quinta-feira, 30 de outubro de 2014

RETRATO DE UM CARÁTER:

Lula MENTIU ao dizer durante a campanha que “nunca” foi “desrespeitoso” com um candidato a presidente. Pior do que isso: ele foi desrespeitoso com um Presidente no poder, pois chamou o Presidente Itamar, homem digno e honrado, de “filho da puta”. Saibam de detalhes inéditos desta história

(Fotos: Waldemir Barreto :: Agência Brasil)
Itamar, já no fim da vida, quando senador (PPS-MG): Lula, já na condição de ex-candidato à Presidência, o ofendeu gravemente (Fotos: Waldemir Barreto/Agência Brasil)
Lula tem um descompromisso espantoso com a verdade — e com as próprias declarações que faz. Há poucos dias, ainda durante a campanha eleitoral, ao atacar o presidenciável tucano Aécio Neves por supostamente haver “agredido” a presidente Dilma durante o debate da TV Record, quando a classificou de “leviana” por lhe fazer acusações falsas, assegurou: “Jamais chamei um adversário de leviano”.
Pois bem, vejam esse pedacinho de um dos debates do segundo turno da campanha eleitoral de 2006, que disputou com o candidato do PSDB, o hoje governador de São Paulo Geraldo Alckmin:
“Nunca fui desrespeitoso com um presidente da República”, havia recitado Lula, quando Dilma levou a célebre vaia na partida inicial da Copa do Mundo, na Arena Corinthians, em São Paulo.
Talvez a memória algo toldada de Lula o tenha feito esquecer que, no passado não tão longínquo, classificou José Sarney de “ladrão” e Fernando Collor de “assaltante” quando os dois inimigos que transformaria em amigos do peito e companheiros de jornada governavam o país.
Também insultou Itamar Franco, provam o recorte de jornal e o texto com o timbre da Presidência da República abaixo reproduzidos.
Detalhe da reportagem da folha de 8 de maio de 1993
Detalhe da reportagem da folha de 8 de maio de 1993
Na edição de 8 de maio de 1993, a Folha de S. Paulo publicou o que Lula dissera ao grupo de jornalistas que o acompanhavam em mais uma excursão caça-votos.
“Todo mundo sabe que o ministro da Fazenda, Eliseu Rezende, é um canalha que tem compromissos com empreiteiras”, afirmou o futuro camelô da Odebrecht. Depois de acusar o presidente de omisso, explicitou seu julgamento: “O Itamar é um filho da p***”.
A réplica de Itamar foi a de um homem educado, muitos tons abaixo da grosseria lulista, e veio num bilhete divulgado dois dias depois pela Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto: “Gostaria de saber o que aconteceria (…) se este indivíduo arrogante e elitista fosse o Presidente da República e alguém o chamasse disso”.
O episódio seria apenas um prelúdio de tantas grosserias e palavrõesque Lula cometeria na vida pública, inclusive como presidente da República.
Vou fazer alguns comentários para refrescar a memória dos amigos do blog.
Lula, desde que surgiu como dirigente sindical no final dos anos 70, gozou das preferências da enorme maioria dos jornalistas, sobretudo dos repórteres.
Isso continuou depois que Lula fundou o PT, em 1982. Eram raríssimas as reportagens que, eventualmente, não dissessem maravilhas sobre Lula, sobre o metalúrgico de origem humilde que se tornou um líder popular e criou um partido político que se fortalecia a cada eleição.
Após a histórica eleição presidencial de 1989, a primeira depois da ditadura e a primeira eleição direta desde 1960, quando uma disputa que tinha pelo menos seis candidatos fortes se afunilou para um segundo turno de Lula contra Collor, meu querido amigo Augusto Nunes, com a autoridade de quem era diretor de Redação de um grande jornal — o Estadão da época –, comentou várias vezes, com grande pertinência:
10430837_254886874712290_392517631217690528_n-460x394
O bilhete, curto e desproporcionalmente educado em relação à ofensa, que o presidente Itamar mandou divulgar pela Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto após ser xingado por Lula (CLIQUE NA IMAGEM PARA AUMENTÁ-LA)
– Foi difícil a cobertura isenta das eleições de 1989: de um lado, os patrões queriam “collorir” [verbo criado na ocasião para designar os que aderiam a Collor]; de outro, o reportariado era simpático ao Lula.
De fato. Um episódio marcante a respeito da segunda parte da assertiva ocorreria após o comparecimento de Collor ao Programa Ferreira Nettotalk show que o jornalista, morto em 2002, apresentava na TV Record.
Ao deixar a sede da emissora e negar-se a falar com vários repórteres que o aguardavam, Collor entrou no carro ao som de Lula-lá, a canção-chave da campanha do candidato do PT — entoada pelos jornalistas que, assim, arremessavam no lixo a objetividade que se espera de quem faz reportagem e cometiam uma gravíssima infração à ética da profissão.
Essa simpatia por Lula fazia com que repórteres deixassem passar gafes, escorregões e aspectos menos luminosos da vida do líder sindical tornado político. Quem quebrou esse encanto e essa redoma foi, justamente, o jornalista Fernando Molica, então trabalhando naFolha de S. Paulo.
Procurei o jornalista para contar como se deu o episódio. Gentilmente, Fernando, que vive no Rio, onde edita uma coluna diária e publica um artigo semanal no jornal O Dia — paralelamente a uma bem sucedida carreira de escritor (visitem seu site aqui) –, enviou um relato circunstanciado do que aconteceu o qual, até onde sei, é inédito. Só pediu que o relato não fosse publicado antes das eleições.
O jornalista e escritor Fernando Molica (Foto: O Dia)
O jornalista e escritor Fernando Molica: “não daria para negar que Lula dissera o que dissera, não seria correto censurar o episódio” (Foto: O Dia)
Vamos a ele:
“Na época, eu era repórter especial da Folha, trabalhava na sucursal do Rio, e fui escalado para render o colega que estava cobrindo a Caravana da Cidadania [incursões de Lula pelo país para pregar suas ideias.] Quando cheguei, muitos petistas reclamavam do jornal que, dias antes, registrara que o Lula havia comparado o vermelho do PT ao sangue de Cristo.
“Bem, entrei  na cobertura. Como eu trabalhava no Rio, o Lula não me conhecia - já na Caravana, eu tive uma conversa com ele, uma entrevista, um contato profissional. Dois ou três dias depois, fomos todos cobrir uma visita a um bairro da periferia de Teófilo Otoni (MG). Na saída, eu e o Mário Rosa, então repórter da VEJA, nos aproximamos do Lula. Eu perguntei sobre um episódio envolvendo o então ministro Eliseu Resende, acusado de favorecer uma empreiteira.
“O Lula não sabia da história, eu fiz um pequeno resumo para ele. Foi quando ele disse que o Eliseu era um “canalha”. Depois, se referiu ao Itamar como um “filho da puta”, já que poderia fazer um governo melhor, não tinha compromissos com ninguém etc.
“No texto da reportagem eu cometi um erro: classifiquei o episódio de “conversa informal”.  Não era uma entrevista coletiva formal, mas não se tratava de uma conversa informal, de bar, um bate-papo à mesa do café da manhã. O Lula participava de uma atividade, foi abordado por repórteres de um jornal e de uma revista, ouviu uma pergunta e respondeu.
“Em nenhum momento ele ressalvou que falava em off [declarações que políticos ou outras fontes fazem com o compromisso de não serem publicadas, ou não serem atribuídas a quem as fez, dependendo do caso], que suas palavras não deveriam ser publicadas. De alguma forma, acho que o Lula também se contaminou com o clima de cordialidade que marcava sua relação com os jornalistas.
“Lembro que eu e o Rosa ficamos surpresos com a declaração. E aí, o que fazer? Não daria pra negar que o Lula dissera o que dissera, não seria correto censurar o episódio. A própria organização da Caravana traçara limites para o trabalho dos jornalistas – nós, por exemplo, não viajávamos no mesmo ônibus da comitiva petista. As nossas despesas de viagem e hospedagem eram bancadas pelos veículos, não estávamos lá bancados pelo PT.
“Na dúvida, tratei de espalhar a história para os demais colegas, inclusive para uma assessora de imprensa do PT. Decidi também enviar um relatório para o jornal, não achava justo omitir o episódio daFolha – estava lá para cobrir a Caravana, para relatar o que ocorria. E o fato ocorrera.
“Na parada seguinte, o Lula veio falar comigo. Em meio a assessores e jornalistas, ele disse que não quisera ofender o presidente e nem utilizaria a palavra “canalha” para se referir formalmente ao Eliseu. Essas declarações seriam registradas por mim na reportagem que o jornal decidira publicar. No texto,  sequer escrevi o verbo “xingar” - isto, não para proteger o Lula, mas para tentar transmitir a situação com o máximo de fidelidade.
“O resto é história. O Itamar adorava a mãe [dona Itália Cautiero Franco], que morrera, creio, no ano anterior [sim, ela faleceu em 1992]. Ele divulgou nota oficial, o assunto ganhou uma repercussão imensa.  Não apenas o Lula foi questionado. Muita gente  gente disse/escreveu que eu não deveria ter contado o episódio.
“Houve também uma polêmica em torno do verbo “xingar”, usado pelaFolha na capa do jornal e no título da reportagem – esta utilização seria criticada, no domingo seguinte, pelo ombudsman do jornal (não gostei do “xingar”, mas admito que não seria fácil resumir o episódio em uma linha de texto).”
http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/retrato-de-um-carater-lula-mentiu-ao-dizer-durante-a-campanha-que-nunca-foi-desrespeitoso-com-um-candidato-a-presidente-pior-do-que-isso-ele-foi-desrespeitoso-com-um-presidente-no-poder-po/

Nenhum comentário:

Postar um comentário