Fernando Pessoa e o bojador |
Autor(a): Sérgio Roxo da Fonseca
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Em Portugal o Cabo do Bojador tem o significado do último limite do homem e do seu mundo. Os poetas sempre se referem a ele. Fernando Pessoa num poema inesquecível deixou os seguintes versos: “Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena, quem quiser passar além do Bojador, tem que passar além da dor”. A questão se refere às grandes navegações que serviram para transformar o mar em coisa portuguesa: “ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal”!
As navegações portuguesas redesenharam o mundo. Afirma-se que a saga portuguesa foi muito mais importante e mais difícil do que a aventura dos astronautas que foram à lua. Os portugueses rasgaram os mares em navios com trinta metros mais ou menos, as caravelas, de sua invenção e aperfeiçoamento técnico. Tais navegações foram iniciadas no reinado de D. João I, promovidas pelo seu filho, o Infante D. Henrique. Após a tomada de Ceuta e da ocupação das Ilhas da Madeira e dos Açores, os portugueses passaram a supor que a África acabava logo ao sul de Marrocos, ali adiante. Não conheciam o Mapa Mundi. Nem eles e nem ninguém. Atrevidamente foram empurrando os limites do mundo e do homem continente abaixo, até que chegaram ao Cabo do Não. O Cabo do Não fica hoje nas costas do Senegal. Muito longo e cercado por recifes, ali a neblina tampava a visão dos navegadores. Aqueles que passavam por ele, jamais voltavam. Uns acreditavam que os ventos dali em diante sopravam para o sul, impedindo o retorno a Portugal, rumo norte. Outros pensavam que ali acabava o mundo e a neblina era o resultado da evaporação das águas que ferviam ao cair no inferno lá embaixo. Em 1434, o navegador Gil Eanes, ao se aproximar do cabo, lançou sua esquadra para o mar alto, contornando-o à distância, criando assim um outro limite para o homem e para o mundo. A terra e o homem não acabavam no Cabo do Não, que recebeu o nome de Cabo do Bojador. A ele se refere o poeta Fernando Pessoa em seus versos, quando diz: “quem quiser passar além do Bojador, tem que passar além da dor”. Parece-me que quis dizer que quem busca a superação, tem que ultrapassar o Bojador, não pode ter medo da própria dor. E palavra Bojador? Diz Silveira Bueno que vem do holandês “bogen” que gerou o verbo português “bojar”, ou seja, a manobra do navio percorrendo a costa ou “dobrar a costa”. Somente homens com a cepa e a inteligência de um Gil Eanes têm o poder de ir além do Bojador, ou seja, de vencer a própria dor. Fernando Pessoa venceu a própria dor. |
"Pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em covardes."*Abraham Lincoln
segunda-feira, 20 de abril de 2015
BOJADOR
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