terça-feira, 20 de maio de 2014

"TERRORISMO ELEITORAL NO AR"

Carlos José Marques, diretor editorial

O medo como arma de campanha sempre foi tido e havido como o último dos recursos a que se apela quando todos os demais não surtiram efeito, no objetivo de aliciar a preferência dos eleitores a favor de um candidato contra o seu adversário. Na semana passada, o Partido dos Trabalhadores decidiu reverter essa lógica e colocou no ar, de saída, um “teaser” onde a mensagem do medo é abertamente lançada para angariar votos de indecisos e incautos. “Não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem”, brada o locutor, enquanto imagens de brasileiros empregados e desempregados, pedintes e estudantes são sobrepostas, com a ameaça subliminar de um retrocesso caso a presidenta Dilma não vença as próximas eleições. A oposição naturalmente reagiu taxando de tática do desespero. A presidenta, que segue em queda nas pesquisas de popularidade, parece acreditar no vale-tudo. E, nesse ambiente, o debate que deveria caminhar, a bem do País, para o campo das mudanças estruturais almejadas pela sociedade desce ao nível da baixaria pura e simples. O recurso, mais que deplorável, é de eficácia duvidosa. Já foi tentado inúmeras vezes. E, ironia das ironias, contra o próprio PT. Em 2002, na campanha do candidato tucano José Serra, uma peça de sua propaganda eleitoral trazia o depoimento da atriz Regina Duarte dizendo ter medo de Lula e do risco que o Brasil corria de perder a estabilidade conquistada. O opositor Lula respondeu com o mantra “a esperança vai vencer o medo” e levou a vitória. Desta vez, na filosofia distorcida de seu partido, intensifica-se a guerra do “nós contra eles”, como se o Brasil pudesse ser dividido em duas facções, a do “bem” e a do “mal”, a de “ricos contra pobres”. Certamente um equívoco. Com essa visão distorcida do maquiavélico conceito de dividir para governar, o PT incita sem necessidade o apartheid de classes. E peca ao não perceber que a insatisfação do eleitorado aumenta independentemente da camada social. Os que hoje desaprovam o governo, como mostrou a pesquisa Istoé/Sensus, já estão percentualmente em maior número do que aqueles que aprovam (49% a 40% dos entrevistados). Nas ruas, na semana passada, novos protestos e greves deram mais uma demonstração nesse sentido. Seria, portanto, prudente e aconselhável nesse cenário que partidos e candidatos deixassem de lado seus meros projetos de poder em prol das propostas que constituam um projeto de gestão mais eficiente – em sintonia com o que a Nação realmente necessita. 
ISTOÉ - Editorial

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