quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Amigos virtuais...,?


Correndo atrás da máquina
Belmiro Valverde
    Acho que essas inovações na web todas empobrecem a sociedade, na medida em que elas as afastam das interações verda­­­deiramente humanas, que são a essência da vida em associação com outras pessoas.

    Willy Nelson, o mestre da música country norte-americana diz em uma de suas letras para a mulher amada: “Você é jovem bastante para sonhar, e eu sou velho demais para aprender alguma coisa nova”. Professores não podem ficar velhos demais para aprender algo novo, pois quem não aprende não ensina e, portanto, perde sua utilidade, mas confesso que está cada vez mais difícil se manter em dia com as novidades.

    Não é apenas a tecnologia que surpreende a cada dia. Vou confidenciar algo que deve ficar só entre nós: não uso o Twitter, nunca tuitei ninguém nem fui tuitado por quem quer que seja. Não senti falta nenhuma e acredito mesmo que, na maior parte dos casos, o que os tuiteiros fazem é trocar informações irrelevantes, mas – a julgar pelo ar de espanto de alguns de meus amigos quando digo isso – devo estar perdendo uma das maiores delícias do mundo moderno com minha intolerável ignorância. Comprar um novo computador é uma grande chateação para mim, pois exige exportar arquivos, reimplantar programas e perder horas lendo catálogos ininteligíveis para aprender a usar a nova máquina.

    Como disse, não é só a tecnologia. Agora há as “redes sociais” e ninguém realmente moderno pode ficar fora delas: aceitei o convite de um colega para entrar em uma e agora sou bombardeado por mensagens diárias pedindo para ser meu amigo, o que, no começo, me envaidecia muito, pois minha popularidade era espantosa. Em poucos dias, acumulei uns cem novos amigos, mais do que quintuplicando meu estoque. Mas virou um problema, pois há várias redes, o Facebook, o Linkedin, o Quepasa, o Orkut e, como é obvio, não posso passar o dia todo interagindo nas “redes”. Acabo cometendo grosserias involuntárias ao não aceitar os convites das pessoas.

    Descobri, também, que o ex-presidente Lula, a atual Dilma Rousseff e metade dos ministros estão sedentos por essa oportunidade de compartilhar a minha amizade. Em português claro, a tal rede social virou uma ferramenta poderosíssima de marketing que permite aos anunciantes e políticos acessarem várias centenas de milhões de consumidores em potencial já sabendo uma série de coisas importantes sobre eles: sua idade, localização, perfil socioprofissional e econômico, etc. E tudo entregue de mão beijada pela rede de amigos... Sem sentir, virei bucha de canhão para os mercadólogos.

    Que a tecnologia digital iria alterar os hábitos de vida e de compra de meio mundo, não existia qualquer dúvida. No entanto, o impacto é muito maior, e a Web está modificando também os ritos sociais de maneira radical. Os relacionamentos pessoais estão migrando para o terreno virtual, com namoro e fornicações a distância e coisas parecidas. Agora, leio que os velórios começam a ser substituídos ou complementados pela internet.

    Acho que essas inovações todas empobrecem a sociedade, na medida em que – em vez de aproximar as pessoas como parecem – elas as afastam das interações verdadeiramente humanas, que são a essência da vida em associação com outras pessoas.

    Há tempos, fiquei horrorizado com os velórios “drive through” em Los Angeles, em que o amigo que vai homenagear o falecido não precisa nem sair do carro, que segue em um corredor de onde se pode ver o defunto; há um slot para colocar o cartão de visitas, engrena-se a primeira e está cumprida a obrigação. A web foi mais longe: em vez de fazer uma viagem onerosa e cansativa para prantear um ente querido, americanos práticos podem dispor de um novo serviço prestado pelas funerárias: uma transmissão por vídeo câmera do velório, que pode ser confortavelmente presenciado sem sair de casa, tomando cerveja.

    E ainda há a possibilidade de enviar uma mensagem para a família do defunto em emoticons, o código linguístico da web: “ :-(, pois ele era 0:) . KK”. Traduzindo: “estou muito triste, pois ele era um anjo. Assinado: Cacá”.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.

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