A comparação repetida pelo palanqueiro é um insulto à memória de Getúlio Vargas
Entre
uma palestra patrocinada por empreiteiros amigos e uma cobrança a algum
ministro de Dilma Rousseff, Lula repetiu a comparação que agride a
verdade e insulta a memória de um dos raros estadistas nascidos no
deserto de homens e de ideias: “Querem fazer comigo o que fizeram com
Getúlio Vargas”, acaba de recitar, mais uma vez, o palanque ambulante.
Tradução: a sucessão de escândalos produzidos por abjeções que assaltam
cofres públicos há oito anos e meio é apenas uma invencionice dos netos
da UDN golpista, que se valem de estandartes moralistas para impedir que
o pai dos pobres se mantenha no poder.
A conversa fiada identifica o ignorante que não hesita em estuprar os
fatos para fabricar vigarices eleitoreiras. Não há qualquer parentesco
entre os dois Brasis. Sobretudo, não há nenhuma semelhança entre os
personagens históricos. Em agosto de 1954, Getúlio Vargas era
sistematicamente hostilizado por adversários que lhe negavam até
cumprimentos protocolares. Não há uma única foto do presidente ao lado
de Carlos Lacerda. Passados 66 anos, os partidos antigovernistas fizeram
a opção preferencial pela pusilanimidade e inventaram a oposição a
favor. Merecem uma carteirinha de sócio do Clube dos Amigos do Lula,
dirigido por velhos antagonistas convertidos em amigos de infância.
Há exatamente 57 anos, surpreendido por ilegalidades praticadas à sua
revelia, acuado pela feroz oposição parlamentar, desafiado por
militares rebeldes, traído por ministros militares e abalado pela
covardia de muitos aliados, Getúlio preferiu a morte à capitulação
humilhante. Neste agosto, Lula contempla com o olhar entediado de quem
não tem nada com isso o cortejo dos bandidos de estimação capturados
pela Polícia Federal ou atropelados por denúncias da imprensa.
O suicídio foi um ato de coragem protagonizado pelo político que
errou muito e cometeu pecados graves, mas nunca transigiu com
roubalheiras, nunca barganhou nem se acumpliciou com ladrões. Lula fez
da corrupção endêmica um estilo de governo e um instrumento de poder. O
tiro disparado na manhã de 24 de agosto de 1954 atingiu o coração de um
homem honrado. Getúlio matou-se por ter vergonha na cara. Lula morrerá
sem saber o que é isso.
Por Augusto Nunes
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