quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Depois de desconstruir Marina, agora é Aécio!


Eu fico estarrecido — para usar uma expressão dilmista — com o comportamento airado de alguns petistas (eu digo “alguns” porque conheço gente sensata dentro do partido de Lula).
O PT está — de forma muito eficaz, com a ajuda do chamado “João ‘Goebells’ Santana” (1), do jornalista Franklin Martins e da militância desatinada nas redes sociais — seduzindo uma parcela de indivíduos apedeutas sobre um “malvado Aécio” construído pelo marketing dos donos do poder. O candidato do PSDB está sofrendo a mesma desconstrução que Marina Silva (PSB-Rede), mas o tom e o foco é outro. O comissariado alojado no Palácio Alvorada é perito na arte de moer pessoas e alterar biografias.
Aécio é tratado pelos desatinados como branco (como se isso fosse ofensa), drogado (um tipo de preconceito bem direitista), elitista, playboy, péssimo gestor (mesmo Dilma tendo elogiado o moço na eleição passada), misógino, filho do demônio, privatizador da mãe, contra o salário mínimo, contra os pobres e espancador de mulheres. Há outros ataques, mas esses são centrais. O alto comissariado finge que não vê nada disso e acusa apenas um suposto crescimento do “fascismo” (leiam-se, indivíduos que criticam o PT e seus métodos).
É claro que há também setores estúpidos na campanha de Aécio, afinal, ninguém tem o monopólio da agressividade. Mas, para sermos fieis aos fatos, foi a campanha da Dilma que começou essa inépcia com os adversários, ainda no primeiro turno. Marina ficou chocada, mesmo assim, até seu choro foi objeto de deboche. O nível descia e sinalizava para a militância dilmista: “tudo é permitido, o importante é vencermos”.
Essa campanha violenta de destruição da reputação pessoal — e não se trata aqui de nenhuma discussão de programa de governo ou luta ideológica de uma suposta “esquerda” versus “direita” — é feita nos subterrâneos, enquanto na superfície, os mesmos desatinados fazem um discurso de que Dilma é “uma pobre mulher que está ‘apanhando’ do Aécio nos debates”. A presidenta é vítima de uma pessoa “machista” e “dura demais” com uma mulher, em síntese, um “homem arrogante”. E isso só porque Aécio não dá a outra face como Marina fez. Agora, saturados pela estratégia da guerra que eles mesmos criaram e contaminaram com um ódio que quebrou até amizades e casamentos, os mesmos adoidados petistas mudaram seu discurso. Eles são vítimas das “elites”, do “fascismo anti-PT”, do “preconceito social” etc. A onda é repetir até virar uma verdade: “nós somos o povo” e eles “são da elite branca, machista, misógina, neoliberal”.
O maniqueísmo é grosseiro, nós sabemos. Ele empobrece a profundidade dos debates programáticos, mas, na propaganda política, ele é uma arma eficaz, infelizmente. Facilita a escolha eleitoral entre “lado A” ou “lado B”, “nós” ou “eles”. Simplifica o jogo para o senso comum, traduzindo a complexidade da vida política, da polifonia das demandas, das diversas matizes de propostas, num falso dilema: preto ou branco.
A disputa entre Dilma e Aécio, no campo das intenções de voto, se mantém equilibrada. Empate técnico é o que dizem os institutos de pesquisa. É como se o povo assistisse bestializado a tudo isso. Escolher é sempre uma angústia, o fardo da liberdade como dizia Sartre. Assumir o voto em Aécio é arriscado para quem deseja se manter em paz, por isso muitos silenciam e há uma “onda silenciosa”, como também há os conservadores que preferem a continuidade com Dilma e a manutenção do mesmo partido no poder. Também há os que preferem sair dessa dicotomia e dizem que não vão comparecer ou, se muito, vão votar branco ou nulo. Alguns com razões ideológicas, a maioria por desânimo diante das opções ou medo de escolher e se arrepender depois, descuidando-se para o fato de que toda a escolha envolve riscos.
Minha compreensão — e insisto em dizer que respeito as compreensões divergentes da minha — é que a vitória de Aécio significaria o êxito da racionalidade derrotando o medo criado pelas distorções típicas de um marketing agressivo. Além disso, Aécio é uma liderança que tem capacidade de diálogo político para construir uma maioria congressual necessária em qualquer projeto de reforma. Já o triunfo de Dilma sinalizaria tempos sombrios de truculência. O PT sairia das urnas convencido de que a “política de guerra” — e seus marqueteiros — deve permanecer como estratégia orientadora das ações institucionais. A mesma seria deslocada para política de Estado contra os seus “inimigos” e isso reforçaria o viés autoritário de uma aliança que poderia chegar a dezesseis anos de poder, sem contar com o sonho de Lula em 2018 — ficar mais oito anos no poder. No total, o lulopetismo poderá ficar, no mínimo, 24 anos no poder. A tendência é forte.
Seja lá qual for o resultado, o Brasil sairá rachado desta eleição e até mesmo relações familiares precisarão ser reconstruídas. Muitos precisarão desbloquear centenas de amigas e amigos no facebook. O Congresso Nacional precisará de uma articulação cuidadosa para construir a coalizão que irá governar os próximos quatro anos. Dilma não chega a 100 deputados féis, enquanto Aécio tem mais deputados, mas ambos precisarão dialogar muito com uma Câmara que abriga 513 deputados federais, além das especificidades do Senado. A vantagem, neste ponto, é que Aécio parece mais habilidoso que Dilma.
Na oposição, o PSDB já mostrou que é de paz. Uma das provas disso é que os tucanos nem pediram o impeachment do Lula no auge do “mensalão” — se fosse o contrário, é lógico que o PT faria isso sorrindo. De qualquer forma, o “calor” desta campanha poderia engendrar uma oposição mais dura caso Dilma saísse vencedora. Por outro lado, o PT na oposição faria “o diabo” — lembrando de Dilma — para destruir o Governo Aécio, mesmo em pontos onde o partido, racionalmente, deveria apoiar. Foi essa cegueira — em alguns casos foi oportunismo mesmo — que assistimos na oposição raivosa que o PT e outros setores de extrema esquerda fez ao Governo FHC (1994-2002).
A nossa democracia ainda é muito jovem e imatura, mas é o melhor dos regimes que conhecemos até agora. O eleitorado brasileiro vai fazendo escolhas mais sensatas do que fazia em 1989 ou em 1992. É o tempo. A democracia pede paciência.
Garantir a alternância no poder e evitar uma hegemonia maior do PT sobre as instituições da República é o que me motiva a votar em Aécio. Se for necessário, eu prefiro ser oposição no governo do PSDB — e que acabem com a reeleição, por favor! — do que me arriscar a mais doze anos de PT no poder. Pode ser que, seduzidos, os petistas não queiram sair mais de lá. E, pense por um instante: sair do poder fará bem ao PT. Ele, como partido que se diz de esquerda, precisa voltar para as ruas e movimentos sociais. Depois de tanto tempo na burocracia do Estado brasileiro (são milhares de cargos comissionados) e imerso em tantos escândalos de corrupção, acredite, votar no Aécio é também contribuir com um PT mais combativo e depurado.

Referência:

1- O marqueteiro do PT está sendo associado com o estilo Goebbels de propaganda. Goebells foi ministro do Governo Hitler. Sugiro a leitura de algumas matérias sobre João Santana e seu marketing agressivo.
Leia aqui: Beto Albuquerque também ficou indignado com a propaganda petista
http://professormarciosaraiva.com.br/depois-de-desconstruir-marina-agora-e-aecio/

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