Segundo uma lei
conhecida, os homens, considerados colectivamente, são mais estúpidos do
que tomados individualmente. Numa conversa a dois, convém que
respeitemos o parceiro, mas essa regra de conduta já não é tão
indispensável num debate público em que se trata de dispor as massas a
nosso favor.
Há uns anos, um político pagou a figurantes para o aplaudirem numa
concentração. Como bom profissional, compreendera que uma claque, embora
não melhore o discurso, predispõe melhor os espectadores a descobrirem
os seus méritos. O mimetismo é a mola principal para mover as massas no
sentido do entusiasmo, do respeito ou do ódio. Mesmo perante um pequeno
público de trinta pessoas, há sempre algo de religioso que provém
da coagulação dos sentimentos individuais em expressão colectiva. No
meio de um grupo, é necessária uma certa energia para pensar contra a
maioria e coragem para exprimir abertamente essa opinião.Os
manipuladores de opinião ou, para utilizar uma palavra mais delicada, os
comunicadores, sabem que, para conduzir mentalmente uma assembleia numa
determinada direcção, é necessário começar por agir sobre os seus
líderes. A primeira tarefa consiste em determinar quem são, apesar de
eles próprios não o saberem. Um manipulador não tarda a distinguir o
punhado de indivíduos em que pode apoiar-se para influenciar os outros.
Consoante os casos, escolherá os faladores ou os fanfarrões, os que
protestam ou se obstinam, os que fazem rir ou chorar, os que alimentam a
cólera, etc. O caldeirão mágico do comunicador não tem fundo. Toda a
sua arte consiste em conquistar rapidamente a simpatia dos líderes ainda
inconscientes do seu estado e papel. Manipulados, serão por sua vez
manipuladores do resto do grupo, que os seguirá como um só homem.
(...) É óbvio que este princípio tem que ser adaptado, nomeadamente em
função da importância do público. Quanto mais numeroso for, menos
necessário é o esforço de fingir. As multidões não apreciam os vencidos:
não é que sejam cruéis, mas a derrota desmoraliza-as. Só a cólera, o
medo ou o entusiasmo as animam. O enorme animal constituído pela
multidão é impermeável às subtilezas, tem necessidades do tonitruante e
do ostentatório. Reduzida às dimensões de um grupo, a sua psicologia
muda, mudando ainda mais se o grupo se transforma numa assistência
restrita.
Mas, em todos os casos, o princípio da alavanca mantém-se válido: é
necessário identificar o ponto nevrálgico sobre o qual o esforço deve
incidir para movimentar o conjunto.
*Georges Picard, in 'Pequeno Tratado para Uso Daqueles que Querem Ter Sempre Razão'
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