terça-feira, 31 de março de 2020

Políticos ainda irão descobrir: é impossível fechar negócios não-essenciais sem afetar os essenciais

Políticos ainda irão descobrir: é impossível fechar negócios não-essenciais sem afetar os essenciais
E a abolição das mais básicas liberdades individuais e econômicas
Como todos já sabem — e, principalmente, vivenciam —, em decorrência do surto de Covid-19, vários prefeitos e governadores ao redor do país ordenaram o fechamento de todos os empreendimentos tidos como "não-essenciais".
Os exemplos mais famosos de negócios tidos como não-essenciais são restaurantes, bares, cafés, cinemas, boates, lojas, academias, shoppings e outros negócios.
Na prática, são todos os empreendimentos que não são tidos como "cruciais à nossa sobrevivência".
Quem desobedecer e abrir seu comércio está sujeito a multas, perda de alvará e, em última instância, cadeia.
Mas aí começa a encrenca. 
Como já era de se esperar, políticos e burocratas, aparentemente, não fazem a mais mínima ideia de como funcionam as cadeias de produção e suprimento de uma economia de mercado: mesmo no curto prazo, fechar todas as atividades supostamente não-essenciais significa um enorme risco para a continuidade das próprias atividades essenciais. 
Vários dos empreendimentos listados como não-cruciais para a vida humana são, com efeito, integrantes da cadeia de suprimentos daqueles outros empreendimentos tidos como cruciais para a vida humana.
Hospitais, por exemplo, não podem permanecer funcionais sem toda uma cadeia de suprimentos minimamente funcional. E os trabalhadores dos hospitais podem precisar de recorrer a serviços não-essenciais para se manterem sãos.
Se, por exemplo, a peça de um aparelho de ar-condicionado do hospital quebra, ou, igualmente ruim, se qualquer peça de qualquer equipamento hospitalar (e todos eles são cruciais) tem de ser reposta, de onde elas virão? O comércio de manutenção e reparação de ar condicionado, de motores, de refrigeradores e de demais equipamentos e máquinas está fechado por ordens de prefeitos e governadores. Ordenar uma peça nova para as poucas fábricas que ainda estão operando não é viável (por causa do fator tempo). E as distribuidoras não necessariamente estão estocadas. Dependendo da peça, ela pode estar em falta. E aí o hospital tem de parar suas atividades. E em meio a um surto.
Se ocorre uma pane em algum computador ou equipamento eletrônicos dos hospitais, nada pode ser feito, pois as oficiais de consertos também estão fechadas.
O comércio de locação de caçambas para a remoção de detritos também está fechado.
E todo o setor de serviços voltados para o necessário relaxamento e distração das equipes médicas, que são seres humanos como nós e que estão intensamente sob pressão, também está abolido. A rotina dessas pessoas é hospital-casa-hospital, sem nada mais com o que se distrair. 
E piora: se o celular de algum deles estragar (o que é perfeitamente factível), não há o que fazer, pois as lojas de consertos de celulares (assim com as de conserto de televisores, computadores e similares) também estão fechadas. Ou seja, o médico nem sequer conseguirá se comunicar. 
Se o carro estragar, as oficinas estão fechadas. Ele terá de ir táxi ou Uber. Mas se o motorista estiver contaminado, há risco de transmissão, pois um médico não entrará no veículo com trajes de hospital (luvas e máscaras).
E há também as coisas que aparentemente são mais triviais, mas são igualmente importantes. Por exemplo: lojas que vendem importantes equipamentos elétricos e eletrônicos estão fechadas (assim como quase todas as fábricas). Se hospitais, médicos ou meros mortais precisarem de algo movido a eletricidade (quase que tudo, hoje em dia), eles até podem conseguir por delivery, mas nem todas possuem esse sistema. Um hospital até consegue com alguma facilidade, mas médicos e demais pessoas físicas em suas casas, não.
Mas isso ainda não é nada. O próprio transporte de cargas nas estradas está comprometido.
Desta vez, caminhoneiros estão com toda a razão
A ordem de se fechar restaurantes foi estendida para os restaurantes de beira de estrada, que são exatamente aqueles onde os caminhoneiros almoçam, jantam e tomam banho. Para piorar oficinas, lojas de peças e borracharias também foram fechadas.
Sem serviços e restaurantes nas estradas, caminhoneiros pedem apoio
Diversos relatos de caminhoneiros nas redes sociais e em grupos de WhatsApp apontam que não há em diversas regiões do interior do país condições mínimas para manter o transporte de mercadorias, sobretudo por causa de ações restritivas ao tráfego de pessoas e veículos. 
Borracharias, lojas de peças e serviços de mecânicos, por exemplo, não foram enquadrados como essenciais e, portanto, não podem abrir diante do Decreto 10.282 publicado em 20 de março. O fechamento de restaurantes é outro entrave apontado pelos motoristas.
"Não temos onde comer. A caixa de cozinha dos caminhões quebra um galho, mas não dá para estocar comida. Não temos onde tomar banho. Não dá para continuar viagem", diz o caminhoneiro Ilizeu Kosooski , de Garibaldi (RS), que chora em vídeo que circula em vários grupos. 
No depoimento, ele afirma que um restaurante conhecido de beira de estrada em Casimiro de Abreu, no Rio de Janeiro, estava aberto e ontem ele conseguiu almoçar. Mas após às 16 horas a Vigilância Sanitária do Estado mandou fechar o estabelecimento. "Eu estava me programando para jantar lá e seguir viagem. Mas disseram que eles têm que ficar de portas fechadas."
O mesmo relato é feito por diversos motoristas, em estradas diferentes. "Não tem onde tomar banho", diz um áudio que circula em redes sociais. "Não sou bicho para ficar sem banho". […] 
Wanderlei Alves, conhecido como Dedeco, afirmou ao Valor que está sendo cobrado para entregar materiais hospitalares com urgência para a Secretaria da Saúde do Maranhão, mas está com medo de seguir viagem. "Estou carregado de máscaras, luvas e outros materiais essenciais para este momento. Mas não posso ir até o Maranhão e passar fome. Se é para morrer de fome, fico com minha família e morro abraçado", diz ele, que é de Curitiba (PR). Dedeco saiu de Araquari, em Santa Catarina, no sábado e, se tudo der certo, pretende chegar em São Luis amanhã.
"Estamos vendo justas homenagens para médicos, enfermeiros e até profissionais de limpeza. Mas se nós pararmos, nenhum deles come. E também não há combustível para o transporte de doentes", completa. 
Ou seja, estranhamente, prefeitos e governadores não veem borracharias, oficinas e pontos de alimentação como serviços essenciais.
Os relatos de restaurantes fechados nas estradas vão se avolumando. Nos poucos que ainda estão abertos, há apenas o serviço de entrega de marmitas, o que significa que os caminhoneiros têm de se aglomerar em filas (exatamente o oposto do que recomendas as medidas sanitárias) e esperar um bom tempo até conseguirem a sua comida.
Como corretamente disse um deles:
"Querem que os motoristas não parem, para não faltar as coisas, mas estão com restaurantes fechados, borracharias e mecânicas fechadas. Quero ver quando os caminhoneiros pararem, quem irá levar comida para as cidades? […] Transportamos comida mas temos comida para comer."
E o problema não se limita apenas à alimentação. Se o caminhão estraga (motor ou suspensão, por exemplo) ou tem o pneu furado, seja na estrada ou mesmo na cidade, não há como o caminhoneiro chamar um borracheiro ou um mecânico, pois, como dito, tais serviços estão proibidos, pois foram tipificados por políticos como "não-essenciais". 
E então, como consequência, o caminhão fica parado e, caso não seja saqueado, a carga (alimentos, remédios e equipamentos higiene hospitalar) simplesmente não é entregue. E tudo porque um serviço "não-essencial" foi proibido.
O fim da liberdade e a ascensão das autocracias
Recentemente, o governador paulista João Dória (PSDB), que sempre foi um dos mais radicais entusiastas do confinamento total e que decretou o fechamento total do setor de serviços do estado, disse que as fábricas não podem parar.
A fala é correta, mas a atitude é contraditória. Não faz sentido nenhum dizer que as fábricas devem continuar operando, mas proibir o comércio não-essencial de funcionar. Na prática, ele liberou a ponta inicial da cadeia produtora, mas fechou a ponta final. Produzir carros está liberado, mas vendê-los é proibido.
E isso está ocorrendo em todo o Brasil. João Dória é apenas o caso mais visível por ele ser o governador do mais rico estado do país. Em todos os outros estados observa-se o mesmo fenômeno totalitário.
Há até a inacreditável proibição de se locomover por estradas, um atentado à mais básica liberdade do indivíduo. 
E o mais interessante é que tais atos são explicitamente inconstitucionais, mas não se vê nenhuma manifestação contrária dos supostos amantes da Constituição. OAB e MP estão em silêncio. E a própria imprensa, que deveria denunciar, foi a primeira a bater palmas e se transformou na maior defensora deste descalabro, inclusive sites que se autointitulam antagonistas do establishment. 
Na prática, o país foi subdividido em várias autocracias regionais e municipais, com cada uma delas fechada para as outras cidades e para os outros estados. E o mercado foi abolido. A propriedade privada não foi confiscada, mas agora opera inteiramente sob ordens de políticos, que determinam até quando ela pode abrir ou não. É a própria manifestação do fascismo clássico: propriedade privada sob total controle do estado.
Conclusão
Além do totalitarismo, há também aquele inevitável festival de incoerências. Por exemplo, há alguns municípios que ainda permitem a abertura de algumas lojas, mas reduziram o horário de funcionamento deles. Além de não fazer nenhum sentido, tal medida apenas piora a questão sanitária. Por ficarem abertas por menos tempo, a aglomeração de consumidores é maior. Normalmente, eles acabam se avolumando em filas em frente a estes estabelecimentos para conseguirem comprar algo. Isso é o exato oposto das medidas de distanciamento social preconizadas pelos governos.
Ou seja, quando as lojas não estão fechadas, elas estão aglomeradas e racionadas. Parece economia socialista.
A realidade é que, do nada, absolutamente do nada, as liberdades mais básicas dos cidadãos foram atacadas e toda a liberdade de mercado, que já era baixa no Brasil, foi abolida. Não se pode produzir, não se pode vender, não se pode consumir e não se pode trabalhar.
Apenas alguns setores estão autorizados pelo estado a funcionar. Os outros que desobedecerem e resolverem produzir serão punidos.
E o pior: políticos e burocratas seguem na firme crença de que é realmente possível fazer essa compartimentalização da economia: definir setores como essenciais e não-essenciais, separá-los e manter a economia funcionando sem qualquer ruído, havendo no máximo alguma perda de comodidade, e não uma completa disrupção de longas cadeias integradas de produção.
Para eles, a economia de mercado é como se fosse um chuveiro com duas torneiras de água quente e fria, e que, se você fechar a água quente, o banho pode até ficar mais desagradável, mas você sai limpo do mesmo jeito. Eles juram que a economia funciona de igual maneira: você pode fechar setores inteiros e, o máximo que isso trará, é um pequeno incômodo. E só.
E eventuais argumentos de que "os outros países também estão fazendo esse isolamento horizantal" não se sustentam. Não são todos os cientistas que pregam isolamento total (800 epidemiologistas e médicos já se manifestaram contra esse arranjo). E menos ainda os que pregam isolamento total sem nenhuma consideração de custos sociais. Ademais, unanimidade não equivale a razão.
Por fim, eis o mais curioso: contrariamente até mesmo ao que nós libertários sempre imaginamos, o totalitarismo está vindo dos governos municipais e estaduais, e não do governo federal. Chegamos ao inacreditável ponto em que a tradicionalmente centralizadora Brasília se tornou menos nefasta do que um prefeito e um governador de estado.

O fim da civilização?

O fim da civilização?
Pandemias passam. Destruições econômicas perduram
Nota do Editor
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) projeta uma perda de R$ 25,3 bilhões para a segunda metade de março. E isso em apenas quatro estados: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Distrito Federal. 
A CNC descartou qualquer previsão de crescimento no varejo este ano. Segundo a entidade, essas perdas são diretas, impostas pela pandemia de Covid-19. Pior: não estão contabilizadas as perdas indiretas decorrentes da queda espontânea da movimentação dos consumidores nas lojas.
Enquanto isso, nos EUA, há membros do Federal Reserve (o Banco Central americano) prevendo queda de até 50% no PIB americano no segundo trimestre do ano, algo que nunca se viu na história. Mais: a taxa de desemprego saltaria para 30%. O fato concreto até o momento é que o setor de serviços desabou 20% só neste mês de março.
Na Europa, o dado preliminar do PMI composto do IHS Markit para a zona do euro desabou a uma mínima recorde de 31,4 em março. Foi, de longe, a maior queda de um mês desde que a pesquisa começou em meados de 1998 e veio abaixo de todas as previsões de uma pesquisa da Reuters, que havia mostrado leitura de 38,8, pela mediana das estimativas. Ainda segundo o IHS Markit, os números de março sugerem que a economia da zona do euro está encolhendo a uma taxa trimestral de cerca de 2% (o que equivale a uma queda de 8% ao ano), e a escalada das medidas para conter o vírus poderá agravar a crise.
Prevê-se, ainda, que a já recessiva economia japonesa encolha mais 4% neste ano.
Obviamente, o mundo não está vivenciando exatamente uma recessão. Estamos vivenciando, isso sim, um quase que completo desligamento do setor privado imposto pelos governos. 
Ao redor do mundo, políticos e burocratas intervieram drástica e subitamente nas economias e, sem qualquer aviso, ordenaram o completo fechamento de todos os empreendimentos, permitindo apenas a venda de comida, remédios e combustíveis. Repentinamente, por ordens políticas, as economias ficaram isoladas, as transações comerciais foram proibidas, estabelecimentos foram compulsoriamente fechados, pessoas foram proibidas de trabalhar e obrigadas a ficarem confinadas em casa, a livre circulação nas estradas foi abolida, as viagens internacionais foram banidas e, na prática, quase todos os tipos de empreendedorismo foram compulsoriamente suspensos.
Em suma: os governos proibiram a execução de todas aquelas atividades que constituem uma economia saudável e pujante, na qual quem produz visa apenas a servir quem quer consumir. É neste arranjo, e apenas neste arranjo, que todos podem prosperar.
Todo o padrão de vida da população mundial repentinamente desabou, pois a divisão internacional do trabalho foi aniquilada.
O artigo a seguir faz a pergunta: vale a pena?
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Os governos ao redor do mundo estão usando a suposta ameaça de uma pandemia de COVID-19 para desligar a economia mundial. 
Como escreveu Daniel Lacalle, uma autoridade em economia energética: "A decisão de interromper as viagens aéreas e fechar todos os negócios não-essenciais já é uma realidade nas principais economias globais. Os Estados Unidos proibiram todos os voos vindos da Europa. Enquanto a Itália entra em um confinamento completo, a Espanha declara estado de emergência e a França ordena o fechamento de todos os locais e empresas públicas não-essenciais."
Eis um fato economicamente irrefutável: governos não podem resolver os problemas que eles próprios criaram por meio de programas de gastos mastodônticos e de déficits orçamentários ainda maiores. Isso apenas piora ainda mais as coisas. Políticas de gastos e déficits são políticas do lado da demanda. Mas o que está sob ataque agora é o lado da oferta. E choques de oferta devem ser resolvidos com políticas que facilitem a oferta.
A maioria das empresas paralisadas estão proibidas de produzir. Este é o problema crucial hoje: empreendedores estão proibidos de produzir. Consequentemente, as empresas vivenciarão, por óbvio, um colapso de suas receitas, tendo grandes problemas de capital de giro. E nada disso será resolvido com os governos incorrendo em maiores déficits. Não há como mitigar um choque de oferta recorrendo a políticas de demanda, que apenas aumentam o endividamento total do governo, e em nada ajudam os setores que estão sofrendo um colapso abrupto da atividade. 
E a ideia de o governo recorrer à pura e simples criação de dinheiro por meio de seus Bancos Centrais — ou seja, o inflacionismo descarado — é ainda mais perigosa.
Ludwig von Mises nunca se cansou de alertar contra tentativas de sustentar políticas desastrosas por meio da criação de dinheiro. Disse ele: "Nenhuma emergência pode justificar um retorno à inflação monetária. A inflação não tem como criar e produzir os bens de capital necessários para qualquer projeto. Não cura condições insatisfatórias. Apenas auxilia temporariamente a mascarar as atitudes dos governantes cujas políticas provocaram a catástrofe." 
E ele explica como sempre terminam as políticas inflacionistas: "A inflação é o complemento fiscal do estatismo. É a grande auxiliar dos governos arbitrários. É uma engrenagem no complexo de políticas e instituições que gradualmente levam ao totalitarismo."
E há ataques básicos à lógica. Como disse o nutrólogo Bill Sardi, os governos estão dispostos a travar a economia, destruir empresas, particularmente igrejas e restaurantes — que dificilmente terão recursos para reabrir seus estabelecimentos —, e obrigar as pessoas a ficarem em ambientes fechados, uma prática que reduzirá ainda mais os níveis de vitamina D e que pode resultar em infecções generalizadas e morte entre aposentados. 
A destruição fatal 
Para entender melhor o que está acontecendo, é necessário recorrer à orientação de dois grandes pensadores, Ludwig von Mises e Murray Rothbard. Eles nos ensinam uma lição vital. A civilização depende da divisão internacional do trabalho. Destruir a divisão do trabalho nos levaria ao caos. A vida como conhecemos não pode sobreviver sob um sistema de autarquia econômica.
Rothbard explica esse princípio essencial em seu ensaio "Liberdade, desigualdade, primitivismo e divisão do trabalho
Ninguém pode desenvolver plenamente suas capacidades e habilidades em qualquer área sem incorrer em uma especialização. O primata de uma tribo ou mesmo o camponês, vinculados a uma série interminável de distintos afazeres diários apenas para conseguir sobreviver, não conseguiam ter tempo ou recursos disponíveis para desenvolverem ao máximo qualquer interesse particular. Eles não tinham oportunidade para se especializarem, para desenvolver suas habilidades em qualquer área em que fossem melhores ou na qual tivessem mais interesse. 
Há mais de duzentos anos, Adam Smith apontou que o desenvolvimento e o aprofundamento da divisão do trabalho é a chave que qualquer economia consiga avançar para além do nível mais primitivo. Condição necessária para qualquer tipo de economia desenvolvida, a divisão do trabalho também é necessária para o desenvolvimento de qualquer tipo de sociedade civilizada. 
O filósofo, o cientista, o construtor, o comerciante – ninguém poderia desenvolver essas habilidades ou funções se não houvesse tido a oportunidade para se especializar. 
Ademais, um indivíduo que não viva em uma sociedade que usufrua uma ampla gama de divisões de trabalho não terá como empregar suas capacidades ao máximo. Ele não pode concentrar sua capacidade em um campo ou disciplina e avançar nessa disciplina e em suas próprias faculdades mentais. Sem a oportunidade de se especializar no que pode fazer melhor, ninguém pode desenvolver suas capacidades ao máximo; nenhum homem, consequentemente, pode ser completamente humano.
Embora necessário que a divisão do trabalho seja contínua e progressiva para a economia e a sociedade se desenvolverem, a extensão desse desenvolvimento limita o grau de especialização que uma determinada economia pode ter. Portanto, não há espaço para um físico ou um engenheiro de computação em uma ilha primitiva; essas habilidades seriam prematuras no contexto dessa economia. Como afirmou Adam Smith, "a divisão do trabalho é limitada pela extensão do mercado". 
Portanto, o desenvolvimento econômico e social é um processo que se reforça mutuamente: o desenvolvimento do mercado permite uma divisão mais ampla do trabalho; o isso, por sua vez, possibilita uma maior ampliação do mercado.
Já Ludwig von Mises vai exatamente na mesma linha. Em sua obra Ação Humana, ele aprofunda:
A divisão do trabalho, com sua contrapartida, a cooperação humana, constitui o fenômeno social básico.
A experiência ensina ao homem que a ação em cooperação é mais eficiente e mais produtiva do que a ação isolada de indivíduos autossuficientes. As condições naturais determinantes da vida e do esforço humano fazem com que a divisão do trabalho aumente o resultado material por unidade de trabalho despendido.
A divisão do trabalho, Mises nos diz, é a chave para o desenvolvimento da civilização: 
Concebemos assim o incentivo que induziu as pessoas a não se considerarem simplesmente adversárias na luta pela apropriação dos limitados meios de subsistência fornecidos pela natureza. Constatamos o que as impeliu, e permanentemente as impele, a se juntarem para colaborar. Cada passo na direção de um mais elaborado sistema de divisão do trabalho favorece os interesses de todos os que dele participam.
E qual a realidade atual? Neste momento, governos de todo o mundo querem que desistamos de tudo isso que já alcançamos. O abandono da divisão internacional do trabalho atingirá mais fortemente os países mais pobres, como os do continente africano, que dependem do comércio para sua simples sobrevivência diária. 
E com qual finalidade o sistema econômico mundial cuidadosamente forjado está sendo desmantelado? A disseminação do COVID-19 exige que destruamos a economia mundial? Fechar todo o setor industrial, de comércio e de serviços, proibir pessoas jovens e saudáveis de produzir, e obrigar todos a ficarem em casa enclausurados ajudará exatamente como a saúde e o bem-estar dos indivíduos?
E tudo isso por causa de quê? Um vírus que matou 18 mil pessoas no mundo, sendo 10 mil apenas na Itália e na China? Para se colocar em perspectiva, a tuberculose, uma doença antiga e pouco discutida atualmente, mata quase 1,7 milhão de pessoas por ano, ou 4.500 pessoas por dia. No mundo, são 10 milhões de infectados, o que dá uma taxa de mortalidade de espantosos 17% (a do Covid-19 mal chega a 2,5%).
Onde está o pânico com isso?
No final, o que os governos e seus defensores estão exigindo provavelmente irá piorar a doença. A lei marcial com a qual sonham deixará as pessoas acuadas dentro de suas casas, em vez de irem para as ruas ou para a praia, onde o sol e o ar fresco ajudariam a aumentar a imunidade. O pânico produzido provavelmente ajudou a espalhar a doença, à medida que multidões ensandecidas saíram raspando as prateleiras dos supermercados e das farmácias para disputarem o último rolo de papel higiênico, de mantimentos básicos, de máscaras e de álcool gel.
O jornalista Ben Swann, especialista em analisar dados, desbancar mitos e refutar falácias, comparou os números divulgados pela própria Organização Mundial de Saúde, e concluiu: uma gripe sazonal na Europa e nos EUA, que ocorre anualmente, tem uma taxa de fatalidade duas vezes maior que a da Covid-19.
Para concluir
Mesmo que o vírus COVID-19 seja mais grave do que os céticos acreditam, a humanidade pode superar isso. Mas não podemos sobreviver ao fim da divisão do trabalho. Seria o fim da civilização como a conhecemos.

quarta-feira, 18 de março de 2020

Os mais Odiados - J. R. Guzzo

J.R. Guzzo
Jornalista e colunista para o Estado de S. Paulo
Tanto faz, de certa forma, quanta gente vai ou não vai para a rua, ou quantas vezes está disposta a ir no futuro mais próximo. Além e acima de tudo isso, há um fato que não muda: o Congresso Nacional e todo mundo que está lá dentro formam hoje um dos grupos de seres humanos mais odiados do Brasil. Se fizessem uma “pesquisa de opinião” perguntando ao brasileiro qual o ambiente que ele respeita mais – a penitenciária da Papuda ou a dupla Câmara-Senado – qual você acha, sinceramente, que seria a opinião da maioria? 
Melhor não fazer pesquisa nenhuma, não é mesmo? A Papuda, na verdade, bem que poderia ser hoje a residência verdadeira de muitos dos nossos parlamentares – levando-se em conta que até setembro de 2019 cerca de 100 deputados, pelo menos, respondiam a ações penais no STF.
É muito ruim para a democracia de qualquer país que o Poder Legislativo seja tão detestado como o brasileiro. É muito pior, ainda, que os culpados disso sejam os próprios deputados e senadores, pelos atos que cometem e pela conduta que exibem ao público. Não é o “fascismo” que está sabotando o Congresso, nem a direita – embora existam, sim, grupos de extremistas que querem acabar com a história toda mandando para lá um cabo e dois soldados. Mas essa turma jamais seria capaz de derrubar um guarda noturno se tivesse como alvo pessoas de bem.
É o caso? Não é – e não adianta fazer de conta que é. A maioria da população, hoje, iria aplaudir se a Câmara e o Senado fossem fechados por um ato de força, ou ficariam indiferentes. Uma democracia assim está doente.
A verdade é que são eles mesmos que construíram, tijolo por tijolo, a sua imagem infame junto à maioria da população. A mídia, os partidos, as entidades que representam alguma coisa, os sociólogos, etc. se levantam indignados em defesa do Congresso. Queriam o quê? Basta ver o que fazem, no dia a dia da vida real, os deputados e senadores. Não é só a questão criminal – estão sendo processados por peculato, concussão, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e ativa, falsificação de documento. Conseguem, até mesmo, ser acusados em ações penais por trabalho escravo. Talvez pior que isso seja a postura que, no entender das pessoas, eles têm diante do interesse público – sempre que veem alguma chance, ficam contra. Escondem-se atrás de crimes coletivos, no plenário, para saquear o País.
Os congressistas brasileiros são, eles mesmos, uma dificuldade quase insuperável para quem, honestamente, quer defender o Poder Legislativo. Às vezes, até, nem merecem a imagem que têm. Ainda no ano passado, por exemplo, aprovaram a reforma da Previdência Social, uma obra que poucos parlamentos do mundo fizeram até hoje. Mas isso já está esquecido – o que interessa é o que o povo acha deles agora. E agora, além do passivo criminal, são vistos como inimigos de tudo o que o governo tenta fazer para melhorar o País, e como bandidos que agem o tempo todo contra as mudanças que o Brasil precisa. 
Nada pode ser considerado normal quando o presidente da Câmara dos Deputados faz 250 viagens em jatinhos da FAB durante o único ano de 2019 – mesmo porque uma das razões alegadas para isso é o fato de que ele não pode andar em nenhum meio de transporte público, para não ser triturado por vaias. Temos, aí, que o chefe da Casa do Povo não pode chegar a um metro do povo. 
É aceitável, uma coisa dessas? Apesar de toda a sua mediocridade, que sempre funciona como um manto protetor para qualquer político, os presidentes da Câmara e do Senado estão hoje entre as pessoas mais abominadas do País. Não dá para funcionar assim – com ou sem gente na rua