Demétrio Magnoli para Mino Carta: “Eu sei o que você escreveu ontem”
Há certos “jornalistas” que adorariam poder apagar o passado. Como não podem, e como existe a tecnologia dos acervos digitais disponível, resta-lhes tentar controlar a imprensa hoje. Se tudo fosse chapa-branca, então o passado incômodo poderia permanecer oculto nas profundezas da ignorância do público.
Felizmente, ainda não vivemos sob a censura do governo e o conseguinte monopólio da imprensa chapa-branca. Aproveitando-se dessa brecha, dessa lufada de ar da liberdade de imprensa, Demétrio Magnoli resolveu resgatar, em sua coluna de hoje na Folha, alguns trechos assinados por Mino Carta (M.C.) na época do regime militar.
M.C., como sabemos, faz-se hoje de paladino da democracia e acusa suspeitas de “golpe” para todo lado, defendendo com a obediência de um cão o governo – como faziam com o porco Napoleão os temíveis cachorros da Revolução dos Bichos de Orwell. Mas o que Mino Carta pensava e escrevia á época? Algo bem diferente, como mostra Demétrio:
“Propostos como solução natural para recompor a situação turbulenta do Brasil de João Goulart, os militares surgiram como o único antídoto de seguro efeito contra a subversão e a corrupção (…). Mas, assumido o poder, com a relutância de quem cultiva tradições e vocações legalistas, eles tiveram de admitir a sua condição de alternativa única. E, enquanto cuidavam de pôr a casa em ordem, tiveram de começar a preparar o país, a pátria amada, para sair da sua humilhante condição de subdesenvolvido. Perceberam que havia outras tarefas, além do combate à subversão e à corrupção –e pensaram no futuro.” Fofo?
Enquanto Paulo Malhães lançava corpos em rios, M.C. batia bumbo para Médici. A censura não tem culpa: os censores proibiam certos textos, mas nunca obrigaram a escrever algo. Os proprietários da Abril não têm culpa (ou melhor, são culpados apenas pela seleção do diretor de Redação): segundo depoimento (nesse caso, insuspeito) de um antigo editor da revista e admirador do chefe, hoje convertido, como ele, ao lulismo, Carta dispunha de tal autonomia que os Civita só ficavam sabendo do conteúdo da “Veja” depois de completada a impressão.
Alguns “jornalistas” parecem sempre girar em torno do poder, como moscas em volta do mel. Atualmente, a revista de Mino Carta tem tentado (há pouca audiência) bater o bumbo em defesa do governo e de suas bandeiras mais autoritárias, como o próprio controle da mídia. Para fazer coro às acusações de que toda crítica ao PT não passa de anseio golpista da “elite”, Mino Carta precisa adotar a tática da camuflagem e fingir que não existia nas décadas de 1960 e 1970.
Já mostrei aqui a hipocrisia e o duplo padrão adotados por Mino Carta e sua equipe em outros casos, como na questão das cotas raciais. É o velho “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. São pessoas assim que mancham a imagem do jornalismo brasileiro. Em vez de correr atrás de notícias e dar opiniões sinceras, há apenas proselitismo e partidarismo da pior espécie.
Com tudo isso em mente, paira apenas uma pergunta no ar: quem é que ainda leva a sério Mino Carta e sua revista?
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