terça-feira, 19 de novembro de 2013

Família de mensaleiros tem que pegar fila como pegamos, diz mulher de preso.

Elas reclamam da visita da mulher do ex-presidente do PT com intervenção de parlamentares

BRASÍLIA - Mulheres de presos do Complexo Penitenciário da Papuda reclamaram nesta terça-feira da visita da mulher do ex-presidente do PT José Genoino, que pode encontrá-lo ontem graças à intervenção do senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Os dias de visitação na Papuda são quarta e quinta-feira, mas hoje algumas mulheres já estão acampadas para poder pegar as primeiras senhas. Se chegarem apenas amanhã cedo, elas correm o risco de ficar pouco tempo com seus parentes.
Como o senador Suplicy tem prerrogativa de entrar no local, ele levou a família de Genoino ontem para visita. Hoje, houve outro encontro da família com o deputado petista. O ex-tesoureiro do PT Delubio Soares também recebeu familiares.
- Errado isso. Ela (mulher de Genoino) tem que pegar fila como todos pegamos. Tem que passar pelas mesmas coisas que a gente passa. Pode ser até mulher do presidente, mas tem que passar pelo que a gente passa – disse Patrícia, que não quis revelar o sobrenome.
Patrícia vai passar a noite em uma barraca montada na entrada da Papuda. Ela será uma das primeiras a pegar senha que será distribuída a partir das 9h de quarta-feira. O horário de visita vai até 15h. Uma parte dos detentos recebe visita na quarta e outra na quinta-feira.
- Tem que ter condições iguais, a gente enfrenta sol e chuva. Eles chegaram e já podem visitar, deveriam entrar na fila e pegar senha- disse Mariana Gomes, mulher de um preso no regime fechado.
- A gente se sente injustiçado, revoltado. A moça vem, visita o marido dela dois dias seguidos, enquanto a gente tem que estar aqui várias horas antes para conseguir entrar cedo e visitar nossos maridos - disse outra mulher, que não quis se identificar, acrescentando: - Elas não são melhores do que a gente por ter poder aquisitivo maior.
Segundo Mariana, cada família pode levar aos detentos 500 gramas de biscoito, que não pode ser recheado, seis frutas, dois rolos de papel higiênico, dois sabonetes, um desodorante roll-on, uma barra de sabão de coco e 500 gramas de sabão em pó. Elas passam o tempo conversando e fazendo as unhas. Às 18h é realizado um culto religioso. As mulheres dizem que, a cada seis meses, podem levar roupas novas aos detentos, limitadas a duas blusas, duas bermudas, seis cuecas, dois pares de meia, uma blusa de frio, uma calça, um par de tênis, uma toalha, um lençol e um cobertor.
- Meu marido é mensalinho – disse Beatriz de Souza, que aguarda na Papuda para visitar o marido.
As mulheres não acreditam que a presença de presos famosos vá melhorar a situação dos demais detentos.
- Fez foi piorar tudo. Os outros presos não são tratados do jeito que eles ( mensaleiros) são. A comida deles é boa, a dos nossos tem parafusos e bichos – disse Patrícia.
Segundo o deputado Paulo Fernando dos Santos (PT-AL), conhecido como Paulão, estiveram hoje na Papuda a mulher e os três filhos de Genoino, além do líder do PT na Câmara, José Guimarães (PT-CE), irmão do réu. Da família de Delúbio apareceram a mulher e o irmão. Quando Paulão saiu da Papuda os familiares ainda se encontravam no local. Eles entraram no presídio graças à presença de José Guimarães, que é parlamentar.
Paulão informou também que no período da tarde outros parlamentares irão à Papuda, entre eles o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), filho do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Segundo Paulão também foram ver os presos o advogado e ex-deputado Sigmaringa Seixas e um diplomata estrangeiro, mas ele não soube especificar de que país. O deputado relatou que não pôde entrar com celular, mas não soube dizer os procedimentos de revista dos familiares dos condenados.
- No meu caso, e outro colega de gabinete, eu tive que deixar todos os celulares na parte externa do presídio. É proibido entrar com celular.
As mulheres de outros presos que já estavam detidos na Papuda antes da chegada dos condenados no mensalão relatam que a única máquina de raio-X no presídio não é suficiente para todas as visitas. Assim, a maioria tem de tirar a roupa e os calçados. A roupa é amassada para verificar se não há nada escondido. Elas também têm de sacudir o cabelo e mostrar a língua.
- É desagradável, horrível ficar totalmente pelada diante de uma pessoa que você não conhece - disse Camila, que não quis falar seu sobrenome.
Questionado se os condenados do mensalão estariam tendo privilégio ao receber visitas em outros dias além de quarta e quinta-feira, Paulão respondeu:
- Eu acho que não. Isso compete à direção do presídio. Veja bem: o PT nem o preso tem influência sobre a norma interna administrativa. Compete ao presídio definir um processo de procedimento.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do DF informou que "não há tratamento diferenciado, os visitantes e familiares devem seguir as mesmas regras que a dos outros detentos, ou seja, entrar na fila e ir de roupa branca". Disse também que os visitantes não podem levar equipamentos eletrônicos nem celular.


Nenhum comentário:

Postar um comentário