quarta-feira, 29 de abril de 2015

Ministro dos Transportes diz que 'obras vão parar' por causa da Lava Jato

Antônio Carlos Rodrigues diz que não pode esconder o que acontece na pasta: empresários reclamando de atrasos e falta de pagamento

Antônio Carlos Rodrigues assume como ministro dos Transportes
Em audiência pública do Senado, ministro dos Transportes, Antônio Carlos Rodrigues, afirma que Operação Lava Jato "afetou muito" o setor(Agência Brasil/VEJA)
O ministro dos Transportes, Antônio Carlos Rodrigues (PR), afirmou nesta quarta-feira que o envolvimento das grandes empreiteiras na Operação Lava Jato "afetou muito" as atividades da pasta e que "várias obras no país vão parar" por falta de recursos.
"Eu não posso esconder o que está acontecendo no ministério. Tudo o que aconteceu e está acontecendo no Brasil afetou muito o meu setor, as grandes empresas estão na Lava Jato, elas tinham capacidade de suporte no atraso de pagamento, as pequenas empresas não têm", disse o ministro durante audiência na Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado.
O ministro disse aos senadores que, nos quatro meses em que está à frente da pasta, só tem recebido visitas ou telefonemas de empresários que se queixam de falta de dinheiro. "Vou receber várias reclamações dos senhores de 'parou a obra tal' e vai parar sim. Assusta receber um telefonema dizendo 'ou você paga hoje ou eu paro a obra' e eu não tenho [dinheiro para pagar]", disse Rodrigues, segundo o jornal Folha de S. Paulo.
Na audiência, ele se comprometeu a marcar uma nova reunião com os integrantes da comissão assim que souber o volume de dinheiro que terá em investimentos. "Eu não sei o quanto eu tenho no bolso, quanto eu posso gastar", afirmou. O ministro disse que espera o aporte, previsto para o ano de 2015, de 13,6 bilhões de reais em investimentos na área para começar a discutir as prioridades.
No próximo mês, porém, o governo Dilma Rousseff vai editar um decreto com o contingenciamento orçamentário que atingirá todas as áreas. O corte deve ser de 60 bilhões de reais a 70 bilhões de reais.
Filiado ao PR e suplente da senadora Marta Suplicy (sem partido-SP), Antônio Carlos Rodrigues afirmou que a bancada do partido vai participar nesta quarta-feira de um jantar com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, na casa do senador Blairo Maggi (PR-MT).
(Da redação)

terça-feira, 28 de abril de 2015

Governo Federal vai liberar R$ 5,8 milhões para obras de reconstrução. Defesa Civil estima que o prejuízo na região passe de R$ 100 milhões.


Então tá..,
'Quero garantir que vamos dar exemplo de rapidez' afirma Dilma Rousseff sobre reconstrução de Xanxerê e Ponte Serrada

"A destruição é impressionante. Agora temos que pensar na reconstrução e valorizar a vida. Quero garantir que vamos dar exemplo de rapidez" anunciou a presidente Dilma Rousseff durante reunião com autoridades locais, conduzida na prefeitura deXanxerê, no Oeste catarinense, na manhã desta segunda-feira. Participam também o governador Raimundo Colombo e os ministros Gilberto Kassab (Cidades), Gilberto Occhi (Integração Nacional) e Manoel Dias (Trabalho e Emprego).

Dilma Rousseff se comprometeu a dar prioridade total para a situação de Xanxerê ePonte Serrada e a encontrar medidas rápidas para enquadramento das vítimas em linhas do programa Minha Casa Minha Vida ou em outras da Caixa Econômica Federal.

Outras medidas foram reafirmadas, como a liberação do FGTS e antecipação do pagamento do Bolsa Família para famílias atingidas e o repasse de R$ 5,8 milhões do Ministério da Integração Nacional para reconstruções — R$ 3 milhões para o Ginásio Municipal Ivo Sguissardi e R$ 2,8 milhões para casas e outras estruturas. O governador Raimundo Colombo confirmou a disponibilização de recursos com juro zero como capital de giro para empresas afetadas, através do Badesc.
A presidente mostrou-se admirada pela capacidade de reação dos moradores:

— O povo está de parabéns. Tenho grande respeito e admiração pela atitude.

Minutos antes da reunião, em visita ao Ginásio Municipal Ivo Sguissardi, o principal de Xanxerê, que ficou completamente destruído, Dilma Rousseff declarou estar surpresa com a proporção da destruição presenciada:

— Este ginásio é simbólico, pois teve algo de miraculoso. Pela dimensão dos estragos, poderia ter causado mais vítimas.

Após a reunião, a presidente concedeu entrevista coletiva para a imprensa e falou com moradores que a aguardavam na entrada da prefeitura. Por volta das 11h40min, seguiu para São Paulo.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Caixa Econômica reduz limite de financiamento de imóveis usados

Teto passará de 80% para 50% para imóveis financiados pelo SFH.
Mudança passará a valer a partir de 4 de maio, segundo o banco.

Caixa Econômica Federal informou nesta segunda-feira (27) que vai reduzir, a partir de 4 de maio, a cota de financiamento para imóveis usados (LTV em inglês) e focar seu crédito habitacional em moradias novas.
Os financiamentos com recursos da poupança (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) terão uma redução do limite de 80% para 50% no Sistema Financeiro de Habitação (SFH), e de 70% para 40% para imóveis no Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), pelo Sistema de Amortização Constante (SAC).
Fica de fora da mudança o crédito para a habitação popular, como o programa Minha Casa Minha Vida e os financiamentos com recursos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). Nestas modalidades, não houve alterações, segundo a Caixa.
A restrição ocorre após a caderneta da poupança ter registrado uma saída líquida (retiradas menos depósitos) de R$ 11,43 bilhões em março, a maior fuga de recursos da aplicação para todos os meses. Quando a captação da poupança é reduzida, os recursos para empréstimos ficam mais escassos.

Banco dos EUA alerta que dívida da Petrobras é muito alta e recomenda venda das ações da estatal

petrobras_15Fundo do poço – No domingo (26), o banco norte-americano Morgan Stanley enviou nota na qual recomenda aos seus clientes que vendam suas ações da Petrobras. De acordo com a instituição financeira ianque, o motivo é o fato de os níveis da dívida da companhia estarem “altos demais” e sem condições de serem de suportados pelo fluxo de caixa operacional.
O documento, assinado pelos analistas Bruno Montanari e Madalena Carmona e Costa, afirma que a aceleração da dívida da Petrobras não é mais uma ameaça e que a empresa tem recuperado o acesso ao mercado de dívida.
Contudo, esse descompasso entre dívida e fluxo de caixa deve prevalecer nos próximos quatro anos, com a expectativa de que os investimentos superem a geração de caixa, em cerca de US$ 6 bilhões, em média.
Segundo os analistas, os cortes de investimentos anunciados até agora contribuíram para a desalavancagem, mas não são suficientes para corrigir completamente o balanço. O banco também cortou sua estimativa de lucro da Petrobrás para o biênio 2015-2016 em 30%. O preço-alvo caiu 15%, a US$ 8,50.
A nota do Morgan Stanley enviada aos clientes investidores mostra que o discurso da presidente Dilma Vana Rousseff sobre a Petrobras é mais um absurdo com a chancela do Palácio do Planalto. Há dias, após a divulgação do balanço auditado da companhia, o que aconteceu com quase cinco meses de atraso, a petista disse que a Petrobras havia virado a página.
Dilma referia-se ao Petrolão, escândalo de corrupção que ainda está no começo e com fôlego para render escabrosos capítulos extras. É inimaginável que um escândalo de corrupção de proporções bilionárias desapareça no vácuo da publicação de um balanço contábil, como se o documento fosse uma espécie de borracha. Como afirmou o UCHO.INFO, o balanço da Petrobras foi uma obra de ficção, apenas para inglês ver.
Os auditores mostraram doses de irresponsabilidade ao calcular as perdas com o escândalo de corrupção com base nos depoimentos dos delatores da Operação Lava-Jato, como esses alarifes tivessem revelado a verdade por inteiro. (Danielle Cabral Távora com Ucho Haddad)

O deboche é perigoso

Classe política não vê a raiva que está nas ruas

Nas últimas semanas, as autoridades brasileiras debocharam além dos limites. Cada dia a população tem nova surpresa.

O presidente da Câmara oferece aos deputados o direito de custearem viagens de suas esposas com recursos públicos e apresenta o projeto para um novo edifício ao custo de R$ 1 bilhão; um juiz é fotografado dirigindo o carro de luxo de um réu; uma escola de samba ganha o título graças a financiamento de um ditador estrangeiro; a presidente da República coloca a culpa da degradação da Petrobras no antecessor que deixou o governo há 12 anos; outro ex-presidente ameaça colocar um exército na rua; o ministro da Justiça recebe advogados de réus do maior caso de corrupção da história; o ministro da Fazenda adota medidas totalmente opostas às promessas de campanha da candidata; o governo adota o slogan “Pátria educadora” mas corta parte importante do orçamento para a educação; as tarifas de eletricidade reduzidas no período eleitoral são substancialmente elevadas logo depois da eleição, o mesmo acontecendo com os preços dos combustíveis.

Como se esses deboches ativos não bastassem, a classe política se comporta com um generalizado deboche passivo: não reconhece a dimensão da crise, não debate suas causas nem aponta caminhos para reorientar o rumo do Brasil.

A sensação é de que a política está doente: não ouve, não vê, nem raciocina.

Não ouve as vozes do futuro chamando o Brasil para um tempo radicalmente diferente, em que a economia deverá ser baseada no conhecimento, produzindo bens de alta tecnologia; em que a principal infraestrutura deverá ser educação, ciência e tecnologia. Não ouve as vozes do exterior que mostram que não há futuro isolado e que precisamos agir para ingressar no mundo da competitividade internacional, na convivência econômica e cultural com o mundo global. E, pior, não ouve o clamor das ruas que indicam a necessidade de romper com os vícios do presente e reorientar o rumo para um futuro com economia dinâmica e integrada, e uma sociedade harmônica e sustentável.

A política tampouco vê as dívidas que os políticos têm com o país: com os pobres sem chance, com as crianças sem futuro e os jovens sem emprego; com a natureza depredada; a dívida decorrente da corrupção generalizada. Ao não reconhecer suas dívidas, a classe política não vê a raiva que está nas ruas.

Tudo isso leva a um comportamento esquizofrênico, pelo qual, de tanto vender ilusões, o governo e seus partidos passam a acreditar nelas. E os demais políticos se acostumam a elas.

Talvez esta seja a explicação para o deboche: não vemos, não ouvimos, nem pensamos. Até que o fim da paciência do povo nos desperte. Mas o custo poderá ser muito alto para a democracia, para a eficiência econômica, para a harmonia social e a sustentabilidade ecológica. Salvo se o despertar vier antes, com a descoberta de que o deboche é muito perigoso, como percebeu o presidente da Câmara, forçado a voltar atrás em sua decisão inicial.

*Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)
http://oglobo.globo.com/opiniao/o-deboche-perigoso-15529104

Lulinha: do caminho das antas ao apartamento de R$ 6 milhões. Ou: O filho que sai ao pai não degenera. Ou ainda: O sítio das delícias

Os Lula da Silva têm mesmo um jeito heterodoxo de viver. Chega a ser estranho que o chefão do PT tenha querido, algum dia, como é mesmo?, mudar o mundo… Ora, mudar para quê? A partir de certo momento, vamos admitir, esse mundo só sorriu para ele. E continua a sorrir para a sua família. Reportagem de capa da VEJA desta semana expõe a proximidade entre o agora ex-presidente da República e o empreiteiro baiano Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, um dos presos da operação Lava Jato. Proximidade que pode fazer com que o escândalo do petrolão ainda exploda no colo do companheiro-chefe. É que Pinheiro começou a fazer algumas anotações… Leiam a reportagem da revista desta semana. Quero aqui abordar um aspecto em particular.

A VEJA informa que Fábio Luís da Silva — vulgo “Lulinha” — mora num apartamento, numa área nobre em São Paulo, avaliado em R$ 6 milhões. É isso mesmo que vocês leram. O apartamento do filho do Primeiro Companheiro é coisa de ricaço. Mas parem de ficar imaginando maldades. O dito-cujo não está em nome do rapaz! Não! Oficialmente, o dono do imóvel é o empresário Jonas Suassuna, que é apenas… sócio de Lulinha.
Esse rapaz, note-se, é, desde sempre, um portento. Lula já o chamou de o seu “Ronaldinho”, louvando-lhe as habilidades para fazer negócios. Formado em biologia, o rapaz era monitor de Jardim Zoológico até o pai chegar à Presidência. Cansado de ficar informando ao visitante onde se escondiam as antas, ele decidiu ser empresário quando o genitor se tornou o primeiro mandatário. E o fez com uma desenvoltura assombrosa. Só a Telemar (hoje Oi) injetou R$ 15 milhões na empresa do rapaz, a Gamecorp. Nada além de uma aposta comercial?
Assim seria se assim fosse. Empresas de telefonia são concessões públicas, que dependem de decisões de governo. Aliás, é bom lembrar: Lula mudou a lei que proibia a Oi (ex-Telemar) de comprar a Brasil Telecom (que era de Daniel Dantas). A síntese: o pai de Lulinha tomou a iniciativa de alterar uma regra legal e beneficiou a empresa que havia investido no negócio do filho. Isso é apenas uma interpretação minha? Não! Isso é apenas um fato. Adiante.
Os Lula da Silva formam uma dinastia. O filho repete, em certa medida, o caminho do pai — e não é de hoje. Quando Lula era o líder da oposição, também morava, a exemplo de Lulinha, numa casa que estava muito acima de suas posses oficiais. O imóvel lhe era cedido por um advogado milionário chamado Roberto Teixeira, seu compadre. Se vocês entrarem no Google, ficarão espantados com a frequência com que Teixeira aparece ligado a, digamos assim, negócios que passam pelo petismo. Se clicarem aqui, terão acesso a um grupo de textos evidenciando, por exemplo, as suas interferências na venda da Varig.
Agora o sítio
Jonas Suassuna, o sócio de Lulinha e dono oficial do apartamento milionário em que mora o filho do Poderoso Chefão petista, é quem aparece como proprietário de um sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, em companhia de Fernando Bittar, que é, ora vejam, o outro sócio de Lulinha. Até aí, bem…
Ocorre que, no PT, e fora dele, incluindo toda a Atibaia, a propriedade é conhecida como o “sítio do… Lula!”. É lá que ele passa os fins de semana desde que deixou a Presidência. A propriedade foi inteiramente reformada, em tempo recorde, pela empreiteira OAS, a pedido de… Lula! Os pagamentos aos operários eram feitos em dinheiro vivo. O arquiteto que cuidou de tudo se chama Igenes Irigaray Neto, indicado para o empreendimento pelo empresário José Carlos Bumlai, amigão de… Lula! O tal aparece com frequência em histórias mal contadas envolvendo o petismo — inclusive o petrolão.
A OAS, que reformou o sítio que até petistas dizem ser do ex-presidente, também foi chamada para concluir um dos edifícios da Bancoop, a cooperativa ligada ao PT, que era presidida por João Vaccari e que faliu, deixando três mil pessoas na mão. O único prédio concluído é justamente um de alto padrão, onde Lula tem um tríplex, com elevador interno. Quando explodiu o caso Rosemary Noronha, aquela amiga íntima do ex-presidente, a OAS foi mais uma vez chamada para dar uma mãozinha para João Batista, o marido oficial da tal senhora.
Assim se construiu a república petista. Os companheiros têm explicações para essas lambanças? É claro que não! Preferem ficar vomitando impropérios nas redes sociais, acusando supostas conspirações. Definitivamente, o PT superou a fase do Fiat Elba, que foi peça-chave na denúncia contra Collor. Fiat Elba? Ora, Lula, o PT e a tropa toda são profissionais nas artes em que Collor ainda é um amador.
Texto publicado originalmente às 4h51
Por Reinaldo Azevedo

sábado, 25 de abril de 2015

Alguém em sã consciência acha que o "cara" não sabia, não sabe de nada??? As revelações são simplesmente o óbvio "lulante"!!!

No mais cruel dos dias para quem tem culpa no cartório, revelações do empreiteiro amigo empurram Lula para o pântano do Petrolão

Atualizado às 9h40
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Neste sábado, os leitores de VEJA saberão que o empreiteiro Leo Pinheiro, transferido da presidência da OAS para uma cadeia em Curitiba, fez revelações suficientes para tirar de vez o sono de Lula e estender por prazo indeterminado o sumiço do palanque ambulante. Como ainda não assinou um acordo de delação premiada, o empresário encarcerado talvez até se desminta em outro depoimento, para socorrer o chefe e amigo. É uma opção de alto risco: essa demonstração de fidelidade lhe custará alguns anos de prisão em regime fechado.
Seja qual for o caminho escolhido, o que Pinheiro já disse (e detalhou em copiosas anotações manuscritas) basta para incorporar ao elenco do Petrolão o protagonista que faltava. No mais cruel dos dias para quem tem culpa no cartório, as relações promíscuas entre o manda-chuva da OAS e o reizinho do Brasil serão escancaradas nas oito páginas da reportagem de capa. Entre tantas histórias muito mal contadas, a dupla esbanja afinação especialmente em três, valorizadas pela participação de coadjuvantes que valorizam qualquer peça político-policial.
Num episódio, o ex-presidente induz Pinheiro a presenteá-lo com a reforma do sítio que, embora Lula o chame de seu, pertence oficialmente a um sócio do filho Lulinha. Noutro, um emissário do pedinte vocacional incumbe o empreiteiro de arranjar serviço e dinheiro para o marido de Rosemary Noronha, a ex-segunda-dama que ameaçava vingar-se do abandono com a abertura de uma assustadora caixa-preta. Mais além, o comandante da OAS cuida de desmatar o atalho que levou Lula a virar dono de um triplex no Guarujá.
A participação do ex-presidente no naufrágio da Petrobras ainda não entrou na mira da Polícia Federal. O inventor do Brasil Maravilha está a um passo do pântano sem que tenha começado a devassa das catacumbas malcheirosas que ocultam a farra das refinarias inúteis e a montagem da diretoria infestada de ineptos e corruptos, fora o resto. Pode estar aí a explicação para o estranho vídeo em que celebra as vantagens de um bom preparo físico. Vai precisar disso quando tiver de sair em desabalada carreira.

Pra lá de Marrakesch

Na noite anterior havia trabalhado feito um mouro.
Acordei e estava um verdadeiro calor senegalês. Depois de tomar uma boa duma ducha escocesa, quase dormitar num banho turco, fazer a minha ginástica sueca, passar a minha água de colônia, vesti meu terno azul turquesa de casimira inglesa (que fora um presente de grego de uma amante argentina), cuidei do meu pastor alemão, do pequinês, do dinamarquês, do meu gato siamês e, com uma pontualidade britânica, deslizando sobre o tapete persa, sai para fazer um negócio da china.
Logo voltei. Deveria ter saído com a minha refrescante bermuda, minhas sandálias havaianas e o autêntico chapéu panamá. Evitaria o calor, aquela tortura chinesa que só um bom sorvete de creme holandês refrescaria.
Ou teria sido melhor o terno príncipe de Gales, para evitar uma gripe espanhola ou uma febre asiática? A polaca gostaria mais.
Foi bom ter voltado. Meu periquito australiano e o meu canário belga, famintos, pediam semente de maconha colombiana. E minha galinha de angola, o resto da linguiça calabresa, resquício de um sanduíche americano com um pouco de salada russa e molho inglês, cortado com o meu afiado canivete suíço. Hambúrguer, nem pensar, que é para inglês ver.
Acabei me atrasando, chupei uma mexerica (ou era uma tangerina ou, ainda, uma bergamota?). Brinquei de sombra chinesa e quase dormi.
Para acordar, ligo a televisão, vejo um pouco do esporte bretão, descasco uma lima da pérsia, fico em dúvida entre o pão sírio e o pão francês, conto até dez em algarismos romanos e depois em algarismos arábicos e resolvo fazer um filé a parmegiana. Abro a janela veneziana, preparo um uísque paraguaio e ali, numa autêntica noite americana, tal e qual um tigre asiático, dou um sorriso amarelo, brinco com o porquinho da índia de porcelana inglesa e me sirvo à francesa.
Depois, balanço na poltrona de cana da índia com a cuba libre. Mas, como o pato vai ser à Califórnia, com pimenta malagueta ou pimenta-do-reino, misturado com arroz marroquino (ou à grega?), preparo a milanesa e tudo bem. Vai cravo da índia? Será que o melhor mesmo não seria um filé à cubana, para depois enfrentar uma montanha russa, arrotando couve-de-bruxelas?
Com a chave inglesa abro a porta emperrada, levo no bolso o meu soco igualmente inglês e saio ao encontro da minha cidade, do meu Brasil paraguaio.
Coisa de primeiro mundo.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Itália autoriza extradição de mensaleiro Henrique Pizzolato

Ministério da Justiça italiano deu aval ao envio de condenado no mensalão para cumprir pena no Brasil. Transferência tem prazo de 20 dias

Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing Banco do Brasil, condenado no processo do mensalão, deixa a prisão de Modena, na Itália, na terça-feira (28)
Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing Banco do Brasil, condenado no processo do mensalão(Mastrangelo Reino/Estadão Conteúdo)
O governo da Itália autorizou nesta sexta-feira a extradição do ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato. Condenado no julgamento do mensalão, Pizzolato fugiu do Brasil e se escondeu na Europa por ter cidadania italiana. A decisão foi tomada pelo governo de Mateu Renzi e marca o fim de quase dois anos de tratativas jurídicas e diplomáticas em relação ao mensaleiro.
A decisão do Ministério da Justiça italiano foi confirmada por um representante da Interpol na Itália. O governo em Roma, porém, ainda não se pronunciou oficialmente sobre o assunto, já que a decisão primeiro precisa ser comunicada a Pizzolato e ao governo brasileiro.
A transferência de Pizzolato, que está preso em uma cadeia de Módena, no norte da Itália, poderá ocorrer já nos próximos dias. O governo brasileiro tem prazo de vinte dias para organizar a transferência do condenado ao país. A Itália autorizou a extradição depois que o Ministério da Justiça, em conjunto com o Supremo Tribunal Federal (STF) e Procuradoria-Geral da República, enviou ao governo Mateu Renzi um documento com garantias de que as penitenciárias brasileiras têm condições de receber o mensaleiro. Também foi garantido que ele terá um tratamento diferenciado e ficará isolado dos demais detentos.
Pizzolato deve ser acompanhado por agentes da Polícia Federal brasileira e da Interpol. O mais provável é que Pizzolato passe a cumprir pena no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Ele também pode requerer a transferência para Santa Catarina, onde mantém laços familiares.
Em fevereiro, a instância máxima do poder Judiciário italiano deu aval para a extradição, ao reverter uma decisão contrária do tribunal de Bolonha, para o qual o mensaleiro recorreu, solicitando que fosse submetido a um novo julgamento na Itália. Ele alegava que o julgamento no STF havia sido "político". No entanto, a decisão final dependia de autorização do Ministério da Justiça da Itália.
Pela decisão da Corte, "existem condições para a extradição", numa referência à situação das prisões no Brasil. "Sempre confiei na Justiça italiana", afirmou Miqueli Gentiloni, advogado contratado pelo Brasil para defender o caso.
Fuga - Pizzolato foi condenado a doze anos e sete meses de prisão pelo STF. Mas, há um ano e oito meses, fugiu do Brasil com passaporte falso, usando a identidade de um irmão morto. Ele acabou sendo preso na cidade de Maranello e, em setembro do ano passado, a Corte de Bolonha negou sua extradição argumentando que as prisões brasileiras não têm condições de recebê-lo. Ao sair da prisão, declarou que havia fugido para "salvar sua vida".
Para conseguir reverter a decisão, os advogados contratados pelo Brasil para atuar na Justiça italiana insistiram na tese de que a Itália não poderia generalizar a condição das prisões brasileiras.
Os advogados de Pizzolato chegaram a usar como argumento contra a extradição o fato de o governo Lula ter dado asilo político ao terrorista Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua em seu país. "O Brasil mostrou que não há uma reciprocidade", indicou o advogado de Pizzolato, Emmanuelle Fragasso, em fevereiro, sem sucesso na argumentação.

(Com Estadão Conteúdo)

quinta-feira, 23 de abril de 2015

O DESASTRE DA PETROBRAS, A OBRA DOS COMPANHEIROS PETISTAS E O QUE DISSE DILMA EM 2009 PARA MATAR UMA CPI. OU: NO MÍNIMO, MERECIA UMA CADEIA MORAL!

Os números da Petrobras que vieram a público não derivam de uma tramoia urdida pela oposição. Também não decorrem de alguma armação orquestrada por adversários do estatismo. Aldemir Bendine, atual presidente da empresa, que acompanhou a confecção do balanço, é um petista com extensa folha de serviços prestados ao petismo. Foi posto na estatal para, vamos dizer, arranjar as coisas: nem poderia ser inconvincente a ponto de o mercado dar de ombros e considerar o balanço uma empulhação; nem poderia ser, vamos dizer, de um realismo cru.

E foi esse misto de realismo e prudência industriada que produziu, ainda assim, números espantosos: o prejuízo da Petrobras, no ano passado, foi R$ 21,587 bilhões. O custo-corrupção, por enquanto, está em R$ 6,194 bilhões. A revisão dos ativos levou a uma baixa de R$ 44,636 bilhões. O ano passado terminou com a empresa devendo R$ 351 bilhões.  O irrealismo, ou surrealismo, em que a empresa estava metida era de tal ordem que o mercado internacional até que reagiu bem aos números. Talvez aconteça o mesmo por aqui nesta quinta.
Atenção, meus caros! A admissão desses números não decorreu de uma iniciativa interna, dos comandantes da empresa, do governo, das autoridades públicas responsáveis pela área. Tratou-se de uma imposição da consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC) para continuar a auditar o balanço.
Eis aí o resultado de 12 anos de gestão petista. Como ignorar que o modelo de eficiência e gestão da Petrobras, cantado em prosa e verso, permitiu que a empresa se tornasse um covil, uma associação criminosa, um valhacouto, um abrigo de larápios? E sempre caberá a pergunta óbvia e obrigatória: onde mais?
E que se note: a empresa não exibe esses resultados desastrosos apenas por causa da corrupção. A ela se somam também a má gestão, as decisões equivocadas, a tacanhice ideológica e a vigarice intelectual. A Petrobras chega à pior situação de sua história — trata-se da petroleira mais endividada do planeta — porque o petismo usou o preço do combustível para compensar sua política econômica canhestra e caduca. Agora mesmo, enquanto escrevo, a estatal vende combustível com prejuízo em razão da questão cambial. Isso será corrigido?
É preciso ir além. Dados os números, a empresa terá de vender ativos e, por óbvio, não poderá arcar com as obrigações que lhe impõe o regime de partilha do pré-sal. Mas a estupidez e a ideologia barata continuarão a deitar a sua sombra sobre a racionalidade.
O passado da Petrobras, mesmo com um encontro de contas, que acabará sendo recebido até com boa vontade pelo mercado, é esse que vemos, com tais números. Mas que futuro aguarda a empresa brasileira? Basta olhar para o mercado mundial de petróleo para constatar que o nacionalismo bocó, misturado com a ladroagem mais nefasta, conduz a Petrobras à inviabilidade.
Eu poderia deixar barato, mas não vou, não. Dilma é a chefona do setor energético — e também da Petrobras — há 12 anos. Está no 13º.  Esta senhora só admitiu que poderia haver algo de errado na empresa 15 dias antes da eleição — e ainda o fez de modo oblíquo.  Em 2009, já pré-candidata à Presidência, a então chefe da Casa Civil foi a público para tentar implodir, e conseguiu, a CPI da Petrobras.
Vejam o vídeo abaixo. Eu transcrevo a sua fala em seguida.
“Eu acredito que a Petrobras é uma empresa tão importante do ponto de vista estratégico, no Brasil, mas também por ser a maior empresa, a maior empregadora, a maior contratadora de bens e serviços e a empresa que, hoje, vai ocupar cada vez mais, a partir do pré-sal, espaço muito grande, né?, ela é uma empresa que tem de ser preservada. Acho que você pode, todos os objetos, pelo menos os que eu vi da CPI, você pode investigar usando TCU e o Ministério Público. Essa história de falar que a Petrobras é uma caixa-preta… Ela pode ter sido uma caixa-preta em 97, em 98, em 99, em 2000. A Petrobras de hoje é uma empresa com um nível de contabilidade dos mais apurados do mundo. Porque, caso contrário, os investidores não a procurariam como sendo um dos grandes objetos de investimento. Investidor não investe em caixa-preta desse tipo. Agora, é espantoso que se refiram dessa forma a uma empresa do porte da Petrobras. Ninguém vai e abre ação na Bolsa de Nova York e é fiscalizado pela Sarbanes-Oxley e aprovado sem ter um nível de controle bastante razoável”.
Nota: Sarbanes-Oxley é o nome de uma lei dos EUA (formado a partir dos respectivos sobrenomes de um senador e de um deputado), de 2002, que estabelece mecanismos de transparência contábil para as empresas que operam na Bolsa dos EUA.
Enquanto Dilma dizia essas coisas, os ratos corroíam a Petrobras.
Convenham: quando menos, Dilma deveria ser enviada para uma cadeia moral, não é mesmo?
Texto publicado originalmente às 4h
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/o-desastre-da-petrobras-a-obra-dos-companheiros-petistas-e-o-que-disse-dilma-em-2009-para-matar-uma-cpi-ou-no-minimo-merecia-uma-cadeia-moral/

terça-feira, 21 de abril de 2015

Rio libera em massa menores infratores

Para esvaziar unidades superlotadas, desembargador Siro Darlan capitaneia esforço de revisão de processos. Segundo o MP, menores que cometeram infrações gravíssimas estão sendo postos na rua de forma indiscriminada

NERVO EXPOSTO - Rebelião no Santo Expedito: poucas vagas para um número de menores infratores que não para de crescer no Rio
NERVO EXPOSTO - Rebelião no Santo Expedito: poucas vagas para um número de menores infratores que não para de crescer no Rio(Domingos Peixoto/Agência o Globo)
Criadas para recuperar e reintegrar à sociedade os menores de idade que cometeram infrações, as chamadas instituições socioeducativas, em sua maioria, não cumprem seu papel, são palco de constantes rebeliões e vivem superlotadas. Como mudar essa situação? Há quem defenda uma reforma radical, aperfeiçoando estruturas e credenciando os melhores profissionais. O projeto de redução da maioridade penal, em tramitação no Congresso, vai ainda mais longe: prevê transferir parte dos infratores para o sistema penitenciário. No Rio de Janeiro, o desembargador Siro Darlan, chefe da coordenadoria das Varas da Infância e Juventude no Tribunal de Justiça do Estado, teve outra ideia: resolveu rever todos os processos, o que, na prática, está liberando os internos do Rio. O Ministério Público Estadual confirmou 56 revisões em abril e está examinando outras 170 do fim de março, das quais nem sequer tinha conhecimento. Segundo o MP, o resultado da varredura tem sido a "liberação indiscriminada de adolescentes autores de atos infracionais gravíssimos, análogos a crimes considerados hediondos". Até o fim de junho, todos os processos serão reexaminados.
A decisão de Darlan foi tomada durante uma visita ao Educandário Santo Expedito, seis dias depois de uma rebelião em que quatro religiosos foram feitos reféns. Na ocasião, 310 internos superlotavam a unidade com capacidade para 220 infratores, dentro do complexo penitenciário de Bangu. Darlan designou a juíza Cristiana Faria de Cordeiro para a função, e os trabalhos começaram imediatamente. Em duas sessões realizadas por ela e contabilizadas no MP, em 6 e 13 de abril, dos 56 adolescentes que tiveram as penas reexaminadas, só dois não foram beneficiados; os outros 54 saíram por extinção da pena ou estão em liberdade sob alguma condição. "O que estamos presenciando nessas audiências é um verdadeiro escândalo. Inúmeras irregularidades estão sendo cometidas com o único escopo de esvaziar essas unidades superlotadas", enfatizam os promotores em nota a VEJA.
Para o MP, a caneta da juíza passa por cima de pareceres internos recentes que recomendam a permanência dos infratores nas instituições. Um dos argumentos mais usados é que eles completaram 18 anos - ainda que uma instância anterior já tivesse levado esse fato em conta e, mesmo assim, decidido que não era hora de eles saírem. Encaixam-se aí histórias como a de José Manoel da Silva Filho, o China, precoce líder do tráfico em uma favela de Niterói, apreendido pelo assassinato de um cliente que comprou e não pagou, e a de Lucas Gonçalves Norte, que, em 2014, aos 17 anos, e já com longa folha corrida de assaltos na Baixada Fluminense, esfaqueou até a morte a namorada grávida, Derliane Corrêa da Silva, de 13. Na semana passada, ambos tiveram a pena extinta e deixaram o Educandário Santo Expedito pela porta da frente. "Nenhuma decisão contrariou pareceres técnicos. A visão do MP é equivocada e desumana. O que deve ser avaliado não é mais o ato infracional praticado, e sim o aproveitamento do infrator ali dentro", justifica a juíza Cristiana. "Há um descaso, um abandono dos meninos. As reavaliações foram feitas com critério", defende Darlan.
Existem atualmente 1 200 menores ocupando 800 vagas em dez instituições fluminenses. No Rio, o pior cenário é na unidade de triagem, próxima ao aeroporto internacional, em que 400 internos se espremem onde cabem 210. A curva de internos não para de crescer: o primeiro trimestre de 2015 registra aumento de 30% sobre o mesmo período do ano passado. Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o menor internado tem direito a uma reavaliação a cada seis meses. Um juiz e um promotor, com base em pareceres de um assistente social, um psicólogo e um pedagogo, decidem se a internação persiste ou não, podendo estendê-la até os 21 anos. No Rio, as decisões da juíza começaram a afetar inclusive esse processo. "Nós nos sentimos acuados. Quem trabalha no sistema está com medo de segurar os garotos e sofrer represálias, dentro e fora da instituição", admite um funcionário do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase). A nota do Ministério Público classifica as audiências da juíza Cristiana como "um verdadeiro descalabro", com "inúmeras ilegalidades". Uma delas é a rapidez com que os menores ganham a liberdade, "não havendo tempo hábil de sustar os efeitos da decisão através de recursos". Compreensivelmente, a notícia se espalhou: internos do estado inteiro estão pedindo transferência para o Rio. Sabem que, se conseguirem, em julho poderão estar de volta às ruas.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

MANIFESTAÇÕES: O Datafolha começa a entrar na dança

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O espírito gozador do brasileiro foi para cima do Datafolha e suas estimativas sobre o tamanho das multidões que protestam
Mais cedo ou mais tarde, iria acontecer: além da bronca verbal que muitos manifestantes vêm manifestando com os cálculos sobre o número de pessoas que protestam contra o governo em São Paulo — sempre para menos do que os realizados pela Polícia Militar, que dispõe de tecnologia respeitável a respeito –, este brasileiro de óculos escuros resolveu materializar sua queixa num cartaz home made.
Num exagero crítico, colocou uma estrelinha do PT como parte do logotipo do instituto.

"Três mineiros e uma mineira"

Roberto Pompeu de Toledo: ‘Três mineiros e uma mineira’

Publicado na edição impressa de VEJA
ROBERTO POMPEU DE TOLEDO
A data de 21 de abril marca três aniversários que, por sua vez, evocam três mineiros. O 21 de abril que se aproxima assinala o 223º aniversário da morte de Tiradentes, o 55º da fundação de Brasília, obra magna do segundo dos nossos mineiros, Juscelino Kubitschek, e o trigésimo aniversário de morte de Tancredo Neves, o terceiro. São aniversários e mineiros que se entrelaçam e conduzem uns aos outros. JK escolheu o Dia de Tiradentes para inaugurar Brasília. Disse, naquele dia: “Neste 21 de abril — consagrado ao alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, no 138º ano da Independência e 71º da República — declaro, sob a proteção de Deus, inaugurada a cidade de Brasília, capital dos Estados Unidos do Brasil”. Tancredo invocou Tiradentes, “aquele herói enlouquecido de esperança”, no discurso de presidente eleito. Conheceu a tragédia de não tomar posse, mas recebeu do Anjo das Sublimes Coincidências o favor de morrer no Dia de Tiradentes.
Os três mineiros têm em comum encarnarem momentos de esperança na história do Brasil. Do Tiradentes real não se conhece o rosto. Isso não impediu que, a partir da propaganda republicana, começasse a inspirar rica iconografia, provavelmente a maior de um personagem da história do Brasil. Os retratos eram “supositícios”, como se diz dos traços apenas supostos. Curioso é que, ao lhe conferirem barba, longos cabelos e, por vezes, olhar beatífico, apoiavam-se em Jesus Cristo, cujos retratos são também supositícios. O rosto de Tiradentes é um supositício do supositício. Mas a ideia de identificá-­lo a Cristo não foi casual. Invocava o martírio — mas, também, a esperança da ressurreição. No primeiro 21 de abril que foi feriado, em 1890 (cinco meses depois da proclamação da República), organizou-se no Rio de Janeiro uma procissão com início na Cadeia Velha (hoje Palácio Tiradentes, onde o herói esteve preso), passagem pelo antigo Largo do Rossio (agora rebatizado de Praça Tiradentes, onde foi enforcado) e término no Palácio Itamaraty, escolhido para sediar o novo governo. Como nota o historiador José Murilo de Carvalho, aos locais da paixão sucedia-se o da ressurreição, diante da sede da recém-nascida República.
JK é o único presidente brasileiro que entra em cena com fundo musical. A alegria do Peixe Vivo saúda seu sorriso — nenhum presidente sorriu tanto, no exercício do mandato. Brasília, a marcha para o oeste e o novo surto industrialista eram teias do sonho que se complementava com o clima eufórico de bossa nova, Cinema Novo e a primeira vitória numa Copa do Mundo. “O futuro era para amanhã de manhã”, disse o cineasta Cacá Diegues ao biógrafo de Juscelino, Claudio Bojunga. “O Brasil estava à nossa frente, tinha-se de correr atrás dele.” Tancredo, por estilo e temperamento, era o oposto de JK. Ao arrojo e à pressa de um opunham-se a prudência e a matreirice do outro. Com tais armas, em parceria com o estilo mais audaz de Ulysses Guimarães, Tancredo foi crucial tanto no solapamento da ditadura militar quanto na edificação de uma alternativa.
Os anos PT têm enfatizado o papel da luta armada na resistência à ditadura. Uma primeira mistificação é identificá-la com a luta pela democracia; era por outra ditadura. Uma segunda é atribuir-lhe relevância no desmonte do aparato ditatorial; antes, fortaleceu-o e exacerbou-o. De real eficácia, além de democrática de verdade, foi a resistência de políticos da cepa de Tancredo e Ulysses. Na brecha representada pelas eleições parlamentares, uma oposição a princípio miúda cresceu a ponto de tirar o chão ao reinado dos generais. Em seu último livro, o cientista político Bolívar Lamounier usa a fórmula “redemocratização pela via eleitoral” para caracterizar o fenômeno; as vitórias oposicionistas se sucederam, acrescenta, até “encantoar o regime em seu último reduto, o Colégio Eleitoral”. Foi ali que Tancredo se sagrou vitorioso. Nesse paradoxal palco, nasceu a esperança de uma Nova República.
A mineira do título o leitor sabe quem é, e impõe-se um pedido de desculpas antes de introduzi-la. Perdão, presidenta, e o presidenta lhe vai como compensação, antes da crueldade de contrapô-­la aos três conterrâneos. Com Tiradentes ela compartilha um passado de prisioneira, mas sem o sinal de que ao sofrimento se seguirá a ressurreição. O sorriso de JK enfatiza-lhe, por contraste, a fisionomia fechada, e a habilidade de Tancredo sublinha-lhe a falta de jeito. Para culminar, à esperança inspirada pelo trio de mineiros cujos destinos se entrecruzam no 21 de abril contrapõe-se o desalento deste início de segundo mandato.
*Montagem Minha