sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

J.R. Guzzo: A farra dos aviões da FAB

O político brasileiro tem um pavor cada vez mais patológico em fazer qualquer coisa parecida com a vida de um cidadão comum

29/01/2020
Muitas das brincadeiras mais ácidas sobre militares são feitas pelos próprios militares - e não só de uma arma para outra, mas dentro de cada corporação. Pergunte a um oficial de Infantaria ou Artilharia do Exército, por exemplo, qual é o lema da Cavalaria. A resposta poderá ser: “Rápido e mal feito”. Da mesma forma, é bem possível que um oficial do Exército diga a respeito da Força Aérea Brasileira: “A FAB? Não se preocupe com a FAB. O sujeito vai de tenente a brigadeiro sem nunca ter dado uma ordem na vida - só obedece, porque a aeronáutica é um serviço de táxi aéreo para carregar político de um lado para outro”. Piada injusta, é claro, porque a FAB serve para muitas outras coisas, mas aí é que está: a piada só existe porque a força aérea fica carregando pelo Brasil e pelo mundo qualquer Zé Ruela com CPF, como o deputado Luís de Orleans e Bragança definiu tão bem os seus colegas de Câmara, e um crachá qualquer de “autoridade” do governo. Aqui se faz, aqui se paga.
O mais agressivo Zé Ruela do Brasil no uso de aviões da FAB para viajar de graça é, disparado, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia - o homem foi capaz, só em 2019, de viajar 229 vezes pela força aérea, algo provavelmente sem paralelo no resto do mundo. Quem consegue viajar 229 dias em 365 - e, sobretudo, para que? O que ele faz no tempo que lhe sobra? É positivamente impossível para qualquer ser humano viajar tanto assim para servir o interesse público - não há, muito simplesmente, essa quantidade de assuntos de interesse público para serem cuidados por ninguém, em nenhuma circunstância, em nenhum governo do planeta. Quando se olha um pouco mais para a coisa, fica pior: Maia conseguiu levar mais de 2.000 pessoas de carona nos voos que faz com o seu dinheiro. É por isso que é tratado como um homem tão importante para as “instituições”.
Os presidentes do Senado e do STF participam dessa mesma demência, embora com menos horas de voo. Depois vem a ministrada - que viaja na proporção inversa de sua importância. Depois vem o resto. O argumento é sempre o mesmo: se eles não viajarem, os aviões ficariam “ociosos”. Como é mesmo? Nesse caso, então, é a própria FAB que seria ociosa. Se os seus jatos e pilotos não têm o que fazer, para o que há de servir uma força aérea? Não é possível que seja para voar um dia sim um dia não com o presidente da Câmara e seus amigos. A verdade é que o político brasileiro, como a farra dos aviões da FAB deixa mais uma vez claríssimo, tem um pavor cada vez mais patológico em fazer qualquer coisa parecida com a vida de um cidadão comum. Não usa os hospitais públicos. Não usa o transporte público. Seus filhos não sabem o que é uma escola pública. Não tira um documento. Não faz uma fila. Nem de avião de carreira quer andar mais.

*A Frra dos Aviões da FAB

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

''Fritura fake''

postado em 29/01/2020 06:00 / atualizado em 29/01/2020 07:32

O Ministro Sérgio Moro começou a semana no Pânico, da Jovem Pan, tendo que responder sobre o factoide dos últimos dias, de que ele estaria sendo fritado no azeite quente da retirada da Segurança Pública do seu ministério. Na mesma segunda-feira, a Coluna do Estadão publicou o título “O Brasil quer saber: Moro fica no Governo?” — a pergunta vem de pesquisa feita no Google. Mas a pergunta também vem de uma ficção criada na quarta-feira da semana anterior. Uma narrativa, para usar o eufemismo para ficção.

Ocorre que naquele dia eu testemunhei os fatos, porque fora ao Palácio do Planalto para acompanhar Regina Duarte, uma colega de televisão e amiga de muitos anos. Quando cheguei, o presidente e o ministro Moro estavam reunidos no gabinete de Bolsonaro. Depois, saíram para a antessala, numa conversa descontraída. O presidente já sabia, àquela hora da manhã, que viria um grupo de secretários de Segurança, pedir, entre outras reivindicações, que a Segurança fosse desmembrada da Justiça. Provavelmente Moro fora levar a informação ao presidente. E já estavam combinados em que Moro não participaria daquela reunião mais tarde, deixando os secretários se dirigirem diretamente ao presidente.
Ocorre que naquele dia eu testemunhei os fatos, porque fora ao Palácio do Planalto para acompanhar Regina Duarte, uma colega de televisão e amiga de muitos anos. Quando cheguei, o presidente e o ministro Moro estavam reunidos no gabinete de Bolsonaro. Depois, saíram para a antessala, numa conversa descontraída. O presidente já sabia, àquela hora da manhã, que viria um grupo de secretários de Segurança, pedir, entre outras reivindicações, que a Segurança fosse desmembrada da Justiça. Provavelmente Moro fora levar a informação ao presidente. E já estavam combinados em que Moro não participaria daquela reunião mais tarde, deixando os secretários se dirigirem diretamente ao presidente.
Sabia-se também que havia uma certa ciumeira em relação aos poderes de Moro. Mais tarde, quando os secretários formalizaram o pedido, o presidente, por cortesia, prometeu estudar a reivindicação. Isso foi rastilho de pólvora em terreno minado e oportunidade para inventar que Moro estava sendo fritado e enfraquecido. O ruído da suposta fritura subiu a tal volume, que o presidente precisou ser claro na sexta-feira, quando afirmou que a chance de desmembrar o ministério é zero. A potencialização da narrativa foi a prática do ensinamento de Goebbels: repetida mil vezes, pareceu virar verdade.

Só um ingênuo não perceberia que foi mais uma oportunidade de tentar mudar o time que está ganhando. Bater em Moro para atingir o governo num de seus mais prestigiados integrantes. Afinal, a Segurança exibe um recorde mundial de redução de 22% nos homicídios. Chegaram a sacar um argumento de pasmar: que a redução foi ordenada por facções criminosas. Vale dizer, quem está combatendo o crime são as quadrilhas. Mostrou, também, esse episódio, a ciumeira interna na disputa do poder. “Assunto encerrado” — repetiu o presidente na Índia. Mas é bom não esquecer como reage o público que se percebe enganado. A chance zero já era zero na quarta-feira. Pode-se inventar um fato, mas a invenção não faz o fato, apenas fere credibilidade.


terça-feira, 21 de janeiro de 2020

É fácil entender por que os jovens dos países mais ricos tendem a defender mais socialismo

Essa é a consequência de se viver na abundância

Há um fenômeno ocorrendo em comum nos países mais ricos e prósperos do mundo: os jovens afirmam ter sentimentos positivos em relação ao socialismo.
Em uma pesquisa de 2017, 51% dos millennials se identificavam como socialistas, com adicionais 7% dizendo que o comunismo era seu sistema favorito. Apenas 42% preferiam o capitalismo.
Em alguns casos, a defesa do socialismo ocorre abertamente, como nos EUA, onde os jovens que apóiam o Partido Democrata — principalmente Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez — abertamente se auto-rotulam como socialistas. Em outros, a defesa é menos explícita, como nos recentes protestos do Chile
Em comum, vemos jovens de países prósperos, que vivem em meio a uma abundância nunca antes alcançada na história do mundo, exigindo mais poder estatal, mais intervenções e estatizações, e menos liberdade de mercado — o mesmo mercado que lhes forneceu toda esta abundância.
O que explica essa contradição?
É tentador dizer que todo o problema se resume a uma completa ignorância tanto sobre economia básica quanto sobre história. De um lado, tais pessoas não entendem como funciona uma economia de mercado (embora vivam em uma); de outro, aparentam desconhecer por completo o histórico do socialismo.
De concreto, há uma total falta de apreço por quão rapidamente suas condições materiais melhoraram.
A armadilha nutricional
Em um passado não tão distante, as pessoas não "trabalhavam duro", no sentido de longas e cansativas horas de trabalho. De certa forma, elas trabalhavam menos do que nós atualmente. E era assim não pelos motivos que os socialistas de hoje imaginam.
Não havia aquele cenário cor-de-rosa de "camponeses felizes trabalhando poucas horas por dia nos campos, e então passando o resto do dia no ócio e no lazer". Todos eles eram raquíticos, muito mal alimentados e simplesmente não tinham energia para trabalhar duro. Longe de levarem uma vida idílica, ver seus filhos sofrerem de desnutrição e estar fraco demais para ajudá-los deve ter sido uma experiência tenebrosa.
Em seu livro A Grande Saída, o vencedor do Nobel Angus Deaton explica a "armadilha nutricional" que a população da Grã-Bretanha vivenciou:
A população da Grã-Bretanha, no século XVIII e início do século XIX, consumia menos calorias que o necessário para as crianças crescerem ao seu máximo potencial e para os adultos manterem seus organismos em níveis saudáveis de funcionamento, o que lhes impedia de efetuarem trabalho manual produtivo e remunerativo.
As pessoas eram muito magras e muito pequenas, talvez tão pequenas quanto nos períodos de tempo anteriores.
Deaton explica como a escassez de nutrição afetou o organismo da população. Os trabalhadores dos séculos anteriores não eram robustos; um físico atrofiado era o que oferecia a melhor esperança de sobrevivência:
Ao longo da história, as pessoas se adaptaram a uma escassez de calorias da seguinte maneira: elas não cresciam e não ficavam altas. A atrofia corporal não apenas é uma consequência de não ter muito o que comer, especialmente na infância, como também corpos menores requerem menos calorias para seu sustento básico, e eles possibilitam trabalhar com menos comida do que seria necessário para uma pessoa mais fisicamente avantajada.
Um trabalhador de 1,85m e com 90kg teria as mesmas chances de sobreviver no século XVIII quanto um homem na lua sem uma roupa espacial.
Na média, simplesmente não havia comida o bastante para alimentar uma população de indivíduos com as dimensões físicas de hoje.
O britânico médio do século XVIII ingeria menos calorias do que o indivíduo médio que vive hoje na África subsaariana. Como eles não tinham o que comer, estes pobres britânicos trabalhavam pouco. Deaton prossegue:
Os pequenos trabalhadores do século XVIII estavam efetivamente aprisionados em uma armadilha nutricional: eles não tinham como ser bem remunerados porque eram fisicamente fracos, e não tinham como comer porque, sem trabalhar e produzir, não tinham o dinheiro para comprar comida.
Johan Norberg, em seu livro Progresso, relata as descobertas do historiador econômico e vencedor do Nobel Robert Fogel:
Duzentos anos atrás, aproximadamente 20% dos habitantes da Inglaterra e da França simplesmente não conseguiam trabalhar. Na melhor das situações, eles tinham energia suficiente para apenas algumas horas de caminhada lenta por dia, o que condenava a maioria deles a uma vida de mendicância.
E então, tudo começou a mudar. Deaton explica:
Com o início da revolução agrícola, a armadilha começou a se desintegrar. A renda per capita começou a crescer e, talvez pela primeira vez na história, passou a existir a possibilidade de uma melhora contínua na nutrição.
Uma melhor nutrição permitiu às pessoas crescerem mais fortes e mais altas, o que, por sua vez, possibilitou aumentos na produtividade, criando uma sinergia positiva entre aumentos na renda e melhorias na saúde, com um se apoiando no outro.
A partir do momento em que o capitalismo realmente se consolidou, as condições de vida não apenas melhoraram sensivelmente, como todo o progresso ocorreu de maneira acelerada.
E isso, paradoxalmente, começou a gerar as sementes de sua própria destruição.
A ignorância da história
Ao fim de minha carreira de professor, estudantes universitários totalmente ignorantes sobre história já eram um fenômeno extremamente comum. Eles desconheciam totalmente a pobreza abjeta na qual viveu a vasta maioria da humanidade durante milênios. Eles simplesmente não acreditavam que o passado pudesse ter sido tão brutal, como foi vivamente descrito por Matt Ridley em seu livro O Otimista Racional.
Pior ainda, quando expostos a evidências concretas, alguns estudantes se recusam a questionar suas posições.
Sobre isso, quem melhor explicou o fenômeno foi a sempre interessante crítica cultural Camille Paglia. Em uma entrevista ao The Wall Street Journal, ela afirmou que a atual juventude dos países mais ricos enxerga suas atuais liberdades de escolha (inéditas na história da humanidade) e a atual riqueza de bens de consumo à disposição (algo também inédito na história da humanidade) como um fato consumado, como algo que sempre foi assim e que jamais irá mudar. Consequentemente, eles estão desesperadoramente necessitados de um contexto mais rico e profundo para a própria era que eles estão denunciando.
Diz ela:
Tudo é muito fácil hoje em dia. Todos os supermercados, lojas e shoppings estão sempre plenamente abastecidos. Você pode simplesmente ir a qualquer lugar e comprar frutas e vegetais oriundos de qualquer lugar do mundo.
Jovens e universitários, que nunca estudaram nem economia e nem história, acreditam que a vida sempre foi fácil assim. Como eles nunca foram expostos à realidade da história, eles não têm idéia de que essa atual realidade de fartura é uma conquista muito recente, a qual foi possibilitada por um sistema econômico muito específico.
Foi o capitalismo quem produziu esta abundância ao redor de nós. Porém, os jovens parecem acreditar que o ideal é ter o governo gerenciando e ofertando tudo, e que as empresas privadas que estão fornecendo essas coisas em busca de lucro, fornecendo produtos e serviços para eles, irão de alguma forma existir para sempre, não importam as políticas adotadas.
Em outras palavras, indivíduos ignorantes sobre história e economia acreditam que a abundância atual sempre existiu e sempre foi assim.
Daí é compreensível que eles se sintam atraídos pela idéia de um socialismo idílico: eles genuinamente acreditam que, sob o socialismo, toda esta abundância será mantida, mas agora simplesmente será gratuita para todos. Haverá MacBooks, smartphones, roupas de grife, comida farta e serviços de saúde amplamente disponíveis a todos, e gratuitamente. Como resistir?
Acreditando que poderão seguir usufruindo toda esta fartura, eles sonham que irão conseguir ainda mais coisas caso haja um governo redistribuindo para eles a riqueza confiscada de terceiros.
Paglia argumenta que a atual geração se esqueceu até mesmo do passado mais recente.
Nossos pais foram da geração da Segunda Guerra Mundial. Eles tinham uma noção da realidade da vida. Já a juventude de hoje foi criada em um período muito mais afluente. Mesmo as pessoas pobres de hoje têm telefones celulares, televisores, meios de transporte e amplo acesso a alimentos diversificados.
Similarmente, Schumpeter também se preocupava com a hipótese de que as pessoas vivendo sob a opulência passariam a ver sua situação como um fato consumado, e assim preparariam o terreno para sua própria destruição.
Em seu livro Capitalismo, socialismo e democracia, ele prognosticou que as sociedades capitalistas seriam destruídas pelo seu próprio sucesso. Para Schumpeter, o capitalismo "inevitavelmente" se transforma em socialismo.
Seu argumento, de maneira resumida, é o seguinte: uma economia de mercado, com indivíduos fortemente empreendedores, gera um grande crescimento econômico e aumenta acentuadamente o padrão de vida das pessoas. Ironicamente, no entanto, a sociedade se torna tão próspera e tão inovadora, que passa a ignorar a fonte de toda a sua riqueza, dando-a como natural, corriqueira e automática. Pior ainda: torna-se abertamente hostil a ela.
O empreendedorismo e o mercado enriquecem tanto a sociedade, que as pessoas se esquecem do quão necessária e do quão frágil a economia de mercado realmente é. Elas até mesmo começam a acreditar que os mercados — e a ordem social e cultural que mantém os mercados funcionando — são inferiores à burocracia estatal e ao planejamento centralizado. 
Com o tempo, a sociedade acaba abraçando idéias socialistas.
Nas palavras de Schumpeter:
Os padrões crescentes de vida e, sobretudo, o lazer que o capitalismo moderno põe à disposição das pessoas que têm emprego e renda. . . bem, não há necessidade de terminar esta sentença e nem de elaborar aquele que é um dos argumentos mais verdadeiros, antigos e enfadonhos. O progresso secular, o qual é visto como algo natural e automático, em conjunto com a insegurança individual, que alimenta a inveja, é naturalmente a melhor receita para alimentar a inquietação social.
Entretanto, todo esse processo de transformação requer mais do que apenas a acumulação de riqueza: alguém tem de ativamente insuflar hostilidade às instituições da economia de mercado. Esse papel é desempenhado pelas classes intelectuais, que frequentemente abrigam um profundo ressentimento em relação às instituições empreendedoriais.
Os intelectuais incitam descontentamento entre um crescente número de pessoas cuja riqueza, em última instância, depende da produtividade do empreendedorismo, mas que, na prática, vivem majoritariamente fora da concorrência do mercado. Pessoas mais jovens são particularmente mais vulneráveis a esse preconceito anti-mercado, o qual é normalmente instilado por meio de escolas e faculdades. 
Segundo Schumpeter, portanto, o capitalismo poderia se destruir a si próprio ao criar:
a) uma classe de intelectuais que vituperam o progresso material e o individualismo e exaltam um eventual arranjo que seria baseado no "bem comum" (o qual seria, obviamente, definido e organizado pelos intelectuais), e
b) pessoas que aceitam como fato consumado aquelas prateleiras de lojas e supermercados repletos da produtos de ampla variedade (como bem disse Paglia).
Falando mais coloquialmente, nós nos tornamos gordos e preguiçosos, e passamos a ficar obcecados com a distribuição de riqueza, e não com os pilares sobre os quais sua criação é possibilitada.
E é a partir daí que as tragédias começam a ocorrer. No caso do socialismo, elas tomam a forma de homicídios em massa.
Conclusão
No final, não importa se o tipo de socialismo defendido é idílico e bem-intencionado. Aquelas pessoas, normalmente adolescentes ricos, artistas e intelectuais acadêmicos, que professam idéias socialistas aparentemente não se lembram de como realmente era o mundo quando o socialismo era realmente aplicado. É fácil defender idéias socialistas quando se vive em um mundo opulento em que a comida é farta e barata. É fácil defender o regime venezuelano morando-se em um país rico.
O fato é que, onde quer que tenha sido tentado, desde a União Soviética em 1917 até a Venezuela atual, o socialismo foi um desastre, não importa quais eram as intenções originais. Socialistas sempre prometeram uma utopia marcada por igualdade e abundância. Em vez disso, sempre entregaram tirania e inanição. Seus propagandistas sempre devem ser sempre e incansavelmente cobrados por isso.
Como disse Thomas Sowell, "O histórico de desastres do socialismo é tão óbvio, que somente intelectuais poderiam ignorá-lo".

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Conheça a história da famosa Cia. Sulina Antártica

Cervejaria Tiede foi fundada em 1889 e renovou-se como Catharinense
Patrimônio. Prédio da Cervejaria Catariense na rua 15 de Novembro

Tomar uma cerveja com os amigos no final de um dia de trabalho não é algo novo em Joinville. A Colônia Dona Francisca ainda estava sendo estruturada e as primeiras cervejarias já começavam a produzir a bebida, que passaria a integrar o dia a dia da comunidade nos momentos de alegria, confraternização, e – por que não? – de tristeza.
Nascida ainda no século 19, a Cervejaria Tiede passou por momentos difíceis com a morte prematura de seu fundador, foi rebatizada de Catharinense por volta de 1915 e, com uma linha de produtos que incluía gasosas, licores e até xaropes de frutas, fez parte da vida de gerações de joinvilenses ao longo do século 20, com o nome de Cia. Sulina Antártica.
As primeiras garrafas produzidas na Cervejaria Tiede começaram a chegar na mesa dos consumidores em janeiro de 1889. A abertura oficial do novo empreendimento foi no primeiro dia do ano e na edição de 9 de janeiro de 1889, o jornal “Reform”, de circulação local, publicava uma nota informando a comunidade: “O proprietário de cervejaria, sr. Alfred Tiede, que até este momento era sócio da firma Cervejaria Tiede & Beyerstedt, recentemente fechada, abriu a sua própria cervejaria, a qual também administra, no dia 1o de janeiro, sob a denominação de “Alfred Tiede”, segundo tradução da pesquisadora Brigitte Brandenburg.
Tiede apostou na crítica dos jornais e enviou para o editor, “como amostra”, 25 garrafas de sua produção. O resultado foi a nota que visava atrair mais clientes.  “Julgamos que a amostra que nos foi enviada apresenta um gosto forte em uma cerveja muito clara e de bom encorpamento, que nós consumidores de cerveja desejamos. É uma cerveja que está acima das melhores cervejas aqui criadas, e que pode colocá-las em segundo lugar”, aproveitando para salientar o preço do produto, considerado bom para a época. “Se o sr. A. Tiede mantiver-se fiel a este princípio, e fermentar a sua cerveja na mesma qualidade com o qual nos enviou, não faltarão encomendas”, assinalava a resenha publicada no jornal
A nova cervejaria foi criada na antiga Mittelweg, o Caminho do Meio, atual rua 15 de Novembro, no mesmo local onde depois funcionou a Cervejaria Catharinense e a Antarctica e que hoje é conhecido como Cidadela Cultural Antarctica. Usava as águas puras que brotavam na região. Cervejeiro, Alfred Tiede chegou à Colônia Dona Francisca solteiro, aos 27 anos, em 1881, e casou-se com Mathilde Brand, a Lilly, que havia chegado no mesmo ano, em outro navio. O casal foi morar em um lote de 5,50 morgos (um morgo é cerca de 2.400 metros quadrados) no Caminho do Meio, onde anos depois, Tiede abriu a cervejaria.
Alfred Tiede morreu de câncer, em 1904, e não deixou filhos. Ele e Lilly tiveram apenas uma criança que também já havia falecido. O casal, então, adotou um sobrinho que tinha o mesmo nome do tio: Alfred Tiede. A coincidência de nomes cria certa confusão quando se pretende lembrar a história da empresa. O fundador do empreendimento, porém, era nascido em Thurn e filho de Christian Friedrich Tiede e Mathilde Braun Tiede (que viúva, também imigrou para a Joinville).
O sobrinho, por sua vez, era Alfred Carl Tiede, nascido em 1893, e filho de Rudolf Baade e Marie Tiede. As informações constam no Kolonie Zeitung, em nota que comunica seu casamento com Gertrud Bennack, em 1917, e foram traduzidas por Brigitte Brandenburg.
Após a morte do marido, Lilly Tiede a princípio assumiu os negócios da família. Rótulos da primeira década do século 20 mostram o novo nome da empresa: “Va de A. Tiede”. Na segunda década do século 20, por volta de 1915, o sobrinho Alfred Tiede assumiu os negócios da mãe adotiva. Nos rótulos, o nome da empresa já aparecia como “Alfred Tiede & Cia”. Nos anos 20, com a chegada de um sócio, os rótulos passam a apresentar a identificação “Tiede, Seyboth & Cia”.
Na década de 50 a empresa foi vendida para a Companhia Antarctica
As instalações da Cervejaria Antártica, que hoje abrica a Cidadela Cultural

Nos anos 50, a antiga Cervejaria Tiede e Cervejaria Catharinense havia sido incorporada por um grupo maior: a Companhia Antártica Paulista, que tinha matriz em São Paulo e unidades fabris espalhadas pelo país. Em 1954, Kurt Germano Freissler começou a trabalhar no local – e durante 25 anos fez parte do dia a dia da empresa.
Aos 95 anos, a viúva de Kurt conta que ele a princípio era chefe da área máquinas da Hoepcke, quando um dos diretores da Antarctica o convidou para assumir como gerente na cervejaria. Quando, no início dos anos 70, ela se tornou a Cia. Sulina de Bebidas Antarctica, Kurt Freissler foi diretor, comandando uma rede que tinha unidades vinculadas a Joinville em Curitiba, Porto Alegre e Caxias do Sul, entre outras cidades.
Zulma lembra que quando o marido começou a trabalhar na empresa, ela era pequena, com menos prédios. “Aos poucos, foi feita a expansão. Substituíram algumas máquinas, fizeram depósitos. A única coisa que ficou foi a casa de máquinas. Cresceu muito e ficou muito bom”, recorda, falando de um momento de renovação na empresa que, na época, já era quase centenária.
Usava-se a água da fonte do terreno, mas Zulma explica que havia uma fonte na rua Padre Anchieta, de onde vinha água por uma canalização subterrânea para a cervejaria. Com isso, era possível atender a demanda. “A Antártica comprou aquela propriedade e havia duas fontes: uma perto da rua e outra mais para trás. Uma tinha 120 metros de profundidade e a outra, 60”, garante ela, ressaltando a qualidade do líquido. ,
Nesta época, a empresa tinha dois cervejeiros, Curt Zastrow e Friedrich Müller que estudaram na Alemanha e trabalharam durante décadas na empresa. Mas também formava seus próprios funcionários. Muitos começavam no estoque, lidando com a matéria-prima, para depois começar a participar no processo fabril.
Kurt Freissler não pegou o tempo de Werner Metz e respondia diretamente à matriz, em São Paulo. “Ele já entrou na Antarctica Paulista”, diz Zulma.
Durante muitos anos, a Antarctica dominava o mercado local e era a mais consumida nas festas. Com o tempo, distribuidoras de outras marcas chegaram. E, em uma cidade onde todos se conheciam, as brincadeiras e provocações eram muitas. “Quando íamos em uma festa, o Acyr Pizzato mandava uma Brahma para o Kurt tomar. Eu ria… Ele levava na esportiva”, diverte-se Zulma, referindo-se ao distribuidor da cerveja concorrente nos anos 70.
Em 1979, Kurt Germano Freissler tinha 69 anos e no dia 17 de dezembro festejou os 25 anos na empresa. Dez dias depois, faleceu repentinamente, sem nucca ter se aposentado.
Em 1998, foi a vez do fim da fabricação da cerveja Antarctica em Joinville. Segundo a resenha histórica de Walter Guerreiro, na época, o patrimônio foi passado para Bebidas Antarctica Polar, que em 2001 o vendeu à Prefeitura de Joinville. Hoje, os antigos galpões e depósitos formam a Cidadela Cultural Antarctica, na rua 15 de Novembro.
Aumento da produção
A princípio, a empresa fabricava cerveja de alta fermentação. Só na gestão de Tiede, o sobrinho, que começou o processo de baixa fermentação. “A modificação no processo visando alcançar maior produtividade trouxe também problemas financeiros que culminaram com a transformação da Tiede, Seyboth & Cia em Cervejaria Catharinense”, explicou Walter de Queiroz  Guerreiro, em sua “Resenha Histórica da Companhia Sulina de Bebidas Antarctica”.
Na resenha consta que na formação da Cervejaria Catharinense houve o aporte de capital de empresários e firmas da região, como  Henrique Douat, Eugênio Fleischer, Colin&Co, Böhm, H. Zimmermann e Werner Metz e Max e Georg Keller. “Tornando-se assim a maior cervejaria do Estado, com produção de 18 mil hectolitros/ano e capital investido de 800 contos de réis”, detalha, acrescentando que nesta época, final dos anos 20 e década de 30, o local contava com 80 empregados e produzia as marcas Ouro, Pilsen, Catharinense, Clarinha, Sem Rival, Porter e Munchen, além de refrigerantes. E no início da década de 40, deixa, definitivamente, de levar o nome Tiede. “Em 1942, a Cervejaria Catharinense é reinaugurada e, com a conclusão do novo prédio, Werner Metz assume como diretor-presidente”, afirma Walther em sua pesquisa.











Roger Scruton - Filósofo inglês

  • PorJ.R. Guzzo[13/01/2020] [21:08]
  • Um pensador para a nossa era. Um filósofo e não um formado em filosofia

    Roger Scruton: o filósofo
    Roger Scruton: o filósofo durante evento em Porto Alegre (RS)| Foto: Divulgação/Luiz Munhoz/Fronteiras do Pensamento

    Não vamos cometer aqui o insulto de chamar Roger Scruton, o filósofo inglês morto neste fim de semana, aos 75 anos, de “importante”.
    Esta é uma palavra que se tornou horrivelmente barata nos últimos anos, a ponto de não significar mais nada – serve apenas para elogiar alguém de graça, quando não se consegue achar méritos objetivos na obra do elogiado, ou mesmo quando não há obra nenhuma a elogiar.
    Temos, assim, o escritor “importante”, o artista “importante”, o cineasta “importante” e por aí afora; como não dá para dizer que fizeram alguma coisa de excelência comprovada, ou se fizeram realmente alguma coisa, confere-se a todos eles o título de “importante” e todo mundo fica feliz.
    Scruton foi, isso sim, um extraordinário pensador dos tempos em que vivemos – um filósofo de verdade, e não um cidadão que se formou em filosofia, ou dá aulas na universidade, ou escreve sobre o assunto, sem a obrigação de ter, nunca, alguma ideia própria.
    Ao longo dos últimos 50 anos, e nas páginas de 50 livros, Roger Scruton deixou uma imensa produção de pensamentos essenciais para a visão conservadora da vida e do mundo na era contemporânea – um filósofo da grande linhagem de Edmund Burke e os outros gigantes ingleses que lançaram os alicerces das ideias que regem até hoje as sociedades livres.
    “Pessoas de esquerda acham muito difícil conviver com pessoas de direita, porque acreditam que elas sejam o mal”, escreveu ele numa das sínteses mais devastadoras que fez das disputas ideológicas de hoje. “Eu, do meu lado, não tenho problema nenhum em me dar bem com elas, porque simplesmente acredito que estão enganadas”.
    Scruton dedicou-se com aplicação especial, entre a vasta obra que deixou, às questões da estética, da cultura e da política. A qualidade de uma obra artística, para ele, podia, sim, ser estabelecida por critérios objetivos – a beleza é a base dessa avaliação, e beleza não é um conceito abstrato, e sim uma realidade materialmente visível.
    “Estilos vão e vêm”, escreveu Roger Scruton, “mas as exigências do julgamento estético são permanentes”. Ele jamais teve medo de dizer que a “equalização” da cultura, tão venerada entre a esquerda como arma para combater o “elitismo”, é um disparate.
    Não faz nenhum sentido, em sua visão, alegar que a alta cultura, ou a “cultura clássica”, é uma espécie de “propriedade da elite” e só beneficia os que têm acesso a ela; seria o mesmo que sustentar que a matemática não adianta nada para quem não a entende em seus níveis mais avançados. “O processo de transmissão cultural não poderá sobreviver se os professores forem obrigados a ensinar Mozart e Lady Gaga ao mesmo tempo, em nome de uma agenda de igualitarismo”, resumiu Scruton.
    É dele, também, uma das mais precisas explicações sobre porque os intelectuais, em sua grande maioria, são de esquerda. “Eles são atraídos naturalmente pela ideia de uma sociedade planejada porque acreditam que o planejamento ficará a seu cargo”. O que atrai os intelectuais no marxismo, diz Scruton, não é a verdade, mas o poder que ganhariam se o mundo fosse controlado pelo Estado – e, em consequência, por eles. “A notável capacidade de sobrevivência do marxismo”, conclui, “está no fato de que é um sistema de pensamento dirigido para a obtenção do poder.”
    O que Roger Scruton ainda poderia produzir, nos próximos anos, vai nos fazer uma imensa falta.

    domingo, 12 de janeiro de 2020

    ‘Nossos intelectuais toleraram corrupção explícita’, diz ex-ministro do PT

    Em livro, Cristovam Buarque diz que governos Lula e Dilma deixaram o Estado ser capturado por empreiteiras, políticos, sindicatos e servidores públicos

    Por Hugo Marques - 26 nov 2019, 17h30


    O título do novo livro do ex-senador Cristovam Buarque diz tudo: Por que falhamos – O Brasil de 1992 a 2018. E diz tudo na primeira pessoa do plural: nós. Cristovam propõe uma autocrítica em nome da esquerda brasileira. Ele foi do PT por 15 anos, chegou a ser governador do Distrito Federal, e só saiu do partido em 2005, depois de ser defenestrado do Ministério da Educação pelo presidente Lula. Ele então passou pelo PDT e hoje está no PPS.
    No livro, Cristovam aponta 24 erros dos governos que se diziam “de orientação progressista e democrática”. Um dos focos do livro é o sexto erro, um capítulo que se chama: Permitimos o domínio da corrupção. Para Cristovam, quem mais tinha a função de pensar era quem mais deixava tudo acontecer. “Nossos intelectuais toleraram de maneira subserviente a corrupção explícita”, escreve o professor. Numa conversa com VEJA, ele acrescenta vários exemplos dessa subserviência: “Deixamos construir um estádio de 2 bilhões de reais (Estádio Mané Garrincha, em Brasília, erguido durante o governo do petista Agnelo Queiroz) e as universidades não fizeram nenhum protesto contra a corrupção”.

    As críticas mais fortes são direcionadas a Lula e ao PT, principalmente durante as eleições de 2018, quando o ex-presidente, já condenado, insistiu em ser candidato à Presidência. “A amarra aos líderes foi uma das principais causas da nossa derrota em 2018”, diz Cristovam no livro. “Para proteger nossos líderes, subestimamos a corrupção diante da qual fomos omissos, sem acusar, julgar, punir nem ao menos criticar os responsáveis pela cobrança de propinas, depredação de estatais e de fundos de pensões”.
    Cristovam chama a atenção para o título do 11º erro destacado no livro: Adotamos o culto à personalidade. “Eu digo que cometemos tantos erros que um dos nossos líderes foi preso pela corrupção”, diz o ex-senador a VEJA. “Critico o culto à personalidade, isso nos obscureceu a mente, ninguém consegue criticar Lula, caímos no messianismo”.
    Para o ex-senador, a esquerda brasileira passou a criar falsas narrativas e a defendê-las. “Um dos nossos erros é criar falsas narrativas e acreditarmos nelas”, diz. Ele cita dois exemplos: A narrativa que o Bolsa Família levou 30 milhões para a classe média e que o Ciência sem Fronteiras ia promover o desenvolvimento científico do país. Para ele, essas falsas narrativas — ou mentiras — são uma forma de ocultar os problemas. “As cotas ajudam a pular o muro, e não a derrubar o muro”, diz ele.
    Cristovam deixa claro que a tática dos partidos de esquerda entregou a eleição para Bolsonaro: “Ele não ganhou, nós perdemos, porque ficamos sem projetos que seduzissem os eleitores”. O livro vai ser lançado na semana que vem, mas o autor já começou a receber reclamações de acadêmicos. “Muitos amigos meus disseram que não aceitam o ‘nós’, que quem errou foi Lula, que quem errou foi Dilma sozinha”, diz o ex-ministro.

    terça-feira, 7 de janeiro de 2020

    Um terrorista vocacional disfarçado de general

    Soleimani achava uma boa ideia transformar o mundo moderno num imenso Irã

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    • Era assim antes de Donald Trump, assim será depois dele: desde que veja nos Estados Unidos o Grande Satã a destruir, o mais repulsivo dos regimes políticos fica com cara de paraíso aos olhos vesgos da esquerda brasileira. Para quem vê as coisas como as coisas são, por exemplo, o Irã parido em 1979 pelos aiatolás atômicos pareceria um monumento ao atraso mesmo se confrontado com o mais primitivo grotão medieval. Para os devotos da seita que Lula conduz, o país devolvido às cavernas pelo radicalismo xiita é apenas mais uma vítima do imperialismo ianque a ser socorrida pelos órfãos da União Soviética e pela Confraria dos Nostálgicos do Muro de Berlim.
      Os mesmos militantes que condenariam Chico Anysio à guilhotina se o grande humorista reaparecesse na TV interpretando o ex-gay Haroldo Hetero fingem ignorar o que fazem os governantes iranianos a integrantes da comunidade LGBT. O sexo anal entre homens, por exemplo, é punido com a morte por enforcamento. Caso não tenha ocorrido o flagrante que liquida a questão, basta que quatro testemunhas confirmem a ocorrência do que é considerado crime hediondo pela hierarquia xiita.
    • Soleimani, fabricante de matanças
    • Reprodução/Reuters
    • A lei é mais tolerante com o lesbianismo: mulheres pilhadas em atos homossexuais são punidas com 50 chibatadas. A pena de morte é aplicada só depois da terceira reincidência. Alguém aí consegue imaginar um Jean Willys disparando cusparadas no cadafalso? Ou uma Gleisi Hoffmann contestando aos berros o mandamento xiita segundo o qual uma mulher deve total obediência ao marido? Essas audácias só acontecem no viveiro de homofóbicos e machistas em que se transformou, na cabeça dessa dupla de vigaristas e seus similares, o Brasil de Jair Bolsonaro.
      Como Lula ensinou a seus discípulos, inimigo dos Estados Unidos é amigo do PT. Seus governantes são companheiros, e todo companheiro é gente fina. Mesmo que se trate de algum assassino patológico - como Mahmoud Ahmadinejad, o ex-primeiro-ministro iraniano que o então presidente Lula promoveu a amigo de infância. Ou como Qassim Suleimani, que segue ostentando a patente de general nas redações infestadas de torturadores da verdade. O "general" exerce o ofício de fabricante de matanças desde 1998, quando assumiu o controle da Guarda Revolucionária e o comando da Força Quds, sopa de letras concebida para fomentar o terrorismo na região mais violenta do planeta.
      Seja qual for a religião que professam, generais costumam descansar em companhia da família quando termina o ano cristão. Terroristas vocacionais não podem parar. No fim de dezembro, Soleimani esteve no Líbano, na Síria e no Iraque, alternando visitas a ramificações da rede criminosa que teceu com desafios letais ao poderio militar dos Estados Unidos.  Foi ele quem ordenou o ataque à base americana que matou um civil e a ofensiva contra a embaixada em Bagdá. Nada disso mereceu a repulsa da imprensa convencional. Só virou manchete o contra-ataque que fulminou o xiita que passou a vida tentando afogar Israel no Mar Morto.
      Na edição desta segunda-feira, duas submanchetes superpostas na primeira página da Folha de S. Paulo compuseram o resumo da ópera. "Trump rasga compromissos e ignora acordos", anunciou o título que destacava um artigo de Mathias Alencastro. O texto afirmava que o presidente dos EUA "autorizou o assassinato ilegal de figura-chave no Irã e agora ameaça, no Twitter, cometer crimes contra a humanidade". Logo abaixo, o delírio foi implodido pelas três linhas que remetiam à análise de Thomas Friedman: "General era um estrategista burro e superestimado".
      O articulista americano foi até clemente com um psicopata que morreu achando uma boa ideia transformar o mundo moderno num imenso Irã.


    "CONGRESSO IRRACIONAL"

    "O povo não tem representante porque as maiorias partidárias, reunidas nas duas casas do Congresso, distribuem a seu bel-prazer as cadeiras de uma e de outra casa, conforme os interesses das facções a que pertencem. O povo sabe que não tem justiça; o povo tem certeza de que não pode contar com os tribunais; o povo vê que todas as leis lhe falham como abrigo no momento em que delas precise, porque os governos seduzem os magistrados, os governos os corrompem, e, quando não podem dominar e seduzir, os desrespeitam, zombam das suas sentenças, e as mandam declarar inaplicáveis, constituindo-se desta arte no juiz supremo, no tribunal da última instância, na última corte de revisão das decisões da justiça brasileira."
    *Ruy Barbosa(1849-1923)

    "Isto sim é que é Congresso eficiente! Ele mesmo rouba, ele mesmo investiga, ele mesmo absolve." "Millôr Fernandes(1923-2012)

    segunda-feira, 6 de janeiro de 2020