quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Aeroportos devem ser só o começo


ALBERTO TAMER - O Estado de S.Paulo
Saiu o leilão dos três mais importantes aeroportos do Brasil. Um sucesso estrondoso. Nada menos que R$ 24,5 bilhões, com ágio de até 673%! É o setor privado respondendo ao governo, dizendo que está disposto e investir sim, desde que haja projetos. Quer mais. Falta apenas apresentá-los e oferecer condições de retorno.
Espera-se que, agora, a privatização perca os ranços de ideologia ultrapassada, que não se fale mais de "soberania nacional" quando o governo atrai investidores internos e externos para reconstruir uma infraestrutura para a qual não tem recursos próprios. Estimativa do governo no Plano Nacional de Logística e Transporte reconhece que serão necessários de US$ 400 bilhões a US$ 500 bilhões, o mesmo valor estimado pelo Conselho Nacional de Transportes.
Bom para todos. Na privatização de Congonhas, Cumbica e Viracopos - falta o do Rio de Janeiro, com urgência - todos ganham, ninguém perde. Nem os partidos, os segmentos políticos que ainda acreditavam que estrangeiros que constroem aeroportos ou estradas poderiam pegar um pedaço deles e levar para casa.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem, com muita propriedade, que "a privatização não é uma questão ideológica, é uma questão de você aumentar a capacidade de gerenciar". Poderia ter acrescentado, e investir os enormes recursos que o Estado simplesmente não tem. "Dilma acaba com a demonização da palavra 'privatização'", afirma o ex-presidente.
Na verdade, tudo se iniciou no seu governo, que começou e realizou de fato o processo de desestatização da economia nacional. Vendeu empresas estatais esclerosadas que só não faliam porque o governo cobria prejuízos, e atraiu os investidores nacionais e externos.
Uma herança trágica do governo militar em que foram criadas mais de 90 estatais sob o sofismo de defesa da "soberania nacional".
O exemplo das privatizações. Mas vai dar certo? Esses investidores privados não vão acabar desistindo e deixando tudo de novo nas mãos do governo? A resposta está no êxito, pode dizer também estrondoso, das privatizações feitas por Fernando Henrique. Os leitores mais jovens talvez não se lembrem, mas certamente irão se surpreender.
Em 1997 foi a privatização da Vale, hoje uma das maiores empresas internacionais. Um ano depois, o histórico leilão do sistema Telebrás, que, como lembra o colega Cristiano Romero, do Valor, tirou o País da idade das trevas nas telecomunicações.
Outro sucesso das privatizações no governo do ex-presidente foi a Embraer, então estagnada nas mãos do Estado e hoje uma empresa de porte internacional que ganha concorrências externas e exporta aviões até para os Estados Unidos. Outro marco de imenso simbolismo histórico foi a ousadia de Fernando Henrique de abrir o capital da Petrobrás, em 2001. A consequência foi o fim, de fato, do monopólio estatal da Petrobrás. A empresa era o símbolo do nacionalismo, mas não investia em pesquisa, produção e jogou o Brasil na terrível dependência dos anos dos choques do petróleo.
Outro setor importantíssimo privatizado no governo Fernando Henrique foi o de energia. Venderam-se quase todas as distribuidoras estaduais e federais. Era também uma espécie de idade das trevas. Hoje o setor privado está aí construindo usinas, grandes linhas de transmissão e distribuição. Seguem-se, na primeira metade de 1990, as privatizações dos setores petroquímico e siderúrgico, que também saíram do atraso, criando-se as grandes empresas privadas que estão aí. Há ainda os portos, e muito mais.
A grande dúvida. Nesta semana, ainda perplexo com o êxito do leilão dos aeroportos, o mercado levantava algumas dúvidas. Será que é mesmo o início de novo processo histórico de desestatização e privatização? O governo não teria decidido abrir os aeroportos à iniciativa privada só por causa da urgência de terminar as obras para a Copa e a Olimpíada?

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