sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Corruptos e cínicos

O corrupto que, por natureza, é um parasita que suga o dinheiro público para seu enriquecimento privado se torna ainda mais detestável do ponto de vista ético e social quando se converte também em cínico. "Cínico é uma pessoa desavergonhada, debochada, sem amor, sem pudor, descarado, alguém que não tem senso de respeito (pelos outros)” (Larousse).
Muitas pessoas se enquadram nesse figurino: rouba o dinheiro público, vive da malandragem, corrompe ou é corrompido, e ainda discursa, cheio de moralismo e debochadamente, contra os outros criminosos. Os corruptos e corruptores são as cloacas do Brasil que não deu certo. Esse Brasil atrasado está marcado pelo teocratismo, patriarcalismo, ignorantismo, parasitismo, selvagerismo e cinismo.
De acordo com a Folha (10/11/13, pág. C3), um dos integrantes da máfia dos fiscais na prefeitura de São Paulo (Amílcar Lemos), poucos dias antes de saber que estava sendo investigado, teria postado mensagem no facebook dizendo-se contrário ao indulto de Natal: “Sou contra o indulto de Natal. Quem também é, compartilha”. Muita gente deve ter compartilhado a mensagem, incluindo-se alguns cínicos despudorados.
O corrupto prospera em razão da cultura da impunidade. Torna-se um cínico quando “sabe o preço de tudo, mas o valor de nada” (Oscar Wilde). Sabe muito bem o preço da corrupção, mas nada faz para preservar sua honra, sua reputação, sua credibilidade. Degeneração moral absoluta. Estágio avançado de putrefação cultural. A ponto de não se ver como mais um criminoso, até mais pernicioso do que muitos que se encontram recolhidos nas cadeias.
Para o corrupto (parasita), os criminosos presos constituiriam a latrina mais desprezível da cloaca da criminalidade. Daí o seu cinismo lhe permitir pisar naqueles que supostamente estariam mais embaixo, num tipo de escala da criminalidade. O cínico é, antes de tudo, um moralista. Reivindica, em seu inconsciente, um certo status imunizador para o seu crime. Se é que, na nossa cultura, veja sua própria corrupção como um crime!
*Luiz Flávio Gomes  é professor. -  professorlfg.com.br.


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