terça-feira, 27 de dezembro de 2011

“Nowhere Man” – o homem de lugar nenhum


Onde está Pimentel?

Por essa, Papai Noel não esperava. Trouxe de presente para Fernando Pimentel sua permanência no Ministério do Desenvolvimento, mas não consegue entregar o embrulho ao ministro embrulhado.
Pimentel sumiu. Da última vez em que foi procurado em seu gabinete, tinha ido a Genebra para a reunião da OMC. Mas não foi visto na sessão de abertura do evento, nem na reunião dos países emergentes sobre comércio.
Evidentemente, um homem capaz de faturar R$ 2 milhões em dois anos como consultor não iria passear na Suíça com o dinheiro do contribuinte.
Mas que ele estava lá, estava, porque foi visto por jornalistas no aeroporto de Genebra. Ou talvez fosse um sósia, porque falou em inglês com repórteres brasileiros – “no more”, para dizer que não ia mais falar.
Devia mesmo ser um sósia, porque ministro dizendo “nada a declarar” à imprensa não existe mais, desde o fim da ditadura militar. E Pimentel é ministro do governo popular, ex-guerrilheiro da esquerda.
Onde estaria então o verdadeiro Fernando Pimentel? Muitos acham que ele deveria estar no Congresso Nacional, dando as explicações que o país espera. Mas o ministro também não apareceu por lá.
Tentando reconstituir o caminho percorrido por Pimentel, repórteres de “O Globo” foram informados por industriais mineiros, amigos do ministro, de que ele andara fazendo palestras no interior do estado para sobreviver.
(E deve ter sobrevivido, porque o cachê era ótimo).
Mas a pista era falsa. Os repórteres percorreram todas as cidades do tal roteiro – e Pimentel também não havia estado em nenhuma delas.
A preocupação com o seu paradeiro aumentou com as notícias – estarrecedoras – sobre uma política protecionista retrógrada aplicada pelo Ministério do Desenvolvimento.
Ou seja: se o Ministério parou no tempo, e não foi por falta de combustível, o ministro também não deve estar na cabine de comando.
Fernando Pimentel se tornou um autêntico “Nowhere Man” – o homem de lugar nenhum, imaginado por John Lennon.
Mas Papai Noel há de encontrá-lo. Nem que seja no Ministério da Pesca.

A vida privada de Pimentel

Por Guilherme Fiúza
Dilma Rousseff afirmou que “o governo acha estranho que o ministro (Pimentel) preste satisfações ao Congresso da sua vida privada”.
Já é um avanço. Pelo menos, o governo Dilma começou a estranhar alguma coisa. Ninguém aguentava mais esse clima de normalidade.
Realmente, não dá para entender esse interesse do Congresso Nacional pela vida privada de Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-consultor de empresas privadas.
Como os parlamentares de oposição não respeitam a privacidade do ministro, cumpre fazer um esclarecimento: a vida privada de Fernando Pimentel é muito mais abrangente do que imaginam os nobres deputados e senadores.
Para que não pairem mais dúvidas sobre o assunto, e para que cessem de uma vez por todas essas convocações muito estranhas, vamos deixar claro o perímetro da vida privada de Pimentel.
Ao contrário da maioria das pessoas, Fernando Pimentel não é um indivíduo não-governamental. Seu universo particular em expansão alcança zonas do poder público – especialmente em Belo Horizonte e em Brasília.
Foi por isso que em 2009 e 2010, quando estava sem mandato, Pimentel deu um show como consultor econômico – faturando de cara R$ 2 milhões e deixando de queixo caído a concorrência muito mais experiente do que ele.
Os consultores normais, PhDs e especialistas em geral podem ser muito bons, mas são privados demais.
No período em que prestou suas consultorias, Pimentel tinha grande influência na Prefeitura de BH e no partido do presidente da República – que inclusive o escolheu na época para coordenar a campanha sucessória.
O que o Congresso não entende é que a vida pessoal de Pimentel contém sua invejável amizade com Dilma Rousseff (que fez dele um consultor ministeriável). Também estão contidos na sua privacidade seus amigos de fé no governo da capital mineira, e seus irmãos camaradas na iniciativa privada – que adorariam vê-lo governador em 2014, porque o acham um cara legal.
Feita essa demarcação territorial da imensa vida privada de Fernando Pimentel, espera-se que não perturbem mais a presidente Dilma com pedidos de explicação estranhos.
E vamos em frente, porque o Brasil, pelo visto, não estranha mais nada.

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