segunda-feira, 6 de junho de 2011

Apagão tecnológico...,


O Apagão da mão de obra em tecnologia

A Foxconn, indústria de eletrônicos de Taiwan, anunciou que pretende montar o iPad e o iPhone, da Apple, no Brasil. E que, para isso, além de investir no país, nos próximos cinco anos, US$ 12 bilhões — talvez uma licença poética, já que o mercado brasileiro inteiro de tecnologia da informação, em 2009, foi de US$ 23,6 bilhões, segundo o Anuário Informática Hoje —, vai contratar 100 mil novos funcionários, dos quais 20 mil engenheiros e 15 mil técnicos.
Ao ouvir de Terry Gou, presidente da Hon Hai, controladora da empresa, as duas promessas bombásticas, a presidente Dilma Rousseff deve ter ficado eufórica. Ao menos num primeiro momento. Segundos depois, algum assessor mais sintonizado com as peculiaridades do mercado brasileiro de tecnologia deve ter soprado nos ouvidos presidenciais: “Mas onde ele vai achar 100 mil profissionais de tecnologia?” A resposta que ninguém deu é: “Não vai achar”. E o complemento natural da resposta seria: “Nem aqui, nem na China”. Mas, no caso, o bordão não vale, porque nele talvez se encerre a chave do mistério: não vai achar aqui, mas pode trazer da China. E só essa solução justifica a aparente megalomania contida nas promessas originais.
Não há mágica que faça brotar os tais 100 mil profissionais do infértil solo brasileiro. De fato, o Brasil vai enfrentar um déficit de mão de obra no setor de 140 mil trabalhadores qualificados, até 2013, segundo pesquisa da Softex (Assoicação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro). Já para outra entidade, a Brasscom (Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação), os números são ainda mais alarmantes: o setor brasileiro de TI vai enfrentar já neste ano de 2011, o maior gap de mão de obra da sua história, quando 92 mil vagas deixarão de ser preenchidas.
E o apagão, como as pestes, é perversamente democrático: atinge empresas de todos os portes, privadas ou públicas, fornecedoras ou consumidoras de tecnologia.
A formação insuficiente de profissionais qualificados para áreas de ponta, como TI, juntou-se a outros velhos vilões do entrave ao desenvolvimento do Brasil — a péssima infraestrutura e a cruel carga tributária —, para derrubar o país em seis posições no ranking global de competitividade. Por ironia, um dos poucos índices positivos atribuídos ao Brasil pelo estudo do Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Administração, da Suíça, foi o da geração de empregos. De baixo valor agregado, infelizmente.

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