domingo, 16 de maio de 2010

NA LÍNGUA DE DOSTOIEVSKI
Reinaldo Azevedo

Vou começar pela aritmética. Segundo Lula, numa escala de 0 a 10, a chance de ele conseguir um acordo do Irã com o sexteto liderado pelos Estados Unidos é de 9,99%. A matemática do presidente é tão boa quanto o catolicismo de Dilma: 9,99% de 10 é 0,99 — assim, numa escala de 0 a 10, seria inferir a um… Generoso, o presidente russo acha que as chances de Lula são de 30%…

O erro de matemática de Lula é o de menos. A viagem deixa claro o que pode a arrogância quando se soma à ignorância. O presidente é notavelmente inteligente, já escrevi aqui tantas vezes. Mas é preguiçoso. Detesta estudar. Aprende tudo de ouvido, como os índios primitivos. Se vai além do que aprendeu com os morubixabas do Itamaraty, mete os pés pelas mãos e exagera na besteira.

Criticar, para Medvedev, a invasão do Afeganistão pela Rússia (na verdade, foi a extinta URSS que ocupou o país) é tocar numa trauma que tem desdobramentos ainda na Rússia contemporânea, herdeira, no que diz respeito às ambições imperiais, do antigo gigante comunista. Lembre-se, à margem, que Osama Bin Laden nasce ali: lutando contra a invasão soviética, com financiamento do Ocidente.

O Afeganistão só entrou no discurso de Lula porque ele aproveitou a entrevista coletiva, vejam que coisa!, para resolver todos os problemas relacionados ao terrorismo islâmico. Não é que ele tenha “desviado” o assunto do Oriente Médio para o Afeganistão. Lula tem certeza de que o Afeganistão faz parte do… Oriente Médio! Deve achar também que é um país árabe… Medvedev, que enfrenta o terrorismo jihadista que hoje prospera no Afeganistão e no Paquistão — e que arma o terrorismo checheno — deve ter pensado: “Mas que diabos está a falar este maluco?” Isso pensado na língua em que Dostoievski escreveu O Idiota (antes da cura) deve ser uma lindeza.

E Lula, a gente vê, tem a receita para pacificar o Afeganistão: a Embrapa! É… A empresa poderia se dedicar ao desenvolvimento de uma papoula e de um haxixe com propriedades apenas curativas, né?

Como Informa o texto da Folha (abaixo), o Irã já rejeitou proposta idêntica à feita pelo Brasil, depois de ter dado sinais de que poderia aceitá-la. Rejeitou, fez testes com mísseis e admitiu a existência de instalações nucleares que não tinham sido previamente comunicadas à Agência Internacional de Energia Atômica. O pacifismo de Mahmoud Ahmadinejad é internacionalmente reconhecido…

Se o “Zóio Junto” combinar tudo direitinho com Lula, topa a “proposta” nada original do nosso Demiurgo, o mundo saúda um “acordo”, o nosso líder posa (Emir Sáder escreveria “pousa”) de pacificador, e os iranianos continuam a desenvolver o seu plano nuclear secreto para tentar obter a bomba. Afinal, como escreveu há dias a revista alemã Der Spiegel, já há a desconfiança de que o Brasil faça o mesmo…

Um comentário:

  1. Parece que o Lula está conseguindo o acordo. Use sua consciência: você se alegra com a possibilidade de uma guerra ser evitada ou fica com raiva peloo sucesso de seu inimigo político? Se sua consciência diz que vc preferia o fracasso vc está moralmente doente.

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