sexta-feira, 31 de maio de 2013

Ninguém nasce, em nenhum país do mundo, que eu saiba, por mais democrático que seja, com o direito de receber de mão beijada uma propriedade.

30/05/2013
 às 20:14

Governo agora investe na falácia de que a Justiça é que impede os assentamentos. Então vamos fechar o Judiciário! Ou: E se Stedile arrumasse um emprego, hein?

Embora a petezada queira “controlar a mídia”, a turma, lá na intimidade, deve se regozijar: “Pô, tá ficando cada vez mais fácil plantar conversa mole na grande imprensa, né, companheiros?” E todos brindam à saúde moral de Che Guevara com uísque 12 anos — idade mínima aceita por Lula desde quando, sindicalista, negociava com o Grupo 14, da Fiesp. Por que digo isso?
Porque o governo conseguiu emplacar a história de que os assentamentos na área rural só não andam por culpa da Justiça. Haveria, segundo as contas, 413 mil hectares dependendo de decisões judiciais, suficientes para assentar 14 mil famílias.
Que chato! Acho que, sem o Poder Judiciário, eu também faria um bom governo. Qualquer um de nós faria. E sem o Legislativo, então? Huuummm… Reescrevo: não sei se seria “bom”, mas daria para mandar à vontade, né? Seria gostoso ao menos. As ditaduras sempre são divertidas — para os ditadores e acólitos.
Como são feitas as demarcações e desapropriações? Será que o Incra faz tudo direitinho, e o juiz só entra no fim, para atrapalhar? O caso dos índios (ver post anterior) ilustra bem a questão. Governos têm de ter políticas claramente definidas, em vez de entregar áreas da administração a feudos ideológicos.
A verdade dramática, esta sim, é que a reforma agrária com distribuição de terra é um modelo falido. Já era! Virou um buraco sem fundo, sem lógica econômica nenhuma. Não existe mais sem-terra já faz tempo. O que existe é um aparelho ideológico chamado MST, que mantém a causa para, na verdade, financiar as próprias fantasias ideológicas. O que falta, isto sim, é legalizar, com carteira assinada, os trabalhadores rurais que ainda estão na informalidade. O máximo que pode haver no campo — e isso deveria ser objeto de política pública — é desemprego, não sem-terra. Vale dizer: NÃO PRECISAMOS DE UMA REFORMA AGRÁRIA, MAS DE UMA REFORMA NA MÃO DE OBRA DO SETOR AGRÁRIO. É mais simples de resolver, muito mais barato e dará a esses trabalhadores condições de vida muito mais dignas e com mais celeridade. Mas aí João Pedro Stedile e outros da sua turma terão de arrumar um emprego.
Todo mundo tem direito à propriedade e ninguém pode ser dela privado de modo arbitrário. Está lá, de modo claro, no Artigo 17 da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Mas ninguém nasce, em nenhum país do mundo, que eu saiba, por mais democrático que seja, com o direito de receber de mão beijada uma propriedade.
Por Reinaldo Azevedo

Leiam também:
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=788

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Contos Gauchescos

Jogo de Osso
Pois olhe: eu já vi jogar-se uma mulher num tira de taba. Foi uma parada que custou vida… mas foi jogada!
  Um pouco pra fora da Vila, na volta da estrada, metida na sombra dumas figueiras velhas ficava a vendola do
Arranhão; era um bochinche mui arrebentado, e o dono era um sujeito alarifaço, cá pra mim, desertor, meio
espanhol meio gringo, mas mui jeitoso para qualquer arreglo que cheirasse à plata...
Mui destravado da língua e ao mesmo tempo rezador, sempre se santiguando e olhando por baixo, como 
porco, tudo pra ele era negócio: comprava roubos, trocava cousas, emprestava pra jogo, com usura, e sempre se 
atrapalhava para menos, no troco dos pagamentos. 
Às vezes armava umas carreiritas, que se corriam numa cancha dumas três quadras que ele mesmo tinha
arranjado a um lado do potreiro; então conchavava algum gringo tocador de realejo e estava preparado o diverti-mento. O que ele queria era gente, peonada, andantes, vagabundos, carreteiros, para poder vender canha e comida 
e doces; e de noite facilitava umas mesas de      primeira, de truco ou de sete-em-porta para tirar o cafife. Doutras 
ocasiões ajeitava umas dançarolas que alvorotavam o chinaredo da vizinhança. 
Por este pano de amostra vancê vê o que seria aquele gavião. 
Duma vez que ele tinha trançado umas carreiras, com duas ou três pencas de patacão, e se havia ajuntado 
algum povo, tudo gauchada leviana, choveu. 
A chuvarada estragou a cancha, molhou as carpetas, atrapalhou tudo. 
E a gente foi ganhando na venda, apinhoscou-se por debaixo das figueiras e no galpão. 
Quando passou o aguaceiro e oriou o terreiro, deram alguns aficionados para jogar o osso. 
Vancê sabe como é que se joga o osso? 
Ansim: 

Escolhe-se um chão parelho, nem duro, que faz saltar, nem mole, que acama, nem areento, que enterra o
osso. 
  É sobre o firme macio, que convém. A cancha com uma braça de largura, chega, e três de comprimento; no 
meio bota-se uma raia de piola, amarrada em duas estaquinhas ou mesmo um risco no chão, serve; de cada cabeça 
da cancha é que o jogador atira, sobre a raia do centro: este atira daqui pra lá, o outro atira de lá pra cá. 
O osso é a taba, que é o osso do garrão da rês vacum. O jogo é só de culo ou suerte. 
Culo é quando a taba cai com o lado arredondado pra baixo: quem atira assim perde logo a parada. Suerte é 
quando o lado chato fica embaixo: ganha logo e sempre. 
Quer dizer: quem atira culo perde, se é suerte ganha e logo arrasta a parada. 
Ao lado da raia do meio fica o  coimeiro  que é o sujeito depositário da parada e que a entrega logo ao 
ganhador. O coimeiro também é que tira o barato — para o pulpeiro. Quase sempre é algum aldragante velho e 
sem-vergonha, dizedor de graças. 
E um jogo brabo, pois não é? 
Pois há gente que se amarra o dia inteiro nessa cachaça, e parada a parada envida tudo: os bolivianos, os
arreios, o cavalo, o poncho, as esporas. O facão nem a pistola, isso, sim, nenhum aficionado joga; os fala-verdade é 
que têm de garantir a retirada do perdedor sem debocheira dos ganhadores... e, cuidado… muito cuidado com o 
gaúcho que saiu da cancha do osso de marca quente!... 
Pois dessa feita se acolheraram a jogar a taba o Osoro e o Chico Ruivo. 
O  Osoro era um moreno mui milongueiro, compositor de parelheiros e meio aruá; andava sempre metido 
pelos ranchos contando histórias às mulheres e tomando mate de parceria com elas. 
52 
O  Chico era domador e morava de agregado num rincão da estância das Palmas; e vivia com uma 
piguancha bem jeitosa, chamada Lalica. 
Nesse dia Unha vindo com ela ao festo do Arranhão. Enquanto os dois jogavam, a morocha andava lá por 
dentro, com as outras, saracoteando. 
Havia violas; havia tocadores; a farra ia indo quente. E os dois, jogando. O Chico perdia uma em cima da 
outra. 
—  Culo! Outra vez?... Má raios!... 
—  Suerte, chê! Ganhei! repetia o Osoro. 
—  Jogo-te o tostado, aperado, valeu? Topo! 
E culo!... Isto é mau olhado dalgum roncolho mirone!... 
E relanceou os olhos pelos vedores, esperando que algum comprasse a camorra; ninguém se picou. 
—  Jogo o teu ruano contra as duas tambeiras da Lalica! 
—  E pouco, Chico!... Ainda se fosse a dona!... 
—  Osoro, não brinca!... Pois olha; jogo! 
— O ruano? 
—  O mano contra a Lalica! Assim como assim, esta china já está me enfarando!... 
— Pois topo! 
Os mirones se entreolharam, boquejando, alguns; eles bem viam que o gaúcho estava sem liga, que já tinha 
perdido tudo, o dinheiro, o cavalo, as botas, um rebenque com argolão de prata; e agora, o outro, o Osoro, para 
completar o carcheio, ainda tinha topado a última parada, que era a china... 
A cousa ia ser tirana; correu logo voz; em roda dos dois amontoou-se a gente. 
O Osoro atirou, e deu suerte... 
O Ruivo atirou, e deu suerte... 
—  Ora, não deu gosto! disse um. 
—  Outra mão! disse o outro. 
E o Ruivo atirou: culo! 
O  Osoro atirou: suerte! 
— Ganhei, aparceiro! 
—  Pois toma conta, ermâo! 
—  Tu é que tens de fazer a entrega... 
—  Não tem veremos... Trato é trato!... 
Já ia querendo anoitecer. 
  O  que se passou entre aquelas três criaturas, não sei; se juntaram num canto do balcão da venda e falaram. 
Por certo que o Chico Ruivo disse à china que a jogara numa parada de taba; o Osoro só disse uma vez: 
—  Eu, se perdesse o ruano, o Chico já ia daqui montado nele... 
A Lalica deu uma risadinha amarela; olhou o Osoro, olhou o Chico Ruivo, cuspiu de nojo e disse pra este, na 
cara: 
—  Sempre és muito baixo!..., guampudo, por gosto!... 
—  Olha, guincha, que te grudo as chilenas!... 
—  Ixe! Este, agora, é que me encilha, retalhado!... 
53 
  Nisto um violeiro pegou a rufar uma dança chorada; umas parelhas pegaram a se menear no compasso da 
música e logo o Osoro, para cortar aquele aperto, travou do pulso da morocha, passou-lhe o braço na cinta e quase 
levantando-a no ar entrou na roda dos dançadores; o Ruivo ficou quieto, mas de goela seca e nos olhos com uma 
luz diferente. 
Na primeira volta, quando o par passou por ele, a china ia dizendo mui derretida: 
—  Quando quiseres, meu negro... 
Na segunda volta, como num despique, ela tornou a boquejar pro Osoro: 
—  Eu vou na tua garupa... 
E na outra, a china vinha calada, mas com a cabeça deitada no peito do par, olhando terneira pra ele, com 
uma luz de riso, os beiços encolhidos, como armando uma promessa de boquinha; e o Osoro se esqueceu do 
mundo… e colou na boca da tentação um beijo gordo, demorado, cheio de desaforo... 
O Chico Ruivo teve um estremeção e deu um urro entupido, arrancou do facão e atirou o braço pra diante, 
numa cegueira de raiva, que só enxerga bem o que quer matar... 
  E vai, como pegou o Osoro pela esquerda, do lado, meio por detrás, por debaixo da paleta, o facão saiu no 
rumo certo e foi bandear a Lalica meio de lado, sobre a esquerda da frente. 
Vancê compr’ende? Do mesmo talho varou os dois corações, espetou-os no mesmo feno, matou-os da 
mesma morte, fazendo os dois sangues, num de cada peito, correrem juntos num só derrame... que foi lastrando 
pelo chão duro, de cupim socado, lastrando... até os dois corpos baterem na parede, sempre abraçados, talvez mais 
abraçados, e depois tombarem por cima do balcão, onde estava encostado o tocador, que parou um rasgado bonito 
e ficou olhando fixe para aquela parelha de dançarmos morrentes e farristas ainda!... 
Levantou-se uma berraçada. 
— Matou! Foi o Chico Ruivo!... Amarra! Cerca!... 
Mas o Ruivo parece que voltou a si; coriscou o facão aos dois lados e atropelou a porta, ganhou o terreiro e se 
foi ao palanque onde estava o ruano do Osoro: montou e gritou pra os que ficavam: 
— Siga o baile!... 
E deu de rédea, no escuro da noite. 
O Arranhão acudiu ao berzabum; aquele safado, curtido na ciganagem, só soube dizer: 
— Pois é... jogaram o osso, armaram a sua paranda... mas nenhum pagou nada ao coimeiro!... Que trastes!...

ass


quarta-feira, 29 de maio de 2013

Pode ser que ele esteja maluco

*João Ubaldo Ribeiro
O texto é de 2008, que será que ele diria hoje?
Sei que, para os lulistas religiosos, a ressalva preliminar que vou fazer não adiantará nada. Pode ser até tida na conta de insulto ou deboche, entre as inúmeras blasfêmias que eles acham que eu cometo, sempre que exponho alguma restrição ao presidente da República. Mas tenho que fazê-la, por ser necessária, além de categoricamente sincera. Ao sugerir, como logo adiante, que ele não está regulando bem do juízo, ajo com todo o respeito. Dizer que alguém está maluco, principalmente alguém tido como sagrado, pode ser visto até como insulto, difamação ou blasfêmia mesmo. Mas não é este o caso aqui. Pelo menos não é minha intenção. É que às vezes me acomete com tal força a percepção de que ele está, como se diz na minha terra, perturbado da idéia que não posso deixar de veiculá-la. É apenas, digamos assim, uma espécie de diagnóstico leigo, a que todo mundo, especialmente pessoas de vida pública, está sujeito.
Além disso, creio que não sou o único a pensar assim. É freqüente que ouça a mesma opinião, veiculada nas áreas mais diversas, por pessoas também diversas. O que mais ocorre é ter-se uma certa dúvida sobre a vinculação dele com a realidade. Muitas vezes – quase sempre até -, parece que, quando ele fala “neste país”, está se referindo a outro, que só existe na cabeça dele. Há alguns dias mesmo, se não me engano e, se me engano, peço desculpas, ele insinuou ou disse claramente que o Brasil está, é ou está se tornando um paraíso. Fez também a nunca assaz lembrada observação de que nosso sistema de saúde já atingiu, ou atingirá em breve, a perfeição, até porque está ao alcance de qualquer cidadão, pela primeira vez na História deste país, ter absolutamente o mesmo tratamento médico que o presidente da República.
Tal é a natureza espantosa das declarações dele que sua fama de mentiroso e cínico, corrente entre muitos concidadãos, se revela infundada e maldosa. Ele não seria nem mentiroso nem cínico, pois não é rigorosamente mentiroso quem julga estar dizendo a mais cristalina verdade, nem é cínico quem tem o que outros julgam cara-de-pau, mas só faz agir de acordo com sua boa consciência. Vamos dar-lhe o benefício da dúvida e aceitar piamente que ele acredita estar dizendo a absoluta verdade.
Talvez haja sinais, como dizem ser comum entre malucos, de uma certa insegurança quanto a tal convicção, porque ele parece procurar evitar ocasiões em que ela seria desmentida. Quando houve o tristemente célebre acidente aéreo em Congonhas, a sensação que se teve foi a de que não tínhamos presidente, pois os presidentes e chefes de governo em todo o mundo, diante de catástrofes como aquela, costumam cumprir o seu dever moral e, mesmo correndo o risco de manifestações hostis, procuram pessoalmente as vítimas ou as pessoas ligadas a elas, para mostrar a solidariedade do país. Reis e rainhas fazem isso, presidentes fazem isso, primeiras-damas fazem isso, premiers fazem isso. Ele não. Talvez tenha preferido beliscar-se para ver ser não estava tendo um pesadelo. Mandou um assessor dizer umas palavrinhas de consolo e somente três dias depois se pronunciou a distância sobre o problema. O Nordeste foi flagelado por inundações trágicas, o Sul assolado por seca sem precedentes, o Rio acometido por uma epidemia de dengue, ele também não deu as caras. E recentemente, segundo li nos jornais, confidenciou a alguém que não compareceria a um evento público do qual agora esqueci, por temer receber as mesmas vaias que marcaram sua presença no Maracanã.
Portanto, como disse Polônio, personagem de Shakespeare, a respeito do príncipe Hamlet, há método em sua loucura. Não é daquelas populares, em que o padecente queima dinheiro (somente o nosso, mas aí não vale) e comete outros atos que só um verdadeiro maluco cometeria. Ele construiu (enfatizo que é apenas uma hipótese, não uma afirmação, porque não sou psiquiatra e longe de mim recomendar a ele que procure um) um universo que não pode ser afetado por cutucadas impertinentes da realidade. Notícia ruim não é com ele, que já tornou célebre sua inabalável agnosia (“não sei de nada, não ouvi nada, não tive participação nenhuma”) quanto a fatos negativos. Tudo de bom tem a ver com ele, nada de ruim partilha da mesma condição.
Agora ele anuncia que, antes de deixar o mandato, vai registrar em cartório todas as suas realizações, para que se comprove no futuro que ele foi o maior presidente que já tivemos ou podemos esperar ter. Claro que se elegeu, não revolucionariamente, mas dentro dos limites da ordem (?) jurídica vigente, com base numa série estonteante de promessas mentirosas e bravatas de todos os tipos. Não cumpriu as promessas, virou a casaca, alisou o cabelo, beijou a mão de quem antes julgava merecedor de cadeia e hoje é o presidente favorito dos americanos, chegando mesmo, como já contou, a acordar meio aborrecido e dar um esbregue em Bush. Cadê as famosas reformas, de que ouvimos falar desde que nascemos? Cadê o partido que ia mudar nossos hábitos e práticas políticas para sempre? O que se vê é o que vemos e testemunhamos, não o que ele vê. Mas ele acredita o contrário.
Acredita, inclusive, nas pesquisas que antigamente desdenhava, pois os resultados o desagradavam. Agora não, agora bota fé – e certamente tem razão – depois que comprou, de novo com o nosso dinheiro, uma massa extraordinária de votos. Não creio que ele se julgue Deus ainda, mas já deve ter como inevitável a canonização e possivelmente não se surpreenderá, se lhe contarem que, no interior do Nordeste, há imagens de São Lula Presidente e que, para seguir velha tradição, uma delas já foi vista chorando. Milagre, milagre, principalmente porque ninguém vai ver o crocodilo por trás da imagem.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Fazendo piada da miséria...,

23/05/2013
 às 16:36

Estafeta de Maduro explica por que falta papel higiênico na Venezuela: é que o povo está comendo mais!!! É sério! Não é piada!

O regime venezuelano vai se desconstituindo de forma patética. Uma piada — ou nem tanto — toma conta das redes sociais da Venezuela. Pouco depois de o governo aprovar a importação de 39 milhões de rolos de papel higiênico — em meio a uma crise geral de abastecimento, muito especialmente de produtos alimentícios —, Elías Eljuri, presidente do Instituto Nacional de Estatísticas, foi a público, numa entrevista concedida à Televen, uma das TVs estatais do país, para “provar” que o povo está comendo muito mais hoje em dia. Eis o vídeo. Volto em seguida.
Voltei
Reitero: a falta de alimentos na Venezuela é dramática. E o tal Eljuri tenta provar por quê: é que se come mais!!! Por enquanto, estão tentando importar comida também. Ainda chegará a hora de punir os comilões, acusados de contrarrevolucionários.
E, eis o motivo de escárnio da rede, está explicada também a falta de papel higiênico no país. Sabem como é: quanto mais comida entra, mais comida processada sai, certo? É fato que o chavismo aumentou bastante, na Venezuela, a produção de “mierda”, como se diria em espanhol castiço.
Por Reinaldo Azevedo

Sumiu uma Finlândia

Mais de meio trilhão de reais em dívidas e gastos do governo está escondido nas contas públicas. É o resultado da tal “contabilidade criativa” — e o custo invisível pode até aumentar


A presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda Guido Mantega
Em suspenso: nem Dilma nem Mantega explicam para onde vai a política fiscal
São Paulo - Imagine um gastador contumaz que decide mudar de vida. A partir de agora, ele vai poupar boa parte do que ganha até equilibrar suas contas. Para facilitar seu esforço de austeridade, porém, ele prefere não contabilizar como dívida as prestações de um apartamento na praia. Por outro lado, resolve contar como poupança os futuros dividendos de ações que acaba de comprar. Ou seja, seu impulso de gastador continua lá — mas ele tenta se convencer de que sua situação não é tão ruim assim. De maneira simplificada, é isso que o governo tem feito para cumprir a meta do superávit primário, a economia de recursos para o pagamento de juros da dívida pública.
Desde 2009, parte das dívidas, dos gastos e das receitas não é registrada adequadamente. O mercado apelidou os subterfúgios de “contabilidade criativa”. A consultoria econômica Tendências calculou os valores envolvidos nas manobras e mostra que seria melhor chamar a estratégia de “contabilidade destrutiva”. Em quatro anos, 48 bilhões de reais em receitas futuras foram incluídos no cálculo do superávit. Ou seja, dinheiro que ainda não existe foi contado como recebido. Outros 63 bilhões, de recursos empregados no Programa de Aceleração do Crescimento, foram somados à economia. E ficaram de fora dívidas de 479 bilhões de reais — o equivalente ao PIB da Finlândia — em repasses do Tesouro Nacional a bancos públicos, em especial ao BNDES.
Somando o que não entrou na conta (mas deveria) e o que foi incluído (e não deveria), o governo inflou sua economia em 590 bilhões de reais de 2009 a 2012. No papel, as metas de superávit foram cumpridas. Na vida real, a história foi bem diferente. “O governo acredita que a contabilidade criativa é a saída para ter recursos, investir e fazer o país crescer”, diz Felipe Salto, economista da Tendências responsável pelo levantamento. “Mas ela não gera crescimento, prejudica a política fiscal, deteriora as contas públicas e coloca em descrédito as regras que deram credibilidade ao país.”
A dívida brasileira é o tema central da discussão. Muitos economistas que defendem o Estado como indutor do crescimento alegam que o governo agora pode poupar menos porque a dívida pública é baixa. “Não é verdade”, diz Mansueto Almeida, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. “Nossa dívida, além de cara, é alta para o atual padrão dos emergentes.”
Pelos critérios do Fundo Monetário Internacional, a dívida pública bruta do Brasil equivale a 69% do PIB — acima da de países como México (44%), Colômbia (33%), Peru (20%) e Chile (11%). A contabilidade criativa agrava o problema: cobre débitos de bilhões com o manto da invisibilidade. O quase meio trilhão de reais transferido do Tesouro para os bancos federais veio da emissão de títulos públicos. No futuro, o Brasil terá de resgatá-los e remunerar os investidores, pagando o juro prometido.
Frouxidão fiscal
Não há sinal de que o governo pretenda ser mais austero. Ao contrário. A recente saída de Nelson Barbosa da Secretaria Executiva do Ministério da Fazenda indica que a frouxidão fiscal pode aumentar. Barbosa não era um entusiasta das contas criativas. O defensor delas é Arno Augustin, o secretário do Tesouro. Com a saída de um, a posição do outro tende a se fortalecer. Augustin já reafirmou que a prioridade agora é gerar crescimento — e não economizar para pagar juro de dívida. Nem a presidente Dilma Rous­seff­ nem o ministro Guido Mantega, da Fazenda, explicaram como fica a política fiscal.
O governo discute a criação de uma banda de 0,9% a 3,1% do PIB para a meta do superávit. Até o fechamento desta reportagem, em 17 de maio, ainda não havia sido tomada uma decisão a respeito. A conta invisível, enquanto isso, continua aumentando. Pela estimativa da Tendências, os repasses do Tesouro a bancos públicos vão crescer 22% neste ano e chegar a 585 bilhões de reais. Uma Finlândia já sumiu das contas públicas brasileiras. E vem mais por aí.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Caxirola, Fuleco, Brazuca..., tem como dar certo um negócio desses? Só podia virar piada..., quanta criatividade! Ainda bem que a caxirola foi pro saco. Mais de um milhão de reais jogado no lixo, digo, no bolso da côrte!

O gol contra da dupla Carlinhos Brown e Dilma: a caxirola não vai entrar em campo

Um bem-vindo surto de sensatez induziu o governo, a Fifa e o Comitê Organizador Local (COL) da Copa de 2014 a banir a caxirola dos estádios incluídos no circuito da Copa das Confederações. A decisão, divulgada nesta segunda-feira, foi apressada pelos incidentes que marcaram a estréia da maluquice no jogo entre Vitória e Bahia na Fonte Nova (veja reportagem republicada na seção Vale Reprise). E prenuncia o sepultamento definitivo da bisonha invenção de Carlinhos Brown.
Dilma Rousseff e Marta Suplicy vão ter de arranjar outro brinquedo. O inventor de araque vai ter de arranjar outro truque para ganhar dinheiro sem fazer força. Sem a caxirola, o Brasil não ficou melhor. Mas pelo menos não piorou. Já é alguma coisa.
*Augusto Nunes

Fuleco é um apelido para o ânus.
O mesmo que cu.
Vai tomar no fuleco!
Fuleco de bêbado não tem dono.
Quem tem fuleco tem medo
Passarinho que come pedra sabe o fuleco que tem.
Fuleco não tem acento.
http://www.dicionarioinformal.com.br/fuleco/



Medicina sem fronteiras modelo PT

A decisão do governo federal de permitir a imigração temporária de milhares de médicos cubanos para atuar em pequenas cidades e localidades do interior do Brasil tem todos os ingredientes de um desastre que pode ser facilmente previsto: a improvisação de soluções simplistas para enfrentar problemas complexos; a supremacia do companheirismo político e ideológico sobre a qualidade técnica das decisões; o irrealismo – involuntário ou não – dos pressupostos e das metas anunciadas e a desfaçatez com que a inteligência da população é manipulada.

Para os que não sabem, o governo federal vai permitir que 6 mil médicos cubanos venham para o Brasil para praticar a medicina, contratados pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPS). Angelicalmente, os que estão defendendo o projeto informam que esses profissionais vão atuar “exclusivamente” em cidades e núcleos habitacionais do interior, não poderão praticar medicina privada, nem participar de procedimentos complexos de UTI ou realizar cirurgias etc. etc. etc. A fragilidade do projeto é absolutamente patente e salta aos olhos de um observador minimamente atento.
Primeiro, esquecida a questão da legalidade da iniciativa – que, aliás, está provocando arrepios nos conselhos éticos dos profissionais de saúde – há um problema de fundo que é a equidade de tratamento entre brasileiros e estrangeiros. Explico: para um brasileiro que decidiu fazer um curso de Medicina no exterior, a revalidação local de seu diploma – o que lhe permitiria exercer a medicina – é tarefa virtualmente impossível em função dos critérios de equivalência dos conteúdos ministrados em sua formação. No entanto, milhares de estrangeiros, formados sabe-se lá com que cuidados e critérios, entrarão no país legalmente para praticar a profissão médica sem maiores exigências acadêmicas ou burocráticas.
Em segundo lugar vem a ingenuidade (ou a marotice) da proposta: os médicos só poderão permanecer durante três anos, findos os quais serão repatriados. A experiência com expatriados cubanos é bastante ilustrativa do que irá acontecer no futuro: ou os prazos serão prorrogados por sugestão de algum burocrata simpático ou teremos um número razoável de defecções de cubanos que – apesar das saudades de sua bela ilha, terão se acostumado a comprar papel higiênico sem nenhuma dificuldade, escolher e consumir os produtos que desejam, falar mal da política e da inflação, transitar para cima e para baixo sem controles – pequenos e grandes luxos que lhes são negados pela gerontocracia ditatorial cubana, incapaz depois de quase 60 anos de prover minimamente a população dos produtos e serviços mais elementares e das liberdades fundamentais.
Terceiro, vamos esperar para verificar a eficácia dos controles da burocracia brasileira sobre a atuação desses profissionais? Quem e como vai fiscalizar onde e o que estão fazendo os médicos cubanos, quando não se consegue nem que os sistemas de saúde pública se organizem minimamente para evitar o caos dos prontos-socorros, das UTIs superlotadas e de pacientes deitados nas calçadas?
No passado, quando Fidel Castro resolveu se envolver na guerra civil de Angola mandando conselheiros militares cubanos para aquele país, corria a piada de que Cuba era um país verdadeiramente multinacional: o governo estava na União Soviética, a economia em Miami e o exército na África. A versão atual de uma peculiar “medicina sem fronteiras” demonstra que os ditadores cubanos e seus simpatizantes continuam imaginativos e solícitos como nunca.
*Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.


Liderança é uma coisa, Chefia é outra

Por que Jesus é o líder de maior influência na história? Em parte porque ele supriu parte de nossos medos e de nossas necessidades. Jesus tinha duas grandes causas: vida e amor aqui na Terra e salvação da alma depois da morte
Fui convidado para abrir um seminário sobre “liderança” e, na pequena fala que me cabia, propus à plateia pensarmos sobre três perguntas: 1) O que é liderança? 2) Chefiar e liderar são a mesma coisa? 3) Liderança pode ser aprendida?
Quanto à primeira pergunta, há centenas de definições. A que mais me agrada é: “Liderança é a capacidade de influenciar e convencer pessoas, levá-las a acreditar na causa e despertar, nelas, a vontade de agir em favor de objetivos comuns, sobretudo quando elas são livres para seguir outro caminho”.
Quanto à segunda pergunta, liderar não é o mesmo que chefiar. São coisas diferentes. Chefe manda e comanda. Líder convence e influencia. Chefe é quem tem poder e autoridade para ordenar que as pessoas façam alguma coisa, independente da opinião e da vontade do subordinado. Se seu superior pode demiti-lo e deixá-lo sem salário ou pode botá-lo na cadeia, você tem um chefe, não um líder. O chefe até pode ser um líder, mas isso é coincidência, não decorrência.
O ditador cubano Raúl Castro proibiu a blogueira Yoani Sánchez de vir ao Brasil, após 18 negativas de autorização para a moça viajar para fora de Cuba. Ela obedecerá e pronto. Caso contrário, poderá enfrentar a cadeia ou o fuzil, como gostam os ditadores-irmãos Fidel e Raúl. Isso é poder, não é liderança. Não devemos nos iludir: o poder funciona e, sem ele, as organizações seriam um caos.
Em sua organização, seu chefe não tem o poder de fuzilá-lo, mas tem o poder de “fuzilar” sua conta bancária, demitindo-o. Por isso, você faz o que ele manda, concorde ou não com ele. Autoridade para demitir é uma poderosa fonte de poder, mas não de liderança. Certo empresário dizia: “Eu preciso de operários para operar as máquinas, por isso contrato seus braços; o problema é que a cabeça vem junto e eles começam a incomodar, aí eu demito e eles sossegam”.
James Hunter diz que, quando usado de forma autoritária, o poder deteriora os relacionamentos e explica como o exército lida com isso. Os militares internam o recruta num campo de treinamento sob o comando de um sargento rude e agressivo, que manda e berra o tempo todo. Depois de um tempo, o recruta é transferido para um pelotão comandado por um líder servidor, que sabe ouvir e explicar, tudo por uma simples razão: o poder autoritário destrói os relacionamentos e acaba prejudicando o desempenho da equipe.
Antes de responder à terceira pergunta (liderança pode ser aprendida?), vale lembrar que liderança diz respeito ao “processo”, não à “causa”. Uma pessoa pode ser um grande líder a favor de uma causa monstruosa. Hitler foi um gigante e seu poder de convencimento era assombroso. Mas sua causa, como ficou provado, era trágica.
Outra questão refere-se aos “instrumentos” de liderança. Muitos conseguem exercê-la somente quando detêm algum tipo de poder: o cargo, a força, as armas etc. A liderança mais elevada é aquela que não depende de poder nenhum. Napoleão Bonaparte fez um comentário interessante sobre a liderença (sem poder) de Jesus Cristo. Ele disse: “Alexandre, César, Carlos Magno e eu fundamos impérios; mas em que baseamos nossas criações geniais? Nas armas e na força. Jesus, aquele pregador indigente de Nazaré, fundou seu império baseado apenas no amor e até hoje milhões de pessoas morreriam por ele”.
Pois bem, há atributos da liderança que são inatos, ou seja, já vêm com a pessoa. Mas liderança pode ser aprendida e pode ser desenvolvida. Hitler estudou teatro, desenvolveu um gestual próprio, praticou oratória, modulou a voz, estudou a psicologia de massas, leu sobre antropologia e aprendeu a enorme influência de duas características sobre a pessoa humana: o medo e a necessidade.
Pensemos sobre essas duas emoções em relação nós mesmos e sobre como reagimos em função do medo; medo da dor, da doença, da morte, do desemprego, do desamparo, da solidão e do desapreço. A mesma coisa em relação à necessidade; necessidade de alimento, de moradia, de trabalho, de renda, de reconhecimento, de sucesso, de sermos apreciados...
Por que Jesus é o líder de maior influência na história? Em parte porque ele supriu parte de nossos medos e de nossas necessidades. Jesus tinha duas grandes causas: vida e amor aqui na Terra e salvação da alma depois da morte. Ele convenceu e influenciou multidões, e continua a fazê-lo. Ele não tinha o poder de demitir, nem de prender, nem de matar. Ele não mandava; ele ensinava. Era um líder; não era um chefe.
José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

domingo, 26 de maio de 2013

Aí está uma briga urgente e necessária que vai contribuir com a limpeza do país..., Quando é que o PMDB vai deixar de ser um simples partido de aluguél? Um Maria vai com as outras, um lambe-botas?

NOIVO  NERVOSO
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
Tensão sempre houve no convívio entre o governo e seu principal parceiro, o PMDB. Mas nunca o clima de divergência foi tão explícito como agora, quando se acumulam manifestações exteriores de insatisfação.
Da maratona dos três dias que quase levou o Planalto a uma derrota na MP dos Portos e pôs em xeque a utilidade de base parlamentar tão ampla quanto heterogênea, ao aval de mais da metade da bancada do partido na Câmara à CPI da Petrobrás, passando por um jantar em que governadores e parlamentares expuseram suas queixas de maneira contundente, o passivo de descontentamentos só tem feito crescer.
Aonde vai parar isso? O que quer o PMDB? Qual a origem da discórdia? Como se resolve o problema? São algumas entre as várias indagações para as quais há diferentes explicações que partem da mesma premissa: a presidente Dilma Rousseff não dá ao partido o peso esperado quando do acerto que levou Michel Temer à vice-presidência.
No início, o PMDB imaginou que teria interlocução permanente, poder de fato, influência nas decisões por intermédio dos ministérios e tratamento igualitário em se tratando de questões eleitorais.
Passados mais de dois anos e vendo se aproximar a eleição de 2014, o partido teme pela sobrevivência e já se questiona se a vice foi de fato um bom negócio. Na eleição de 2012 o PMDB viu cair de forma expressiva o número de prefeitos e receia que o mesmo se repita nas próximas eleições para governadores, deputados e senadores.
São numerosas as reclamações: Dilma privilegia o PT quando visita os Estados, recusa-se a dar autonomia aos ministros que, além de não terem o controle efetivo de suas pastas, não são pessoas com influência nas bancadas da Câmara e do Senado. A presidente exige lealdade sem contrapartida em termos de compartilhamento de poder e, com isso, deixa o PMDB desprovido de instrumentos para atender às demandas da base no Congresso e para se mostrar poderoso junto ao eleitorado e a possíveis aliados regionais.
Neste aspecto, o governo parece não compreender que o líder na Câmara, Eduardo Cunha, não confronta sozinho. Só o faz porque tem respaldo e, na verdade, vocaliza as insatisfações gerais.
Para piorar, o clima interno no partido é o pior possível. Quebrou-se a unidade conseguida a partir do segundo governo de Luiz Inácio da Silva. Michel Temer perde força porque não se comporta como o PMDB gostaria: fazendo valer suas posições diante da presidente. Promete levar a ela os problemas, mas nunca apresenta ao partido soluções concretas.
O resultado é a hostilidade crescente na direção do Planalto, a deterioração das relações internas e a falta de rumo que já se expressa na recusa de várias seções regionais em se aliar ao PT na próxima eleição.
Solução? Haveria, se a presidente estivesse disposta a reconstruir as pontes, no mínimo substituindo as ameaças e as demonstrações de irritabilidade pelo diálogo.
Caso contrário, aonde isso vai parar? Difícil dizer. Mas o cenário aponta provavelmente para uma daquelas convenções fratricidas de antigamente em que o PMDB não consegue chegar a um consenso e prefere não apoiar ninguém, ficando livre para diversificar o embarque nas canoas que bem entender.
Hora de calar. A pressão do governador Sérgio Cabral Filho para que o PT não tenha candidato ao governo do Rio de Janeiro não mudou em nada a disposição da direção nacional do partido de sustentar o nome do senador Lindbergh Farias.
Nos últimos dias ele recebeu garantia de que a candidatura será mantida, mas ouviu um apelo para não responder, não provocar e, sobretudo, não alimentar polêmica com Cabral.
A palavra de ordem é não dar pretexto e deixar o PMDB do Rio brigar sozinho.

Preservando as espécies

JOÃO UBALDO RIBEIRO - O Estado de S.Paulo
Em Itaparica, não existe muita preocupação com esse negócio de privacidade, visto que, desde o tempo em que a luz era desligada pela prefeitura às dez horas da noite, o sabido saía com a moça, se esgueirando entre os escurinhos do Jardim do Forte e, no dia seguinte, na quitanda de Bambano, o fato já tinha alcançado ampla repercussão, com fartura de pormenores. O mesmo acontecia em todas as outras áreas e diz o povo que, quando meu tio-avô Zé Paulo, tido como mais rico que dezoito marajás, soltava um pum, sozinho numa sala de seu casarão, os puxa-sacos já ficavam de plantão no Largo da Quitanda e, no instante em que ele passava, se manifestavam efusivamente.
- Bom dia, coronel, bufou cheiroso outra vez!
- Muito bem bufado, coronel, quem está preso quer estar solto!
Quanto a câmeras de vigilância e segurança, correntemente na moda, receio que a situação é semelhante. Manolo quis botar uma no Bar de Espanha, mas desistiu depois que soube que todo mundo estava planejando pedir para fazer um teste com a Globo. Além disso, não há muita motivação para a instalação de câmeras, porquanto o que assaltar sempre foi meio escasso e Romero Contador, que não erra nem conta de raiz quadrada, já mostrou na ponta do lápis que, se alguém roubar o nosso PIB, vai passar o resto da vida altamente endividado, pois a verdade, por mais duro que seja reconhecer, é que nossa economia não interessa nem a deputado estadual e mal sobra o que furtar para os corruptos locais.
Não havia, portanto, razão aparente para o movimento deflagrado por Zecamunista, como sempre meio de surpresa. Nada indicava que estivesse motivado para nova campanha cívica, ainda mais envolvendo questões exóticas, como a privacidade. Depois de mais uma vitoriosa temporada de pôquer por todo o Recôncavo, onde chegou a ganhar dois barcos de pesca - que rebatizou de Marx e Engels e doou à Cooperativa Comunista Deus É Mais, há muitos anos fundada por ele, em Valença - voltara à ilha na semana anterior, na discreta companhia de "duas senhoras de Nazaré das Farinhas, minhas correligionárias", como ele me disse ao telefone, sem mais adiantar e muito menos me convidar para conhecer as duas correligionárias. Desde esse dia, fora visto apenas uma vez, comprando uma garrafinha de catuaba no Mercado e voltando apressadamente para casa, no passo ligeirinho de clandestino a que a vida de militante bolchevique o acostumou. E já se pensava que as correligionárias iam ocupá-lo por mais tempo que o esperado, ouvindo-se também a maledicência de que "Zeca não é mais aquele", mas eis que ele, como se nada tivesse acontecido, compareceu ao Bar de Espanha, na happy hour das nove da manhã, e fez o anúncio inesperado.
- Estou fundando o Movimento de Preservação e Defesa do Corno Nacional - disse ele. - Essa viagem acabou de me convencer de que o corno está em extinção. Um dos parceiros com quem eu joguei, não vou dizer onde, contou, quase satisfeito, que foi largado pela mulher, que tinha confessado ter um amante. Mas não era por isso que largava o marido, era porque estava sufocada, queria o espaço dela. O espaço dela era na cama do outro, mas todo mundo finge que acredita e fica tudo por isso mesmo. É a globalização descaracterizando a identidade nacional, não zelamos pelo nosso patrimônio cultural, encaramos tudo com a mais leviana das inconsequências e, se não tomarmos providências agora, nossos descendentes nem saberão o significado da palavra "corno" e toda sua riqueza emocional, artística e histórica!
Com efeito, meus caros senhores, em primeiro lugar, o corno desaparece a olhos vistos, ninguém mais liga. Isso não é possível, não é sustentável, é um abismo. Já basta não haver mais mistério quanto à paternidade, por causa da novidade dos exames de DNA. A vida perdeu a emoção, nunca mais aquelas investigações de paternidade que não chegavam a nenhuma conclusão, nunca mais confissões arrepiantes no leito de morte. E a espionagem eletrônica, celulares rastreadores, gravadores secretos, câmeras minúsculas, visão noturna, detectores disso e daquilo, tudo bisbilhotado e bisbilhotável? Nada mais é sagrado? O sujeito quer ser corno em paz e não permitem, têm que incomodá-lo com denúncias e provas que ele nunca pediu, pensem nisso! Até um dos últimos bastiões da liberdade está sendo destruído! Onde ficará Lupicínio Rodrigues, onde ficará Ataulfo Alves, onde ficará a dúvida cruel, onde ficará a viagem de negócios, onde ficará a tarde no dentista?
- Eles não sabem o que dizem, são uns inocentes - disse Zeca, ao ver que suas palavras haviam ocasionado um debate de grandes proporções. - As ideias novas sempre provocam reações negativas, inclusive entre aqueles que vão se beneficiar delas, é a maldição do pioneirismo.
Aqui para nós, seu real objetivo não era bem a preservação de uma espécie. Pretendia mesmo era montar mais um esquema para beneficiar as classes populares da ilha, ou seja, quase todo mundo. Esse papo de corno não passava de marketing, destinado a aproveitar e incrementar um clima já existente. O próximo passo será bolar um serviço para o nosso nicho de mercado. O nosso nicho não é o corno comum, que esse já perdeu o sentido e ainda não sabe, mas o corno saudosista, o tradicionalista, o que tem nostalgia dos velhos tempos dourados, o que ainda acredita. Não duvidava que fosse possível obter incentivos do Ministério da Cultura. E já podia antecipar os anúncios estampados nos jornais: "Corneie seu ente querido à moda antiga, venha à nossa ilha".
- Há outros esquemas, mas eu prefiro esse - disse ele. - Nós vamos fornecer a mão de obra.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O ministério da Micro e Pequena Empresa já tem um titular, a mais nova criatura da exótica fauna ministerial é Guilherme Afif Domingos que também é vice governador de São Paulo(???). Bem dizem que vice, na maioria dos casos, não serve pra bosta nenhuma. Aí está um belo exemplar da fauna!!!

01/04/2013
 às 3:34

João Santana é titular do 41º ministério de Dilma; é o mais poderoso hoje; oficialmente, ele trabalha… de graça! Ou: “Por que essa boca tão grande, vovozinha?”

Com o recém-aprovado ministério da Micro e Pequena Empresa, que ainda aguarda titular, a presidente Dilma Rousseff já conta 40 pastas. Não deve haver paralelo no mundo, a exemplo da nossa jabuticaba e da nossa pororoca. A China tem quase 1,4 bilhão de pessoas, um PIB que beira os US$ 9 trilhões e apenas 28 ministérios — incluindo seu Banco Central. Com 300 milhões de habitantes e US$ 15 trilhões de PIB, os EUA se contentam com 15 Departamentos de Estado. Os US$ 2,931 trilhões do Brasil e pouco menos de 200 milhões de brasileiros precisam de 40 ministérios!!! “Por que essa boca tão grande, vovozinha?” É para te comer!!! Mas este post nem vem a propósito desse descalabro.
Mesmo com essa multidão na Esplanada, quem anda dando as cartas no Planalto é o 41º ministro, o que não tem pasta. Trata-se do marqueteiro João Santana. Reportagem de Otávio Cabral e Adriano Ceolin na VEJA desta semana mostra a crescente influência de Santana sobre a presidente. Pode-se afirmar, sem favor, que o marqueteiro virou uma espécie de estrategista de políticas de estado. “Para quê? Para fazer o Brasil glorioso?” Marqueteiros cuidam da reputação de quem lhes paga a conta. Leiam trechos da reportagem. A íntegra está na revista. 
 *
O jornalista João Santana exerce um papel fundamental no cotidiano do atual governo. Ele é o idealizador da bem-sucedida campanha da reeleição de Lula em 2006 e alquimista com o dom de transformar “postes” em candidatos vitoriosos, feitos notórios na eleição de Dilma Rousseff à Presidência da República e na condução de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo no ano passado. Ninguém discute sua eficiência na construção da imagem de um postulante a cargo público. Comete um erro fatal quem menospreza sua precisa leitura dos hemisférios invisíveis das massas eleitorais. Santana é capaz de mapear os pontos fracos dos adversário com a precisão de um acupunturista. São habilidades inquestionáveis que ampliara sua contínua influência na administração Dilma mesmo depois de fechadas as urnas, a ponto de ele ter se tornado um poderoso ministro sem pasta, um conselheiro político sem partido, o estrategista sem gabinete e, mais recentemente, o principal roteirista das ações do governo.
Na última segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff desembarcou de um helicóptero em Serra Talhada, cidade de 90000 mil habitantes no sertão do Pajeú, em Pernambuco. Sob um sol inclemente de mais de 35 graus, ela acenou para a multidão que a aguardava, mandou beijos, afagou crianças e fez coraçõeszinhos com as mãos. Abraçou prefeitos e vereadores e entregou a eles chaves de tratores, escavadeiras e caminhões doados pelo governo federal para o  combate à seca. Minutos depois, subiu ao palanque ao lado do governador de Pernambuco e virtual candidato a presidente pelo PSB, Eduardo Campos, antigo aliado que se tornou o adversário do momento. Em um discurso longo, disparou petardos na direção do anfitrião, cobrando, sem ser explícita, lealdade e condenando, também sem ser explícita, a ambição presidencial. Pouco depois, voou ao Rio de Janeiro, onde participou de uma missa em memória das vítimas das enchentes. Nenhum movimento da presidente — gestos, palavras e ações — foi fruto de improviso. Tudo foi exaustivamente treinado e discutido previamente com João Santana, a partir do momento em que as pesquisas encomendadas pelo marqueteiro detectaram que uma possível candidatura do governador pode pôr em risco a supremacia eleitoral PT no Nordeste, que vem garantindo vantagens ao partido desde a primeira vitória de Lula, em 2002.
João Santana é o responsável por promover a fusão das políticas de governo com a estratégia da campanha de Dilma à reeleição em 2014.
(…)
O jornalista [João Santana] é muito bem remunerado para dar sugestões e responder às questões de seus clientes. Mas há uma pergunta que ele se recusa a responder: quem paga pelo seu trabalho com a presidente? Oficialmente, João Santana não recebe nada do Palácio do Planalto. Ele já fez campanhas na Venezuela, República Dominicana, Argentina e em Angola. No Brasil, tem apenas um cliente conhecido: o PT. Em 2010. o marqueteiro cobrou 50 milhões de reais pela campanha de Dilma. É possível que esses gastos embutam a consultoria ao longo do governo. “É preciso regulamentar a atuação desse tipo de profissional. Todo hibridismo entre o público e o privado é condenável”, avalia Clovis de Barros Filho, professor de ética da USP. 
(…)
Por Reinaldo Azevedo
Aqui as caricaturas de 38 ministros e a Dilma,  presidenta em exercício.
Estão faltando 3 ministros e Lula, o presidente de fato. 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Dois vídeos, dois Brasis, a verdade e a mentira, o real e o imaginário...,

O Brasil Real continua a sofrer com a falta d’água solucionada no Brasil Maravilha pela transposição do Rio São Francisco
BRANCA NUNES
“Além das ações emergenciais, estamos investindo em infraestrutura para garantir fornecimento estável de água mesmo em períodos de seca”, viajou Dilma Rousseff no programa Conversa com a Presidenta desta terça-feira, depois de lhe perguntarem o que tem feito o governo para enfrentar a maior seca dos últimos 50 anos. Já na decolagem, festejou os 6 mil carros-pipa imaginários e 296 mil cisternas de armazenamento de água para o consumo humano e 12 mil para a produção”.
Alcançou a estratosfera em seguida: “Em Pernambuco, são dezenas de obras do PAC para oferta de água, dentre as quais o Ramal do Agreste, que ligará o Eixo Leste da Transposição do Rio São Francisco à Adutora do Agreste, garantindo água para 68 municípios pernambucanos, incluindo Arcoverde”. No Brasil Maravilha que Lula fundou e Dilma não para de aperfeiçoar, a transposição das águas do Rio São Francisco está sempre a um passo da inauguração.
“A água desce por gravidade até uma estação de bombeamento, onde é transportada até um nível mais alto por energia elétrica”, informa o locutor federal no vídeo institucional sobre a obra, enquanto desfilam na tela imagens produzidas por computação gráfica. “Quando há alguma depressão no terreno, especialmente sobre os vales dos rios, o canal é convertido em um aqueduto que transpõe o vão como uma ponte”. Não é pouca coisa.
Mas não é tudo: “Como o canal passa por uma região muito seca, algumas tomadas de água serão criadas no caminho para atender as comunidades vizinhas”. E tem mais: “Ao longo do trajeto, a água é acumulada em reservatórios, onde ela pode seguir caminho, abastecer as populações próximas ou em alguns pontos usada para gerar energia elétrica”.
No Brasil real, as coisas são muito diferentes. “O projeto lembra hoje uma quilométrica passarela de retalhos na qual faltam costura e pedaços de tecido”, constatou uma reportagem publicada em abril pelo jornal O Globo. “Aquela que seria a rendição de 12 milhões de sertanejos não passa de um conjunto de canais desconectados, dutos enferrujados com ferros retorcidos e estação elevatória que parece um fantasma de concreto”.
Embora as obras não tenham chegado sequer à metade (o governo celebra “mais de 43% de avanço”), o preço dobrou. Os R$ 4,8 bilhões estimados em 2007 subiram para R$ 8,2 bilhões – dos quais R$ 3,6 bilhões já foram desembolsados. Também os prazos fixados originalmente foram desmoralizados pela realidade. Lula prometeu em 2006 que a transposição do São Francisco estaria concluída em 2010. Dilma promete entregar o colosso invisível em 2015.
Até agora, nenhum sertanejo foi beneficiado por uma única gota de mais um milagre brasileiro. “A firma foi-se embora. Começaram fazendo o serviço, depois abandonaram e tá desse jeito agora, só buraqueira”, conta Damião Serafim dos Santos, morador de Sertânia (PB), no vídeo publicado pela TV Estadão neste domingo (assista abaixo). Dentro de uma das valas onde deveria estar correndo a água do São Francisco, hoje retomada pela vegetação, Damião extrai a conclusão óbvia: “Agora tem que fazer tudo de novo”.
Os 9 mil funcionários que chegaram a trabalhar nos canteiros de obras foram reduzidos a 4,6 mil. “Tem dia que só aparecem três clientes”, disse ao Globo Eliane Maria da Silva, ex-trabalhadora rural que montou um restaurante e chegou a vender 400 refeições por dia em Floresta, no interior de Pernambuco.
As obras que pegaram carona na transposição também enfrentam problemas. No Rio Grande do Norte, por exemplo, a adutora do Alto Oeste, que já consumiu R$ 35 milhões, corre o risco de ficar sem serventia. O reservatório roça a fronteira do colapso. Quase 150 municípios potiguares castigados pela seca decretaram estado de emergência.
Caso visitasse os canteiros de obras, Dilma Rousseff descobriria que o que diz não tem semelhança alguma com o que se vê. E também encontraria sem esforço os miseráveis e desempregados que acabaram no Brasil Maravilha. Uma escala na pernambucana Curralinho, por exemplo, poderia proporcionar à presidente uma didática conversa com Rosalina Maria dos Santos. “Nós somos pobres”, garante Rosalinha, em frente à casa de pau a pique que emoldura a integrante de uma espécie oficialmente extinta. “Num lugar como esse aqui nós não temos emprego não. Não tem água para trabalhar na roça. Se nós tivesse água, nós trabalhava, mas nós não tem água”.
Terminada a viagem, é provável que Dilma Rousseff  recebesse com mais desconfiança os resultados das pesquisas de popularidade. Talvez até aprendesse que não é possível mudar a vida real por decreto.