terça-feira, 11 de outubro de 2016

A ORIGEM E A RECEITA DO GALETO A PRIMO CANTO SEGUNDO RADICCI

Allôôôô, gurrizada! Vômo falá di una cosa que é una marca rezistrada di nostra zente: il galeto. A arte de empalar sobre o fogo questos bípedes emplumados faz di nostra rezión un posto special nell mondo. Ma a história ainda non fez zustiça aos verdadeirros inventorres do tal galeto al primo canto. Pois encont vomos aos fatos: tutto incomincia com os primeirros imigrantes vênetos. Un bando di sem-tera esfomeados que aportaram no Rio Grande. Desculpe a franqueza mas questa turma veio, literralmente, morta di fome! Cegaram por questas grotas (si signor, qua era unas grota que dava medo perché as tera buona ficaram com os alemón que me vierram antes e se estabalecerram nas margens do Rio dos Sinos) e se atracaram a plantá. Na Itália, país que solenemente deu un pé na bunda desta zente, non tinha molta comida e non dava pra todo mondo. Como o Nanneto Pipetta, os primeirros imigrantes vierram com a intençon de encontrá a tal fortuna. Levarram algunas horas, aço io, pra se darrem conta da fria que se meterram, ma aí zá era tarde… Ma una cosa questa terra tinha di buona. Qua tinha farturra di comida e até do céu cai cosa di comê. Me falo dos pinhón e dos passarrinho.
Os passarrinho – incluindo aí as caturita, sabiá, perdiz, e perché non… até os tico-tico – durrante anos forram un verdadeiro manjar pra nostra turma. Porém tutto muda e o que é buono se termina, cumpriu-se o veccio ditado e nos últimos tempos os passarrinhos foram ficando escassos e os tais zinecolozistas começaram a abundar. E como abundam questos veados. Sem falá nas fiscalizaçon. Entón a soluçon foi improvisar e eis que surgiu a iluminada idéia de substituir un picollo passarrinho   por   un   franguinho   destes   que omeçam a se alçar na vida. Imazino até a cena: un colonón aborecido com a falta di una buona passarinhada, com o queixo apoiado na palma da mon numa tarde do verón, cigaras cantando, passarinhos esvoaçando e cagando por cima dele e ele ali, chateadon… quando de repente core unas galinha na volta e ele olha aquele franguinho e TCHÃN!, deu un estalo. O gringo deve ter dado di mon aquele frango e CrrEK, torcido o pescocinho daquela ton útil criatura (é figlio, cosi é a natureza, os maior come os menor – zá dizia Léo Zaime pra Monique Evans). Pois entón, questa é a orrizem do nostro piatto.
Zá a receita é un caso aparte. Io vou dar a mia e quem non gostar que vá se queixar pro bispo. Bene, vomo avanti. In primeirro lugar, arume uns franguinho das colônia. Nada contra questos frango criado em aviárrio zigante ceio di raçón com anabolizante, corticóide, barbitúrico a altras boleta que eles entopem… nem a favor. Pegue os bicho e temperre com vino, sal, alho e – importantíssimo – sálvia e manzerona. Se non tivé vino, sálvia e manzerona, desista. Faça un bom braseiro e vá espetando as partes, intercalando com un pedaço di toucinho. Aproveite que o vino zá está aberto e mande brasa… Vá virrando constantemente o copo e os espeto e volta e meia dê una regada com o caldo que sobrô do temperro.
Faça una vassourrinha com a sálvia e vá pincelando as criança. Quando tiverrem dourradinhos, quase se passando, mande sentá e servirrem a polenta e a salada … e esparame as aves numa travessa. Non dê os ossos pros caçoro que eles se engasgam.
Observações
  • O Radicci é um personagem de histórias em quadrinhos criado pelo cartunista gaúcho Carlos Henrique Iotti, autor do texto acima. O personagem é apresentado dentro do contexto dos imigrantes italianos que colonizaram a região da Serra Gaúcha. Nessa região, radicci é uma salada verde de pequenas folhas lisas e amargas. É uma salada simples, típica da culinária local, temperada apenas com vinagre caseiro de vinho tinto e que acompanha pratos como galeto, massa e polenta. Essas comidas são muito apreciadas pelo Radicci.
  • O Texto esta escritos em “sotacón”. Sotacón é a transposição da fonética para a grafia do “zeito” que as pessoas da Serra Gaúcha falam. Não é português, não é italiano, não é dialeto, é uma nova língua, o sotacón. Porco Zio!

Nenhum comentário:

Postar um comentário