terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Dilma e as críticas

O ano de 2012 foi rico em matéria de lições econômicas. Foi um ano que contrariou todas as previsões e induziu o governo federal a inventar várias estripulias contábeis para fechar as contas. A lei orçamentária fixara uma meta para o superávit primário de 3,1% do PIB (que é a sobra de caixa dos municípios, estados e União antes do pagamento dos juros da dívida), e o resultado ficou em apenas 2,4%.

Outros números “traiçoeiros” foram a inflação oficial, que ficou em 5,84% (a meta fixada pelo Banco Central era de 4,5%); o crescimento do PIB, de apenas 1% (a meta era de 4%); e o saldo da balança comercial (diferença entre as exportações e importações de mercadorias tangíveis), que foi muito magro, bem abaixo do que se projetava.

A repercussão negativa das manipulações na contabilidade pública, capitaneada pelo ministro Guido Mantega, foi enorme; muito maior do que o governo poderia ter imaginado. A revista The Economist fez duras críticas e chamou Mantega de “o ministro do jeitinho”, e o jornal Financial Times condenou de forma veemente o comportamento das autoridades.

No mercado interno, as manobras do governo já tinham recebido críticas e a repulsa do mercado, a ponto de um amigo dileto do governo, o ex-ministro Delfim Netto, ter publicado um artigo no jornal Valor Econômico com críticas duríssimas às artimanhas do governo. Delfim chegou a dizer que o governo do PT está promovendo relações incestuosas entre o Tesouro Nacional, o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica.

A presidente Dilma, que merece elogios por sua capacidade de examinar as críticas e reconhecer os erros, ficou assustada com o teor das críticas internas e, sobretudo, com a dureza das críticas internacionais. Certamente, ela não esperava que as manobras na contabilidade para maquiar o saldo do superávit pudessem ter tanta repercussão. Algumas lições do episódio são importantes.

A primeira é que a globalização e a inserção do país no mercado internacional diminuem a margem de manobra dos governos e obrigam as autoridades a levar em consideração a repercussão dos agentes nacionais e estrangeiros. A revista The Economist anunciou que não mais publicará estatísticas econômicas da Argentina e da Venezuela, porque os governos desses dois países estão manipulando os indicadores e mentindo descaradamente. Trata-se de um exemplo interessante e alguém pode achar que isso não importa muito, mas importa, sim! Para começar, os bancos estrangeiros passam a negar empréstimos a esses países, pois, com informações falsas, os negócios são feitos no escuro, coisa que os banqueiros odeiam.

Outra lição é que tentar encobrir maus resultados manipulando a contabilidade é como tentar curar a febre mudando a regulagem do termômetro. Esse tipo de conduta incute desconfiança nos mercados e contribui para desestimular os investidores. E, num país democrático, com imprensa livre, é impossível esconder as traquinagens do governo e o mau comportamento dos governantes.

A terceira lição a aprender é que não basta redução dos juros, liberação de financiamentos e desoneração tributária para estimular os investimentos privados nacionais e estrangeiros. O governo fez tudo isso, mas, ao ser intervencionista demais e gerar desconfiança, ajudou o investimento privado a ser baixo.

Política econômica é como receita de bolo: basta um ingrediente sair errado para que o todo seja perdido.

*José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

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