terça-feira, 24 de novembro de 2015

Bumlai usava nome de Lula em negociatas

Juiz Sérgio Moro afirma que há o receio de que o nome do ex-presidente seja usado também para interferir nas investigações da Lava Jato

José Carlos Bumlai embarca no hangar da polícia federal, em Brasilia
José Carlos Bumlai embarca no hangar da Polícia Federal, em Brasilia(Ailton de Freitas/VEJA)
Preso temporariamente na 21ª fase da Operação Lava Jato, o lobista e pecuarista José Carlos Bumlai utilizava o nome do ex-presidente Lula para obter benefícios e contratos. A informação consta de pelo menos três depoimentos do lobista Fernando Baiano, que fechou acordo de delação premiada, e serviu de base para a decratação da prisão de Bumlai. O empresário e o petista são amigos íntimos desde 2002, quando foram apresentados pelo então governador de Mato Grosso do Sul Zeca do PT. Oficialmente, o ex-presidente não é investigado no petrolão, mas a cada dia pessoas próximas do petista - de ex-ministros a amigos pessoais - são envolvidos nas apurações da força-tarefa da Lava Jato e presos por ordem do juiz Sergio Moro.
Em sua delação premiada, o lobista Fernando Baiano disse que, na tentativa de emplacar um contrato entre a empresa OSX, do ex-bilionário Eike Batista, com a Sete Brasil, empresa gestada no governo Lula para construir as sondas de exploração do petróleo do pré-sal, o empresário José Carlos Bumlai foi acionado para interceder junto a Lula. Em troca, o pecuarista teria recebido comissão de 2 milhões de reais, que acabaram repassados a uma nora do ex-presidente para a quitação da dívida de um imóvel.
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Baiano também relatou às autoridades da Lava Jato outro episódio em que Bumlai teria atuado para que o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró continuasse à frente da estatal. Conforme Baiano, Lula se comprometeu a atuar em favor de Cerveró, embora não tenha ocorrido a interferência de fato. Para o juiz Sergio Moro, "o episódio revela mais uma tentativa dele [Bumlai] de interceder indevidamente na Petrobras, invocando o nome do ex-presidente, no caso com interesses espúrios, considerando o envolvimento de Nestor com esquemas de corrupção". Em outro caso revelado pelo lobista que atuava em nome do PMDB no petrolão, José Carlos Bumlai teria intermediado a contratação do ex-presidente Lula para uma palestra em Angola e para que o petista recebesse visita de uma autoridade angolana.
Na avaliação de Sergio Moro, todos esses casos evidenciam "a utilização indevida do nome e da autoridade do ex-presidente da República, que, mesmo não mais no cargo, ainda é uma das pessoas mais poderosas do país". "A fiar-se nos depoimentos, José Carlos Bumlai teria se servido, por mais de uma vez e de maneira indevida, do nome e autoridade do ex-presidente da República para obter benefícios. Não há nenhuma prova de que o ex-presidente da República estivesse de fato envolvido nesses ilícitos, mas o comportamento recorrente do investigado José Carlos Bumlai levanta o natural receio de que o mesmo nome seja de alguma maneira, mas indevidamente, invocado para obstruir ou para interferir na investigação ou na instrução", opina Moro.

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