O carioca Nélson Silva, nascido em 16 de junho de 1916, havia chegado em 1943 a Porto Alegre, junto ao seu grupo musical ‘Águias da Meia-Noite’. Gostou da cidade e decidiu ficar. Além de músico, também era produtor e ator de rádio e televisão. Arranjou emprego na TV Piratini e na Rádio Farroupilha, onde criou, ao lado de J. Antônio D'Ávila, o mais famoso programa de rádio dos anos 50: ‘A Rádio - Sequência'. Do Rio de Janeiro, trouxe o amor pelo Flamengo, mas logo se identificou com o Internacional. Mais do que isso. Aprendeu a amar o time vermelho da capital gaúcha, tanto que antes de falecer, em 16 de março de 1983, aos 66 anos, disse que ser colorado e autor do hino do Clube eram seus maiores patrimônios. E, de fato, sua criação ‘Celeiro de Ases’ (esse nome em alusão ao ‘Rolo Compressor’, segundo o próprio autor), está eternizada na história do Inter.
Como bom compositor, Nélson Silva deixava as ideias fluírem. Não importava a situação ou o local. Quando a inspiração vinha, tinha que ter uma caneta em punho. E foi exatamente assim, de maneira inusitada e genuína, que nasceu o hino que é entoado até os dias de hoje pelos colorados. Mas, diferente do que se poderia imaginar, a criação não foi motivada por uma vitória do Inter. Foi em uma derrota para o Aimoré, em São Leopoldo, em 1957, que mexeu com os brios do carioca . "Nasceu de pura raiva este hino. Eu estava esperando minha noiva, Ieda, na Rádio Farroupilha, e com os ouvidos bem abertos esperando uma reação do Inter. Quando acabou o jogo, nós tínhamos perdido (3 a 0), e eu estava sem acreditar, desesperado da vida. Sentei em uma mesa e comecei a botar as ideias que tinha na cabeça no papel. Em meia hora, com aquela raiva toda, surgiu a marchinha 'Celeiro de Ases' que eu mesmo musiquei", declarou Nélson Silva em matéria publicada no Jornal do Inter de 15 de novembro de 1975.
Porém, o conhecimento da canção pelo público não foi imediato. No final da década de 1950, o Inter promoveu um concurso para a escolha do aguardado hino. A marchinha criada por Silva não concorreu oficialmente, mas já havia caído nas graças da nação vermelha e branca. “Durante muito tempo guardei para mim. Tinha sido um desabafo. Não era uma música. Depois eu me dei conta que ser colorado era isso mesmo: os sentimentos mandando. Então comecei a mostrar a música devagarzinho, cantando na rádio, nos bares e nas serestas. Daí foi pegando o embalo. Todo mundo falou para eu inscrever no concurso, mas eu pensei: ‘Se o pessoal já gostou, não vai ser um concurso que vai mudar isso’. Um dia fui ao Inter e disse para os homens: ‘tô dando os direitos do hino pro Inter’. Nunca ganhei nada com o hino. Quer dizer, falando em dinheiro, porque amizade ganhei muito. Chego no Beira-Rio hoje e é aquela festa", contou à publicação oficial do Clube.
Visionário
Outra curiosidade é que o ‘Celeiro de Ases’ foi escrito 18 anos antes do Inter sagrar-se campeão brasileiro. E, nas estrofes, Silva profetizou: ‘Glória do Desporto Nacional’/Colorado das Glórias, Orgulho do Brasil’. Um mês antes do time treinado por Rubens Minelli conquistar o inédito título nacional, em 14 de dezembro de 1975, o autor explicou de onde veio tanta certeza: "Hoje o pessoal me pergunta como é que eu fiz o hino há quase 20 anos prevendo que o Inter era o melhor do Brasil. Aí eu sempre respondo: ‘para mim, o Inter sempre foi o melhor do Brasil’. É isso que pensa sempre todo bom colorado”, disse.
'Gigante da Beira-Rio'
Você sabia que a casa dos colorados tem um hino? Além do ‘Celeiro de Ases’, Nélson Silva também presenteou o Inter com uma canção feira especialmente para o Beira-Rio. Confira a letra:
Lá onde se vê o vermelho do poente
A tingir as águas do Guaíba dolente
E qual pôr do sol sempre é mais colorado
Lá e muito além hão de ouvir nosso brado.
A tingir as águas do Guaíba dolente
E qual pôr do sol sempre é mais colorado
Lá e muito além hão de ouvir nosso brado.
Lá onde um crepúsculo de imensa beleza
Tal qual um presente belo da natureza
Faz caminho para o passeio da lua
Vaidosa da beleza sua.
Tal qual um presente belo da natureza
Faz caminho para o passeio da lua
Vaidosa da beleza sua.
Aqui no esplendor do poente
Vibrante, majestoso e colossal
Gigante Beira-Rio imponente
Estádio do nosso Internacional.
Vibrante, majestoso e colossal
Gigante Beira-Rio imponente
Estádio do nosso Internacional.
A mostrar toda a fibra colorada
Velhos baluartes, sangue novo
Pela grandeza do nosso Rio Grande
Para glória do Clube do Povo.
Velhos baluartes, sangue novo
Pela grandeza do nosso Rio Grande
Para glória do Clube do Povo.
'Celeiro de Ases'
Glória do desporto nacional
Oh, Internacional
Que eu vivo a exaltar
Levas a plagas distantes
Feitos relevantes
Vives a brilhar
Correm os anos surge o amanhã
Radioso de luz, varonil
Segue a tua senda de vitórias
Colorado das glórias
Orgulho do Brasil
Oh, Internacional
Que eu vivo a exaltar
Levas a plagas distantes
Feitos relevantes
Vives a brilhar
Correm os anos surge o amanhã
Radioso de luz, varonil
Segue a tua senda de vitórias
Colorado das glórias
Orgulho do Brasil
É teu passado alvirrubro
Motivo de festas em nossos corações
O teu presente diz tudo
Trazendo à torcida alegres emoções
Colorado de ases celeiro
Teus astros cintilam num céu sempre azul
Vibra o Brasil inteiro
Com o clube do povo do Rio Grande do Sul
Motivo de festas em nossos corações
O teu presente diz tudo
Trazendo à torcida alegres emoções
Colorado de ases celeiro
Teus astros cintilam num céu sempre azul
Vibra o Brasil inteiro
Com o clube do povo do Rio Grande do Sul
A partitura do hino colorado
Matéria de Felipe Silveira publicada na edição 109 da Revista do Inter
Colaborou: Arquivo Histórico e Biblioteca Zeferino Brazil
Colaborou: Arquivo Histórico e Biblioteca Zeferino Brazil
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