quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Governo do faz de conta ou Dilma no país das maravilhas...,


A presidente Dilma Rousseff fará hoje uma pajelança para anunciar uma pacote de concessões para duplicar 6 mil quilômetros de estradas, um dos principais gargalos da infraestrutura no país. Huuummm… Eu espero que Elio Gaspari, desta vez, ligue o desconfiômetro. Por que digo isso?
No dia 9 de outubro de 2007, a então chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, lançou o seu “modelo de privatização” de estradas federais. Gaspari ficou tão encantando que mandou brasa (em vermelho) no dia 14 daquele mês. Prestem bem atenção!
Na tarde de terça-feira concluiu-se no salão da Bolsa de São Paulo um bonito episódio de competência administrativa e de triunfo das regras do capitalismo sobre os interesses da privataria e contubérnios incestuosos de burocratas. Depois de dez anos de idas e vindas, o governo federal leiloou as concessões de sete estradas (2,6 mil km). Para se ter uma medida do tamanho do êxito, um percurso que custaria R$ 10 de acordo com as planilhas dos anos 90, saiu por R$ 2,70. No ano que vem, quando a empresa espanhola OHL começar a cobrar pedágio na Fernão Dias, que liga Belo Horizonte a São Paulo, cada 100 quilômetros rodados custarão R$ 1,42. Se o cidadão quiser viajar em direção ao passado, tomará a Dutra, pagando R$ 7,58 pelos mesmos 100 quilômetros. Caso vá para Santos, serão R$ 13,10. Não haverá no mundo disparidade semelhante.Se essa não foi a maior demonstração de competência do governo de Nosso Guia, certamente será lembrada como uma das maiores. Sua história mostra que o Estado brasileiro tem meios para defender a patuléia, desde que esteja interessado nisso. Mostra também que se deve tomar enorme cuidado com o discurso da modernidade de um bom pedaço do empresariado. Nele, não se vende gato por lebre. É gato por gato mesmo.

Voltei
Viram só? Não se havia jogado um tambor de piche ainda, mas ele viu ali o exemplo da “competência administrativa”.  O resto era privataria tucana, né? Não se esqueçam dessas suas palavras. Daqui a pouco, vem a realidade. Eu tinha um juízo um pouco diferente, sabem? Contestei o que ele escreveu, no mesmo dia, assim (em azul):
O PT e a ministra Dilma Rousseff não precisam fazer campanha política – quiçá eleitoral – com a privatização das estradas federais. Elio Gaspari faz por eles com muito mais competência e estilo, pondo a serviço dos companheiros o seu estoque de metáforas. Como sabemos, Gaspari resume a política a um conflito entre o andar de cima e o andar de baixo. É assim um Romeu Chap Chap da ideologia. Andou incomodando os petistas aqui e ali, é verdade, mas só o fez porque julgou que, no andar de baixo, estavam fazendo a política do andar de cima. Escreve na Folha e no Globo deste domingo um texto deplorável porque não vai além da propaganda. E, pior, desinforma o leitor.(…)Gaspari sabe, mas finge ignorar (prefere falar, como ele costuma dizer, à choldra que também ignora) que o modelo de privatização das estradas paulistas difere do modelo federal. Em São Paulo, elas tiveram de pagar luvas ao estado. As federais saíram de graça. No preço do pedágio está embutido esse pagamento inicial.O que é um preço abusivo de pedágio? Trafeguei neste sábado pelas exemplares Bandeirantes, Anhangüera, Washington Luiz e SP-225, duplicada e talvez a estrada mais bem sinalizada do Brasil. Mesmo num sábado pós-feriado, estavam cheias. É caro andar nessas rodovias? Eu, por exemplo, não acho: avalio o que elas me oferecem em segurança; levo em conta as obras de duplicação – ou o novo trecho da Bandeirantes; considero a infraestrutura que está à disposição dos usuários.No ano que vem, informa Gaspari, cada 100 quilômetros da Fernão Dias custará R$ 1,42. É verdade. Para o usuário andar no buraco, interrompido, às vezes, pelo asfalto. Quem disse que o modelo de Dilma já deu certo? Há, quando muito, uma expectativa gerada pela propaganda e pelos marqueteiros de ocasião. O consórcio vencedor vai tocar as obras de que a rodovia precisa? Em que velocidade? Não me lembro de nada parecido. Demoniza-se um modelo que, efetivamente, deu certo e se exaltam as glórias de uma escolha cujos resultados podem demorar ainda uma década. Como de hábito nos tempos de Lula, setores da imprensa acabam sendo os maiores aliados da empulhação e da vigarice.Isto mesmo: declarar que o modelo de concessão das federais é superior àquele das concessões das rodovias paulistas é empulhação eleitoreira e vigarice intelectual. E a razão é simples: ninguém conhece o modelo federal na prática. Ademais, ainda que o leilão de Dilma venha a se mostrar uma revolução, as circunstâncias das concessões hoje são muito diferentes daquelas do passado.Ora, bastava a Lula declarar bem-sucedida a sua escolha – ainda que ele não saiba no que vai dar – e pronto. Não! Ele e seu partido resolveram se dedicar a seu esporte predileto: demonizar quem veio antes. E, como se vê, com a ajuda de uma parte da imprensa.
De volta para o futuroEu sei que esse procedimento parece antipático. Mas, se a gente não lembra do que diz ao leitor, como é que ficam as coisas? Estaremos condenados a um presente eterno, né?  Sigamos.
Na Folha de hoje, Dimmi Amora resume o que aconteceu com o fabuloso programa de Dilma (no arquivo do blog, vocês encontram vários textos meus a respeito). Vamos ver quem, naquele longínquo 14 de outubro de 2007, tinha mais senso de realidade e quem fazia torcida.
(…)
O último grande pacote de concessões de rodovias foi licitado em 2007, com contratos assinados em 2008 que previam investimentos de R$ 945 milhões (R$ 1,2 bilhão em valores atualizados) em 270 km de obras de duplicação e construção de estradas. Essas obras deveriam estar concluídas até o início de 2013, mas nenhuma ficará pronta no prazo. Até fevereiro, apenas pouco mais de R$ 100 milhões haviam sido gastos nos projetos.
Entre as obras, está a duplicação do trecho da rodovia Régis Bittencourt (SP-PR) que passa pela serra do Cafezal. Dos cerca de 30 quilômetros previstos, pouco mais de 6 estão prontos e a previsão agora é que a obra só esteja concluída em 2015. Do total de investimentos programados, só foram executados cerca de 17%. Dos 8 grandes projetos, 5 nem começaram, como é o caso do contorno de Florianópolis na BR-101/SC.
(…)
Há avaliações diferentes para o motivo do atraso. No mercado, a informação é que as vencedoras dos leilões de 2007 ofereceram pedágios muito baixos e não têm dinheiro para realizar as obras. Vencedoras e governo alegam que os problemas foram licitações com projetos mal elaborados, que geraram mudanças e problemas com o licenciamento ambiental.
Seja com quem estiver a razão, o governo não apresentou uma solução para os entraves antes de lançar hoje o pacote batizado provisoriamente de Programa de Investimentos em Infraestrutura.
O plano, que pode atingir, em cinco anos, entre R$ 120 bilhões e R$ 130 bilhões, prevê a concessão de quase 8.000 quilômetros de rodovias — 5.700 a serem duplicados — e mais de 8.000 quilômetros de ferrovias.
Nenhuma das estradas previstas no plano tem projeto executivo pronto, e o governo manterá o menor pedágio para escolher o vencedor. A Agência Nacional de Transportes Terrestres informou que aumentou o prazo inicial de obras em suas novas concessões.
(…)
Encerro
Eu não sou pessimista. Sou apenas realista. O critério continua a ser o do pedágio mais baixo, e se dispensam os projetos executivos. Então eu prevejo, sem chance de errar: tudo continuará no papel. Dilma movimenta os tanques, passa os próximos dois anos falando dos tais R$ 120 bilhões como se já fosse realidade, e tudo vai ficando como está. Na campanha de 2014, ela soma mais 6 mil aos 6 mil não realizados —  exemplo do que fez com o Minha Casa Minha Vida. Lula prometeu um milhão de casas. Ela prometeu mais dois milhões. Dos três milhões, não se atingiu ainda a marca de 500 mil…
Se tiverem curiosidade, procurem a expressão “Serra do Cafezal” no arquivo do blog e verão desde quando trato desse assunto. Assim como a dita “privataria” nunca passou de um fantasia ideológica, o dito modelo alternativo petista nunca existiu. A propósito: há trechos de estradas federais em que os pedágios estão sendo cobrados, e as obras não estão sendo feitas.
É o modelo alternativo a essa coisa terrível que há em São Paulo, estado em que se costuma cobrar (“é caro!”, grita o PT) pelo serviço que se oferece. Os petistas são mais inteligentes: eles cobram bem baratinho por aquilo que não entregam.
E isso não é chamado de “privataria”, claro! Faz sentido! O nome disso é pilantragem!
Que Dilma tenha mais sucesso desta vez! Quando essas obras estavam subordinadas à sua pasta, não aconteceu, como se vê, quase nada. O mesmo nada dos seus dois primeiros anos de governo. “Ah, mas 62% acham seu governo ótimo ou bom!” Eu sei, ué! Se a voz do povo fosse a voz de Deus, é possível que cobra tivesse asas… O governo é popular e legítimo. Só que é ruim. Ponto.
Por Reinaldo Azevedo


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