terça-feira, 26 de julho de 2011

Bofetada premiada


Um ano depois da infame bofetada no rosto da jornalista Márcia Pache, Kirrarinha vira presidente do DEM de Pontes e Lacerda

Bruno Abbud
Em junho de 2010, o ex-vereador Lourivaldo Rodrigues de Morais, vulgo Kirrarinha, entrou para a história nacional da infâmia a bordo do vídeo que registra a violenta bofetada desferida no rosto da jornalista  Márcia Pache, da TV Centro Oeste, de Mato Grosso. Nesta terça-feira, 19 de julho, o autor da agressão inverossímil ocorrida em Pontes e Lacerda foi eleito presidente do diretório municipal do DEM. Dos 714 filiados ao partido, 580 votaram na abjeção.
Nesta quinta-feira, Kirrarinha enfim se dispôs a tratar do assunto por telefone. Durante a conversa com o site de VEJA, reproduzida integralmente no áudio abaixo, o bandido em liberdade procura defender-se com uma versão tão sórdida quanto o ataque a uma mulher indefesa: ele alega que o vídeo não passa de uma montagem produzida por adversários políticos. “Não houve agressão nenhuma”, diz aos 4 minutos e 48 segundos. Aos 5 minutos e 30 segundos, finge surpreender-se com a verdade filmada: “Tapa? Eu só coloquei a mão para tirá-la da frente”.
Em 24 de setembro de 2010, Kirrarinha foi punido com a cassação do mandato pela Câmara dos Vereadores de Pontes e Lacerda. Em 24 de fevereiro, foi condenado pela Justiça a dormir em casa durante um ano. Em 7 de setembro de 2010, o deputado Rodrigo Maia, então presidente do DEM, prometeu que o partido consumaria a expulsão de Kirrarinha ainda naquele mês. Cinco meses depois, reprisou a promessa. A expulsão nunca foi consumada. Kirrarinha não só continua filiado ao partido como acaba de virar dirigente.
Márcia Pache continua amedrontada. Ela conta que, dias atrás, um carro preto estacionou na frente da sua casa e abaixou os vidros. Do interior do veículo, um homem sacou um revólver e disparou na direção do terreno baldio vizinho. “Querem me assustar”, diz a jornalista, cuja insegurança aumenta quando cruza com Kirrarinha nas ruas da cidade de 42 mil habitantes. “Ele sempre me encara”, diz Márcia. “Estou pensando em ir embora daqui. Sou obrigada a aguentar tanto deboche que não levo meus filhos nem na praça”.
Segundo Márcia, a agressão se converteu em motivo de zombaria. “Eu sou a mulher do tapa na cara”, diz. “Meu filho de 12 anos fica revoltado. Na escola, as notas dele caíram, hoje ele é uma pessoa fechada, não conversa”. O menino tomou as dores da mãe. “Ele vive dizendo: ‘Se eu fosse mais velho, isso tudo não tinha acontecido com a senhora’”. Kirrarinha pretende candidatar-se a prefeito. É o Brasil.
Do blog do Augusto Nunes

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