quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Simpático Charme dos Corruptos

Theófilo Silva

Confesso que me rendi ao charme dos gangsters brasileiros. Eles imitam bem os gangsters de Hollywood. Seus ternos, carrões (Ferraris, Masseratis e Porsches), lanchas, Rolexs, mansões, festas, viagens, jatinhos, belas mulheres... Esse glamour todo me conquistou. Aceitei o fato de que o crime compensa. Pelo menos, no Brasil tem compensado.

Há corruptos para todos os gostos, no Brasil. Como moro em Brasília, vou falar somente dos corruptos daqui. Todo brasiliense, com um pouco de informação, sabe quem são os sujeitos dos quais estou falando. São muitos, mas tem uns dez que são Top, a nata, são famosos e ultrassofisticados. Parte deles iniciou a carreira como comerciantes e acharam sua vocação na política. Depois de ocuparem mandatos e cargos públicos, tornaram-se milionários. Denunciados pelas autoridades, afastaram-se para torrar os milhões desviados.

O que me espanta nesses caras é o completo desprezo com que eles veem as autoridades brasileiras: delegados, promotores, juízes... Segundo eles, esses funcionários do governo, que ganham um salário menor do que o IPVA (que eles não pagam) de um de seus carros, são uns coitados. Eles não veem diferença entre um juiz e um empregado de cartório. “Por que perder tempo, se o processo irá para o STF e jamais será julgado”!

Esses “top ten” respondem, pelo menos, há uma centena de processos na justiça: por peculato, formação de quadrilha, extorsão, apropriação indébita, assassinato, estupro, tramitando no mínimo há vinte anos. Mesmo condenados, são réus primários, não há sentença definitiva. Por isso eles distribuem sorrisos e gastam dinheiro. Suas fotos nos jornais, apontando-os como criminosos, não os intimidam. Pelo contrário, aumentam a fama deles. Alguns só faltam dar autógrafos. Nossos “top ten” são verdadeiros superstars, com muitos admiradores. Dizem que eles encaram uma condenação por formação de quadrilha como se fosse infração de trânsito.

E como não admirá-los! Quem é que não quer ser rico? Não é por isso que lutamos, por uma existência em que o dinheiro não seja problema? Como desprezar alguém que tem tudo aquilo que eu gostaria de ter? Como julgá-los criminosos, se o STF não confirma que eles são? Quem somos nós para julgá-los! Se delegados, promotores e a imprensa afirmam que “um sujeito simpático” desviou 30 milhões de reais da merenda escolar, mas os tribunais superiores dizem que não, eu posso dizer que esse sujeito é um ladrão? Claro que não! Temos que respeitar a instância máxima do judiciário.

E eles têm imitadores – aqui na cidade, seguindo seus métodos – que ainda não foram desmascarados. Talvez a sociedade esteja errada em condenar esses homens sorridentes, bem vestidos, charmosos, sempre prontos a apertar a nossa mão, olhando dentro de nossos olhos, e dizendo: “eu sou o cara”!

Shakespeare, se os visse, diria: “esse sujeito tem tudo que um homem honesto não deve ter e do que um honesto deve ter, nada tem” ou então: “Esse sujeito, de honesto só tem as roupas que veste”. Shakespeare criou dois gangsters sedutores, Ricardo III e Macbeth, mas matou-os no final das peças!

O sucesso dos gangsters deve ser respeitado. Se desviar dinheiro público não dá cadeia, qual é o problema em fazê-lo? Ora, o mundo é dos espertos, e os tolos que fiquem chupando o dedo. Afinal, quem é a sociedade para duvidar do STF. Se o STF não os julga, por que nós devemos julgá-los?
Proponho um brinde! Vida longa aos Corruptos!

Theófilo Silva é autor do livro “A Paixão Segundo Shakespeare” e colaborador da Rádio do Moreno.

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