sábado, 6 de junho de 2015

Música Caipira de verdade.

Vide Vida Marvada - Rolando Boldrin

*Rolando Boldrin (São Joaquim da Barra, 22 de outubro de 1936) compositor, cantor, ator e apresentador de televisão.Boldrin nasceu na pequena cidade interiorana de São Joaquim da Barra, no estado de São Paulo. Desde pequeno, aos sete anos, já tocava a viola e começou já uma empreitada musical junto com seu irmão aos 12 anos de idade, formando a dupla Boy e Formiga que era bem sucedida na rádio do município.Devido a incentivos por parte de seu pai, Boldrin foi aos dezesseis anos para a capital São Paulo de carona em um caminhão. Lá, antes de finalmente emplacar na carreira de cantor, foi sapateiro, frentista, carregador, garçom e ajudante de farmacêutico. Aos 18 serviu o exército em Quitaúna e nos anos que seguiram dedicou-se à atividade musical.Assim Boldrin debutou em 1960 como um participante do disco de sua futura esposa, que tornou-se sua produtora na época, Lurdinha Pereira. Lançou seu primeiro disco solo, pela Continental, O Cantadô, em 1974. HOMI NUM CHORAHoje aqui, oiando pra vancê meu pai,To me alembrando quanto tempo fazQue pela primeira vez na vida, eu chorei.Não foi quando nasci pru que sei que vim berrando...E disso ninguém se alembra, não.Foi quando um dia eu caí...levei um trupicão,Eu era criança. Me esfolei, a perna me doeu,Quis chora, oiei pra vancê, que esperança.Vancê não correu pra do chão me alevanta.Só me oiô e me falô:Que isso, rapaz ? Alevanta já daí...HOMI NÃO CHORA.Aquilo que vancê falô naquela hora,Calou bem fundo,pru que vancê era o maió homi do mundo.Não sabia menti nem pra mim nem pra ninguém...O tempo foi passando...cresci também...Mas sempre me alembrando..HOMI NÃO CHORA. Foi o que vancê falô.O mundo foi me dando os solavanco,Ia sentindo das pobreza os tranco...Vendo as tristezas vorteá nossa famía,E as vêiz as revorta que eu sentia era tanta,Que me vinha um nó cego na garganta,Uma vontade de gritá...berrá, chorá...mas quá..Tuas palavra, pai, não me saía dos ouvido..HOMI NÃO CHORAIntão, mesmo sentido, eu tudo engoliaE segurava as lágrima que doía...E elas não caía, nem com tamanho de quarqué uma dô...Veio a guerra de 40...e eu tava lá...um homi feito,Pronto pra defendê o Brasí.Vancê e a mãe foram me acompanhá pra despedi.A mãe, coitada, quando me abraçô, chorô de saluçá.Mas, nóis dois, não.Nóis só se oiêmo, se abracêmo e despedimoComo dois HOMI. Sem chorá nem um pingo.Ah, me alembro bem... era um dia de domingo.Também quem é que pode esquecê daquele tempo ingrato?Fui pra guerra, briguei, berrei feito um cachorro do mato,A guerra é coisa que martrata..Fiquei ferido... com sodade de vancês...escrevi cartaSonhei, quase me desesperei, mas chorá, memo que era bãoNunca chorei...Pruque eu sempre me alembrava daquilo que meu pai falô:HOMI NÃO CHORA.Agora, vendo vancê aí...desse jeito...quieto..sem fala,Inté com a barbinha rala, pru que não teve tempo de fazê..Todo mundo im vorta, oiando e chorando pru vancê...Eu quero me alembrá...quero segurá...quero magináQue nóis dois sempre cumbinemo de HOMI NÃO CHORÁ...Quero maginá que um dia vancê vorta pra nossa casaPobre... e nóis vai podê de novo se vê ansim, pra conversáIntão vem vindo um desespero, que vai tomando conta..A dô de vê vancê ansim é tanta...é tanta, pai,Que me vorta aquele nó cego na garganta e uma lágrimaTeimosa quase cai..Óio de novo prôs seus cabelo branco...e arguém me dizAgora pra oiá pela úrtima vez..que ta na hora de vancêEmbarcá.Passo a minha mão na sua testaQue já não tem mais pensamento....E a dô que to sentindo aqui dentro,Vai omentando...omentando, quage arrebentandoOs peito...e eu não vejo outro jeito senão me descurpá.O sinhô pediu tanto pra móde eu não chorá..HOMI NÃO CHORA... o sinhô cansô de me falá...mas, pai,Vendo o sinhô ansim indo simbora...me descurpe, mas,Tenho que chorá.*Rolando Boldrin

Posted by Marcos Lourenço Vanz Wanz on Quinta, 20 de fevereiro de 2014

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