Márcio Thomaz Bastos. Nunca antes na história das democracias houve alguém como ele. É um ser único no mundo democrático
Olhem aqui: todos
têm direito a um advogado. É fundamento do estado de direito. Ninguém é obrigado
a produzir provas contra si mesmo ou a se autoincriminar. É outro fundamento do
estado de direito. Advogados criminalistas não devem atender apenas freirinhas
do convento das carmelitas descalças e probos professores de educação moral e
civismo. Muito provavelmente eles não precisem de… advogados criminalistas. Isso
também é um apanágio do estado de direito.
Márcio Thomaz Bastos
é, sem dúvida, um dos maiores criminalistas do país. Fez fama e grande fortuna
nesse ramo. Que o advogado provavelmente mais rico do país atue justamente na
área criminal, eis um emblema da vida pública brasileira, não é? Ao mesmo tempo,
Bastos sabe cuidar de sua reputação politicamente correta. O militante
lulo-petista falou, por exemplo, como “amicus curiae” no STF em defesa das cotas
raciais. Curiosamente, pronunciava-se em nome da Associação dos Advogados
Afrodescendentes. Adiante.
Não! Não serei eu
aqui a julgar doutor Márcio em razão da qualidade de seus clientes. Isso não faz
sentido. Seria o mesmo que dizer que o estado se torna copartícipe de crime
quando nomeia, por força de lei, um defensor para o pior dos homicidas. O ponto
definitivamente não é esse.
O problema de Márcio
Thomaz Bastos não é sua expertise de criminalista, mas a sua inserção na vida
política. Eu duvido que exista em qualquer outra democracia do mundo alguém como
ele. É militante partidário; é um dos principais conselheiros e interlocutores
de Lula (dentro e fora do poder formal) — o mesmo Lula que tenta, a todo custo,
manipular a CPI; foi ministro da Justiça; guarda os arcanos da República e do
PT…
Essa condição lhe
rendeu hoje, durante a CPI do Cachoeira, muitos elogios, salamaleques e rapapés.
Ora, foi durante a sua gestão no Ministério da Justiça, com a Polícia Federal
sob o seu comando, que se estabeleceu no país a República do Grampo. Foi sob o
seu comando que setores da PF decidiram brincar de luta de classes, com algumas
operações espetaculosas para demonstrar que “os ricos também choram”. Sob os
seus auspícios, prisões, digamos, midiáticas ganharam o noticiário. O preso
poderia até ser solto logo depois, mas a notícia já estava garantida. E se criou
então um mito: acabou a impunidade, acabou a festa!
Acabou? Como
criminalista no Ministério da Justiça, foi dele a tese de que mensalão era mero
caixa dois de campanha. O esquema Delta, diga-se, tem tudo para ser um mensalão
de dimensões pantagruélicas. Não venham me dizer que devemos encarar como coisa
corriqueira o fato de Dr. Márcio ora estar de um lado do balcão, tentando coibir
o crime, ora estar do outro, oferecendo seus préstimos profissionais a
criminosos. Não há nada de errado numa coisa. Não há nada de errado na outra.
Uma e outra são parte do jogo democrático. Quando as duas condições, no entanto,
se juntam num homem só, há algo de errado é na República.
Consta que a defesa
de Cachoeira custará R$ 15 milhões ao contraventor. 99,9% dos criminalistas
brasileiros — na verdade, dos advogados — não ambicionam receber isso ao longo
de, sei lá, 10 ou 15 anos; uma vida, quem sabe? Por isso, claro!, parabéns ao
doutor Márcio. Mas não o parabenizo, não!, por ser, a um só tempo, um homem que
domina segredos de estado e do principal partido do poder e também o advogado de
um criminoso que tem relações íntimas com essas duas instâncias.
Se os parlamentares
quiserem elogiar o criminalista, fiquem à vontade. Se quiserem elogiar o
ex-ministro da Justiça, vá lá. As duas coisas no mesmo discurso? Aí não! Isso é
mais sintoma de um problema do que motivo para regozijo. De resto, dado o
perfil, não será doutor Bastos a estimular Cachoeira a dizer tudo o que sabe
justamente contra o grupo de poder e a corrente ideológica que fazem do advogado
a mais fina flor do pensamento dito ”progressista e de esquerda” do Brasil.
Vejam que coisa:
Márcio Thomaz Bastos detém hoje segredos de estado (foi ministro de uma das
pastas mais importantes), segredo do PT e segredos do Cachoeira. Tudo isso e,
consta, mais R$ 15 milhões só nessa causa. O Brasil que ele sempre disse que
queria mudar tem sido muito generoso com ele
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