"Pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em covardes."*Abraham Lincoln
sábado, 15 de fevereiro de 2014
CEM DIAS ENTRE CÉU E MAR - AMYR KLINK
Publicado em 1985, Cem dias entre céu e mar, é o relato de Amyr Klink de sua travessia absolutamente incomum: mais de 3500 milhas (cerca de 6500 quilômetros) desde o porto de Lüderitz, no sul da África, até a praia da Espera no litoral baiano, a bordo de um minúsculo barco a remo.
Vale muito a pena, a leitura.
Trechos:
(...)
"- Que diabo vim fazer aqui, neste lugar maluco? – me perguntava em voz alta. E, remando em silêncio, respondia: - Tentar sair daqui. De fato, nada colaborava para que eu achasse normal a paisagem a minha volta. Ondas completamente descontroladas, águas escuras, tempo encoberto, um barulho ensurdecedor. Por onde andariam as tranqüilas águas azuis do Atlântico de que tanto ouvira falar? Sem dúvida, longe da África."
“Grande navio cinza. Grande navio cinza. Aqui embarcação IAT chamando. Responda. Câmbio.” E que surpresa ao ouvir a resposta num inglês bem napolitano: “Prossiga IAT. Aqui é o Mount Cabrite. Câmbio.” Era um cargueiro de bandeira liberiana e tripulação italiana que seguia para os Estados Unidos. A comunicação de VHF é de curto alcance, e portanto eles imaginavam que deveriam avistar outro barco próximo, um veleiro talvez. Mas não conseguiram. Sem trair a emoção que sentia, pedi uma confirmação de posição para checar a precisão dos meus cálculos. E o diálogo que se seguir foi um pouco lacônico: -Não o avistamos. Você perdeu o mastro? – perguntou o operador. –Não tenho mastro! – respondi. –Você está com pane nas máquinas? -Não tenho máquinas. Estou remando! Houve silêncio no rádio. – Há outros sobreviventes? – voltou ele novamente. – Não! Não! – respondi. – Sou o único tripulante a bordo. Vou para Salvador. Está tudo bem. Por favor confirme e comunique minha posição ao Concontramar no Rio de Janeiro. – Morreram todos ou outros? – Não, não. Eu parti só, da África, de Lüderitz. Novo silêncio. O oficial de rádio custou a acreditar e, enquanto pedia a posição à ponte de comando, não escondeu que duvidava do que ouvia."
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