sábado, 4 de dezembro de 2010

Tropa de Elite 3

Guilherme Fiúza

A tal “guerra do Rio” parece um grande filme B. Tudo nela é precário e mal-acabado.
Dos atentados nas ruas às reações das autoridades, nada é o que parece ser. E o noticiário costura a coisa toda produzindo a antológica novela mexicana do Capitão Nascimento.
Mocinhos e bandidos revezam-se nas trapalhadas. A ofensiva do crime, como é a tradição carioca, se dá através de um arrastão de pés-rapados ensaiando maldades desconexas.
Uma tosca epidemia de garrafas pet cheias de gasolina nas mãos de moleques imberbes – como aquele que, alguns anos atrás, fugiu apavorado quando a juíza Denise Frossard gritou com ele no meio da rua. Essa é a ponta-de-lança do “crime organizado”.
Uma horda de traficantes indolentes, chateados com a perda de algumas bocas de fumo, simulam uma escalada terrorista – que mataria a al-Qaeda de vergonha. Espalham boatos arrepiantes, prometem um Sábado Negro – que amanhece ensolarado e com as praias lotadas.
O pessoal só vai embora da praia para não perder a guerra na TV.
A polícia, mais antiga e leal sócia do tráfico, cumpre como pode a missão heróica  de um secretário de segurança obstinado – forte candidato a Don Quixote. A população aplaude a bravura da ocupação dos morros, enquanto passa a ser barbarizada no asfalto.
Na bagunça de causas e conseqüências trôpegas, a promiscuidade entre o bem e o mal está salva. Nessa, ninguém toca.
Como sempre, para ilustrar a inconsistência e a balela das ações públicas, nada melhor do que um discurso do ministro Nelson Jobim.
A formidável indústria marginal de drogas e armas baseada no Rio de Janeiro é um dos grandes flagelos nacionais. Prospera à base de um mercado economicamente poderoso e altos teores de corrupção do Estado. Um problema que precisará de décadas para ser confrontado – numa hipótese otimista.
Mas o direito a esse otimismo dependeria de medidas federais contundentes, desde reformas institucionais das forças de segurança até políticas de controle da natalidade (tema proibido no Brasil).
É aí que surge, nesse “Tropa de Elite” de camelô, a figura infalível de Nelson Jobim – o explicador de tragédias, o mago do caos aéreo, o providencial. Jobim, o homem de Lula (e pelo visto de Dilma) para a guerra do Rio, declarou:
“Cabe ao governo estadual definir as áreas estratégicas e receber o apoio que julgar necessário. E depois cabe à Polícia Federal e etc fazer as definições táticas. Fica claro que estamos numa mudança de paradigma”.
Ficou claro? Teremos definições táticas a cargo da Polícia Federal e etc. Não se sabe bem qual o poder de fogo do etc, mas deve ser grande.
E o principal: no meio de uma grave crise de segurança, o ministro da Defesa assegura que estamos mudando o paradigma. Os criminosos devem estar apavorados com essa perspectiva.
Não poderia haver texto mais perfeito para esse filme B. Ajeite-se na poltrona, escolha o seu paradigma no controle remoto e divirta-se. A tragicomédia vai continuar.

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