sábado, 18 de junho de 2011

Amarelou, melou, se cagou...,


Mulher de coragem é esta aí:

"Dilma pisa na bola"
Juremir Machado da Silva
Todo mundo, cedo ou tarde, pisa na bola. Dilma Rousseff pisou cedo. Não falo da escolha de Antônio Palocci para a Casa Civil. Nem do fato que ele estava mais interessado em apartamento. Também não falo da sua escolha da truculenta Ideli Salvatti para a função de negociadora do governo. Algo como colocar um elefante para atender a uma loja de cristais. Com Dilma, Ideli e Gleisi, inauguramos a República das Sargentonas. Não é isso. Refiro-me à recusa da presidente em receber a iraniana Shirin Ebadi, prêmio Nobel da Paz de 2003, que esteve em Porto Alegre nessa segunda-feira palestrando no ciclo Fronteiras do Pensamento. Shirin tem enfrentado o machismo religioso do islamismo e desafiado os aiatolás e o ditador de plantão no Irã, o obtuso Ahmadinejad.
Pisou mais uma vez na bola ao dar uma desculpa esfarrapada para a sua atitude. Como presidente, só receberia chefes de Estado e de governo. Conversa fiada. Recebeu a Shakira e o pessoal do U2. Presidente recebe qualquer um. Tem tempo para vestir boné disso e daquilo. Trata-se de uma função simbólica. Cada gesto sinaliza isto ou aquilo. Dilma fez de conta que estava adotando uma política diferente daquela praticada por seu tutor, Lula, em relação ao Irã. Deu discurso bonito fora de casa. Foi fogo de palha. Já amarelou. O estilo Dilma de governar começou a encolher. Na primeira encrespada, chamou Lula para apagar o fogo e botar ordem na casa. A mulher famosa por falar grosso acabou com um fio de voz. Ficou bem feio.
A visita de Shirin Ebadi, mulher corajosa, defensora dos direitos humanos, crítica implacável de práticas como o apedrejamento de adúlteras teria de ser saudada com fogos de artifício. Ela deveria ser recebida com tapete vermelho no Planalto. Melou. Ebadi não subirá a rampa. Nessa, quem desce é Dilma. Shirin tem dito que os direitos humanos não param de regredir no Irã. Os fundamentalistas atacaram a sua casa e picharam insultos. Pelo jeito, a moça ainda tem ilusões. “Se ela defende os direitos humanos, me receberá”, declarou, certa de que Dilma Rousseff não pipocaria. Em bom português, deu com os burros na água. Razões de Estado levaram Dilma a pisotear as razões do humanismo. Assim vai a coisa. O pragmatismo fala alto.
Shirin Ebadi teria de contentar-se em conversar com Marco Aurélio Garcia, assessor da Presidência para Assuntos Internacionais. Ele poderia tentar convencê-la de que Ahmadinejad é um bom sujeito. Dilma Rousseff vai ficar devendo essa. Cada presidente tem direito a certo número de pisadas na bola. No ritmo em que a coisa vai, Lula já está fazendo embaixadinhas para voltar em 2014. Eu ainda acredito que a presidente vá virar o jogo. Aposto muito mais nela do que no Falcão. Só que estou cansado de ver gol contra. Quero o Inter e Dilma jogando no ataque e não perdendo chances claras de marcar posição. Entre nós, nessa, Dilma nos deixou de cara no chão. Vai ver que entendi tudo errado. Certamente é intriga da mídia. Ou a cinza vulcânica é que atrapalhou.

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