sábado, 29 de dezembro de 2012

Intocáveis...,


‘Mexeu com a igualdade, mexeu com todo mundo’, por Fernando Gabeira

PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA SEXTA-FEIRA
FERNANDO GABEIRA
O sucesso do filme Lincoln, de Steve Spielberg, inspirou uma série de artigos nos Estados Unidos ressaltando a importância da política, quando é realizada por pessoas generosas com o objetivo de melhorar a vida de milhões.
Os articulistas esperam que a exibição do filme leve os espectadores a lamentar a mediocridade da atmosfera política de hoje e que desperte o desejo de elevar seu nível por meio da própria participação.
Não vi o filme, apenas as entrevistas de Spielberg e de Daniel Day-Lewis, que interpreta Lincoln. Consegui, entretanto, o livro que, de certa forma, inspirou o filme: Team of Rivals, The Political Genius of Abraham Lincoln, de Doris Kearns Goodwin. A autora se estende também na biografia dos três candidatos que disputaram com Lincoln no Partido Republicano. Todos jovens ambiciosos e capazes, admirados pelos seus eleitores.
Não posso prever que efeito o filme terá nos Estados Unidos. Noto apenas que a época empurrava para a grandeza: todos saíram de casa e cruzaram os Estados Unidos para construir sua carreira. E havia um grande tema esperando por eles: a escravidão.
Os grandes temas ajudam, quando os políticos são capazes. Joaquim Nabuco, no Brasil, enriqueceu sua trajetória na luta contra a escravidão. Lincoln é produto de outra cultura e se insere de modo especial no momento político americano. Mas, como a reflexão sobre a política trata de variáveis universais, pode ser que desperte algum interesse no Brasil.
Vivemos um momento estranho. Dois presidentes, José Sarney e Lula, defendem-se reciprocamente com o argumento de que estão acima de suspeitas ou investigações. Sarney conferiu a Lula a condição de inalcançável e este, por sua vez, no auge do escândalo no Senado, afirmou que Sarney não deveria ser tratado como uma pessoa qualquer. Criaram uma irmandade dos intocáveis. Sarney já tem um museu dedicado à sua vida; Lula está a caminho de construir o seu.
Além de intocável e com um museu ainda em vida, Sarney também é imortal. Essa condição ainda falta a Lula, mas não me surpreenderia se o amigo conseguisse para ele uma cadeira na Academia de Letras.
Na década de 1960, escrevi um artigo ironizando as pessoas que se achavam especiais porque moravam em Ipanema. Até hoje rola pela internet. Jovem existencialista, mostrava a futilidade de se julgar especial por pertencer a algum lugar ou grupo ou mesmo por alguma condição nata. Era a forma de negar a importância das opções cotidianas, a construção de nossa realidade por meio das escolhas mais intrincadas. Sarney e Lula não reivindicam uma vantagem nata, muitos menos a que decorre do pertencimento a um grupo ou lugar. Eles se reclamam intocáveis pelos serviços prestados ao país. E nisso reside seu erro monumental. Não existem serviços prestados ao País que possam garantir uma condição acima de qualquer suspeita. E, se foram prestados com essa expectativa, corrompem as suas próprias intenções generosas.
Sarney e Lula fizeram nesse aspecto particular um pacto pelo atraso. Com o domínio do Congresso que o primeiro exerce e a popularidade do segundo, continuam com potencial de mobilizar a maioria. Mas sempre existirá uma minoria, resistindo com a frase tantas vezes subversiva: somos todos iguais perante a lei.
Compreendo que há uma luta política. Os governistas precisam proteger a imagem de Lula, pois ela é a garantia de futuras vitórias eleitorais. O desgaste de Lula enfraquece um projeto de poder.
Não compreendo, entretanto, o argumento que nos faz retroceder ao período anterior à Revolução Francesa. Esse desejo de poder estendido ao controle da biografia, da inevitabilidade da morte, do alcance da lei, é um desejo patético.
Mesmo aqueles que acham que o mundo começou com o nascimento de Lula, em Garanhuns (PE), ou com o nascimento de José Ribamar, em Pinheiro (MA), deveriam ser sensíveis à bandeira da igualdade.
A fraternidade dos intocáveis é uma construção mental que rebaixa as conquistas do movimento pela democratização no Brasil e nos divide entre semideuses e seres humanos.
Na verdade, o argumento dos dois presidentes aprofunda a desconfiança na política e nos políticos. Por isso a chegada de Lincoln, o filme, apesar de uma cultura e uma época diferentes, pode ser um pequeno sopro de ar fresco na sufocante atmosfera política brasileira.
Nem nos Estados Unidos nem aqui é possível repetir a grandeza política de Lincoln. Já no segundo capítulo do livro de Doris Goodwin é possível imaginar como Lincoln brigaria feio com os marqueteiros modernos: ele se recusava a dramatizar ou sentimentalizar sua infância na pobreza.
Ainda assim, com todas as ressalvas, precisamos de outras épocas, outros líderes, para ao menos desejar algo melhor do que o que estamos vivendo. Não me refiro, aqui, à satisfação majoritária com as condições materiais de vida. Muito menos quero dar à trajetória democrática no século 21 a dramaticidade de um tempo de guerra e escravidão.
Quando um presidente do Brasil diz uma barbaridade, sentimos muito. Quando dois presidentes dizem a mesma barbaridade, isso nos obriga a apelar para tudo, até para um bom cinema.
Depois do cha cha cha della secretaria, Lula se vê em apuros com as denúncias de Marcos Valério. Concordo com os petistas de que não se deva confiar nele, embora tenham confiado tão profundamente em 2003. Mas a melhor maneira de desconfiar é analisar as acusações, apurando-as com cuidado. É assim que se descobre o que é verdade e o que é mentira.
Fora disso, só construindo uma redoma onde Lula e Sarney possam estar a salvo dos percalços que ameaçam os simples mortais. E criar essa visão religiosa de uma santíssima dualidade. E ninguém se ajoelha e reza diante dela, porque a ferramenta hoje não é oração do passado. Basta um #tag.
Se Sarney e Lula se contentassem com um museu e a condição de imortais, tudo estaria bem. Mas, mexeu com a igualdade, mexeu com todos nós.

Teúda e manteúda...,


Um mês depois de revelado o escândalo, Lula continua fugindo de perguntas sobre o caso Rose. Logo saberá que é impossível escapar de quadrilheiras de estimação

O berreiro dos cardeais, os uivos dos apóstolos, a choradeira dos devotos, as lamentações das carpideiras ─ nada disso vai adiantar. Nenhuma espécie de chilique da seita lulopetista impedirá que o mestre seja obrigado a quebrar a mudez malandra. Desde 23 de novembro, quando a Operação Porto Seguro tornou nacionalmente conhecida uma certa Rosemary Noronha, Lula foge de comentários sobre a quadrilheira de estimação. O silêncio que começou há mais de um mês pode até estender-se por duas, três semanas. A trégua do Ano Novo ajuda. Mas o ex-presidente não escapará da hora da verdade.
A menos que todos os jornalistas resolvam perder definitivamente a voz, o homem que nunca sabe de nada será confrontado com perguntas e cobranças que exigirão álibis menos bisonhos e respostas mais criativas. Se repetir, por exemplo, que se sente “apunhalado pelas costas”, Lula se arriscará a ouvir de volta uma desmoralizante gargalhada nacional. Se confirmar que “não se surpreendeu” com o que houve, como balbuciou em Berlim, terá de ser menos ambíguo: não se surpreendeu com as gatunagens de Rose, com o atrevimento do bando, com a eficiência da Polícia Federal ou com o quê?
O colecionador de escândalos já deveria ter aprendido que nenhuma patifaria de grosso calibre deixa de existir ou fica menor só porque o protagonista da história finge ignorá-la. Atropelado pelas apurações da PF, passou as duas primeiras semanas enfurnado no Instituto Lula, de onde só saiu para uma festa no Rio e uma discurseira para catadores de papel em São Paulo. Sempre cercado por muros humanos, não concedeu aos repórteres um único segundo de sua preciosa atenção. Depois, viajou para longe do Brasil e passou uma semana driblando jornalistas com saídas pelos fundos e escapadas pela cozinha. Para quê? Para nada.
Se já era de bom tamanho quando partiu, a encrenca ficara um pouco maior quando voltou. Indiciada pela Polícia Federal, Rosemary Noronha foi em seguida denunciada pelo Ministério Público por formação de quadrilha, corrupção passiva, tráfico de influência e falsidade ideológica. Entre os comparsas incluídos na denúncia figuram os irmãos Paulo Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Rubens Vieira, ex-diretor da  Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e Marcelo Vieira, que vive de expedientes. Os três bebês de Rosemary são os líderes da máfia dos pareceres técnicos forjados.
Os lucros da organização criminosa aumentaram extraordinariamente depois do recrutamento da chefe de gabinete do escritório paulista da Presidência. Rose apresentava-se aos interlocutores conforme o grau de intimidade. Para os íntimos, era a mulher do Lula. Para o resto, a namorada do presidente. Nas reuniões com subordinados, declamava o primeiro verso do hino dos novos-ricos: “Aqui tudo é chique”. Parecia-lhe especialmente chique a decoração do escritório na esquina da Paulista com a Augusta. Numa das paredes, um imenso pôster mostra Lula (com a camisa do Corinthians) batendo um pênalti.
Enquanto esteve acampada na casa da filha Mirele,  também demitida da Anac, Rose pôde contabilizar os estragos causados pela brusca tempestade. De um dia para o outro, perdeu o emprego oficial, o posto de primeira-dama oficiosa, o escritório, o salário superior a R$ 10 mil, os amigos e o namorado. Acabou a vida mansa proporcionada pelos lucros da quadrilha. Acabaram as viagens internacionais ou mesmo domésticas: excluída das comitivas presidenciais desde a posse de Dilma Rousseff, agora não pode sequer sonhar com outro cruzeiro no mar de lhabela, ao som da dupla sertaneja Bruno e Marrone.
Sempre à beira de um ataque de nervos, Rose acha que os companheiros do PT não lhe estenderam a mão na hora da tormenta. É uma caixa-preta até aqui de  mágoa. Tão perigosa quanto Paulo Vieira, que anda sondando o Ministério Público sobre as vantagens da delação premiada. Nesta segunda-feira, a sindicância aberta pelo Planalto para apurar o envolvimento de funcionários públicos com a quadrilha foi prorrogada por dez dias.  Talvez dê em nada. Mas o processo judicial começou a andar. E o desfecho do julgamento do mensalão avisou que ninguém mais deve considerar-se condenado à perpétua impunidade.
Nos escândalos anteriores, organogramas secretos previam a existência, entre o líder supremo e os meliantes em ação, de um alto comando formado por companheiros ─ que sempre funcionou como um oportuníssimo airbag na hora do estrondo. Desta vez nâo há intermediários entre o candidato a inimputável e a turma da delinquente que protege há quase 20 anos. As impressões digitais do ex-presidente estão por toda parte.
Foi Lula quem instalou Rosemary Noronha no gabinete em São Paulo e pediu a Dilma que a mantivesse no cargo. Foi Lula quem, a pedido de Rose, transformou os irmãos Vieira em diretores de agências reguladoras. Sem Lula, Rose não se teria juntado à comitiva presidencial em 23 viagens internacionais. Sem Lula, uma alpinista social de subúrbio jamais teria feito carreira como traficante de influência. Era Lula a fonte de poder da quadrilha, que não teria existido sem ele.
Pouco importam os balidos do rebanho, a vassalagem dos governadores ou as genuflexões de Dilma Rousseff (que conhecia muito bem a representante da Presidência em São Paulo). Rose é um caso de polícia criado por Lula. Todos são iguais perante a lei. Ele que trate de encontrar explicações ─ se é que existe alguma.

Triste realidade...,


‘O Estado do medo’, um artigo de Marco Antonio Villa

PUBLICADO NO GLOBO DESTA TERÇA-FEIRA
MARCO ANTONIO VILLA
Em meio ao processo do mensalão, as diversas operações da Polícia Federal ou a turbulenta relação entre os poderes da República, o Brasil esqueceu do Maranhão. Na fase final da guerra contra Canudos, em 1897, os oficiais militares costumavam dizer que não viam a hora de voltar para o Brasil. Quem hoje visita o Maranhão fica com a mesma impressão. É um estado onde o medo está em cada esquina, onde as leis da República são desprezadas. Lá tudo depende de um sobrenome: Sarney. Os três poderes são controlados pela família do, como diria Euclides da Cunha, senhor do baraço e do cutelo. A relação incestuosa dos poderes é considerada como algo absolutamente natural. Tanto que, em 2009, o Tribunal Regional Eleitoral anulou a eleição para o governo estadual. O vencedor foi Jackson Lago, adversário figadal da oligarquia mais nefasta da história do Brasil. O donatário da capitania ─ lá ainda se mantém informalmente o regime adotado em 1534 por D. João III ─ ficou indignado com o resultado das urnas. A eleição acabou anulada pelo TRE, que tinha como vice-presidente (depois assumiu a presidência) a tia da beneficiária, Roseana Sarney.
No estado onde o coronel tudo pode, a Constituição Federal é só um enfeite. Lá, diversos artigos que vigoram em todo o Brasil, são considerados nulos, pela jurisprudência da famiglia . O artigo 37 da nossa Constituição, tanto no caput como no §1º, é muito claro. Reza que a administração pública “obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência” e “a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos”. Contudo, a Constituição maranhense, no artigo 19, XXI, § 9º determina que “é proibida a denominação de obras e logradouros públicos com o nome de pessoas vivas, excetuando-se da aplicação deste dispositivo as pessoas vivas consagradas notória e internacionalmente como ilustres ou que tenham prestado relevantes serviços à comunidade na qual está localizada a obra ou logradouro”.
Note, leitor, especialmente a seguinte passagem: “excetuando-se da aplicação deste dispositivo as pessoas vivas e consagradas notória e internacionalmente como ilustres”. Nem preciso dizer quem é o “mais ilustre” daquele estado ─ e que o provincianismo e o mandonismo imaginam que tenha “consagração internacional.” Contudo, a redação original do artigo era bem outra: “É vedada a alteração dos nomes dos próprios públicos estaduais e municipais que contenham nome de pessoas, fatos históricos ou geográficos, salvo para correção ou adequação nos termos da lei; é vedada também a inscrição de símbolos ou nomes de autoridades ou administradores em placas indicadores de obras ou em veículos de propriedade ou a serviço da administração pública direta, indireta ou fundacional do Estado e dos Municípios, inclusive a atribuição de nome de pessoa viva a bem público de qualquer natureza pertencente ao Estado e ao Município”. Quando foi feita a mudança? A 24 de janeiro de 2003, com o apoio decisivo de Roseana Sarney. Desta forma foi permitido que centenas ─ centenas, sem exagero ─ de logradouros e edifícios públicos recebessem, em todo o estado, denominações de familiares, especialmente do chefe. Para mostrar o desprezo pela ordem legal, em 1997 foi criado o município de Presidente Sarney, isto quando a Constituição Federal proíbe e a estadual ainda proibia. Quem criou o município? Foi a filha, no exercício do governo. Mas a homenagem ficou somente na denominação do município. Pena. Os pobres sarneyenses ─ é o gentílico ─ vivem em condições miseráveis: é um dos municípios que detêm os piores índices de desenvolvimento humano no Brasil.
Como o Brasil esqueceu o Maranhão, a família faz o que bem entende. E isto desde 1965! Sabe que adquiriu impunidade pelo silêncio (cúmplice) dos brasileiros. Mas, no estado onde a política se confunde com o realismo fantástico, o maior equívoco é imaginar que todas as mazelas já foram feitas. Não, absolutamente não. A governadora resolveu fazer uma lei própria sobre licitação. Como é sabido, a lei federal 8.666 regulamenta e tenta moralizar as licitações. Mas não no Maranhão. Por medida provisória, Roseana Sarney adotou uma legislação peculiar, que dispensa a “emergência”, substituída pela “urgência”. Quem determina se é ou não urgente? Bingo, claro, é ela própria. Não satisfeita resolveu eliminar qualquer restrição ao número de aditivos. Ou seja, uma obra pode custar o dobro do que foi contratada. E é tudo legal. Não é um chiste. É algo gravíssimo. E se o Brasil fosse um país sério, certamente teria ocorrido, como dispõe a Constituição, uma intervenção federal. O que lá ocorre horroriza todos aqueles que tem apreço por uma conquista histórica do povo brasileiro: o Estado Democrático de Direito.
O silêncio do Brasil custa caro, muito caro, ao povo do Maranhão. Hoje é o estado mais pobre da Federação. Seus municípios lideram a lista dos que detém os piores índices de desenvolvimento humano. Muitos dos que lá vivem lutam contra os promotores do Estado do medo. Não é tarefa fácil. Os tentáculos da oligarquia estão presentes em toda a sociedade. É como se apresassem para sempre a sociedade civil. Sabemos que o país tem inúmeros problemas, mas temos uma tarefa cívica, a de reincorporar o Maranhão ao Brasil.

sábado, 22 de dezembro de 2012

O epílogo do escândalo estragou o Natal e o réveillon de quadrilheiros que nunca se imaginaram dormindo na gaiola. Mais um motivo para nos despedirmos entre brindes do ano em que, pela primeira vez desde 2005, o país que presta derrotou a nação dos corruptos.

Joaquim Barbosa agiu com sensatez: seria um erro antecipar o primeiro réveillon na cadeia dos quadrilheiros condenados
Aturdidos com a descoberta de que todos são iguais perante a lei, os que sempre se acharam mais iguais que os outros caçam atabalhoadamente pretextos que tornem menos absurda a discurseira forjada para fantasiar de “julgamento político” o desfecho exemplar de um ato juridicamente perfeito. Como registrou nesta sexta-feira ocomentário de 1 minuto para o site de VEJA, os homens de bem devem evitar equívocos que ajudem a bandidagem a posar de vítima de golpistas cruéis, da imprensa sem coração e de juízes sem juízo.
Seria um erro, por exemplo, decretar a prisão preventiva dos condenados, solicitada pelo procurador-geral Roberto Gurgel. O ministro Joaquim Barbosa preferiu não antecipar o réveillon na cadeia já marcado para o ano que vem, quando a sentença terá transitado em julgado e só restará aos presidiários queixar-se ao bispo (Edir Macedo, provavelmente).
Agora na presidência do STF, o relator Joaquim Barbosa já avisou que o acórdão ficará pronto até maio. Com a sensata decisão de hoje, estará ainda mais à vontade para rechaçar a procissão de truques, recursos e embargos concebidos para retardar o cumprimento das penas. E se poupou de dissabores desgastantes e desnecessários. Com o recesso do tribunal, no momento é ele quem decide sozinho. Em breve, contudo, essas deliberações monocráticas serão confiadas a Ricardo Lewandowski.
O ministro da defesa dos mensaleiros nem esperaria pela chegada dos pedidos dos advogados para acionar a usina de habeas corpus. Alguém duvida que libertaria todos (e tentaria mandar Roberto Jefferson para a solitária)? Os brasileiros honestos esperaram sete longos anos pelo julgamento dos mensaleiros. Podem aguardar alguns meses até vê-los instalados de vez num presídio.
O epílogo do escândalo estragou o Natal e o réveillon de quadrilheiros que nunca se imaginaram dormindo na gaiola. Mais um motivo para nos despedirmos entre brindes do ano em que, pela primeira vez desde 2005, o país que presta derrotou a nação dos corruptos.
*Augusto Nunes

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Tem muita gente que acredita...,


Empolgado com a inauguração da Arena Castelão, o neurônio solitário que se empolga até quando inaugura pedras fundamentais enxergou no primeiro estádio pronto para abrigar jogos da Copa do Mundo outra evidência de que governa uma potência de impressionar presidente americano. Faltam 11, mas o pontapé inicial bastou para que Dilma Rousseff desandasse na discurseira: “O Castelão honra o Brasil e mostra pro Brasil inteiro que nós somos capazes, sim, não só di ganhá o jogo no campo mas di ganhá o jogo fora do campo”, caprichou no domingo em Fortaleza.
“Nesse momento, olhando este estádio, nós sabemos que nós damos conta das mais diferentes, das mais importantes ações e obras”, gabou-se a supergerente de araque. Nem todas, nem tantas, alertara na véspera mais um apagão. Sobre a “interrupção do fornecimento de energia”, a oradora não disse uma única vírgula. Apagão é coisa de FHC desde 2003, quando Lula avisou que descobrira uma doutora em energia capaz de tornar o Brasil mais feérico que Las Vegas. Passados dez anos, o que mudou foi o nome da coisa. Apagão virou apaguinho.
O comício em Fortaleza confirmou que o espetáculo da tapeação não pode parar. O Brasil que Lula inventou e Dilma aperfeiçoa é tão deslumbrante que, se melhorar, estraga. Nada a ver com o país infestado de governantes ineptos, ministros corruptos, parlamentares vigaristas e quadrilheiros de estimação. Esse Brasil de verdade castiga o bolso e a paciência dos habitantes com licitações fraudadas, roubalheiras espantosas, colossos que nunca ficam prontos, canteiros de obras desertos, maluquices em ruínas emonumentos ao desperdício. O governo não cuida do que existe nem executa o que planeja, mas é muito inventivo.
Os  programas ou projetos federais, por exemplo, já não são enterrados quando morreram. Por falta do atestado de óbito, continuam oficialmente vivos. O Fome Zero, o Primeiro Emprego, o PAC da Copa, o PAC da Olimpíada ou o Segundo Tempo, por exemplo, morreram de inépcia, de ladroagem, de inoperância, de politicagem ─ ou da soma dessas pragas tropicais. Permanecem no porão dos fracassos insepultos,para que os brasileiros que pagam todas as contas não enxerguem os naufrágios que financiaram nem os embustes eleitoreiros em que embarcaram.
É o caso do terceiro aeroporto de São Paulo, que começou a tomar forma em 20 de julho de 2007, na entrevista coletiva concedida por Dilma Rousseff em Congonhas. “Determinamos a construção de um novo aeroporto e a expansão dos já existentes. Os estudos ficarão prontos em 90 dias”, acelerou a Mãe do PAC já na largada do falatório. Onde seria construído?, excitaram-se os jornalistas. “Não sabemos onde será e, se soubéssemos, não diríamos”, ensinou Dilma. “Jamais iríamos dizer isso para não sermos fontes de especulação imobiliária” (veja o vídeo abaixo).
Cinco anos e meio depois, Cumbica e Congonhas estão na antessala do colapso e o terceiro aeroporto não existe. Nesse período, sempre em parceria com o chefe, padrinho e agora preceptor, Dilma fez de conta que reformou Viracopos, construiu o trem-bala, ressuscitou a malha ferroviária e espalhou aeroportos pela rota da Copa de 2014. E ainda achou pouco. Na visita à França, resolveu assombrar uma plateia de empresários com a novidade de dimensões chinesas: a presidente que não construiu nenhum aeroporto vai fazer 800 de uma vez só.
“Oitocentos aeroportos parecem muitos, não?”, perguntou a jornalistas brasileiros um perplexo Tony Tyler, executivo chefe da Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês). Deveria ter buscado informações com gente menos desinformada ─ e menos compassiva com um governo que esconde a indecorosa nudez administrativa com fantasias que fundem muita propaganda, muita discurseira e muito cinismo.
Por ignorância ou má fé, a imprensa limitou-se a reproduzir o absurdo. Existem no Brasil 721 aeroportos ou aeródromos com pistas pavimentadas, quase todos em estado lastimável. Dilma decidiu dobrar esse número porque os eleitores de todas as cidades com mais de mil habitantes merecem andar de avião. Os jornalistas só desconfiaram da conversa de hospício dois dias mais tarde. E então se soube que Dilma, antes da viagem, examinara numa reunião com assessores da área um plano que prevê a construção de menos de 50 aeroportos.
Viraram 800 porque Dilma Rousseff mente compulsivamente, e com a naturalidade de espiã de cinema. A candidata à presidência da República passou a campanha de 2010, por exemplo, prometendo inaugurar 6 mil creches nos quatro anos seguintes. Passados dois anos, construiu sete. Aplicada aos 800 aeroportos, essa conta permite calcular quantos estarão em funcionamento no fim de 2014. Nenhum. 
*Augusto Nunes

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Enrolado como nunca antes na história...,

Lurian adere ao plano suicida do PT e sai em defesa do pai, o enrolado e messiânico Lula
Questão genética – Acostumada a viver à sombra do pai famoso, o ex-presidente Lula, e às benesses nada ortodoxas que ele lhe proporcionou, inclusive com um pagador oficial de contas,Lurian Lula da Silva, filha do ex-metalúrgico com a enfermeira Mirian Cordeiro, arregaçou os punhos de renda e entrou na onda para blindar o responsável pelo período mais corrupto da história e que agora enfrenta difícil situação.
Em sua página no Facebook, Lurian afirmou que atacar o seu pai é o mesmo que estar “mexendo em vespeiro”. “A questão é a seguinte: estão mexendo em vespeiro!”, escreveu a filha de Lula, afirmando que ele se transformou no “pai do povo brasileiro” e “o melhor presidente do Brasil”. Para completar o ufanismo que a impede de ver a dura realidade que ronda o próprio pai, Lurian completou: “mexer com Lula é mexer com mais de 80% da população. “Meu amado e querido pai-presidente, eu e todos estes meus ‘irmãos’ para quem você governou [...] somos seu escudo e ninguém vai mexer com você!”
Lurian, assim como qualquer outro cidadão brasileiro, tem direito ao dispositivo constitucional da livre manifestação do pensamento, mesmo que este seja uma sonora inverdade. É preciso esclarecer, porém, que ninguém, nem mesmo Lula, que acredita ser um semideus, está acima das leis.
Por tudo o que se comenta nos bastidores do poder, Lurian possivelmente está enganada ou, então, partiu para essa operação típica de kamikaze, na tentativa de evitar o mal que se anuncia. Não causará surpresa se, na onda de seguidos escândalos, autoridades pedirem a quebra do sigilo fiscal e telefônico da família Lula da Silva. Até porque, fumaça não surge sem a presença de fogo.
http://ucho.info/lurian-adere-ao-plano-suicida-do-pt-e-sai-em-defesa-do-pai-o-enrolado-e-messianico-lula

Feliz Natal!!!


Organiza o Natal

Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon — sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo.

Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso. A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento.

A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro.

A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém.

Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.

O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.

Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.

A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã.

O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.

E será Natal para sempre.

Ah! Seria ótimo se os sonhos do poeta se transformassem em realidade.

Texto extraído do livro "Cadeira de Balanço", 1972, pág. 52.

*Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Visão autoritária...,


‘Pró-mercado?’, por Carlos Alberto Sardenberg

PUBLICADO NO GLOBO DESTA QUINTA-FEIRA
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
A presidente Dilma tem dito que seu governo é pró-mercado, mas, na prática, suas políticas destilam forte hostilidade ao mercado. No primeira coluna sobre o tema, comentamos como isso foi feito com os bancos, a partir do nobre objetivo de derrubar juros.
Fez o mesmo com as elétricas. Assim como reclamavam dos juros, todos os interlocutores da presidente também protestavam contra o preço da energia, o mais alto do mundo, sendo quase 50% de impostos (federais e estaduais). Dilma promete a redução, cortando um pouquinho de encargos e impostos e um poucão da rentabilidade de empresas cujas concessões estão vencendo nos próximos anos. Vai pagar muito menos do que as empresas esperavam por conta de ativos ainda não amortizados e impor uma tarifa lá embaixo. Ou seja, jogou no chão os ativos e a rentabilidade das companhias envolvidas.
E sem qualquer alternativa. Disse às empresas: quer, quer, não quer, aguente as consequências.
Os acionistas minoritários privados da Eletrobrás, uma estatal federal, reclamaram. As ações da estatal estão virando pó, o que faz inteiro sentido. As pessoas haviam comprado as ações com base em dados informados e expectativas formadas pela própria companhia. Se, de um dia para outro, ativos que a estatal dizia valer R$ 30 bilhões não valem nem a metade, se os lucros esperados transformam-se em prejuízo, você trata de se livrar desses papéis, não é mesmo?
Já no Palácio do Planalto, conforme informou Claudia Safatle em sua bem informada coluna de 30 de novembro no Valor, o pessoal acha que se trata de ataque especulativo do mercado contra a Eletrobrás.
Para completar a hostilidade, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, atacou as três elétricas estatais estaduais que não aceitaram os temos do governo federal, dizendo que ficaram ao lado dos acionistas contra o povo.
Ou seja, acionistas são capitalistas predadores.
Mesmo, por exemplo, os fundos de pensão dos trabalhadores? Mesmo o pessoal que usou FGTS para comprar ações da Petrobrás.
Acionistas fornecem capital bom às empresas, algo de que a economia brasileira precisa para expandir investimentos. A presidente diz isso quando informa que tem um programa para estimular o mercado de capitais.
Mas com a destruição do valor das ações do BB e de outros bancos, da Eletrobrás e de outras elétricas, assim como da Petrobrás, quem compra esse programa?
Haveria solução de mercado para derrubar o preço das tarifas de energia? Sim, menos impostos e mais licitações abertas.
(Voltaremos ao tema)
FORA, ESTRANGEIROS!
Ao recusar a sugestão da revista Economist para que demitisse Guido Mantega e formasse nova equipe econômica, a presidente Dilma enumerou três argumentos:
1. a revista é estrangeira e não tem que se meter em um governo eleito pelo povo brasileiro;
2. o mundo desenvolvido, onde fica a sede da Economist, está em piores condições;
3. Nunca se viu um jornal propor demissão de ministros.
Os três argumentos estão equivocados.
Sobre o primeiro: a presidente Dilma é estrangeira quando está na Europa, mas isso não a impede de criticar as políticas econômicas locais. No mundo globalizado, é natural que os todos estejam o tempo todo se avaliando. Além disso, o argumento da presidente é oportunista. Quando a mesma Economist fez uma capa dizendo “O Brasil decola”, o pessoal do governo jogou a matéria na cara dos críticos brasileiros.
Sobre o segundo argumento: nem todo o mundo desenvolvido vai mal. A Alemanha, por exemplo, está em condições bem melhores, consegue ter uma indústria mais competitiva que a brasileira. Aliás, eis um modelo gringo que deveria ser copiado. Os EUA crescendo mais que o Brasil.
Sobre o terceiro argumento: a presidente não está lendo os jornais, muito menos a Economist. A revista frequentemente sugere e recomenda a demissão de ministros dos mais variados países e até mesmo de presidentes e chefes de governo. A imprensa livre e independente faz isso o tempo todo, para o mundo todo.
Na verdade, a única coisa que Dilma não fez ─ e deveria ter feito ─ foi analisar os argumentos da Economist. Não foi um simples “demita o ministro Mantega”. Foi uma ampla reportagem procurando entender por que o Brasil não cresce, enquanto outros emergentes vão muito bem. Mostra que faltam investimentos e reformas e que o ministro Mantega perdeu toda credibilidade para comandar essas mudanças por causa de seus prognósticos equivocados.
Não há nada de ofensivo nisso. Mas a presidente não perde o jeito. Criticada, deixa escapar seus instintos, entre os quais o viés anti-estrangeiro, que antigamente se dizia antiimperialista.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Hélio Bicudo - Entrevista


VÍDEO HISTÓRICO, a pedidos: Homem de vida impecável, ex-amigo de Lula, Hélio Bicudo, 90 anos, explica por que se afastou do PT, critica Lula por ambição de poder e pergunta como é que o ex-presidente ficou tão rico
Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT, detonando o mito Lula (Foto: DEDOC)
Hélio Bicudo, o corajoso homem da lei que enfrentou o Esquadrão da Morte durante a ditadura: vida pessoal impecável, longa militância no PT e desilução com o partido e com Lula (Foto: Dedoc/Editora Abril)
Hélio Bicudo, 90 anos, advogado e procurador de Justiça aposentado de São Paulo, é o que se costumava chamar de homem de bem. Católico, vida pessoal impecável, foi ele quem teve a coragem de enfrentar o esquema macabro do Esquadrão da Morte em plena vigência da ditadura, pondo a nu seus crimes e levando integrantes à cadeia.
Ligado originalmente à democracia cristã e ao falecido governador Carvalho Pinto, o editorialista do Estadão que eu, então jovem redator do Jornal da Tarde, cumprimentava no elevador da velha sede dos dois jornais na Rua Major Quedinho — olhos muito azuis, físico diminuto e sempre ereto, levando uma invariável pastinha de couro repleta de papéis –, para surpresa de muitos filiou-se ao PT em seus primórdios.
Chegou a ser candidato a vice-governador de São Paulo na chapa de Lula, em 1982, e sua ligação com o ex-presidente era tão profunda que após a derrota abrigou o abatido companheiro em sua própria casa durante um mês. Foi secretário da prefeita Luiza Erundina, candidato ao Senado pelo PT, vice-prefeito de Marta Suplicy.
Mas se desiludiu com o PT e com Lula. Desligado há anos do partido, hoje acha que Lula só queria o poder para se locupletar, considera que os apregoados ideais do começo do PT não eram verdadeiros, que Lula nunca quis ser “Pai dos Pobres”, mas, sim, tutelar os pobres em seu próprio benefício.
Critica o aparelhamento do Estado promovido pelo ex-presidente, sua sede de poder e põe em questão até a riqueza pessoal que Lula teria acumulado.
Um espanto.
O vídeo foi gravado pelo blog Revoltados On Line, e tem 35 minutos e 29 segundos. Quem não tiver paciência para assisti-lo todo pode ficar sossegado que já nos primeiros 2 ou 3 minutos há material suficiente para meditar muito sobre o “fenômeno Lula”.
Mas no vídeo inteiro não há 30 segundos que possam ser considerados irrelevantes. Vale a pela conferir.
Há versões mais curtas, de 2 minutos e pouco, de 7 minutos e outras extensões. Muitos leitores, porém, vêm solicitando a postagem desse vídeo histórico. Então, aqui está ele:
*Ricardo Setti

Mais um escândalo..., um roubo para cobrir o outro..., enquanto isso a "presidenta competenta" chegou à 78% de aprovação..., logo chega aos 120% e ninguém vai perceber. Alta popularidade ou alta imbecilidade?


ESCÂNDALO BILIONÁRIO NA PETROBRAS – Resta, agora, saber se, ao fim da apuração, alguém vai para a cadeia! Ou: Quem privatizou a Petrobras mesmo?

É do balacobaco!
Desde que Sérgio Gabrielli, o buliçoso ex-presidente da Petrobras, deixou a empresa, os esqueletos não param de pular do armário. A presidente Dilma Rousseff o pôs para correr. Ele se alojou na Secretaria de Planejamento da Bahia e é tido como o provável candidato do PT à sucessão de Jaques Wagner. Dilma, é verdade, nunca gostou dele, desde quando era ministra. A questão pessoal importa menos. Depois de ler o que segue, é preciso responder outra coisa: o que ela pretende fazer com as lambanças perpetradas na Petrobras na gestão Gabrielli? Uma delas, apenas uma, abriu um rombo na empresa que passa de UM BILHÃO DE DÓLARES. Conto os passos da impressionante reportagem de Malu Gaspar na VEJA desta semana. Prestem atenção!
1: Em janeiro de 2005, a empresa belga Astra Oil comprou uma refinaria americana chamada Pasadena Refining System Inc. por irrisórios US$ 42,5 milhões. Por que tão barata? Porque era considerada ultrapassada e pequena para os padrões americanos.
2: ATENÇÃO PARA A MÁGICA – No ano seguinte, com aquele mico na mão, os belgas encontraram pela frente a generosidade brasileira e venderam 50% das ações para a Petrobras. Sabem por quanto? Por US$ 360 milhões! Vocês entenderam direitinho: aquilo que os belgas haviam comprado por US$ 22,5 milhões (a metade da refinaria velha) foi repassado aos “brasileiros bonzinhos” por US$ 360 milhões. 1500% de valorização em um aninho. A Astra sabia que não é todo dia que se encontram brasileiros tão generosos pela frente e comemorou: “Foi um triunfo financeiro acima de qualquer expectativa razoável”.
3 – Um dado importante: o homem dos belgas que negociou com a Petrobras éAlberto Feilhaber, um brasileiro. Que bom! Mais do que isso: ele havia sido funcionário da Petrobras por 20 anos e se transferiu para o escritório da Astra nos EUA. Quem preparou o papelório para o negócio foi Nestor Cerveró, à frente da área internacional da Petrobras. Veja viu a documentação. Fica evidente o objetivo de privilegiar os belgas em detrimento dos interesses brasileiros. Cerveró é agora diretor financeiro da BR Distribuidora.
Calma! O escândalo mal começouSe você acha que o que aconteceu até agora já dá cadeia, é porque ainda não sabe do resto.
4 – A Pasadena Refining System Inc., cuja metade a Petrobras comprou dos belgas a preço de ouro, vejam vocês!, não tinha capacidade para refinar o petróleo brasileiro, considerado pesado. Para tanto, seria preciso um investimento de mais US$ 1,5 bilhão! Belgas e brasileiros dividiriam a conta, a menos que…
5 – … a menos que se desentendessem! Nesse caso, a Petrobras se comprometia a comprar a metade dos belgas — aos quais havia prometido uma remuneração de 6,9% ao ano, mesmo em um cenário de prejuízo!!!
6 – E não é que o desentendimento aconteceu??? Sem acordo, os belgas decidiram executar o contrato e pediram pela sua parte, prestem atenção, outros US$ 700 milhões. Ulalá! Isso foi em 2008. Lembrem-se que a estrovenga inteira lhes havia custado apenas US$ 45 milhões! Já haviam passado metade do mico adiante por US$ 360 milhões e pediam mais US$ 700 milhões pela outra. Não é todo dia que aparecem ou otários ou malandros, certo?
7 – É aí que entra a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff,então presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Ela acusou o absurdo da operação e deu uma esculhambada em Gabrielli numa reunião.DEPOIS NUNCA MAIS TOCOU NO ASSUNTO.
8 – A Petrobras se negou a pagar, e os belgas foram à Justiça americana, que leva a sério a máxima do “pacta sunt servanda”. Execute-se o contrato. APetrobras teve de pagar, sim, em junho deste ano, não mais US$ 700 milhões, mas US$ 839 milhões!!!
9 – Depois de tomar na cabeça, a Petrobras decidiu se livrar de uma refinaria velha, que, ademais, não serve para processar o petróleo brasileiro. Foi ao mercado. Recebeu uma única proposta, da multinacional americana Valero. O grupo topa pagar pela sucata toda US$ 180 milhões.
10 – Isto mesmo: a Petrobras comprou metade da Pasadena em 2006 por US$ 365 milhões; foi obrigada pela Justiça a ficar com a outra metade por US$ 839 milhões e, agora, se quiser se livrar do prejuízo operacional continuado, terá de se contentar com US$ 180 milhões. Trata-se de um dos milagres da gestão Gabrielli: como transformar US$ 1,199 bilhão em US$ 180 milhões; como reduzir um investimento à sua (quase) sétima parte.
11 – Graça Foster, a atual presidente, não sabe o que fazer. Se realizar o negócio, e só tem uma proposta, terá de incorporar um espeto de mais de US$ 1 bilhão.
12 – Diz o procurador do TCU Marinus Marsico: “Tudo indica que a Petrobras fez concessões atípicas à Astra. Isso aconteceu em pleno ano eleitoral”.
13 – Dilma, reitero, botou Gabrielli pra correr. Mas nunca mais tocou no assunto.
EncerroDurante a campanha eleitoral de 2010, o então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, fez propaganda de modo explícito, despudorado. Chegou a afirmar, o que é mentira descarada, que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, durante a sua gestão, tinha planos de privatizar a Petrobras.
Leram o que vai acima? Agora respondam: quem privatizou a Petrobras? E noto, meus caros: empresas privadas não são tratadas desse modo porque seus donos ou acionistas não permitem. A Petrobras, como fica claro, foi privatizada, sim, mas por um partido. Por isso, foi tratada como se fosse terra de ninguém.
Por Reinaldo Azevedo

Confiança nas Instituições


Judiciário é pouco ou nada confiável, mostra estudo

O Poder Judiciário segue como uma das instituições que têm a menor confiança da população no Brasil, conforme mostra o Índice de Confiança na Justiça (ICJBrasil), que analisou o segundo e terceiro trimestres de 2012.
Feito pela Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas, a Direito GV, o estudo mostra que a população brasileira considera o Judiciário só é mais confiável que as emissoras de TV, os vizinhos, o Congresso Nacional e que os partidos políticos.


Confiança nas Instituições

De acordo com a pesquisa — feita com 3,3 mil pessoas —, 90% dos brasileiros consideram a Justiça morosa e 82% a consideram cara. Outros 64% dos entrevistados acreditam que o Judiciário é desonesto e 61% o enxergam como nada ou pouco independente. Além disso, 64% dos ouvidos acham a Justiça “difícil” ou “muito difícil” de acessar.
O ICJBrasil também atribui notas para o desempenho do Judiciário. Numa escala de 0 a 10, a nota geral foi 5,5.A pontuação é baseada em dois subíndices: o de comportamento, que analisa se os cidadãos, quando enfrentam problemas, procuram soluções na Justiça, e o de percepção, que apura o sentimento da população em relação a celeridade, honestidade, neutralidade e custos. No primeiro requisito, a nota foi 8,7. No segundo, 4,1.
Para Luciana Gross Cunha, professora da Direito GV e coordenadora do estudo, os dados seguem a mesma tendência que sempre tiveram, “de má avaliação do Judiciário como prestador de serviços públicos”. Foram entrevistadas pessoas em oito estados brasileiros, que responderam por 55% da população nacional (Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo).

Polícia
O ICJBrasil também mostrou que a população não está satisfeita com o trabalho da polícia. A instituição foi apontada como confiável pelos mesmos 39% que o Judiciário. 


Grau de satisfação com a atuação da Polícia

Muito Satisfeito -  26% 

Um pouco satisfeito  - 10%

Um pouco insatisfeito - 27% 

Muito insatisfeito - 36%

Indiferente - 1%


Contando juntos os “insatisfeitos” e os “pouco satisfeitos”, a cifra chega a 63%. Considerando a camada mais pobre da população, o índice pula para 65%. Na camada mais rica, cai para 62%.“É um dado alarmante, principalmente se considerarmos os últimos acontecimentos envolvendo o assassinato de policiais e diversas pessoas na periferia”, analisa Luciana Gross Cunha.

FIM DO MUNDO


Em Alto Paraíso, no estado de Goiás, o fim do mundo é o máximo

Cidade, que segundo místicos escapará da catástrofe prevista pelos maias, se prepara para receber multidões
Guilherme Amado, O Globo
O fim do mundo virou conversa de bar em Alto Paraíso. Às vésperas do dia 21 de dezembro, data que, de acordo com o calendário maia, encerra um ciclo de 5.125 anos e marca o fim do planeta, a cidade do interior goiano, encravada na Chapada dos Veadeiros, só pensa nisso. Não é à toa. Cético ou crédulo, difícil é encontrar algum morador alheio ao assunto. A crença de que a localização da cidade pode protegê-la do apocalipse fez a venda de terrenos explodir este ano.

Foto: Givaldo Barbosa / O Globo

As reservas nas pousadas para a próxima sexta-feira estão esgotadas. Com medo de desabastecimento, a prefeitura orientou a população a estocar comida. Até os que não dão bola para a previsão temem que, pelo menos em Alto Paraíso, o mundo acabe de verdade.
Cortada pelo paralelo14, que também atravessa Machu Picchu, no Peru, Alto Paraíso fica sobre uma placa de quartzo de quatro mil metros quadrados cercada por rochas e paredões. Os místicos acreditam que a força dos cristais protege a cidade de qualquer Armagedom. A dúvida é o quanto poderá protegê-la da horda de turistas. A prefeitura estima dez mil, numa cidade com sete mil habitantes.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Contando ninguém acredita...,


‘Diálogos contemporâneos’, por Nelson Motta

PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA SEXTA-FEIRA
NELSON MOTTA
Contando ninguém acredita, mas é fato, é grampo, e está nos autos. Num dos diálogos digitais de Rose Noronha e Paulo Vieira ela está muito preocupada com o mensalão e se o Zé Dirceu vai ser preso. Ele a tranquiliza, assegurando que o Zé vai pegar no máximo 4 anos, e depois sua alma revolucionária se inflama: “Nós temos que ir para as ruas pela transparência da Justiça. Vamos parar o Brasil. O PT é bom nisso.” Rose promete mandar um e-mail ao seu amigo PR.
Um pilantra indiciado por cinco crimes fala do mensalão como se fosse as Diretas Já, a campanha da anistia, ou o impeachment de Collor, e como se o PT tivesse feito tudo sozinho. Ou é de um cinismo antológico ou eles ainda vivem dos velhos mitos idealistas, das grandes mobilizações sindicais, da esperança que levava multidões às ruas por liberdade, democracia e ética na política. Seria a primeira vez na história que uma greve geral pararia um país para defender a corrupção e a impunidade.
Vieira e Rosemary são arquétipos de companheiros que já mentiram tanto para eles mesmos que acabaram acreditando nas velhas lorotas da honestidade inabalável do PT e seu poder de mobilizar multidões, de parar o País e, se for o caso ou a causa, até derrubar no grito um governo eleito ou um Judiciário que “traia o povo”. Eles são seus próprios juízes, quem não concordar é de direita ou golpista.
Até o petista roxo Ricardo Kotscho, ex-porta-voz de Lula, escreveu em seu blog, avermelhando a milícia digital, que Lula e o PT têm que dizer alguma coisa sobre o “Rosegate” e que não dá mais para o partido continuar na velha tática de culpar os adversários por todos os seus erros.
Ou pior, se defender de qualquer acusação dizendo que os adversários já fizeram antes. E ficaram impunes.
Nem os militantes com pelo menos três neurônios aguentam mais isso, até o Tarso Genro já disse que é preciso mudar o disco. A quem esses “blogueiros progressistas”, todos regiamente patrocinados por estatais, pensam que enganam? Estão ganhando para pregar para convertidos.