Por Sebastião Calheiro
Os políticos e funcionários públicos – sejam do executivo, do legislativo, ou do judiciário dos mais altos aos mais baixos nas hierarquias, em todas as instituições, empresas estatais ou prestadoras de serviços públicos de qualquer espécie – são os empregados, que recebem salários para cumprir com a obrigação a que se submeteram.
Não importa se a submissão referida acima diz respeito a conquista do cargo por concurso público ou por simples favor de quem detém o poder. Estando no exercício da função tem que dar conta de seu expediente de forma digna e respeitosa e se não estiver contente com o salário, que peça a conta.
O Povo é o patrão!
Os Políticos e Funcionários Públicos são os empregados.
Acontece que, como está a empresa, hoje, o patrão paga todas as contas, é submetido a todos os tipos de vexames na hora de estudar, na hora que precisa tratar da saúde, na hora de transitar para o trabalho, na hora de obter uma simples licença para se estabelecer, na hora em que precisa de segurança para poder viver em paz, na hora em que necessita de Justiça e assim por diante, ainda ganha menos, mas muito menos, que seus empregados.
Enquanto o Povo (Patrão que paga as contas) transita dentro de ônibus lotado sujeito a todo tipo de sacrifícios, inclusive mulheres sendo molestadas nos apertos da lotação, o empregado vai para o trabalho em carrões de luxo, com motorista e ar condicionado e, em alguns casos, até com outros carros protegendo-os de possíveis violências. São escoltados pelos chamados batedores, seguranças ou simples capangas, dependendo do empregado.
Estou sendo falho: Não são apenas os carrões. Há também viagens pagas pelo Povo (aquele que é o Patrão), para que seus empregados possam assistir aos jogos de futebol em outras capitais, nos aviões do Patrão, claro, mas que deveriam estar a serviço da segurança do território nacional, isto é, cuidando da casa do Patrão. Vejam os casos recentes noticiados por “Veja” do Senador e dos Deputados!
Enquanto o Povo (Patrão que paga as contas) morre nos corredores dos hospitais – não por falta de boa vontade dos médicos ou dos enfermeiros, que são, digamos de passagem, verdadeiros abnegados, trabalhando sem as mínimas condições estruturais – os empregados cuidam da saúde no “Albert Einstein” ou no “Sírio-Libanez” ou em outros que tais, quando não vão aos “states”.
Não que não mereçam, mas deveriam propiciar condições para que o Patrão (que é quem paga as contas) pudesse usufruir dos mesmos benefícios.
Enquanto o Povo (Patrão que paga as contas) muitas vezes mora em um barraco à beira de trilhos, ou de riachos insalubres (tietêsinhos que abundam por este País a fora) ou despencando dos morros, os empregados, muitos deles sem qualquer possibilidade plausível pelos salários que ganham, moram em Ipanema ou no Leblon, quando não mantêm apartamentos de veraneio em Miame ou de inverno na cidade luz, a bela Paris. Vejam o exemplo do Lalau, que cumpre rigorosa pena, em casa, comendo pizza.
Enquanto os filhos do Povo (Patrão que paga as contas) estudam em escolas precárias, com professores maus pagos, sem material didático-pedagógico adequado, com deficiente merenda escolar, quando têm, transportados precariamente a custo alto os filhos dos empregados estudam em escolas do chamado primeiro mundo, onde fazem seus doutorados.
O Povo (que é o Patrão e que paga as contas) está cansado de tanto investir seus capitais, conhecidos como impostos, numa empresa que só lhe dá prejuízos. Enquanto ele investe o produto do suor de seu trabalho para que a empresa melhore, os empregados – que já são muito bem pagos – por vias escusas desviam o investimento, para não dizer que roubam descaradamente o Patrão.
Vejam os transportes de numerários em reais, em dólares ou em euros, escondidos em cuecas, em calcinhas, em maletas pretas ou prateadas, feitos pelos testas-de-ferro dos empregados, apreendidos pela polícia federal nos aeroportos do país.
Não podemos deixar de considerar aqui, o montante que conseguem fazer passar, escapando das apreensões.
Há empregados da empresa, ocupando cargos de relevância, que são procurados pela interpol e pelos EUA, por desvio, lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros. Falcatruas e maracutaias dos empregados com contas bancárias no exterior e em paraísos fiscais, não são novidades e nem causam mais espanto.
O Patrão (que é quem paga as contas) está vendo tudo, está sentindo tudo, mas manteve-se tolerante até o presente, na esperança de que seus empregados pudessem se redimir, pondo a mão na consciência e mudando o comportamento de uma forma cívica e ordeira. Enfim, que se tornassem empregados decentes.
Cansou.
O Patrão (que é quem paga todas as contas) e que não tem nenhum auxílio, não tem décimo quarto, nem décimo quinto, nem jetons, nem auxílio transporte, nem auxílio paletó, nem auxílio moradia (vejam apartamentos dos deputados e senadores e palácios de governos e de vice-governos e de assessores e de tantos mais), nem auxílio amante (Olha o homem aí de novo) pago por empresas beneficiárias de favores políticos, nem aviões de graça, nem mordomos, nem camareiras, nem motoristas, nem comissões de trinta por cento para liberação de verbas para prefeituras (O Patrão não sabe se isso é verdade, mas ouviu o boato correndo na praça e está desconfiado), não tem aposentadoria milionária com apenas alguns anos de serviço... (serviço?), etc., etc., etc., casou.
Foi dito acima que o Patrão (que é quem paga todas as contas) não tem nenhum auxílio. Perdão, leitor amigo, havia me esquecido que os filhos do Patrão, por ironia do destino gozam, já há bastante tempo, do auxílio reclusão, ou seja, a família recebe auxílio quando seus filhos estão presos, coisa que raramente acontece com os filhos de seus empregados.
Simplificando, os filhos do Patrão são os que freqüentam a cadeia.
O Patrão cansou.
Saiu no pátio da empresa (que são as ruas das cidades) e gritou bem alto para que todos os empregados ouvissem: corruptos e não corruptos, honestos e desonestos, dignos e indignos:
CHEGA. ESTOU CANSADO.
O Patrão gritou: Chega!
O Patrão cansou.
Mas, por incrível que possa parecer, apesar da altura que o som das vozes do Patrão alcançou e que atingiu decibéis tão elevados que lá no exterior repercutiram, os empregados se fizeram de desentendidos e pareeeeeece que a coisa vai continuar como estava.
Pois novos escândalos já estouraram esta semana com a prisão de dezenas de prefeitos, vereadores e outros, lá pelo norte do País.
Já se repetiram utilização de aeronaves pelos beneficiários da nação.
No afã de contentar o Patrão, os empregados aprovaram algumas medidazinhas a “toque de caixa” que nada representam diante da realidade da empresa, que precisa de limpeza ampla, geral e irrestrita.
Inventaram de trabalhar numa reforma política que associada à reforma tributária fazem parte do folclore nacional.
Todos falam que vão fazer e todos sabem que jamais vão fazer e, se fizerem, jamais será como deveria ser feito, porque para os empregados do Povo não se pode fechar a boca do leão, pois é pelo rabo dele que se alimentam e Deus nos livre ter que mexer na legislação eleitoral!
Seria suicídio.
Suicídio está fora de cogitação.
Mas o Patrão (que é quem paga as contas) já mandou o primeiro aviso: está pedindo evolução cívica e aguardando resultados.
Felizmente, o Patrão (ao contrário do que pensam os empregados), é um ser inteligente, de mente coletiva altamente qualificada e que dispõe de armas de mobilização de massas modernas e eficazes (internets e redes sociais) e que está relutante em fazer revolução, porque abomina ao Patrão a idéia de derramamento de sangue, mas não nos iludamos, o recado foi dado.
O Patrão (que é quem paga as contas) está de sacola cheia e é melhor que os empregados se contenham e olhem com mais carinho para as necessidades de quem ainda lhes é tolerante e lhes paga as contas.
Evolução por ser o processo de desenvolvimento de uma sociedade, de suas formas e instituições de maneira pacífica é muito melhor que revolução que é a mudança violenta e sangrenta de uma situação de governo.
O Primeiro Grito das Ruas foi dado.
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
http://www.npdiario.com/noticia/9016/
http://www.npdiario.com/noticia/9016/
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