terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Mais gasolina para um carro beberrão

Não se impressione: o motor é de Fiat 147

Não se impressione: o motor é de Fiat 147

Se o estado brasileiro fosse um carro, que carro seria?
Talvez um Trabant, o carrinho da Alemanha Oriental, ou um caminhão Mercedes daquele modelo antigo – pesado, barulhento e gastador. Eu fico com este: uma Ferrari com motor de Fiat 147. O brilho da lataria impressiona, e pelo que as pessoas dizem você acredita que o carro é capaz de tudo. Mas basta ligar o motor para perceber que ele bebe demais, atrapalha o trânsito e corre tanto quanto uma carroça.
Dar a esse carro mais gasolina, ou mais dinheiro dos impostos, como o governo Dilma acaba de anunciar, é desperdício. Não resolve os problemas essenciais do motor, a falta de regulagem, os buracos do tanque por onde vaza combustível. O estado vai continuar gastando demais para andar pouco. Seu custo, cada vez maior para quem é obrigador a bancá-lo, uma hora fica insuportável.
Mas há um problema nesta comparação. Se o estado fosse uma Ferrari com motor de Fiat 147, pouca gente gostaria dele. E o que as últimas eleições mostraram é que milhões de brasileiros não só acreditam na potência do estado como acham até que ele precisa de mais dinheiro, mais investimentos, mais gasolina. Por que tanta gente defende um carro tão ruim?
Talvez porque acreditem que o automóvel é grátis. Se não custa nada, tudo bem andar num carro aos pedaços a 20 km/h. “Agora está muito melhor”, dizem alguns, “antes ele andava a 15 km/h.” Até ouvem dizer que o estado gasta uma gasolina danada, mas não sentem isso no próprio bolso. O que sabem é que de vez em quando usam o carro – e quando usam não tiram um tostão do bolso. O benefício é aparente, enquanto o custo de ser um passageiro é oculto.
Mudar o motorista ajuda? Sim, até certo ponto. Alguns motoristas pelo menos mantêm o carro na pista, enquanto outros levam os passageiros para o abismo, arranjam briga com outros carros e culpam parte dos passageiros por suas barbeiragens. Mas até mesmo um Ayrton Senna, ao volante do estado, vai ter o desempenho de um Barrichello.

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