domingo, 8 de novembro de 2015

“A face oculta” e outras seis notas de Carlos Brickmann

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

CARLOS BRICKMANN
O grande acordo “Tira do Meu que Eu Tiro da Sua” está evidente: Eduardo Cunha evitou que Gilberto Carvalho, Erenice Guerra, Antônio Palocci e um dos filhos de Lula, Fábio Luís, fossem convocados pela CPI do BNDES. Foi o agrado a Lula por ter ordenado ao PT que garantisse amplo direito de defesa a Eduardo Cunha e demais alvos do procurador Rodrigo Janot. A ampla defesa inclui um relator amicíssimo de Cunha e seu antigo seguidor.
Já o processo de impeachment contra Dilma está andando, mas em ritmo de discurso de Suplicy. Cunha já podia ter tocado ou rejeitado o processo, o que seria normal, mas preferiu ralentar. E aí há feriados, recesso parlamentar, festas de fim de ano. Cunha diz que não haverá recesso, mas é mais fácil boi enlatado voar do que esperar parlamentares para votar impeachment no recesso que não haverá. No ano que vem, depois do Carnaval ─ claro! ─ o clima já será outro, de eleições municipais.
OK? Não: hoje, mais importante que o jogo do Congresso é a face oculta da crise. A greve dos petroleiros tem inesperado índice de adesão. Uma surpresa, considerando que os sindicatos do setor são mais governistas do que Collor, Sarney, Maluf e Kátia Abreu juntos. E, para amanhã, segunda, está marcada uma greve explosiva, a dos caminhoneiros. Se der certo, bloqueia estradas, suspende o abastecimento, paralisa a economia, multiplica o efeito da greve dos petroleiros. Há, entre os caminhoneiros, alguns cujo objetivo é derrubar o governo.
Agora não adianta muito olhar para Brasília: é preciso olhar para o país.

O movimento das ruas

A propósito, estão marcadas para o dia 15, domingo que vem, manifestações Fora Dilma espalhadas pelo país. Se houver desabastecimento, devem crescer. 

Ele conhece

A frase de José Guimarães, do PT cearense, líder do governo na Câmara, aquele cujo assessor foi preso no aeroporto com cem mil dólares na cueca, mostra que ninguém mais quer derrubar ninguém, que o acordo entre governo e Eduardo Cunha está fechado ─ tão fechado quanto a boca dos partidos que se dizem de oposição: “Ninguém pode ser excluído de suas funções ou condenado sem o trânsito em julgado. E isso também vale para o Conselho de Ética”.

Questão de boa-fé

Tirando o Capitão Gancho, ninguém bota a mão no fogo pelo cumprimento de um acordo entre os personagens acima citados. Mas uma eventual traição envenenará o clima de tal maneira que a crise transbordará de volta para Brasília.

Acredite se quiser

Não, não é piada: na sexta-feira, realizou-se no Hotel Othon, no Rio, o seminário “Transparência e Corrupção nos governos”, promovido pela Coordenação Socialista Latino-Americana. Quem falou em nome do PT? Mônica Valente, sua secretária de Relações Internacionais. E também esposa de Delúbio Soares. Mônica Valente criticou duramente não apenas a corrupção como o caixa dois nas campanhas eleitorais.
É a posição da família: Delúbio também era contra a caixa dois. Só aceitava, como tesoureiro do PT, o que chamava de “recursos não contabilizados”. Foi condenado no Mensalão à pena de seis anos e oito meses.

Os bons tempos passaram

O Ministério da Justiça promove meritória campanha de valorização dos imigrantes ─ uma campanha que este colunista, neto de ucranianos e romenos, genro de polonesa e romeno, só pode elogiar. O problema é que o Ministério dirigido por José Eduardo Martins Cardozo escorrega feio até quando está do lado certo. Um internauta, Heder Duarte, enviou a seguinte mensagem: “Imigrantes pacíficos são bem-vindos, já os jihadistas devem ser bloqueados de entrar no Brasil”. Correto: o imigrante pacífico enriquece a sociedade brasileira. Já os jihadistas proclamam a guerra santa muçulmana contra os infiéis, ou seja, todos os que tenham qualquer outra crença. O Estado Islâmico, por exemplo, é jihadista, como a Al-Qaeda.
A resposta oficial do Ministério da Justiça, conferida no seu próprio site: “Temos que desconstruir alguns conceitos, Heder. Os jihadistas, assim como qualquer outro povo de qualquer outra origem, vêm ao Brasil para trazer mais progresso ao nosso país e merecem respeito” (segue-se o símbolo :), que significa algo como “sorriso”).
É tanta besteira que fica difícil até rebater: primeiro, jihadistas não são um povo, mas pessoas de vários povos que partilham a crença de que todos têm de ser convertidos ao islamismo, mesmo que pela violência. Segundo, a guerra santa traz progresso para quem? O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, terá algo a dizer sobre a posição do seu Ministério?

Notícia enigmática

Nota publicada na coluna Giba Um (www.gibaum.com.br): “Muitos ─ de melhor memória ─ estão lembrando uma história de uma Ferrari que bateu na Rodovia Castelo Branco, o motorista fugiu e seus seguranças trataram de levá-lo para longe do local do acidente. Alguns investigaram e descobriram que o carro era de uma construtora de São Bernardo, cujo endereço é dentro de uma companhia de ônibus da chamada ‘rainha da catraca’. Se o arranjo for igual ao do apartamento dos Jardins, o motorista (e dono) poderia ser aquele filho famoso”. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário