terça-feira, 2 de novembro de 2010

ARTIGO: País partido

Por Nilson Borges Filho (*) 

Confirmou-se tudo aquilo que as pesquisas vinham divulgando nas últimas semanas: a vitória de Dilma Rousseff  à presidência da República.  A candidata petista venceu com  54 milhões de votos. Pode-se afirmar que a eleição da candidata petista não se deu pelos seus méritos, mas pelo atrelamento da sua candidatura à popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, queiram ou não, é inquestionável, principalmente quando se trata das camadas mais pobres da população.

Por outro lado, não se pode desconsiderar que 43 milhões de brasileiros que votaram em Serra não desejavam Dilma Rousseff na presidência do Brasil.  Não é pouca coisa, são  44% dos votos válidos despejados nas urnas por esse País afora. Lula transformou o pleito de 2010 numa questão pessoal. Por conta disso, atropelou a Constituição, desqualificou a justiça eleitoral, mentiu, utilizou o bem público em campanha, abandonou o emprego, menosprezou adversários, perdeu a compostura por sua incontinência verbal e, por tudo isso, sai da presidência menor do que entrou.

O presidente desembarca do cargo com altos índices de aceitação, mas sua sucessora herda um País dividido, nos planos geográfico, politico e eleitoral. São muitas as feridas deixadas por Lula, a maioria de difícil cicratização. Pior, nos armários da presidência existem esqueletos que virão à tona, cedo ou tarde. A bomba da vez atende pelo nome de Erenice Guerra, a ex-Chefe da Casa Civil e braço direito da presidente eleita. Está para explodir, com efeito devastador, novas informações sobre o Bancoop. O cadáver do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, continua insepulto.

Embora tais questões se direcionem mais ao PT do que à Dilma, não se pode negar que afetarão à presidência. Estruturalmente, Dilma vai ter que enfrentar o endividamente do Estado, a questão cambial, o déficit previdenciário, a reforma política e tributária e, principalmente, a falta de infraestrutura para enfrentar uma Olimpíada e  uma Copa do Mundo.

Como o Brasil adotou um sistema de presidencialismo de coalizão, Dilma ficará nas mãos de um arco extenso de alianças, nada confortável em se tratando do fisiologismo partidário brasileiro. Na outra ponta, a presidente vai enfrentar as demandas dos movimentos sociais e o apego ao Estado pelo sindicalismo chapa-branca. O neopeleguismo, antes do encerramento do pleito, já se movimentava na divisão dos cargos.

As instituições no Brasil ainda são frágeis e não se encontram totalmente consolidadas no campo democrático. O PT, que não é muito atento às regras democráticas, pressionará o governo para que endureça com a imprensa e a mantenha no cabresto, com a justificativa desonesta de controle social da mídia.

O Brasil melhorou em muitos indicadores sociais, mas ainda permanece aquém do mínimo desejável nas áreas da educação, saúde e segurança – isso em comparação aos nossos vizinhos, até mesmo com a República Oriental do Uruguay. Dilma saiu das costelas de um homem, chegou à presidência por que esse homem assim a quis e levará para o Palácio do Planalto o fastasma de um ex-presidente com 80% de aprovação. Dilma contará com a maioria na Câmara e no Senado, desde que atenda o apetite do PMDB.

E, para concluir, um dado relevante: a maior parcela do PIB brasileiro encontra-se nos Estados governados pela oposição. O Brasil que emerge destas eleições é um País partido: de um lado o Brasil que produz, do outro o Brasil do bolsa-família. Duas notícias: uma boa, a outra ruim. A boa: sai a farsa. A ruim: entra a fraude. 


(*) Nilson Borges Filho é mestre, doutor e pós-doutor em Direito. Foi professor da UFSC e da UFMG

2 comentários:

  1. A vitória da pelegocracia


    http://www.youtube.com/watch?v=5ZpIgTGwuLI&feature=player_embedded

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  2. Espero que a oposição não esqueça os crimes do governo Lula, o uso da máquina pública nas eleições e o aparelhamento dos sindicatos e estatais, para se passarem por perdedores bonzinhos! A oposição não precisa cair nas mais toscas baixarias cometidas pelo PT na sua história atacando violentamente como fez com Sarney, Collor, Itamar e FHC, lutando contra a constituição de 88, c0ontra o plano real, contra a CPMF, contra a lei de responsabilidade fiscal, contra o FMI, mas não pode compactuar com o lulismo e o “se lixar para a ética do PT”! Uma das questões fundamentais é negar que a petista foi legitimamente eleita e esquecer tudo. Justiça Eleitoral em cima deles e dos que usaram a máquina pública.
    .
    Cadeia para quem fez da Casa Civil uma casa covíl. De quem usou as estatais como cabo eleitoral, que discursou nas univesidades por candidatos, que usou a PF para atacar seus adversários. Silenciar agora é legitimar o vale tudo, é aceitar o aparelhamento dos espaços democráticos, e calar frente as iniquidades!

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