quinta-feira, 12 de maio de 2016

Os Miseráveis - Victor Hugo



Um universo sem fim... Ligia Cademartori

Os Miseráveis, a narrativa que você vai ler agora, foi publicada, pela primeira vez, na França, em 1862. Transformou-se logo em grande sucesso. Foi traduzida para diversas línguas. Percorreu o mundo. É uma história com forte cunho social, mas o enredo, em que um ex-prisioneiro é perseguido sem tréguas por um inspetor fanático, tem elementos de trama policial.

Jean Valjean, o herói, foi condenado a trabalho forçado por roubar um pão para a família faminta. Cumpriu pena. Mesmo assim, para fugir de seu perseguidor e se reabilitar, precisou trocar de identidade. Sob disfarce, tornou-se um grande empresário. Promoveu o desenvolvimento da cidade, ajudou a todos que precisavam dele.

Mas Javert, o policial, não desistia de lhe seguir os rastros. Vivia no encalço de Jean Valjean. Criava espertas armadilhas para que a verdadeira identidade do ex-condenado fosse revelada. São muitos os episódios dessa história e você ficará à espera do que a página seguinte poderá trazer.

Ao ler este romance clássico de Victor Hugo, adaptado por Walcyr Carrasco, você vai conhecer muitas personagens: Fantine, vítima da pobreza e da injustiça; Cosette, filha dela, que Jean Valjean resgata da miséria; Marius, o jovem idealista que se apaixona por Cosette; os Thénardier, uma horrorosa família de vigaristas, e muitas outras mais. A sucessão dos acontecimentos e as difíceis circunstâncias vividas pelas personagens levantam questões sobre lei, justiça e solidariedade.

Acima de tudo, Os Miseráveis mostram como uma pessoa pode se transformar graças à ação de outra. No caso, a mudança ocorre quando um homem injustiçado recebe de alguém compreensão e generosidade. História de fugas, trapaças e armadilhas, esta também é uma história de amor entre jovens. Aqui são relatados interesses e atitudes muito mesquinhos, mas também grandes gestos de desprendimento e bondade.

Nota dos editores

Algumas histórias foram tão bem construídas e com tanta qualidade, que o valor delas foi posto à prova do tempo. Mesmo escritas há séculos, elas se mantêm sempre atuais e ganham nova vida a cada geração de leitores que tem o prazer de conhecê-las.

Encontramos em obras como
Os Miseráveis diversos aspectos da vida cotidiana das pessoas que viveram em épocas passadas: moda, costumes, dificuldades, valores, comportamentos, fatos históricos.

Durante a leitura você perceberá que existem algumas notas de rodapé. Elas foram feitas com o objetivo de explicar um pouco mais o momento em que viveu o autor e, conseqüentemente, o universo em que este romance foi criado, assim como a atuação de personagens que influenciaram diretamente o rumo da história francesa e mundial.

Aproveitamos também para lembrar a você que a consulta ao dicionário é fundamental para uma melhor compreensão de qualquer texto e para o enriquecimento de seu vocabulário.

Embarque nesta história maravilhosa criada por Victor Hugo e temos certeza de que você fará uma bela e inesquecível viagem.

"...Os Miseráveis mostram como uma pessoa pode se transformar graças à ação de outra. História de fugas, trapaças e armadilhas, esta também é uma história de amor entre jovens. Aqui são relatados interesses e atitudes muito mesquinhos, mas também grandes gestos de desprendimento e bondade." *Ligia Cademartori


Primeira Parte
A Liberdade
Capítulo 1

Jean Valjean Em um dos primeiros dias de outubro, em 1815, antes do pôr-do-sol, um homem viajava a pé. Tinha aparência assustadora. Seria difícil encontrar alguém com aspecto mais miserável. Era forte, de estatura mediana. Parecia ter de quarenta e cinco a cinqüenta anos. Na cabeça, um boné com aba de couro. A camisa, de tecido grosseiro, mal fechada deixava ver o peito cabeludo. Calças esfarrapadas. Sapatos sem meias.

Nas costas, um volumoso saco de viagem de soldado. Trazia na mão um cajado de madeira, cheio de nós. Cabeça raspada e barba crescida. O suor e o pó da estrada tornavam sua aparência ainda pior.

Chegou à cidade francesa de Digne. Lá, ninguém o conhecia na cidade. Como era hábito na época, passou na Prefeitura para se identificar. Apresentou seu documento, uma espécie de licença, exigida para viajar pelo país na época. Em seguida, procurou a melhor estalagem local, de propriedade de um tal Jacquin Labarre. Os fogões estavam acesos. A lareira aquecia o ambiente. Labarre preparava o jantar destinado aos hóspedes. Quando ouviu a porta se abrir, sem tirar os olhos do que estava fazendo, perguntou:
— Que deseja?
— Comer e dormir.
— Nada mais fácil! Olhou o recém-chegado dos pés à cabeça e fez uma observação:
— Pagando!
O homem mostrou uma bolsa de couro.
— Tenho dinheiro.
— Estou às ordens — respondeu Labarre. O recém-chegado tirou o saco de viagem dos ombros. Sentou-se perto do fogo.
Em Digne, cidade próxima à montanha, na região dos Alpes franceses, as tardes e as noites são frias. O dono da hospedaria, entretanto, não tirava os olhos do homem. Escreveu uma mensagem. Deu-a a um rapazinho que lá trabalhava. Este correu para a Prefeitura. O forasteiro, com fome, perguntou:
— E o jantar?
— Não demora — respondeu Labarre. O rapaz voltou com a resposta. O dono da hospedaria leu com atenção. Pensou um pouco. Foi até o viajante e disse:
— Senhor, não posso hospedá-lo.
O homem espantou-se.
— Se quiser, pago adiantado.
— Não tenho quarto.
— Durmo na estrebaria.
— Não é possível, está cheia de cavalos.
— Fico em um canto qualquer. Depois do jantar, combinamos.
— Mas não posso lhe servir o jantar — disse Labarre, com voz firme.
O viajante quis explicar. Falou que fizera uma longa viagem.
— Estou morto de fome e cansaço. Eu pago! Mesmo assim, não posso jantar?
— Não tenho nada para servir.
O homem deu uma gargalhada. Mostrou os fogões.
— Aquilo, o que é?
— Tudo isso já está reservado para os outros hóspedes. Pagaram adiantado.
O viajante insistiu:
— Não saio sem jantar!
O dono da hospedaria aproximou-se e falou-lhe firmemente ao ouvido:
— Vá embora! Surpreendido, o forasteiro ergueu a cabeça.
O outro continuou:
— Já sei como se chama. Seu nome é Jean Valjean! Logo na chegada, desconfiei da sua pessoa. Mandei perguntar quem é na Prefeitura, onde se identificou. Aqui está a resposta. Sabe ler?
O homem olhou o papel.
Labarre prosseguiu: — Costumo ser educado. Por isso peço mais uma vez: vá embora! Sem responder, o outro pegou o saco de viagem. Partiu. Andou pela rua principal, humilhado e triste. Não olhou para trás. Se tivesse se virado, teria visto o dono da hospedaria na porta, cercado de gente, falando enquanto o apontava com o dedo. Pelo jeito daquelas pessoas, sabia que dali a pouco seria comentado em toda a cidade. Caminhou um bom tempo pelas ruas, que não conhecia. A fome aumentou. Procurou outra estalagem, onde pudesse hospedar-se.
Por acaso, havia uma no fim da rua. Olhou pela vidraça. Viu o fogo da lareira, alguns homens que comiam e bebiam. Sobre o fogo, uma panela de ferro que soltava fumaça. Foi até a porta.
— Quem está aí? — perguntou o dono do local.
— Alguém que deseja comer e uma cama para dormir esta noite.
— Entre. Está no lugar certo.
O homem entrou. Enquanto tirava o saco de viagem, todos o observavam. Sentou-se à beira da lareira. Estendeu para perto do fogo os pés cansados de andar. Aspirou o cheiro da comida na panela. Por um instante, seu rosto teve uma leve aparência de satisfação. Mas em uma das mesas estava certo peixeiro.
  Pouco antes, passara pela outra estalagem. Fizera parte do grupo de curiosos onde se falara do homem. Fez um pequeno sinal ao dono do lugar, que se aproximou. Conversaram em voz baixa. O estalajadeiro (1) foi até o desconhecido.
Ordenou:
— Vá embora!
O viajante respondeu calmamente:
— Ah! O senhor já sabe?
— Sei!
— Não quiseram hospedar-me na outra estalagem.
— E daqui está sendo expulso!
— Para onde quer que eu vá?
— Para longe!
O homem pegou seu cajado, seu saco de viagem e saiu.
Alguns rapazes que o seguiram desde a outra hospedaria pareciam estar à sua espera. Atiraram-lhe pedras. Ele os ameaçou com o cajado. Os jovens correram. Em seguida, caminhou até a cadeia. Havia uma porta com uma sineta.
Tocou-a. Abriu-se uma janelinha na porta.
Pediu:
— Senhor carcereiro, pode fazer o favor de me abrigar esta noite?
— A cadeia não é albergue!
Dê um jeito de ser preso e dormirá aqui!
Continuou andando. Entrou em uma rua cheia de pequenos jardins. Avistou uma...

O livro na íntegra, aqui:
http://www.universitario.com.br/literatura/victor-hugo/os-miseraveis.pdf

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