domingo, 29 de março de 2015

"Mundo véio sem puliça". Coluna Carlos Brickmann



Café da manhã com pão fresquinho, manteiga, jornal. Já foi uma beleza! Hoje, o pãozinho subiu de preço, a manteiga sem pão pode dar ideias perigosas às autoridades (com sal é pior!), o jornal não tem notícias que não sejam de crimes.

Na primeira página, o escândalo da Receita. Nas páginas de Política, a CPI do Petrolão, a CPI dos SwissLeaks, o debate sobre recursos não-contabilizados ocultos nas contas do HSBC suíço. Nas páginas de Economia, empresas que demitem porque, acusadas no Petrolão, não recebem o que lhes é devido (e, ao lado, reportagem sobre a quebra iminente de alguma grande construtora, com muitas demissões). Nas páginas de Investimentos, o enorme déficit do Postalis, o fundo de pensão dos Correios, que acaba de ser jogado nas costas dos segurados. Discute-se a possibilidade de algo semelhante em outros fundos de estatais, e a possível escolha do presidente da Vale para a Presidência do Conselho da Petrobras - embora as duas empresas, uma privada, uma estatal, possam vir a ter interesses conflitantes. Nos artigos, uma pergunta: qual desses é o maior escândalo de corrupção no Brasil, algo que nunca dantes nesse país tenha ocorrido?

Este colunista, que jamais apreciou notícias de crime, vai para o Esporte, para saber do Corinthians. Mas aí acha a empresa alemã que diz ter pago propina para obter contratos na Copa do Brasil. Na área de entretenimento, discute-se o aparelhamento do Ministério da Cultura pelo Fora do Eixo - aquele, do Pablo Capilé. 

Há café da manhã que resista? Apesar de tudo, bom dia!

Questão de ranking

O Mensalão era o maior escândalo da História. Mas Mensalão é para os fracos: os malfeitos da Operação Lava-Jato são muito maiores. E o escândalo da Receita dá quase duas Operações Lava-Jato no quesito ladroeira. Não esperem luz no fim do túnel: o cartel do Metrô fez com que o trem que vinha na contramão se atrasasse. E o trem-bala, o que estaria pronto na Copa de 2014, só vai acender os faróis no improvável dia em que Mercadante não quiser sair na foto.

Por que este nome? 

Intrigante o nome Zelotes dado pela Polícia Federal à operação na Receita. Os zelotes eram um grupo de judeus cujo objetivo era "zelar pelas Leis de Deus". Lideraram a rebelião judaica contra Roma entre os anos 66 e 70 depois de Cristo, por rejeitar um imperador pagão. Tito, filho do imperador Vespasiano, comandou as tropas romanas, que derrotaram os judeus, exilaram-nos, proibiram sua permanência na Judéia, destruíram o Segundo Templo de Jerusalém, arrasaram a cidade e mudaram seu nome para Aelia Capitolina. Um grupo de zelotes continuou a resistir na montanha fortificada de Massadá. Derrotados, os 960 sobreviventes preferiram o suicídio coletivo à rendição. Essa é a História, como narrada em A Guerra Judaica por Flávio Josefo, duro crítico dos zelotes, a quem responsabilizava pela deflagração de uma guerra que não podiam ganhar.

E que é que isso tem a ver com a ação da Polícia Federal na Receita? Estarão os federais considerando-se os verdadeiros, únicos e rígidos zeladores da Lei?

Definição definitiva

Do presidente nacional do PT, Rui Falcão, na última terça-feira, em reunião com sindicalistas ligados ao partido, referindo-se à administração da presidente Dilma Rousseff: "É um Governo de merda, mas é o meu Governo".

Rui Falcão não está sozinho. Há alguns meses, elogiando a professora Maria da Conceição Tavares por sua fidelidade partidária, o ex-presidente Lula lhe atribuiu a seguinte frase: "O PT é uma merda mas é o meu partido. Ele não presta mas é meu". 

A professora estava presente ao encontro. Nada desmentiu.

Um por mês

Thomas Traumann, das Comunicações, é o terceiro ministro a cair em três meses do segundo Governo de Dilma. O primeiro foi Marcelo Nery, da Secretaria de Assuntos Estratégicos; substituto, Roberto Mangabeira Unger. O segundo foi Cid Gomes, ministro da Educação; substituto, Renato Janine Ribeiro. E Traumann, o terceiro, será substituído pelo ex-deputado estadual e ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva, do PT paulista, tesoureiro da campanha de Dilma.

(nota atualizada 27-05, 19hs)

Faltou, Brecht! 

Renan Calheiros e Eduardo Cunha, quem diria, conseguiram obrigar a presidente Dilma a cumprir a lei que ela já havia assinado, reduzindo a correção monetária das dívidas de Estados e Municípios com a União. Estão exigindo a redução do número de ministérios de 39 para 20. Querem reduzir ao menos uma parte dos cargos em comissão - aqueles em que o nomeado não precisa prestar concurso. 

Em Galileu Galilei, de Bertolt Brecht, o secretário de Galileu, indignado pela submissão do chefe às ordens da Igreja Católica, proclama: "Pobre do povo que não tem heróis". Galileu responde: "Pobre do povo que precisa de heróis".

O grande escritor alemão não podia prever a situação do Brasil. Pobre do povo que, para ter heróis e louvá-los, precisa ter Renan Calheiros e Eduardo Cunha.

Erro essencial

Na coluna anterior, este jornalista errou feio: Clésio Andrade, da CNT, não é vice do petista Fernando Pimentel em Minas. O vice é Antônio Andrade. 

Por que a cerveja desce ‘redondo’, e não ‘redonda’?


O slogan da Skol está correto, Rosângela. “Redondo”, no caso, não é um adjetivo, o que obrigaria a palavra a concordar com o gênero feminino do substantivo “cerveja”. É um advérbio, forma sintética de “redondamente”, que modifica o verbo “descer” e não sofre flexão alguma.
O caso é semelhante ao que o leitor Luiz Accioly trouxe para o consultório em 2013,: por que dizemos que “boas escolas custam caro” e não que “boas escolas custam caras”? Porque “caro” é um advérbio que modula o verbo “custar” e não um adjetivo ligado a “escolas”.
Como escrevi na época, e repito porque o mesmo raciocínio se aplica a “descer redondo”:
…“caro” se liga a “custar” do mesmo modo que o advérbio “alto” se liga a “falar” (“eles falam alto” e não “eles falam altos”), “feio” ao verbo “brigar” (“aqueles dois brigaram feio” e não “aqueles dois brigaram feios”) e “direto” aos verbos “passar” ou “ir” (“todos os meus alunos passaram direto” e “os carros foram direto para a oficina”, e não “todos os meus alunos passaram diretos” ou “os carros foram diretos para a oficina”).
http://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/consultorio/por-que-a-cerveja-desce-redondo-e-nao-redonda/

Ronaldo Caiado: a oposição boa de briga

Recém-chegado ao Senado, o goiano Ronaldo Caiado se destaca pelo perfil combativo e quer voltar a disputar a Presidência da República quase 30 anos depois. Mas antes terá de salvar o próprio partido da extinção





Em 1989, sem nenhuma experiência política, o jovem fazendeiro Ronaldo Caiado, hoje com 65 anos, acreditava que o reconhecimento de seu trabalho como médico ortopedista e a trajetória na União Democrática Ruralista (UDR) seriam capazes de levá-lo à Presidência da República na primeira eleição geral pós-redemocratização. Concorreu ao Palácio do Planalto pelo nanico PSD contra Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva, dois rivais que as décadas de escândalos transformaram em bons amigos. Isolado, Caiado obteve só 488.000 votos. Hoje, 26 anos depois do maior embate eleitoral da carreira, o líder do Democratas (DEM) retomou o antigo sonho.
Nos últimos três meses, entre os compromissos de uma agenda diária que ultrapassa as 10 horas de trabalho, Caiado opera intensamente para evitar que o DEM, à mingua nos mais de 12 anos de governo petista, consolide uma fusão exatamente com o partido que abraçou Fernando Collor, o PTB. Ao senador, correligionários dizem que foi garantida até a cadeira do partido na disputa pela Presidência em 2018. Mas não há sinais de que ele vá ceder à fusão: "Ele vai lutar até o último dia para não deixar o partido perder a identidade. Esse pessoal está vendendo o DEM", diz Abelardo Lupion, ex-deputado e braço direito do senador. Contra os democratas que defendem a aliança com o partido governista, a arma de Caiado já está lançada: "Ele vai explodir esse povo - e o pessoal tem medo da língua dele", prevê Lupion.
Caiado planeja utilizar o primeiro mandato como senador - depois de 20 anos como deputado federal - para pavimentar a campanha ao Palácio do Planalto em 2018. De preferência, contra aquele que considera seu adversário número um no plano nacional: o ex-presidente Lula.
"Lula vinculou-se à tese do populismo com a máquina pública, a militância e o aparelhamento do Estado. Com o choque de realidade diante do petrolão, ameaçou colocar o exército de Stédile nas ruas. Dilma é prisioneira dele e cometeu o crime de ter prevaricado para ter o benefício do mandato. Essas pessoas são qualificadas para governar o país?", afirma o senador.
De perfil beligerante nos moldes do udenista Carlos Lacerda, em quem diz se inspirar, Ronaldo Caiado começou a despertar ciúme do PSDB e ocupar o espaço de novo líder da oposição contra o governo Dilma já nos primeiros três meses do novo mandato. Descendente de uma oligarquia de políticos e latifundiários, ganhou terreno com a derrocada do senador cassado Demóstenes Torres (ex-filiado ao seu partido e também eleito por Goiás), ex-amigo e a quem considera sua "grande decepção". Outro fator preponderante em sua ascensão foi o enfraquecimento do senador José Agripino (DEM-RN), desgastado na campanha presidencial do tucano Aécio Neves e envolvido em recentes investigações de corrupção. "Não dá para apelidar as palavras: oposição tem que ser oposição", diz ele cotidianamente aos políticos que ameaçam capitular para a base aliada ao governo. "Ele não abre mão de um posicionamento a não ser que seja convencido de que está errado, o que não é fácil", resume o correligionário Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Nas quase três décadas de vida pública, Caiado coleciona um sem-número de desafetos, como o atual governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o empresário Junior Friboi. "Perillo navega bem nos moldes dessa política em benefício próprio. Ele e Lula estão imbuídos de uma torpeza bilateral", ataca o senador.
Outro adversário do senador é o vice-governador de Goiás, José Eliton Júnior (PP). Antigo advogado eleitoral de Caiado e ex-integrante do DEM, ele diz que o senador adota posições "extremistas" e afirma que o parlamentar perdeu boa parte do apoio político no Estado. "Ele está num processo de isolamento e vem minguando ao longo do tempo", afirma Eliton, embora os números sejam favoráveis a Caiado: os 167.591 votos de Caiado para deputado em 2010 se multiplicaram em quase 1,3 milhão para o Senado no ano passado.
Para o vice-governador de Goiás, Caiado é avesso a projetos partidários ou coletivos. "A visão dele é muito mais de natureza pessoal", afirma. José Eliton cita números para afirmar que o voo de Caiado é individual: em 2010, o DEM goiano elegeu um senador, o vice-governador, três deputados federais e dois estaduais. Em 2010, emplacou apenas Caiado para o Senado e um deputado estadual.
Caiado também reúne mágoas contra políticos a quem classifica como "traidores": o ministro Gilberto Kassab (Cidades), a quem responsabiliza pela derrocada do DEM, Eduardo Campos, por quem foi esnobado nas eleições de 2014 às vésperas da aliança com a ex-senadora Marina Silva, e Demóstenes Torres, por ter escondido as relações espúrias que mantinha com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Apesar da proximidade com Demóstenes, saiu incólume da hecatombe que derrubou o antigo aliado.
Ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, porém, reserva um capítulo especial: atribui ao mensaleiro a ordem para a publicação, no livro do jornalista Fernando Morais, de que seria favorável à esterilização de nordestinas para conter o crescimento populacional. Caiado, ele próprio casado com a baiana Gracinha, ganhou indenização de 1,2 milhão de reais pelo episódio, embora o caso ainda esteja aberto no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Mergulhado na política desde cedo, Caiado sempre conviveu com o histórico controverso da família - o avô Totó Caiado, também ex-senador, foi um temido coronel de Goiás, enquanto parentes foram denunciados mais de uma vez por trabalho escravo. A professora Lena Castelo Branco, estudiosa da família do congressista, lembra que, no imaginário popular, as referências a Totó chegavam até a acusações de assassinato. "Deparei-me com a forte representação negativa da família, que, disseminada no imaginário popular, contaminou o próprio sobrenome Caiado", relata ela no prefácio do livro Poder e Paixão: a saga dos Caiado.
O sistemático e esquentado Ronaldo Caiado é considerado por aliados como o "trator da oposição". Para adversários, o "demônio do agronegócio". Na carreira política, disputou apenas uma vez o governo de Goiás, em 1994. Na época, não chegou sequer ao segundo turno. Nos anos seguintes, da pouca representatividade na Câmara até a conquista da liderança do DEM na Casa, alternou alianças e rupturas com caciques goianos como Perillo, Iris Resende e Vilmar Rocha. Na última eleição, candidatou-se a senador na chapa de Iris, derrotou Vilmar e se recusou a dar guarida à aproximação que José Agripino e ACM Neto, prefeito de Salvador, ensaiaram com Marconi Perillo. Depois de tantos anos no Legislativo, ainda espera chegar ao Palácio das Esmeraldas eleito por voto popular. Publicamente, no entanto, despista sobre as aspirações políticas: "não sou homem de suprimir etapas". "Vou analisar o cenário em 2018 porque fazer projeções e conclusões agora seria primário", justifica.
Do plenário da Câmara, Ronaldo Caiado protagonizou históricas brigas com parlamentares governistas. Durante a votação da MP dos Portos, que ajudou a transformar em uma das mais longas da história da Casa, ele chamou, aos berros, o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PR) de "chefe de quadrilha". Com a habilidade de elevar o tom mantendo um sorriso irônico no rosto, afirmou também que ministros do governo Dilma teriam de dar explicações à Casa nem que fosse "debaixo de vara". O fazendeiro Caiado diz que usou a expressão em um sentido estritamente jurídico, mas reconhece o estilo incisivo. "Prefiro um debate frontal para colocar as minhas posições. É preciso coragem para dizer a verdade, não adianta dourar a pílula."
Ao longo dos mandatos no Congresso, flexibilizou parte do perfil de "turrão" e hoje recorre a conselheiros para embasar suas intervenções na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, onde discute a proposta de ajuste fiscal defendida pelo governo, ou seus discursos no Plenário. Estuda com uma equipe de tributaristas, constitucionalistas e especialistas em finanças às segundas-feiras. Não raro se aconselha com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e com o jurista Ives Gandra Martins.
Nos últimos dias, esteve às voltas com uma operação de emergência da sogra Odete, que quebrou as duas pernas em uma queda no chuveiro. Especializado em coluna vertebral, já atendeu por décadas moradores da comunidade agrícola de Bonfim de Feira (BA), adversários e aliados políticos. Da medicina, diz levar ensinamentos para a lida política. "Assim como não sei esperar para operar um doente, não sei achar na política que 'o tempo vai decidir'", explica.
Convicto de suas crenças, Caiado também questiona ações da oposição e defende que as legendas adversárias ao governo dilmista devem se unir para partilhar melhor as funções e estratégias em comissões e no Plenário do Senado. "Não vamos deixar passar incólume essa situação de fraude e mentira, convalidada pelo processo eleitoral, quando a causa dessa crise política é exatamente a falta de credibilidade provocada pelas mentiras da presidente", afirma. Em um momento no qual a oposição ganha força no Congresso e nas ruas, Caiado pode dizer que nunca titubeou no enfrentamento ao PT. Por outro lado, a fama de personalista pode prejudicá-lo. Os próximos quatro anos dirão se o incontrito senador já atingiu o seu auge ou se ainda tem degraus a galgar.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/ronaldo-caiado-a-oposicao-boa-de-briga

Os embates de Caiado

  • http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/ronaldo-caiado-a-oposicao-boa-de-briga

sábado, 28 de março de 2015

Os 8% de teimosos agora são mais de 60% e se multiplicam nas ruas. A seita lulopetista ficou menor que a inflação real

Atualizado às 9h30

Foto: Bruno Santos
Foto: Bruno Santos
Em 9 de junho de 2009, o título do post reproduzido na seção Vale Reprise ironizou o pânico epidêmico provocado pela instauração de uma CPI da Petrobras: alguém deve ter gritado “olha o rapa!” na porta da maior estatal brasileira, resumia. Estavam pálidos de espanto diretores, fregueses, fornecedores, pequenos acionistas e o homem do cafezinho. Estavam transidos de horror o presidente da República, ministros de Estado, senadores e deputados da base alugada, oposicionistas a favor, porteiros do Palácio do Planalto e o jornaleiro do Congresso. Por que tanta correria? Por que o medo coletivo? Aí tem, concluía o texto.
Tinha mesmo, sabiam os que nunca perderam o juízo e a vergonha. E como tinha, vem reiterando desde março de 2014 a devassa do Petrolão. Abstraídas as dimensões assombrosas da roubalheira e as propinas calculadas em milhões, a descoberta do maior, mais guloso e mais atrevido esquema corrupto da história não pareceu surpreendente aos olhos de quem não cai em conto do vigário e vê as coisas como as coisas são. Os leitores da coluna são testemunhas (e o timaço de comentaristas é protagonista) desse filme em que o PT morre no fim. E não foi por falta de aviso que tanta gente demorou tanto para entender que o país está sob o domínio de um bando de farsantes.
Se a abulia epidêmica fosse menos longeva, os comparsas envolvidos no grande embuste seriam alcançados mais cedo pelo desmoralizante castigo sonoro que fez Lula perder a voz, o rumo e o sono no Maracanã, na cerimônia de abertura dos Jogos Panamericanos de 2007. A vaia, lembrou um post de 17 de julho de 2009, “é o som que funde a fúria, o cansaço, o sarcasmo e a chacota. Sobressalta o presunçoso, silencia o falastrão, inibe o debochado, constrange o arrogante, desfaz o sorriso do canalha, assusta o ladrão. Nada como a propagação da vaia para combater surtos de bandidagem política semelhantes à que devasta o Brasil neste começo de século. Não há nada a perder além da sensação de impotência e da indignação há tanto tempo represada”.
Há seis anos, os supermercados de pesquisas repetiam que não passavam de 8% os que achavam ruim ou péssimo o governo lulopetista. Os nativos indignados, portanto, já foram uma espécie em extinção. Eram tão poucos que alguns blogueiros estatizados sugeriram que os críticos do governo fossem identificados um a um e examinados cuidadosamente, porque certamente sofriam de algum distúrbio psíquico ainda não catalogado pela ciência. A ideia ganhou força em 2012, quando o poste ameaçou superar o recorde do seu fabricante e chegar a 100% de popularidade (ou 103%, se a margem de erro oscilasse inteira para cima).
Passados dois anos, todas as pesquisas escancaram a dramática mudança na paisagem. Os 8% se multiplicaram com extraordinária rapidez. Agora são mais de 60% os que acham ruim ou péssimo o desempenho de Dilma e seus ministros A resistência democrática está nas ruas ─ e na ofensiva. Os poderosos vigaristas da virada da década estão acuados por manifestações de protesto. Muitos estão na cadeia, outros fogem do camburão. Lula sumiu, Dilma não sabe o que fazer e não diz coisa com coisa. Os satisfeitos com o desgoverno somam desprezíveis 7% do eleitorado.
A seita lulopetista ficou do tamanho da inflação oficial. E muito menor do que a inflação real.

Diários inéditos de Renato Russo

Diário inédito escrito enquanto Russo estava internado
Diário inédito escrito enquanto Russo estava internado
Renato Russo deixou uma grande quantidade de material inédito, que a partir de julho começará a vir a público.
Em julho, a Companhia das Letras lança Só Por Hoje e Para Sempre, o primeiro dos cinco volumes que publicará nos próximos anos com este acervo. O livro é o diário escrito pelo cantor em 1993, durante o período em que ficou internado numa clínica carioca voltada para dependentes químicos.
O texto é um relato do Renato sobre sua luta contra a dependência, tentando entender como chegou a ela e repensando sua vida a partir dessa perspectiva. “(…) Juntos não precisaremos ter medo. Você é a minha luz, eu sou sua consciência (…) Vamos ser felizes de novo”, escreve Renato, numa “carta” escrita para ele mesmo.
Em outros trechos do texto, intitulado Fax especial de Renato para Junior, em mãos, o cantor põe no papel o sentimento de ter se reencontrado. “Que bom que você está comigo novamente! (…) Aprendi muitas coisas novas que sei que você vai adorar – é tudo aquilo que você me dizia antes que me deixasse perder no mundo (…) espero que você me perdoe, meu pequeno grande amigo! (…)”.
Num último parágrafo, Renato cita a frase que dará título ao livro a ser lançado. “Depois eu explico essa história de ‘só por hoje’. É tão maravilhoso isso, você vai adorar, é a sua cara. Só por hoje e pra sempre”. Por fim, assina “Sempre seu, Renato Manfredini Junior”.
O livro detalha também, é claro, a intimidade da Legião Urbana.
carta
A carta de Renato Russo a ele mesmo (clique para aumentar)
Por Lauro Jardim
http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/diversos/livro-com-anotacoes-ineditas-de-renato-russo-em-clinica-de-reabilitacao-sera-lancado-em-julho/

sexta-feira, 27 de março de 2015

Economia brasileira escapa por pouco da retração ao subir 0,1% em 2014 - Nova metodologia do IBGE ajudou para o que resultado não fosse pior; maior impacto negativo veio da indústria

Fábrica de computadores da Positivo, em Curitiba
Maior impacto foi a retração da indústria(Marcelo Almeida/EXAME/VEJA)
A economia brasileira cresceu apenas 0,1% em 2014, em relação ao ano anterior, divulgou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2013, o crescimento foi de 2,7%, de acordo com dados revisados - antes apontava para avanço de 2,5%.
O resultado verificado no ano passado foi salvo, segundo economistas, pela revisão da metodologia de cálculo do IBGE. Em valores correntes, o Produto Interno Bruto (PIB) atingiu 5,52 trilhões de reais no ano passado. Já o PIB per capita ficou em 27.229 reais, queda de 0,7% em volume em relação a 2013.
O PIB é analisado pelos economistas sob duas óticas distintas: a da oferta, representada pelo setor produtivo (agropecuária, indústria e serviços) e a da demanda, representada por investimentos, consumo das famílias, gastos do governo e balança comercial (exportações menos importações).
Do lado da oferta, o destaque do desempenho pífio no ano foi para a queda de 1,2% da indústria. Já a agricultura cresceu 0,4% e o setor de serviços mostrou variação positiva de 0,7%. Sob a ótica da demanda, os investimentos tiveram baixa de 4,4% e o consumo das famílias subiu 0,9%. Já os gastos do governo aumentaram 1,3% em relação a 2013, lembrando que 2014 foi ano eleitoral.
Segundo o IBGE divulgou nesta manhã, a taxa de investimento no ano de 2014 foi de 19,7% do PIB, abaixo do observado em 2013 (20,5%). A taxa de poupança foi de 15,8% em 2014, ante 17,0% em 2013.
Na análise do setor externo, as exportações recuaram 1,1% e as importações de bens e serviços caíram 1%. Entre as exportações, os destaques negativos foram a indústria automotiva (incluindo caminhões e ônibus) e embarcações e estruturas flutuantes. Por outro lado, o Brasil vendeu mais ao exterior produtos siderúrgicos, celulose e produtos de madeira. No caso das importações, o país comprou mais máquinas e equipamentos e indústria automotiva (incluindo peças e acessórios).
Lava Jato - A paradeira verificada em 2014 ainda não havia captado os efeitos da Operação Lava Jato no setor da construção civil e ainda tinha o atenuante da Copa do Mundo, que movimentou bilhões de reais em serviços. Em 2015, não só a Lava Jato deve impactar em cheio o setor de infraestrutura, como o país também padecerá dos efeitos do ajuste fiscal - que é necessário, porém mais doloroso quando feito em períodos de recessão.
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Quarto trimestre - Considerando apenas o quarto trimestre em relação ao terceiro, houve aumento de 0,3% no PIB, salvo pela agropecuária que cresceu 1,8%. O setor de serviços ajudou também ao registrar alta de 0,3%, mas a indústria recuou 0,1%. Contudo, se comparado ao quarto trimestre de 2013, na série sem ajustes sazonais, a economia brasileira retrocedeu 0,2%. O IBGE revisou ainda o PIB do terceiro trimestre, que passou de avanço de 0,1% para alta de 0,2% ante abril a junho.
Na avaliação de economistas consultados pelo site de VEJA, o importante não é o número do PIB em si, mas a tendência de queda para os próximos trimestres - algo que o próprio ministro da Fazenda Joaquim Levy admitiu recentemente. "A herança de 2014 será muito ruim. O governo gastou muito, perdeu receitas importantes e levou o país a um déficit público recorde de 6,7% do PIB. Essa herança vai deixar a situação para o Brasil em 2015 ainda mais difícil. O cenário é de contração do crédito, risco de racionamentos de água e energia, e ainda inflação alta", diz Francisco Assunção e Silva, coordenador da Comissão de Política Econômica do Conselho Federal de Economia (Cofecon).
Já o professor de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Tharcisio Souza Santos, argumenta que, não bastassem os números ruins, há ainda a questão da mudança de cálculo do PIB, que provoca questionamentos entre estudiosos. "O pior nem é o ajuste, mas é essa revisão da metodologia que não sabemos direito como será e até que ponto é necessária. Perdemos um pouco da previsibilidade do que virá com o número", afirma.
Metodologia - Economistas já esperavam que as mudanças no cálculo do PIB, promovidas pelo instituto, aumentariam o tamanho da economia do país e afastariam o risco de recessão em 2014. As contas nacionais agora incorporam gastos bélicos e com pesquisa e desenvolvimento ao investimento e calculam melhor dados da construção civil e saúde.
As alterações estão sendo trabalhadas pelo IBGE desde 2012 e promovem uma mudança no ano-base da série histórica. Atualmente, a base é considerada o ano 2000, e com a atualização passará ao ano de 2010. O novo sistema também incorpora dados do Censo Agropecuário de 2006 e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008-2009, além de se adaptar às recomendações internacionais. Dessa forma, o PIB brasileiro se tornará mais comparável com o de outros países.

quinta-feira, 26 de março de 2015

O governo fecal

"É um governo de merda, mas é o meu governo".
O presidente do PT, Rui Falcão, pronunciou a frase ontem à noite, repetindo o mote dos apoiadores de Salvador Allende.
No Chile, não deu muito certo, porque ninguém está disposto a se sacrificar para defender um governo reconhecidamente fecal. No Brasil, é provável que a história se repita.
Rui Falcão estava numa reunião com sindicalistas da CUT e anunciou o apoio do PT ao ato programado para o dia 31, "em defesa da Petrobras".
Em vez de "O petróleo é nosso", agora o PT proclama: "A merda é nossa".
A merda é dele

terça-feira, 24 de março de 2015

Focus: Inflação acima de 8% neste ano e recessão já perto de -1%

Na VEJA.com:

Nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai divulgar o resultado da economia no quarto trimestre do ano passado e do ano cheio. As perspectivas são pessimistas, mas 2015 não compensará o prejuízo. Segundo economistas ouvidos pelo Banco Central (BC) para o relatório semanal Focus, a perspectiva para o Produto Interno Bruto (PIB) ao fim deste ano é de queda de 0,83%. Na semana anterior, a mediana das projeções apontava para um recuo um pouco menor, de 0,78%. Para 2016, porém, as estimativas caíram, de 1,30% para 1,20%, mas ainda são de crescimento da atividade econômica.
De acordo com o Focus, a expectativa do mercado para a inflação também piorou nesta semana. No relatório anterior, economistas previam alta de 7,93% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2015. Agora, essa projeção passou para 8,12%. Se confirmada, essa será a maior inflação anual desde 2003, quando o IPCA subiu 9,30% em doze meses até dezembro. Para 2016, os preços ao consumidor devem subir 5,61%, quase a mesma projeção da semana passada (5,60%).
Na sexta-feira, o IBGE divulgou a prévia da inflação (IPCA-15) de março, que subiu 1,24% ante fevereiro e 7,9% em doze meses. A projeção para o câmbio também mudou: os economistas ouvidos pelo BC esperam que, ao fim do ano, o dólar fique em 3,15 reais ante 3,06 reais esperados na semana passada. Para 2015, a valorização da moeda americana deve ser ainda maior. O mercado espera, para o fim do ano que vem, dólar a 3,20 reais, contra 3,11 da semana passada.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/focus-inflacao-acima-de-8-neste-ano-e-recessao-ja-perto-de-1/

quinta-feira, 19 de março de 2015

A plateia do Petrolão saúda a chegada de Dirceu e exige a entrada em cena da dupla que modernizou o faroeste à brasileira

Arte: Tiago Maricate
Arte: Tiago Maricate
Em meados do século 20, auge do faroeste americano, nunca faltaram serviço e dinheiro a atores que, embora esbanjassem talento em qualquer papel, pareciam ter acabado de chegar de um círculo de carroções sitiado por índios, de uma perseguição a cavalo nas pradarias do Wyoming, de um tiroteio no saloon de Abilene ou de um assalto ao banco de Kansas City. Como em obras de ficção ninguém morre ou continua na cadeia, faziam um filme atrás do outro.
Todo clássico do gênero inclui no elenco integrantes dessa tropa de elite. Em Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven, 1960), por exemplo, lá estão Steven McQueen, James Coburn, Charles Bronson e Eli Wallach. Hoje é impossível imaginá-los fora da história. Sem o quarteto, pareceriam desfalcados tanto o grupo de pistoleiros que se juntam para livrar do inferno um vilarejo mexicano quanto o bando de vilões que o inferniza.
Neste início de século, auge do faroeste à brasileira, sobram serviço e dinheiro a personagens nascidos e criados para o papel de bandido na vida real. Esses meliantes vocacionais atuam com o desembaraço de quem começou roubando chupetas no berçário, atravessou a adolescência esvaziando o cofrinho da avó e virou PhD em assalto a cofres públicos com vinte e poucos anos. Para os delinquentes de estimação do governo lulopetista, é tão longa a vida quanto curto o castigo ─ quando acontece.
É compreensível que a elite desse clube dos cafajestes protagonize uma safadeza atrás da outra ─ e  que os donos dos prontuários mais notáveis apareçam num escândalo como o Petrolão, que transformou a maior estatal do país na mais produtiva usina de maracutaias do mundo. Até esta terça-feira, faltava no elenco do grande momento do faroeste à brasileira o imprescindível José Dirceu. A ilustração inspirada no inesquecível faroeste americano atesta que o destino enfim completou o grupo de sete pecadores envolvidos na maior ladroagem desde o Descobrimento.
Graças à devassa da movimentação financeira das empreiteiras do petrolão e da JD Assessoria e Consultoria, controlada pelo ex-chefe da Casa Civil, Dirceu entrou no script encarnando um consultor especializado em negociatas bilionárias. Entre 2006, já despejado do Planalto, e 2013, quando passou a hospedar-se na Papuda por decisão do STF, o ex-capitão do time do Lula faturou 29,2 milhões de reais. A Justiça e o Ministério Público Federal descobriram que boa parte dessa bolada lhe foi repassada pelos saqueadores da Petrobras.
Em 2012, já acossado pelo julgamento do Mensalão, o consultor embolsou 7 milhões de reais. Em 2013, condenado por corrupção a sete anos e onze meses de prisão, amealhou outros 4,159 milhões de reais sem sair da cela. Não é pouca coisa. Mas a façanha não surpreendeu quem acompanha de perto a carreira do artista. À promissora estreia no cult que revelou Carlinhos Cachoeira e Valdomiro Diniz seguiu-se a extraordinária performance como chefe da quadrilha de mensaleiros. Dirceu vai brilhar no Petrolão. E tem tudo para encarnar mais de um personagem relevante.
Como tudo no moderno faroeste à brasileira, o Petrolão é coisa de Lula e Dilma Rousseff. Produtor, roteirista e diretor, o ex-presidente faz de conta que também desta vez não sabe de nada. Melhor perguntar a Dilma, sugere. A assistente de produção finge que a obra lhe caiu no colo pronta e acabada ─ e jura que não tem nada de extraordinário. A plateia discorda. Neste domingo, quase 2 milhões de brasileiros gritaram nas ruas os nomes dos dois realizadores que insistem em manter distância dos holofotes.
Logo o país inteiro saberá que o mais repulsivo dos escândalos não teria existido sem Lula e Dilma. Os espectadores saudarão a entrada em cena da dupla com uma vaia do tamanho do Petrolão.       

domingo, 15 de março de 2015

O populismo por trás dos programas federais para educação

Uma das principais bandeiras petistas na campanha presidencial de 2014, os programas educacionais começam a revelar sua inviabilidade econômica

Baixa atratividade da carreira docente explicaria falta de professores
Crise econômica pode afetar oferta de vagas nos programas Fies e Pronatec, ambos do governo federal(Thinkstock/VEJA)
O investimento do governo federal em programas educacionais voltados para o ensino superior, com o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), e o ensino técnico, com o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), foi uma das principais bandeiras do PT na campanha presidencial, em 2014. Já no primeiro semestre da 'Pátria educadora', porém, eles revelam sua natureza populista: são programas criados sem critério ou planejamento orçamentário que logo se mostram economicamente inviáveis.
A necessidade de implementação de políticas públicas para melhorar a qualidade da educação e combater as desigualdades educacionais no país é inquestionável. Mas programas que tornam alunos e instituições de ensino dependentes de recursos federais, como Fies e Pronatec, podem sofrer - e causar - sérios danos estruturais ao menor abalo no cenário econômico.
Dependência - Muitas instituições de ensino dependem da verba federal, oriunda dos programas educacionais, para sobreviver. Segundo dados da consultoria Hoper Educação, uma em cada quatro instituições privadas de ensino superior possuem mais de 30% de seus alunos oriundos do Fies. "A redução de doze para oito pagamentos ao longo do ano impactará principalmente essas instituições que têm grande comprometimento financeiro vinculado ao programa", explica Romário Davel, consultor da Hoper.
O problema é maior em regiões onde a demanda por vagas no ensino superior é maior. No Acre, por exemplo, 59% dos alunos das faculdades privadas utilizam o financiamento do governo para pagar os estudos. "São instituições que terão dificuldades para equilibrar o orçamento, uma vez que mais da metade da receita é oriunda do caixa federal", diz Davel.
Prejuízos - Com o Fies. o governo Dilma promoveu extraordinária ascensão e queda de empresas no setor. Com a liberação indiscriminada do financiamento federal, o valor de mercado de instituições privadas de ensino superior foi às alturas e criou uma bolha no setor da educação. O primeiro tombo veio com as mudanças nas regras do Fies, anunciadas no final de 2014, instituindo a nota mínima no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a redução do número de parcelas de repasses federais às instituições. O anúncio provocou a queda rápida das ações. De lá para cá, as quatro principais empresas de capital aberto do setor - Kroton, Estácio, Anima e Ser Educacional - perderam 15 bilhões de reais em valor de mercado. A bolha estourou.
O quadro foi agravado pela dificuldade dos alunos em se cadastrar no sistema do Fies e pelo atraso no repasse às faculdades privadas previsto para fevereiro. "A captação de novos alunos pelo Fies já foi comprometida para 2015, uma vez que o sistema ficou fechado para novos contratos nesses meses iniciais do ano, quando as faculdades registram mais matrículas", diz Davel.
O pacote de mudanças nas regras do Fies para renovação e adesão ao programa visa ao corte dos gastos federais com o programa que, sem controle, saltaram de 1 bilhão para 14 bilhões de reais em apenas quatro anos. As medidas, contudo, trouxeram derrotas extra ao governo: na semana passada, aJustiça suspendeu o limite de reajuste na mensalidade imposto pelo MEC.
A dependência do programa também atinge os alunos. Muitos estudantes que ainda não conseguiram renovar o contrato com o Fies não possuem recursos para bancar a faculdade. Para eles, os cortes no programa podem interromper o sonho do diploma universitário.
Mapa do Fies
Mapa do Fies(VEJA.com/VEJA)
Ensino técnico - O comprometimento financeiro em relação ao governo federal também dá sinais de insustentabilidade no âmbito do ensino técnico. Apesar da promessa da presidente Dilma Rousseff de ofertar 12 milhões de novas vagas no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico (Pronatec), o programa começou 2015 com dívidas.
No início de fevereiro, escolas profissionalizantes relataram atrasos de três meses no pagamento das bolsas, ofertadas para alunos de baixa renda. "Desde que o programa foi criado, em 2013, muitas instituições deixaram de captar novos alunos pagantes, porque a maioria aguarda as vagas gratuitas ofertadas pelo governo. Isso aumentou a dependência financeira com relação ao repasse federal", explica Henrique Mesquista, presidente da Associação Nacional das Instituições Privadas de Educação Profissional Técnica de Nível Médio (Anietec).
Diante dos atrasos, a orientação da Anietec para as instituições de ensino é que eles busquem equilibrar as contas para reduzir os riscos se houver nova demora nos repasses. "Além disso, vamos tentar atuar no Ministério da Educação para evitar que os atrasos se repitam", diz Mesquita.
Segundo Antônio Eugênio Cunha, presidente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe-ES), essa não foi a primeira vez que o governo atrasou o pagamento das mensalidades do programa. "O repasse cai geralmente após 60 dias da execução do programa, quando na prática deveria ser de 30 dias. Isso afeta o pagamento de professores. Em dezembro, muitos ficaram sem receber 13º salário e férias em decorrência dos atrasos", explica. O Sinepe te 16 escolas cadastradas no Pronatec, instituições que, segundo Cunha, cogitam deixar o programa caso os atrasos continuem.
Já Alba Valeria Santos, coordenadora do Consórcio Mineiro Metalúrgico para Formação e Qualificação Profissional, acredita que uma redução de investimento no Pronatec gerará menor oferta de vagas nos cursos técnicos e de qualificação profissional. "Os diversos segmentos serão impactados, principalmente o industrial, que tem sido beneficiado com um maior número de profissionais capacitados para o mundo do trabalho, possibilitando assim o preenchimento das vagas existentes no mercado profissional", explica.
Ou seja, em alguns casos, a emenda pode sair pior que o soneto.