domingo, 10 de fevereiro de 2013

TV na internet


Televisão

Netflix dá início (de verdade) à era da TV na internet

Serviço de streaming quer ser a HBO da internet e começa 2013 apostando pesado em produções próprias, como ‘House of Cards’ e ‘Narcos’, que será dirigida pelo brasileiro José Padilha

Carol Nogueira
Kevin Spacey em cena de House of Cards
Kevin Spacey em cena de House of Cards (Divulgação)
Projetado para o mercado estrangeiro pelo estouro de Tropa de Elite, o brasileiro José Padilha já tem um novo projeto internacional além de Robocop. Ele é o nome por trás de Narcos, série sobre o traficante colombiano Pablo Escobar que deve estrear no Netflix em 2014. Sim, no Netflix. O serviço de streaming de vídeos está investindo pesado naquele que tem tudo para ser a primeira operação de sucesso de TV na internet. A aposta é alta – já se contam cinco séries, uma no ar e quatro em produção, com orçamento médio de 100 milhões de dólares cada. E a intenção, declarada, é ambiciosa: a de ser a HBO da web.
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O plano foi bem sucedido na largada. A primeira produção do Netflix a estrear foi a excelente House of Cards, que entrou no ar para o mundo todo em 1º de fevereiro, acompanhada, no mesmo dia, por 50.000 comentários no Twitter segundo o site Trendrr.TV, que monitora o falatório sobre televisão nas redes sociais. Além de dar o sinal verde para novas produções como Narcos no Netflix, a boa recepção a House of Cards levou a concorrência a se mexer. Empresas como Amazon e Hulu (o serviço dessa última ainda não está disponível no Brasil) já anunciaram que terão séries próprias.

Remake de uma série britânica dos anos 1990, House of Cards tem duas temporadas previstas, com 13 episódios cada, o que dá um custo médio por episódio parecido com o de produções da TV paga como True Blood e Boardwalk Empire - algo ao redor de 4 milhões de dólares. A primeira temporada foi disponibilizada por completo de uma vez, tática de que só um serviço on-line como o Netflix pode lançar mão e que alimentou o alvoroço nas redes sociais. O método pode ser comparado ao de uma lanchonete de fast food, já que permite consumir vários episódios em uma única oportunidade, como combos.

Verdade seja dita, assistir aos 13 sem parar é quase impossível, pois cada episódio tem cerca de uma hora – ainda assim, há relatos de gente que se sentou no sofá para ver um episódio antes de dormir e só levantou de lá de manhã, com o sol a pino. A maioria dos fãs consumiu a temporada no primeiro fim de semana. Na sexta, o Twitter do Netflix lembrava aos assinantes, com ironia: “Assistam com responsabilidade. Não se esqueçam de tomar banho, comer, alongar”. Se impressiona, a rapidez com que espectadores assistem à série faz com que especialistas questionem a viabilidade do produto a longo prazo. Afinal, boa parte do marketing de séries de TV se faz de boca a boca, de gente que assiste ao programa e recomenda a amigos enquanto espera, com ansiedade, por um próximo capítulo. 


House of Cards


  1. Adaptação da série de mesmo nome exibida em 1990 pela emissora britânica BBC, House of Cards foi produzida pelo cineasta David Fincher (A Rede Social), que também dirigiu alguns episódios, e traz Kevin Spacey (Beleza Americana) no papel de Francis Underwood, um senador americano disposto a fazer qualquer coisa para conseguir mais poder em Washington. Em sua escalada, cujo objetivo é tornár-lo  presidente dos Estados Unidos, ele descobre segredos de outros políticos e os “vaza” para a jornalista novata – e muito ambiciosa – Zoe Barnes (Kate Mara), algo que mostra bem o espírito do meio político, em que ou se é caça ou caçador. Cada episódio termina com a dose exata de suspense para fazer o espectador querer ver o desfecho no próximo.
Vício – Uma das táticas comerciais do Netflix, na chegada de House of Cards, foi oferecer um mês de assinatura grátis para deixar os novatos “viciados” no serviço. Espectadores ouvidos pelo site de VEJA garantem que é possível viciar na série mesmo ao consumi-la de uma vez. No entanto, nenhum deles assinou o Netflix apenas por causa de House of Cards.
O analista de TI César Calixto, 28, e a namorada, a publicitária Denise Moraes, 36, assistiram a seis episódios de uma vez. “Consegui terminar a série em três dias. Em compensação, essa semana ainda não consegui ligar a TV. Hoje em dia, é difícil conseguir tempo para acompanhar uma série”, diz Calixto. A analista de conteúdo Samanta Vicentini, de 27 anos, foi ainda mais afoita: viu tudo em um dia. “O ‘problema’ é que agora vou me sentir órfã da série até a estreia da segunda temporada”, fala. A questão é se ela continuará interessada até a estreia – a data ainda não foi divulgada, mas a gravação dos episódios deve começar em março.
Viabilidade – Segundo cálculos feitos pela revista The Atlantic, o Netflix precisa arrebanhar 520.834 novos assinantes pagando a assinatura de 7,99 dólares mensais por dois anos para quitar os custos de House of Cards. Para fazer isso com as cinco séries em produção, seriam 2,6 milhões de novos assinantes, um número que não é muito grande se comparado aos 33,3 milhões de assinantes que o serviço tem hoje no mundo inteiro. A The Atlantic lembra ainda que o Netflix tem lucro ligeiramente maior que a HBO, porque essa última, embora cobre cerca de 15 dólares mensais de seus assinantes, tem de dividir metade com a operadora de TV a cabo, e acaba ficando com algo em torno de 7 dólares por mês, dos seus cerca de 30 milhões de assinantes nos EUA – no mundo todo, são 85 milhões, mas as tarifas variam de país para país.

No entanto, considerando que a HBO faz parte de um grande conglomerado de mídia, a Time Warner, e foi criada em 1972, o Netflix, que não pertence a nenhum grupo e começou suas atividades em 1999, cresceu muito rápido – em parte, porque tornou-se uma empresa de capital aberto em 2002. O único problema do Netflix é que sua receita não está crescendo tanto quanto os seus gastos com conteúdo – a empresa gastou 2,2 bilhões de dólares para liberação de conteúdo em 2012, e lucrou somente 17,2 milhões. Seu valor de mercado, no entanto, cresce a cada mês. No ano passado, a empresa rejeitou uma oferta de compra do Google de 17,9 bilhões de dólares. E se deu bem: no fim de janeiro, pouco antes da estreia de House of Cards, anunciou que tinha conquistado mais 2 milhões de assinantes nos EUA, e viu suas ações darem um salto de 42% – o que, certamente, deixou muitos acionistas felizes. Sinal de que o Netflix está no caminho certo.

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Investimento

A aposta do Netflix é ousada: House of Cards, sua primeira superprodução, teve o custo de 100 milhões de dólares por duas temporadas de 13 episódios cada, média de custo de 3,8 milhões de dólares por capítulo. As séries produzidas pela HBO, sempre com um dos padrões de qualidade mais elevados da televisão paga, custam um pouco mais, mas os valores são próximos. Episódios de séries como True Blood e Boardwalk Empire, por exemplo, custam de 3 a 5 milhões de dólares -- o piloto da última custou 20 milhões. Já Game of Thrones, a série de TV mais cara já feita, tem episódios de 5 a 6 milhões de dólares.

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