivamente fúteis, mesquinhas demais para merecerem tempo e atenção de um estadista. Gosta das novelas da Globo? Prefere qual horário? Continua apreciando faroeste americano? Jânio vai respondendo com tiradas de repentista e imagens amalucadas. Nada abala o humor do meu oponente. Nem ouvir o editor de Política da revista Veja, que deveria estar lá para tratar de coisas sérias, querendo saber se ele sabe dançar.
─ Não, não sei… ─ mumura no tom nostálgico simulado para espantar quem espera ouvir reminiscências da juventude com a comparação. ─ Sinto-me uma centopéia de 98 pernas.
Por que não arredondou para 100?, fico intrigado. Vai ver uma centopéia tem exatamente 98 pernas. Mas chega de dança. Agora quero saber se acredita em disco-voador.
─ Sim, acredito ─ informa. ─ Eloá até já viu um em Cubatão.
Esqueço o desfile de irrelevâncias e fico procurando, calado, táticas mais eficazes. Jânio continua extraordinariamente loquaz. No fim do nono cálice, está falando das cinco cadelas que moram naquela casa quando dona Eloá aparece na porta vindo da direção de quem entra. O marido não vê quem acabou de chegar. Ela estende lentamente o braço até alcançar o lado esquerdo da mesa, pega a garrafa de vinho do Porto, recolhe com cuidado o instrumento do sequestro e desaparece. Acompanho a manobra com o canto dos olhos e cara de paisagem. Dois minutos depois, enquanto explica por que a cadela Quinta-Feira é a preferida, Jânio vê que o cálice está no fim, avança a mão esquerda e, ao chegar lá, não acha nada. Interrompe a frase no meio e olha para o espaço subitamente vazio. Parece confuso.
─ Onde está a garrafa? ─ murmura com jeito de criança perdida no supermercado.
Não abro a boca nem sob tortura, decido. Vou ganhar por desistência, quem diria? Não importa se levaram o vinho sem o homem perceber, nem quem levou. Parou de beber, perdeu. A regra é clara. Jânio faz um minuto de silêncio pelo desaparecimento do vinho e repete a pergunta, agora com voz estridente e endereço definido.
─ Onde está a garrafa, Gastone?
O deputado aponta a cozinha com o polegar.
─ Vá buscá-la ─ ordena a primeira ênclise. ─ E trate de trazê-la ─ ameaça a segunda.
Gastone sai para cumprir outra missão. Logo chegam frases truncadas mas muito esclarecedoras: ”não vou devolver”, “é o fim do mundo”, chega uma hora que tem que parar”, “os moços estão bêbados também”. Torço por dona Eloá. Pedro Martinelli ressurge na janela. Jânio desta vez nem olha para o capuchinho que continua fotografando, só tem cabeça para o vinho que sumiu. Gastone reaparece com a garrafa sobre a cabeça e o mesmo sorriso de Bellini, Mauro e Carlos Alberto erguendo a taça Jules Rimet.
Jânio cumprimenta o aliado efusivamente. Pela primeira talagada, vai comemorar o resgate nocauteando o décimo cálice. Está animadíssimo. Olhando para Jomar, pede ao ”senhor jornalista” que anote e começa a a ditar:
─ O presidente Jânio Quadros vírgula depois de examinar detidamente o quadro partidário vírgula optou pelo PTB por ter feito uma constatação indesmentível dois pontos o PMDB é uma arca de Noé vírgula sem Noé ponto…
Único sóbrio no recinto, Jomar está anotando aplicadamente o que Jânio diz. Gastone continua quieto e bebendo. Jânio faz uma pausa no ditado para providenciar o 11° cálice. Paro ou continuo? Era hora de jogar a toalha. Mas encho o copo de novo. No primeiro gole, o Lincoln da estatueta e o Lincoln do busto me olham com ar de deboche. Percebo que ultrapassei o ponto de não-retorno. Jânio ergue o cálice como se estivesse brindando. Sorri como um campeão mirando o adversário nocauteado em pé.
Meu erro foi o sexto copo.

PANCADAS ABAIXO DA CINTURA
Meu erro foi o sexto copo, expliquei ao ouvir o humilhante “Eu não disse?” dito por Jomar Moraes na subida da Anchieta. Nunca a estrada de Santos teve tantas curvas. Lembrava que tinha capitulado na metade do copo. Jânio deu mais um gole. Lembrava vagamente que me despedi de Jânio e Gastone com voz pastosa e caminhei para o fusca com a dignidade possível. Dona Eloá estava na cozinha.
─ Sexto ou sétimo copo, tanto faz ─ disse Jomar. ─ Teu erro foi encarar a fera.
O sorriso superior de Pedrão avalizou o parecer. Eu só queria que a Serra do Mar parasse de girar ao meu redor, chegar em casa e dormir. No dia seguinte, fui para prédio da Abril na Marginal do Tietê. José Roberto Guzzo, diretor de redação, estava fora naquela semana. Entrei na sala do diretor-adjunto Elio Gaspari tentando disfarçar a ressaca. Ele quis saber se tinha assunto para uma reportagem de capa. Tinha de sobra, respondi. E soltei o comentário como quem não quer nada.
─ O que o homem está bebendo é uma grandeza.
─ É mesmo? ─ Gaspari ficou curioso.
Contei o que Jânio tinha bebido, ele não acreditou. Sugeri que conferisse com Jomar. Achei irrelevante falar sobre os tragos que tomei. Jornalista não é notícia, tinha ouvido várias vezes na Veja. Gaspari resumiu num trecho da Carta ao Leitor a performance do campeão: 20 latas de cerveja, 6 copos de caipirinha e 11 cálices (dos grandes) de vinho do Porto. A reportagem ficou boa. A Carta ao Leitor repercutiu ainda mais. Fiquei sabendo que Jânio se irritou. Estava vingado.
Quero ver como ele vai se virar na quarta-feira, pensei. Era o dia do programa que tinha na Record. Falava o que queria. Mas vai ter de comentar o que a Veja publicou, calculei. Foi o que Jânio fez no primeiro minuto do primeiro bloco. Com um exemplar da revista na mão, queixou-se de que fora vítima de jornalistas irresponsáveis. E entrou na questão alcoólica disposto a golpear abaixo da linha da cintura.
─ Dizem que bebi! — escandiu as sílabas. Pois não bebi, até por prescrição médica! Quem bebeu foram os jornalistas!
Fiquei espantado. Não é possível que ele estivesse desmentindo o desempenho admirável. Fez pior. Abriu a revista na página da Carta ao Leitor, a câmera fechou a lente, Jânio pôs o dedo indicador na foto e desfechou o golpe de misericórdia.
─ Vejam isto! Vejam quem está bebendo!
Para sorte de Jânio e para meu infortúnio, a foto que ilustrava a página era uma das que Pedro Martinelli fizera quando dona Eloá acabou de confiscar a garrafa de vinho e Gastone ainda não fora buscá-la. O cálice estava atrás do Lincoln do busto. Só aparecia o copo de uísque, circundado em vermelho pelo artista.
─ Aqui está o senhor jornalista com seu copo ─ bateu nas partes baixas. ─ Cadê a minha bebida?
Foi o segundo nocaute consecutivo. Perdi feio. Mas fui derrotado por um campeão.

sábado, 16 de maio de 2009

Contando causo...



Guaiaca Lindaça

gentileza de Claudio Mossmann Rodrigues
Um peão lá da Bossoroca, conhecido como Mano Tasso, ginete dos buenassos, tinha uma beleza de guaiaca da qual muito se orgulhava.
Ganhou a dita guaiaca num concurso de tiro de laço lá pras bandas de Santiago do Boqueirão. Era uma guaiaca flor de especial, couro brazino de touro chucro, muita prata e incrustada com pedras trabalhadas com arte... Ônix, Ágatas, Turmalinas e até uma baita esmeralda ornavam a hermosa peça de indumentária, que era o xodó do índio taura.
Por onde quer que andasse, era comum a admiração causada pela tal guaiaca. Não poucas nem mixurucas eram as propostas que recebia para vendê-la ou mesmo cambiá-la. "Dou uma parelha de carneiros", ou "Troco por um barril de pinga da boa e mais minha guaiaca velha". - Não importava a proposta, Mano Tasso não se desfazia por nada de sua bela guaiaca, que tanto chamava a atenção das chinocas pelas bailantas e bochinchos que frequentava...
Tinha até os que tentavam levar a guaiaca em alguma aposta, mas não adiantava, pois o taura se garantia - fosse no jogo do osso, no carteado ou cancha reta - sempre acabava com a guaiaca e as prendas apostadas pelos incautos. "Alem de bonitaça, ainda me dá sorte esta minha guaiaca" costumava bravatear...
Certa feita lá pros lados de Santo Angelo, a guaiaca chamou a atenção de um tal de Chico Espora, que tentou de todas as formas ficar com a guaiaca - que Mano Tasso às vezes chamava de "meu talismã". Vendo que nada adiantava, resolveu "desistir" de ganhar a guaiaca e partiu para uma tática diferente. Não falou mais no assunto e passou a puxar conversa-fiada e meter trago guela-baixo do dono da guaiaca.
O índio não se entregava fácil pra canha, e foi "perciso" quase três litros da que matou o guarda pra entortar a guampa do Mano Tasso. Sentindo que havia se passado no trago, e pressentindo a maldade, deu um jeito de sair do bolicho - alegando que tinha que encontrar uma chinoca e que a noite se achegava e tal e cousa.
Montou no zaino e saiu picada a fora, sem perceber que era seguido pelo maleva do Chico Espora... Pelas tantas, resolveu apear pra tirar um cochilo encostado numa árvore até esfriar os miolos e passar a bebedeira.
Era a oportunidade que o Chico esperava, e mal o Mano apagou, foi subtraído de sua tão estimada guaiaca.
Quando acordou e deu por falta da guaiaca, bateu um misto de desespero e raiva no coitado do Mano Tasso. "Mas que barbaridade tchê, isto é cousa que não se faz nem com cachorro comedor de ovelha" - pensou se sí para persí nosso personagem.
Partiu em louca disparada, levantando polvadeira rumo ao bolicho onde enchera a cara, disposto a sangrar o desgranido que levara a guaiaca. Mas nada. O desalmado ladrão havia se escafedido mundo-fora e o pobre do Mano Tasso - por mais que assuntasse e procurasse o maleva - não tinha jeito de encontrar.
Alguns meses despues, já quase resignado pela perda da amada guaiaca, encontra em um bolicho o tal Chico - guaiaca na cintura - bebendo e contando vantagem numa roda de peões.
Sentindo em suas veias o sangue a ferver, resolve acabar com a vida do Chico ali mesmo, mas antes disso vai desacatar e desmascarar o safado, pra que todos saibam quem é o verdadeiro dono da guaiaca e que a morte é o justo salário para um ladrão.
Como quem não quer nada com nada, se aprochega na roda de charla e, mão na solinge e olho no olho de sua iminente vítima, dispara:
- Que mal le pergunte, onde arranjou esta guaiaca ?
O Chico, pressentindo o perigo, manteve a calma e respondeu:
- Pues sabes, tchê... Esta belezura de guaiaca eu peguei de um borracho que encontrei na beira do caminho... Aliás, não foi só a guaiaca, sabes como é... cú de bêbado não tem dono, então aproveitei a ocasiã pra pegar a guaiaca e barranquear o pau-d'água - pois que um traste daqueles não merece uma guaiaca tão bonita... Mas porquê perguntas da guaiaca? Por acauso conhecias o dono?
E o infeliz do Mano Tasso:
- Por nada não... bonita guaiaca...

sexta-feira, 15 de maio de 2009

CRONISTA: FILHO DE CRONOS COM ISHTAR.


(domingo, 13 de Setembro de 1993).
Uma das coisas que eu mais admiro em alguém é o humor. Nada a ver com a boçalidade. Alguns me pedem crônicas sérias. Gente... o que fui de séria nos meus textos nestes 43 anos de escritora! Tão séria que meu querido amigo, jornalista e critico, Jose Castelo, escreveu que eu provoco a fuga insana, isto é, o cara começa a me ler e sai correndo pro funil do infinito. Tão seria que provoco o pânico. E nestas crônicas o que eu menos desejo é provocar o pânico... Já pensaram, a cada segunda-feira, os leitores atirando o jornal pelos ares e ensandecendo? Já pensaram o que é isso de falar a sério e dizer por exemplo: que é isso, meu chapa, nós vamos todos morrer e apodrecer (ainda bem que não é apodrecer e depois morrer, o lá de cima foi bonzinho nesse pedaço), tu não é ninguém, meu chapa, tudo é transitório, a casa que cê pensa ser sua vai ser logo mais de alguém, tu é hospede do tempo, negão, já pensou como vai ser o não ser? Tá chateado por que? Tu também vai envelhecer, ficar gling-glang e morrer... (há belas exceções como o Bertrand Russel fazendo comício aos 90, mas tu não é o Bertrand Russel). Até o Sartre, gente, inteligentíssimo, ficou na velhice se mijando nas calças e fazendo papelão... Se todo mundo pensasse seriamente no absurdo que eh tudo isso de ser feito de carne, mas também olhar as estrelas, de ter um rosto, mas também aquele buraco fétido, se todo mundo tivesse o habito de pensar, haveria mais piedade, mais solidariedade, mais compaixão e amor.Mas quem é que vocês conhecem que pensa? As mães que nos colocaram no Planeta pensaram? Claro que não. Na hora de revirá os óinho ninguém pensa. Só seria justificável parir se teu pimpolho fosse imortal e vivesse a mão direita Daquele. Mas teu pimpolho também vai morrer e apodrecer não sem antes passar por todos os horrores do Planeta. Tá jogando fora o jornal, benzinho? Então vamos brincar de inventar uma nova semântica:


Semântica – Antologia do Sêmen

Solipsismo – Psiquismo Solitário

Hipérbole – Bola Grande

Xenofobia – Fobia de Xenos

Ligadura – Liga das Senhoras Catolicas

Ânulo – Filete colocado por sob o bocel da cornija do capitel dórico

Bocel – Corruptela de Boçal

Ânus – Pronuncia errada de anus (ave da família dos cuculídeos)

Ku – Lua em finlandês

Cou (Pronuncia-se Cu) – Pescoço em Frances

Hipocampo – Campo de Hipismo

Proclamas – Alvoroço de amas

Misantropia – Entropia do Méson Mi

Democracia – Poder do Demo

Paradoxo – Oxiúros em estado de repouso (parado)

Republica – Ré muito manjada


Bom dia, leitor! Tá contente?



Contente – Filho do ente do Heidegger (informe-se) com Cohn-Bendit (informe-se).

Loja de pregos

Um português abre uma filial de sua loja de pregos em Roma.

Como a propaganda é a alma do negócio, fez um outdoor com a figura de Cristo pregado à cruz e embaixo estava escrito: 'Pregos Garcia - 2000 anos de Garantia'.

Foi aquele rebuliço.

O Bispo de Roma foi pessoalmente conversar com o português e explicar que não podia fazer aquilo, que era pecado mortal... Então o luso resolveu fazer um novo outdoor.

Colocou Cristo com uma das mãos pregadas na cruz e a outra solta, dando tchauzinho. Embaixo estava escrito: 'Adivinhe em qual mão foi usado o Prego Garcia??? '

Meu Deus do Céu!!!

Até o Santo Papa saiu do Vaticano e foi conversar com o português: Que heresia meu filho! Não se pode usar Jesus Cristo como garoto propaganda... Inventa outra coisa e retire isto já!!!

Então vou fazer um novo outdoor, sem o Cristo ! pensou o português. Colocou a foto da cruz vazia e embaixo estava escrito:

'Se o Prego fosse Garcia, o Cara não fugia .

Crase quer hipérboles para sair da crise

Saudades do Fausto Wolff(sem igual)

O que falta ao governo operário neoliberal de centro-esquerda-direita é uma assessoria para reunir os gênios da diversificação; aqueles que sabem fazer dinheiro.

Nossa Justiça está anos luz à frente de qualquer outra.

Cito apenas um caso: dez anos atrás, quando o real estava paripasso com o dólar, o ingênuo Fausto Wolff ganhou uma ação contra o governo, representado pela Fundação Roquete Pinto.

Se não fosse um crítico feroz e injusto do governo mulatinho, teria recebido 100 mil reais ou dólares.

O rei dos glúteos lábios aroeiros não pagou enquanto o real se desvalorizava. Havendo feito a campanha de Lula, o mesmo idiota, em vez de esperar receber para só então criticar, partiu para o pau.

É claro que Çilva I não vai pagar. Onde está a genialidade da Justiça? – perguntarão vocês.

E eu respondo: quanto mais tempo ela demora a pagar menos paga. Se o Wolff – vã esperança – recebesse hoje o que o governo lhe deve receberia 100 mil reais ou 30 mil dólares.

Outro exemplo de genialidade: a dos donos dos planos de saúde.

Quanto mais velho for o segurado – mesmo que tenha começado o seguro aos 20 anos – mais ele paga.

Quando precisar, realmente, dos serviços médicos, geralmente depois dos 60 anos, não terá mais dinheiro para pagar a mensalidade e terá de ir para a fila do INSS, conhecido pelos bons serviços que presta.

Como pode alegar crise um governo que tem gente tão talentosa na Justiça e na medicina?

Nataniel Jebão

quinta-feira, 14 de maio de 2009

O dia em que bebi com Jânio(II)

Jânio Quadros, Gastone Righi, o colunista e Jomar Morais

Parte 2
Por Augusto Nunes
O estilo do campeão
─ Uísque com gelo, só gelo ─ esclareço enquanto ecoam três batidas enérgicas na porta da casa no Guarujá.
─ Sou eu ─ identifica-se o deputado federal Gastone Righi sem dizer o nome, o vozeirão de ex-locutor de parque de diversões vale como documento.
O ex-presidente Jânio Quadros se alegra ao saber quem chegou. Deposita cuidadosamente na mesa a garrafa de vinho do Porto que acabou de abrir, vai atender e volta de braços dados com a figura imponente: solidamente gordo, cabelos fartos e longos, o rosto emoldurado pela barba espessa, Gastone Righi lembra um caminhoneiro de longo curso que faz bicos em programas de luta-livre.
─ Chegou na hora, meu bem, vai beber o quê?
─ Jânio fica meio meloso quando já decolou, meu pai tinha me contado há muito tempo.
Uísque, responde, depois de um possante “boa tarde!”, o deputado nascido em Santos e janista desde vidas passadas. O anfitrião pede que providencie água mineral e o material de combate: uma garrafa de Chivas, dois copos para uísque (baixos), balde de gelo e um copo de vinho.
─ Dos grandes ─ especifica.
─ Eloá está na cozinha, ela sabe onde encontrar essas coisas.
Sabe mas não quer contar, informam frases truncadas que chegam da cozinha: “…bebeu demais…”, “…tem limite…, ”…’é o fim do mundo…” Gastone insiste e dois minutos depois reaparece com a encomenda nos braços. Todos se servem. O deputado senta-se num sofá branco, Jomar e eu ocupamos as duas poltronas pretas. O ex-presidente acomoda-se na cadeira por trás da mesa sobre a qual se equilibram um busto de Abraham Lincoln, uma estatueta de Abraham Lincoln, um dicionário de Português, um cinzeiro com meio charuto apagado, pilhas de jornais ainda em sacos plásticos, um capacete de revolucionário de 1932 e, agora, um cálice de vinho. Dos grandes.
Jânio já tinha liquidado o primeiro em dois goles. Noto que está de tênis. Tiro o paletó, afrouxo a gravata e ataco o Chivas. A primeira dose desce redonda. Três da tarde, confiro no relógio. A conversa deve ir até as cinco. O regulamento é sucinto e claro: perde quem fica grogue mais cedo, e o intervalo entre cada gole não pode passar de cinco minutos. Com seis copos ganho essa parada, calculo. Com oito, mando o homem à lona. Ninguém aguenta tanto. Nem ele.
Ele toma a iniciativa com um gancho no fígado do governador Paulo Maluf, que não aprecia a idéia de transmitir o cargo ao ex-presidente.
─ Deus me deu um Adhemar de Barros com correção monetária ─ Jânio surpreende Jomar com a brusca mudança de opinião sobre a figura que havia elogiado de manhã e agora, no quarto cálice, está comparando ao velho inimigo que transformou em sinônimo de corrupto.
Ainda não decidiu se será candidato a governador, fico sabendo no fim do segundo copo.
─ Se o for, considero-me imbatível ─ solta a famosa combinação próclise-ênclise.
Gira pelo palco da luta sem sinais de cansaço. Trata de temas variados ─ governo militar, inflação, Leonel Brizola, problemas domésticos ou planetários, biquíni, Alberto Pasqualini, briga de galo, Winston Churchill ─ sem embaralhar o raciocínio nem claudicar no falatório. Termina o quinto cálice. Já vai derrubando o sexto entre comentários sobre governos fortes e governos fracos quando vislumbra um vulto na janela. Interrompe a discurseira, gira a cabeça para a direita, abre um sorriso e ergue a voz:
─ Olha! Parece um capuchinho!
O capuchinho é Pedro Martinelli, que segue disparando flashes como se não tivesse ouvido nada. Corpulento, barba e cabeleira compridas e ruivas, rosto rubro de nascença avermelhado pelo sol do Guarujá, Pedrão parece mesmo um capuchinho, concordo em silêncio. Somos amigos há séculos. Como é que nunca percebi o que Jânio enxergou com tanta nitidez mesmo estando pra lá de Bagdá? E a poucos metros de Marrakesh, deduzo ao ouvir o que está dizendo sem que ninguém tenha feito alguma pergunta sobre o tema.
─ Os Estados Unidos estão em franca decadência. Para substituí-los, está emergindo a China, que aposentará o marxismo e será a grande potência do próximo século.
Coisa de profeta, saberei menos de 30 anos depois. Coisa de maluco, achei naquele instante.
─ Acham que sou louco ─ desconfio de que ele adivinhou o que estou pensando.
─ Responsabilizam-me até pelas calmarias que trouxeram Pedro Álvares Cabral a esta terra.
Termina o oitavo cálice. Começa o quarto copo. Dona Eloá aparece na porta do escritório com um talão de cheques na mão, destaca uma folha e pede ao marido que coloque data e assinatura. A quantia ela vai preencher no supermercado, explica.
─ Você precisa disto para quê? ─ Jânio confirma a fama de sovina.
─ O que é que você acha? Esta casa ficou vazia dois meses e meio─ a paciência de dona Eloá não tem fim.
Ele atende à solicitação e devolve o cheque.
─ Você assinou na data e datou a assinatura ─ a paciência de dona Eloá está perto do fim. ─ Assine outro cheque.
─ Eles aceitam assim mesmo ─ encerra o assunto Jânio.
É agora, decido. Quem confunde data e assinatura não está bem. Empunho o quinto copo grávido de otimismo. Ele empunha o nono cálice com a expressão de quem flutua sobre nuvens profundamente azuis. É a bebedeira, imagino. É a autoconfiança que identifica um grande campeão, descobriria em meia hora.
Era tarde demais.