Ladroagem faz juiz condenar ex-governador à cadeia — mas, como sempre ocorre, ele fica livre, leve e solto
O ex-governador Neudo Campos: condenado a 16 anos de cadeia por participar do esquema dos "gafanhotos"
Amigos, de vez em quando a Justiça nos proporciona boas surpresas. Hoje veio uma: vocês se lembra do chamado esquema dos “gafanhotos” em Roraima? Vai ver que não, faz tanto tempo — 8 anos, já.
Mas era o seguinte: um grupo de figurões do governo, da Assembleia Legislativa e até do Tribunal de Contas do Estado inventou de assaltar os cofres públicos por meio da nomeação de funcionários fantasmas, pessoas simples que nada tinham a ver com a história e assinaram papéis em branco — que se tornaram procurações para que os espertalhões do esquema recebessem salários em seu lugar.
Com essa brincadeira, a Polícia Federal calculou na época que sumiram 270 milhões de reais de duas secretarias do Estado. Deputados envolvidos no esquema embolsavam mais de 200 mil reais por mês.
O ex-governador Neudo Campos (na época do PPB, hoje PP) seria um dos cabeças da roubalheira.
Relembro tudo isso para celebrar o fato de que o ex-governador foi hoje condenado a 16 anos de cadeia por peculato e formação de quadrilha pelo juiz juiz Helder Girão Barreto, da 1ª Vara Federal em Boa Vista.
A polícia prende, e a Justiça solta
Eu gostaria que, nessas horas, as coisas acontecessem como em filme americano: o camarada já sai do tribunal algemado, entra num camburão e o passo seguinte é colocar o pijama laranja de presidiário.
Mas, como estamos no Brasil, o ex-governador, cuja condenação já chega tardíssimo — ele teria se envolvido na maracutaia entre 1995 e 2003, quando exerceu seus dois mandatos consecutivos –, naturalmente anunciou que vai recorrer ao Tribunal de Justiça de Roraima.
Enquanto isso, como nossas leis são um afago para os poderosos, permanece em liberdade. O recurso pode levar anos a ser julgado e, mesmo mantida a sentença, Campos ainda pode apelar para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Conforme o caso, ainda caberia recurso ao Supremo Tribunal Federal.
Hoje com 64 anos, é possível que o ex-governador morra de velho sem passar um dia sequer no xilindró.
Torço para que o Congresso termine logo de aprovar o novo Código de Processo Penal, que diminui a saraivada de recursos a que condenados têm direito, de tal forma que a situação já se tornou um ditado popular: a polícia prende, mas a Justiça solta.
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