sábado, 16 de maio de 2009

Contando causo...



Guaiaca Lindaça

gentileza de Claudio Mossmann Rodrigues
Um peão lá da Bossoroca, conhecido como Mano Tasso, ginete dos buenassos, tinha uma beleza de guaiaca da qual muito se orgulhava.
Ganhou a dita guaiaca num concurso de tiro de laço lá pras bandas de Santiago do Boqueirão. Era uma guaiaca flor de especial, couro brazino de touro chucro, muita prata e incrustada com pedras trabalhadas com arte... Ônix, Ágatas, Turmalinas e até uma baita esmeralda ornavam a hermosa peça de indumentária, que era o xodó do índio taura.
Por onde quer que andasse, era comum a admiração causada pela tal guaiaca. Não poucas nem mixurucas eram as propostas que recebia para vendê-la ou mesmo cambiá-la. "Dou uma parelha de carneiros", ou "Troco por um barril de pinga da boa e mais minha guaiaca velha". - Não importava a proposta, Mano Tasso não se desfazia por nada de sua bela guaiaca, que tanto chamava a atenção das chinocas pelas bailantas e bochinchos que frequentava...
Tinha até os que tentavam levar a guaiaca em alguma aposta, mas não adiantava, pois o taura se garantia - fosse no jogo do osso, no carteado ou cancha reta - sempre acabava com a guaiaca e as prendas apostadas pelos incautos. "Alem de bonitaça, ainda me dá sorte esta minha guaiaca" costumava bravatear...
Certa feita lá pros lados de Santo Angelo, a guaiaca chamou a atenção de um tal de Chico Espora, que tentou de todas as formas ficar com a guaiaca - que Mano Tasso às vezes chamava de "meu talismã". Vendo que nada adiantava, resolveu "desistir" de ganhar a guaiaca e partiu para uma tática diferente. Não falou mais no assunto e passou a puxar conversa-fiada e meter trago guela-baixo do dono da guaiaca.
O índio não se entregava fácil pra canha, e foi "perciso" quase três litros da que matou o guarda pra entortar a guampa do Mano Tasso. Sentindo que havia se passado no trago, e pressentindo a maldade, deu um jeito de sair do bolicho - alegando que tinha que encontrar uma chinoca e que a noite se achegava e tal e cousa.
Montou no zaino e saiu picada a fora, sem perceber que era seguido pelo maleva do Chico Espora... Pelas tantas, resolveu apear pra tirar um cochilo encostado numa árvore até esfriar os miolos e passar a bebedeira.
Era a oportunidade que o Chico esperava, e mal o Mano apagou, foi subtraído de sua tão estimada guaiaca.
Quando acordou e deu por falta da guaiaca, bateu um misto de desespero e raiva no coitado do Mano Tasso. "Mas que barbaridade tchê, isto é cousa que não se faz nem com cachorro comedor de ovelha" - pensou se sí para persí nosso personagem.
Partiu em louca disparada, levantando polvadeira rumo ao bolicho onde enchera a cara, disposto a sangrar o desgranido que levara a guaiaca. Mas nada. O desalmado ladrão havia se escafedido mundo-fora e o pobre do Mano Tasso - por mais que assuntasse e procurasse o maleva - não tinha jeito de encontrar.
Alguns meses despues, já quase resignado pela perda da amada guaiaca, encontra em um bolicho o tal Chico - guaiaca na cintura - bebendo e contando vantagem numa roda de peões.
Sentindo em suas veias o sangue a ferver, resolve acabar com a vida do Chico ali mesmo, mas antes disso vai desacatar e desmascarar o safado, pra que todos saibam quem é o verdadeiro dono da guaiaca e que a morte é o justo salário para um ladrão.
Como quem não quer nada com nada, se aprochega na roda de charla e, mão na solinge e olho no olho de sua iminente vítima, dispara:
- Que mal le pergunte, onde arranjou esta guaiaca ?
O Chico, pressentindo o perigo, manteve a calma e respondeu:
- Pues sabes, tchê... Esta belezura de guaiaca eu peguei de um borracho que encontrei na beira do caminho... Aliás, não foi só a guaiaca, sabes como é... cú de bêbado não tem dono, então aproveitei a ocasiã pra pegar a guaiaca e barranquear o pau-d'água - pois que um traste daqueles não merece uma guaiaca tão bonita... Mas porquê perguntas da guaiaca? Por acauso conhecias o dono?
E o infeliz do Mano Tasso:
- Por nada não... bonita guaiaca...

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