terça-feira, 17 de junho de 2014

Por que uma Copa tão boa?

Copas do Mundo costumam ser amarradas, chatas. A cautela goleia a ousadia. Mas estamos vivendo uma 'desbarcelonização' do futebol

Sergio Xavier
A Holanda teve menos posse de bola, mas goleou a Espanha por 5 a 1
A Holanda teve menos posse de bola, mas goleou a Espanha por 5 a 1 (Dimitar Dilkoff/AFP)
Virou quase consenso. Que Copa legal! Quantos jogos bacanas! Que maravilha essa fartura de gols! Fale com argentinos, italianos, sérvios ou nigerianos. A opinião é sempre no mesmo tom. As pessoas estão gostando deste início de Mundial basicamente porque ele está extremamente ofensivo. Copas do Mundo costumam ser amarradas, chatas. A cautela goleia a ousadia. Ninguém quer se expor muito, principalmente nas primeiras rodadas.
Por que diabos, então, estamos vendo essa tempestade de gols? Claro que é cedo para conclusões definitivas, mas podemos nos arriscar em teorias mirabolantes. Aqui vai uma. A Copa do Mundo está desse jeito porque estamos vivendo uma “desbarcelonização” do futebol. Hã?
Vamos aprofundar isso. Há sete ou oito anos, o Barcelona começou a dominar o futebol mundial com a lógica de que o toque de bola cura tudo. A seleção espanhola foi na mesma toada e expandiu o domínio catalão. Tudo dominado, em clubes e em seleções. Toca pra cá, toca pra lá, enquanto você está com a bola o adversário não tem o que fazer. Dentro dessa mesma lógica, quanto menos você arrisca o passe, mais chance de permanecer com a bola e anular qualquer ação do rival. O tique-taque do Barcelona influenciou o planeta-bola. Todos tentando ficar o maior tempo possível com a bola. E arriscando pouco, ou nada. Quanto menos qualidade técnica, menos ainda se arrisca. Menos risco, menos jogadas perigosas, menos gols, menos tesão.
O Bayern de Munique talvez tenha sido o porta-voz da boa nova. Propôs um jogo vertical, arriscado, ofensivo e goleou o Barcelona na Liga dos Campeões. Deixou a mensagem no ar. Havia outra forma de triunfar no futebol. Mais gente passou a fazer o mesmo. A ideia seguiu no ar. E veio a Copa.
Já nos primeiros jogos, o estilo agressivo apareceu. Mesmo seleções humildes como a Costa Rica não abriram mão de tirar uma casquinha e partiram para o ataque franco. Jogando bem ou jogando mal, todo mundo tentou o gol. O gol marcado parece que ganhou mais valor do que o gol não sofrido. Posse de bola deixou de ter a importância dos últimos anos. A Espanha, na estreia, teve mais tempo de bola que a Holanda. E os laranjas deixaram a Roja vermelha de raiva com os 5 x 1.
Velocidade virou a chave desse novo-velho futebol. Contra-ataques fulminantes, mais gente se arriscando na correria. Sim, porque correr loucamente sem a bola é risco puro. Risco de pregar no segundo tempo e perder a partida. Pode não ser nada disso, e a fartura de gols terminar na semana que vem. Tomara que não. O jogo do Barcelona tinha, evidentemente, sua beleza. Toques qualificados, categoria, elegância. O jogo vertical e apressado carrega suas imperfeições. Mas não estávamos mesmo um tanto cansados desse jogo engomadinho dos espanhóis?

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