domingo, 21 de julho de 2013

Algumas notas...,


21/07/2013
 às 8:17 \ Feira Livre

‘Mexendo no problema errado’, por Carlos Brickmann

CARLOS BRICKMANN
Não é questão de nacionalidade: um dos maiores médicos do Brasil foi um ucraniano, Noel Nutels, que levou a saúde pública às áreas indígenas da Amazônia. A questão é outra: é que o Governo criou uma enorme polêmica por achar que Saúde é Medicina. E não é: Medicina é a última etapa na luta pela Saúde.
A Saúde começa pela engenharia ─ saneamento básico. A água potável e os esgotos reduzem o número de doentes (e derrubam a mortalidade infantil). Educação é o segundo passo: quem lava as mãos e cuida da higiene básica, mantém o mosquito da dengue à distância, assegura a limpeza dos animais domésticos e cuida de seu lixo tem mais condições de evitar doenças. Condições de vida são importantes: roupas e calçados minimamente adequados, alimentação suficiente, moradia saudável fazem milagres. Se uma pessoa educada, com acesso a saneamento básico, alimentação e moradia, devidamente vacinada, mesmo assim fica doente, então cabe à Medicina cumprir seu nobre e insubstituível papel de cura.
Em resumo, não adianta trazer grandes especialistas mundiais sem que a população tenha condições adequadas de vida. Tem? Não, não tem. E não falemos de periferias: Guarulhos, na Grande São Paulo, segunda maior cidade do Estado, 13ª do país, com 1,2 milhão de habitantes, onde está o maior aeroporto internacional do país, não trata nem metade dos esgotos que lança no rio Tietê.
A propósito: sem seringas, termômetro, um medidor de pressão, um medidor de glicemia, alguns remédios, que é que se espera de um médico? Milagres?
A razão da crise
O presidente da Volkswagen do Brasil, Thomas Schmall, falando em Porto Alegre, mostrou um número significativo, transcrito pelo bom blog de Fernando Albrecht: um americano com salário médio trabalha dez minutos para comprar um Big Mac; um alemão, 16 minutos; um brasileiro, 42 minutos.
E é provável que EUA e Alemanha usem carne brasileira.
Os saltimbancos
1─ O presidente da Câmara Federal, deputado Henrique Alves, quer que Dilma Rousseff reduza o número de ministérios de 39 para 25. OK, a ideia não é ruim. Mas por que 25, e não 23, 27 ou 29? Por nada: ele gosta de 25, pronto. E deve achar que o número de ministérios nada tem a ver com as necessidades do Governo ─ tanto que cita o número sem qualquer estudo administrativo.
Será que Henrique Alves quer economizar dinheiro público? Não deve ser isso, não: o jantar em que reuniu a bancada do PMDB, dia 16, custou R$ 28.400 à Presidência da Câmara. Foram R$ 355,00 por pessoa, sem bebidas. Um esplêndido restaurante, como o Tatini, de São Paulo, não cobra nem a metade disso.
2 ─ O prefeito de Paulínia, SP, Édson Moura Jr., do PMDB, tomou posse e anunciou imediatamente o Passe Livre na cidade. A passagem custava R$ 1,00.
Será que o prefeito fez questão de ouvir a voz das ruas? Não deve ser isso, não. Já nomeou a madrasta, Regina de Mattos e Moura, secretária da Promoção Social. Talvez retribuindo a bondade do pai, Édson Moura, candidato à prefeitura barrado por não ter a ficha limpa. Moura, na véspera da eleição, renunciou à candidatura em favor do filho. Como não havia tempo para registrar o nome do novo candidato, Moura Jr. se elegeu usando o nome do pai. Em seguida nomeia a esposa do pai. Gratidão é uma virtude. Pena que com dinheiro público.
Trabalhadores do Brasil
O Congresso já está de férias. Pela Constituição, não poderia: descanso, só depois de aprovada a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Mas, com aquele ritmo de trabalho escravo imposto a Suas Excelências, não houve tempo sequer para exame do tema na Comissão de Orçamento. Mas como agir para buscar as bases, ouvir seus eleitores? 
Simples: em vez de entrar em férias, Senado e Câmara decidiram que não haverá sessões até 31 de julho. Se não há sessões, como comparecer às sessões? Há gente para quem tudo o que é complexo fica simples.
Bosque finito est
Que o papa Francisco, como dirigente espiritual da maioria da população brasileira, seja recebido com todas as honras e deferências, respeitando-se não apenas sua liderança religiosa e o posto supremo que ocupa, mas também suas inequívocas qualidades pessoais. Que o Governo se empenhe em oferecer-lhe as melhores condições para sua pregação; que os não católicos, mesmo os mais radicais, o tratem no mínimo com a hospitalidade devida aos visitantes. 
Mas a Igreja Católica poderia ter-nos poupado a bobagem de derrubar 334 árvores em Niterói, RJ, para facilitar a realização da missa campal durante a Jornada Mundial da Juventude. Árvores com cem anos de vida não se repõem de uma hora para outra; e mexer com árvores exige autorização da Secretaria Municipal de Ambiente, que não foi sequer solicitada. Se o papa souber, não vai gostar.
Deixa pra lá
O deputado Marcos Feliciano, do PSC paulista, quer que Dilma vete parte da lei que obriga o SUS a atender mulheres que sofreram estupro. Besteira dele: é preciso cuidar das vítimas de acordo com a orientação médica, e Feliciano não é médico. É melhor ignorá-lo: não o ajude a garimpar votos fundamentalistas.

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