segunda-feira, 27 de maio de 2013

Liderança é uma coisa, Chefia é outra

Por que Jesus é o líder de maior influência na história? Em parte porque ele supriu parte de nossos medos e de nossas necessidades. Jesus tinha duas grandes causas: vida e amor aqui na Terra e salvação da alma depois da morte
Fui convidado para abrir um seminário sobre “liderança” e, na pequena fala que me cabia, propus à plateia pensarmos sobre três perguntas: 1) O que é liderança? 2) Chefiar e liderar são a mesma coisa? 3) Liderança pode ser aprendida?
Quanto à primeira pergunta, há centenas de definições. A que mais me agrada é: “Liderança é a capacidade de influenciar e convencer pessoas, levá-las a acreditar na causa e despertar, nelas, a vontade de agir em favor de objetivos comuns, sobretudo quando elas são livres para seguir outro caminho”.
Quanto à segunda pergunta, liderar não é o mesmo que chefiar. São coisas diferentes. Chefe manda e comanda. Líder convence e influencia. Chefe é quem tem poder e autoridade para ordenar que as pessoas façam alguma coisa, independente da opinião e da vontade do subordinado. Se seu superior pode demiti-lo e deixá-lo sem salário ou pode botá-lo na cadeia, você tem um chefe, não um líder. O chefe até pode ser um líder, mas isso é coincidência, não decorrência.
O ditador cubano Raúl Castro proibiu a blogueira Yoani Sánchez de vir ao Brasil, após 18 negativas de autorização para a moça viajar para fora de Cuba. Ela obedecerá e pronto. Caso contrário, poderá enfrentar a cadeia ou o fuzil, como gostam os ditadores-irmãos Fidel e Raúl. Isso é poder, não é liderança. Não devemos nos iludir: o poder funciona e, sem ele, as organizações seriam um caos.
Em sua organização, seu chefe não tem o poder de fuzilá-lo, mas tem o poder de “fuzilar” sua conta bancária, demitindo-o. Por isso, você faz o que ele manda, concorde ou não com ele. Autoridade para demitir é uma poderosa fonte de poder, mas não de liderança. Certo empresário dizia: “Eu preciso de operários para operar as máquinas, por isso contrato seus braços; o problema é que a cabeça vem junto e eles começam a incomodar, aí eu demito e eles sossegam”.
James Hunter diz que, quando usado de forma autoritária, o poder deteriora os relacionamentos e explica como o exército lida com isso. Os militares internam o recruta num campo de treinamento sob o comando de um sargento rude e agressivo, que manda e berra o tempo todo. Depois de um tempo, o recruta é transferido para um pelotão comandado por um líder servidor, que sabe ouvir e explicar, tudo por uma simples razão: o poder autoritário destrói os relacionamentos e acaba prejudicando o desempenho da equipe.
Antes de responder à terceira pergunta (liderança pode ser aprendida?), vale lembrar que liderança diz respeito ao “processo”, não à “causa”. Uma pessoa pode ser um grande líder a favor de uma causa monstruosa. Hitler foi um gigante e seu poder de convencimento era assombroso. Mas sua causa, como ficou provado, era trágica.
Outra questão refere-se aos “instrumentos” de liderança. Muitos conseguem exercê-la somente quando detêm algum tipo de poder: o cargo, a força, as armas etc. A liderança mais elevada é aquela que não depende de poder nenhum. Napoleão Bonaparte fez um comentário interessante sobre a liderença (sem poder) de Jesus Cristo. Ele disse: “Alexandre, César, Carlos Magno e eu fundamos impérios; mas em que baseamos nossas criações geniais? Nas armas e na força. Jesus, aquele pregador indigente de Nazaré, fundou seu império baseado apenas no amor e até hoje milhões de pessoas morreriam por ele”.
Pois bem, há atributos da liderança que são inatos, ou seja, já vêm com a pessoa. Mas liderança pode ser aprendida e pode ser desenvolvida. Hitler estudou teatro, desenvolveu um gestual próprio, praticou oratória, modulou a voz, estudou a psicologia de massas, leu sobre antropologia e aprendeu a enorme influência de duas características sobre a pessoa humana: o medo e a necessidade.
Pensemos sobre essas duas emoções em relação nós mesmos e sobre como reagimos em função do medo; medo da dor, da doença, da morte, do desemprego, do desamparo, da solidão e do desapreço. A mesma coisa em relação à necessidade; necessidade de alimento, de moradia, de trabalho, de renda, de reconhecimento, de sucesso, de sermos apreciados...
Por que Jesus é o líder de maior influência na história? Em parte porque ele supriu parte de nossos medos e de nossas necessidades. Jesus tinha duas grandes causas: vida e amor aqui na Terra e salvação da alma depois da morte. Ele convenceu e influenciou multidões, e continua a fazê-lo. Ele não tinha o poder de demitir, nem de prender, nem de matar. Ele não mandava; ele ensinava. Era um líder; não era um chefe.
José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

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