quarta-feira, 6 de março de 2013

Ideologia ultrapassada, arcaica e a destruição de um país...,


Catorze anos de chavismo deixaram a economia da Venezuela em frangalhos


O petróleo é a base da economia do país, mas a estatal PDVSA está sucateada e produzindo metade do que o planejado para este ano (Foto: economia.com.ve)
Do site de VEJA
O caudilho Hugo Chávez lega ao sucessor uma economia dilacerada por sucateamento da indústria, deterioração fiscal, endividamento, inflação e corrupção
O legado de 14 anos de governo do presidente venezuelano Hugo Chávez, declarado morto na tarde desta terça-feira após uma longa batalha contra o câncer, será um fardo difícil de ser revertido – ao menos no campo econômico.
O caudilho iniciou sua gestão em fevereiro de 1999 e desde então levou a cabo um processo doloroso de estatização, sucateamento da indústria e descontrole de gastos públicos.
Ao longo de mais de uma década, a economia sobreviveu graças à receita proveniente do petróleo e ao setor de serviços. O consumo se manteve impulsionado, sobretudo, pelos programas assistencialistas – o que fez a inflação se manter acima de 20% durante todo o seu governo, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Excetuado o Haiti, a Venezuela tem o menor crescimento e a maior inflação da AL
Na avaliação do economista Moisés Naím, Chávez deixa o país em uma situação dramática. “Nunca um líder latino-americano perdeu tanto dinheiro, gastou tão mal os recursos e usou de maneira tão incorreta o poder que lhe foi dado”, disse Naím ao Wall Street Journal.
Chávez deixa um país politicamente dividido, dependente das importações – sobretudo dos Estados Unidos -, e com a menor média de crescimento per capita do Produto Interno Bruto (PIB) e maior inflação do que qualquer outro país da América Latina, exceto o Haiti, de acordo com um estudo feito pelo departamento de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Harvard.
Apesar de contar com as maiores reservas de petróleo do mundo, a participação da Venezuela no total produzido pelos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) caiu de 4,8% para 3% durante o governo Chávez.
O caudilho falhou em diversificar a economia venezuelana – ou melhor, nem ao menos tentou. O petróleo é, hoje, responsável por 50% das receitas do governo – e a fonte desses recursos é, quase que inteiramente, a estatal PDVSA.
“A PDVSA se tornou uma empresa solitária na Venezuela. E isso aconteceu porque o Estado se tornou o principal motor econômico, tirando o setor privado do jogo. E nada, nem na Venezuela, e menos ainda na PDVSA, é muito transparente”, afirma o economista Federico Barriga, da Economist Intelligence Unit (EIU).

Muito dependente de importações, a Venezuela desvalorizou em 32% sua moeda, o bolívar, na tentativa de combater a inflação e incentivar as exportações, que se tornaram mais baratas (Foto: Jorge Silva / Reuters)
Produção de petróleo é hoje a metade do que deveria ser
Em 2003, o governo venezuelano demitiu 40% dos funcionários da companhia após uma greve geral. Desde então, a PDVSA deixou de cumprir todas as suas metas de investimento e a produção estagnou. Hoje, o país produz menos de 3 milhões de barris por dia – número que representa a metade do que a empresa pretendia produzir quando traçou seu novo plano de investimentos, em 2007.
A estatal anunciou, em 2012, que produzirá 5,8 milhões de barris por dia em 2018.
Para isso, porém, terá de investir 206 bilhões de dólares nos próximos anos – missão considerada impossível por economistas, devido ao seu alto endividamento. A utilização de recursos provenientes do caixa da estatal para financiar, deliberadamente, projetos políticos era prática comum nos quatro mandatos de Chávez.
Gastança, política estatizante e inflação
A economia venezuelana tem um histórico de inflação alta, desde antes da entrada do caudilho no poder. Contudo, a gastança pública aliada a uma política expansionista e estatizante fez com que a alta dos preços atingisse níveis preocupantes.
A inflação anual venezuelana, segundo o FMI, fechou 2012 a 26,3% – número que poderia ser muito maior não fosse o controle de preços exercido por Caracas.
Trata-se do pior legado de Chávez, na avaliação de economistas.
“A inflação se mantém acima de 20% ao ano há seis anos consecutivos. Em 2012, por ser ano eleitoral, houve um controle de preços muito severo por parte do governo. Se considerarmos a desvalorização do bolívar, a tendência é que a alta dos preços ultrapasse facilmente a casa dos 30%, devido ao encarecimento dos preços dos importados. Por fim, esse cenário terá efeito recessivo na economia já a partir do segundo semestre de 2013 e há uma séria possibilidade de contração do PIB no médio prazo”, afirmou ao site de VEJA Pedro Palma, economista venezuelano que é PhD em Wharton, na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.
O endividamento do governo venezuelano subiu de 37% para 51% do PIB durante a era Chávez. Esse aumento não compromete a solidez fiscal do país no curto prazo, mas representa mais um desafio para o governante que assumir o poder na ausência do caudilho – seja oaliado Nicolás Maduro, ou Henrique Capriles, candidato da oposição que teve 45% dos votos nas últimas eleições.
Segundo Pedro Palma, a dívida pública externa oficial está em 107 bilhões de dólares. A ela somam-se outros compromissos do Estado, como a dívida da PDVSA com fornecedores e sócios e os débitos do governo com empresas expropriadas que estão em processo de arbitragem em Washington. No total, o endividamento chega a 140 bilhões de dólares, nas contas do economista.
Uma saída: livrar a petrolífera da mão pesada do Estado
Diante desse cenário pouco animador – e após as circunstâncias pouco transparentes que contornaram a morte de Hugo Chávez – os economistas ouvidos pelo site de VEJA não aguardam mudanças estruturais para o os próximos meses.
Acreditam que um possível governo de oposição possa tranquilizar os mercados – mas isso não significa que solucionará os problemas econômicos criados ao longo dos últimos 14 anos.
Para Federico Barriga, da EIU, uma virada econômica poderá começar a ocorrer se o novo governante souber como atrair investidores externos para a PDVSA – na intenção de livrá-la da mão pesada do Estado.
“Sempre vai haver interesse externo no setor petrolífero da Venezuela. Todos sabem que é um país difícil, mas Nigéria e Angola também são. E a Venezuela ainda tem as maiores reservas do mundo. Quem souber aproveitar o setor da forma que Chávez não soube poderá mudar as coisas”, diz.

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