sábado, 9 de janeiro de 2010

Resposta do Gal.Torres de Melo à carta da jornalista MIRIAM LEITÃO.

Senhora Jornalista Miriam Leitão.

Li o seu artigo "ENQUANTO ISSO", com todo cuidado possível.
Senti, em suas linhas, que a senhora procura mostrar que os MILITARES
BRASILEIROS de HOJE são bem diferentes dos MILITARES BRASILEIROS de
ONTEM. Penso que esse é o ponto central de sua tese. Para criar
credibilidade nas suas afirmativas, a senhora escreveu: "houve um
tempo em que a interpretação dos militares brasileiros sobre LEI E
ORDEM era rasgar as leis e ferir a ordem. Hoje em dia, eles demonstram
com convicção terem aprendido o que não podem fazer". Permita-me
discordar dessa afirmativa de vez que vejo nela uma injustiça, pois
fiz parte dos MILITARES DE ONTEM e nunca vi os meus camaradas
militares rasgarem leis e ferir a ordem. Nem ontem nem hoje. Vou
demonstrar a minha tese.

No Império, as LEIS E A ORDEM foram rasgadas no Pará,
Ceará, Minas, Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul pelas paixões
políticas da época. AS LEIS E A ORDEM foram restabelecidas pelo
Grande Pacificador do Império, um Militar de Ontem, o Duque de
Caxias, que com sua ação manteve a Unidade Nacional. Não rasgamos as
leis nem ferimos a ordem. Pelo contrário. Vem a queda do Império e
a República. Pelo que sei, e a História registra, foram políticos que
acabaram envolvendo os velhos Marechais Deodoro e Floriano nas lides
políticas. A política dos governadores criando as oligarquias
regionais, não foi obra dos Militares de Ontem, quando as leis e a
ordem foram rasgadas e feridas pelos donos do Poder, razão maior das
revoltas dos tenentes da década de 20, que sonhavam com um Brasil
mais democrático e justo. Os Militares de Ontem ficaram ao lado da
lei e da Ordem. Lembro à nobre jornalista que foram os civis
políticos que fizeram a revolução de 30, apoiados, contudo, pelos
tenentes revolucionários, menos Prestes, que abraçou o comunismo
russo.

Veio a época getuliana, que, aos poucos, foi afastando os
tenentes das decisões políticas. A revolução Paulista não foi feita
pelos Militares de Ontem e sim pelos políticos paulistas que não
aceitavam a ditadura de Vargas. Não foram os Militares de Ontem que
fizeram a revolução de 35 (senão alguns, levados por civis a se
converterem para a ideologia vermelha, mas logo combatidos e
derrotados pelos verdadeiros Militares de Ontem); nem fizeram a
revolta de 38; nem deram o golpe de 37. Penso que a senhora, dentro de
seu espírito de justiça, há de concordar comigo que foram as velhas
raposas GETÚLIO - CHICO CAMPOS - OSWALDO ARANHA e os chefetes que
estavam nos governos dos Estados, que aceitaram o golpe de 37. Não
coloque a culpa nos militares de Ontem.

Veio a segunda guerra mundial. O Nazismo e o Fascismo tentam
dominar o mundo. Assistimos ao primeiro choque da hipocrisia da
esquerda. A senhora deve ter lido - pois àquela época não seria
nascida -, sobre o acordo da Alemanha e a URSS para dividirem a pobre
Polônia e os sindicatos comunistas do mundo ocidental, fazendo greves
contra os seus próprios países a favor da Alemanha por imposição da
URSS e a mudança de posição quando a "Santa URSS" foi invadida por
Hitler. O Brasil ficou em cima de muro até que nossos navios (35)
foram afundados. Era a guerra, a proteção ao tráfego marítimo, a FEB e
seu término. Getúlio - o ditador - caiu e vieram as eleições. As
Forças Armadas foram chamadas a intervir para evitar o pior. Foram os
políticos que pressionaram os Militares de Ontem para manter a ordem.
Não rasgamos as leis nem ferimos a ordem. Chamou-se o Presidente do
Supremo Tribunal Federal para, como Presidente, governar a transição.
Não se impôs MILITAR algum.

O mundo dividiu-se em dois. O lado democrático, chamado
pelos comunistas de imperialistas, e o lado comunista com as suas
ditaduras cruéis e seus celebres julgamentos "democráticos". Prefiro o
primeiro e tenho certeza de que a senhora, também. No lado ocidental
não se tinham os GULAGs. O período Dutra (ESCOLHIDO PELOS CIVIS E
ELEITO PELO VOTO DIRETO DO POVO) teve seus erros - NUNCA CONTRA A LEI
E A ORDEM - e virtudes como toda obra humana. A colocação do Partido
Comunista na ilegalidade foi uma obra do Congresso Nacional por
inabilidade do próprio Carlos Prestes, que declarou ficar ao lado da
URSS e não do Brasil em caso de guerra entre os dois países. Dutra
vivia com o "livrinho" (a Constituição) na mão, pois os políticos, nas
suas ambições, queriam intervenções em alguns Estados, inclusive em
São Paulo. A senhora deve ter lido isso, pois há vasta literatura
sobre a História daqueles idos.

Novo período de Getúlio Vargas. Ele já não tinha mais o
vigor dos anos trinta. Quem leu CHATÔ, SAMUEL WEINER (a senhora leu?)
sente que os falsos amigos de Getúlio o levaram à desgraça. Os
Militares de Ontem não se envolveram no caso, senão para investigar os
crimes que vinham sendo cometidos sem apuração pela Polícia; nem
rasgaram leis nem feriram a ordem.

Eram os políticos que se digladiavam e procuravam nos
colocar como fiéis da balança. O seu suicídio foi uma tragédia
nacional, mas não foram os Militares de Ontem os responsáveis pela
grande desgraça.

A senhora permita-me ir resumindo para não ficar longo. Veio
Juscelino e as Forças Armadas garantiram a posse, mesmo com pequenas
divergências. Eram os políticos que queriam rasgar as leis e ferir a
ordem e não os Militares de Ontem. Nessa época, há o segundo grande
choque da esquerda. No XX Congresso do Partido Comunista da URSS
(1956) Kruchov coloca a nu a desgraça do stalinismo na URSS. Os
intelectuais esquerdistas ficam sem rumo.

Juscelino chega ao fim e seu candidato perde para o senhor
Jânio Quadros. Esperança da vassoura. Desastre total. Não foram os
Militares de Ontem que rasgaram a lei e feriram a ordem. Quem declarou
vago o cargo de Presidente foi o Congresso Nacional. A Nação ficou ao
Deus dará. Ameaça de guerra civil e os políticos tocando fogo no País
e as Forças Armadas divididas pelas paixões políticas, disseminadas
pelas "vivandeiras dos quartéis" como muito bem alcunhou Castello.

Parlamentarismo, volta ao presidencialismo, aumento das
paixões políticas, Prestes indo até Moscou afirmando que já estavam no
governo, faltando-lhes apenas o Poder. Os militares calados e o chefe
do Estado Maior do Exército (Castello) recomendando que a cadeia de
comando deveria ser mantida de qualquer maneira. A indisciplina
chegando e incentivada dentro dos Quartéis, não pelos Militares de
Ontem e sim pelos políticos de esquerda; e as vivandeiras tentando
colocar o Exército na luta política.

Revoltas de Polícias Militares, revolta de sargentos em
Brasília, indisciplina na Marinha, comícios da Central e do Automóvel
Clube representavam a desordem e o caos contra a LEI e a ORDEM.
Lacerda, Ademar de Barros, Magalhães Pinto e outros governadores e
políticos (todos civis)incentivavam o povo à revolta. As marchas com
Deus, pela Família e pela Liberdade (promovidas por mulheres)
representavam a angústia do País. Todo esse clima não foi produzido
pelos MILITARES DE ONTEM. Eles, contudo, sempre à escuta dos apelos do
povo, pois ELES são o povo em armas, para garantir as Leis e a Ordem.
Minas desce. Liderança primeira de civil; era Magalhães Pinto. Era a
contra-revolução que se impunha para evitar que o Brasil soçobrasse ao
comunismo. O governador Miguel Arraes declarava em Recife, nas
vésperas de 31 de março: haverá golpe. Não sabemos se deles ou nosso.

Não vamos ser hipócritas. A senhora, inteligente como é,
deve ter lido muitos livros que reportam a luta política daquela época
(exemplos: A Revolução Impossível de Luis Mir - Combates nas Trevas de
Jacob Gorender - Camaradas de William Waack - etc) sabe que a esquerda
desejava implantar uma ditadura de esquerda. Quem afirma é Jacob
Gorender. Diz ele no seu livro: "a luta armada começou a ser tentada
pela esquerda em 1965 e desfechada em definitiva a partir de 1968".
Não há, em nenhuma parte do mundo, luta armada em que se vão plantar
rosas e é por essa razão que GORENDER afirma: "se quiser compreendê-la
na perspectiva da sua história, A ESQUERDA deve assumir a violência
que praticou". Violência gera violência.

Castello, Costa e Silva, Médici, Geisel e João Figueiredo,
com seus erros e virtudes, desenvolveram o País. Não vamos perder
tempo com isso. A senhora é uma economista e sabe bem disso. Veio a
ANISTIA. João Figueiredo dando murro na mesa e clamando que era para
todos; e Ulisses não desejando que Brizolla, Arraes e outros pudessem
tomar parte no novo processo eleitoral, para não lhe disputarem as
chances de Poder. João bateu o pé e todos tiveram direito, pois "lugar
de Brasileiro é no Brasil", como dizia. Não esquecer o terceiro choque
sofrido pela a esquerda: Queda do Muro de Berlim, que até hoje a nossa
esquerda não sabe desse fato histórico..

Diretas já. Sarney, Collor com seu desastre, Itamar, FHC,
LULA e chegamos aos dias atuais. Os Militares de Hoje, silentes, que
não são responsáveis pelas desgraças que vivemos agora, mas sempre
aguardando a voz do Povo. Não houve no passado, nem há, nos dias de
hoje, nenhum militar metido em roubo, compra de voto, CPI, dólar em
cueca, mensalões ou mensalinhos. Não há nenhum Delúbio, Zé Dirceu,
José Genoíno, e que tais. O que já se ouve, o que se escuta é o povo
dizendo: SÓ OS MILITARES PODERÃO SALVAR A NAÇÃO. Pois àquela época da
"ditadura" era que se era feliz e não se sabia... Mas os Militares de
Hoje, como os de Ontem, não querem ditadura, pois são formados
democratas. E irão garantir a Lei e a Ordem, sempre que preciso. Os
militares não irão às ruas sem o povo ao seu lado. OS MILITARES DE
HOJE SÃO OS MESMOS QUE OS MILITARES DE ONTEM. A nossa desgraça é que
políticos de hoje (olhe os PICARETAS do Lula!) - as exceções
justificando a regra - são ainda piores do que os de ontem. São sem
ética e sem moral, mas também despudorados. E o Brasil sofrendo, não
por conta dos MILITARES, mas de ALGUNS POLÍTICOS - uma corja de
canalhas, que rasgam as leis e criam as desordens.

Como sei que a senhora é uma democrata, espero que publique
esta carta no local onde a senhora escreve os seus artigos, que os
leio atenta e religiosamente, como se fossem uma Bíblia. Perfeitos no
campo econômico, mas não muito católicos ou evangélicos no campo
político por uma razão muito simples: parece que a senhora tem o
vírus de uma reacionária de esquerda.

Atenciosa e respeitosamente,

GENERAL DE DIVISÃO REFORMADO DO EXÉRCITO FRANCISCO BATISTA TORRES DE
MELO.


(Um militar de ontem, que respeita os militares de hoje, que
pugnam pela Lei e a Ordem).


"A adversidade desperta em nós capacidades que em circunstâncias
favoráveis, teriam ficado adormecidas." (Horácio)


Um comentário:

  1. Quando nos prestamos a deturpar os fatos e os responsáveis não estamos colaborando para caminhar em direção a democracia plena.
    Dos dois lados houveram excessos individuais ou em grupos porque o ser humano não controla seu lado agressivo
    Parabens General por todas as colocações esclarecendo parte da história do Brasil aos brasileiros desmemoriados e revanchistas.

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