terça-feira, 27 de junho de 2017

Por que o comunismo não é tão odiado quanto o nazismo, embora tenha matado muito mais?

Eis os seis motivos
Quando as pessoas descrevem indivíduos ou regimes particularmente maléficos, por que elas utilizam os termos "nazista" ou "fascista", mas quase nunca "comunista"? Considerando o inigualável volume de sofrimento humano causado pelos comunistas, por que o termo "comunista" causa muito menos repulsa que "nazista"?
Os comunistas mataram 70 milhões de pessoas na China[1], mais de 20 milhões de pessoas na União Soviética (e isso sem incluir os aproximadamente 5 milhões de ucranianos[2]), e exterminaram um terço (33%) da população do Camboja. No total, os regimes comunistas assassinaram aproximadamente 110 milhões de pessoas de 1917 a 1987. Adicionalmente, os comunistas escravizaram a população de nações inteiras, como Rússia, Vietnã, China, Leste Europeu, Coréia do Norte, Cuba e boa parte da Ásia Central. Eles arruinaram as vidas de mais de um bilhão de pessoas.
Sendo assim, de novo, por que o comunismo não tem a mesma reputação horrenda do nazismo?
Motivo número 1
Falando bem diretamente, há uma ignorância avassaladora sobre o histórico do comunismo.
Ao passo que tanto a direita quanto a esquerda desprezam o nazismo e estão sempre ensinando lições de seu odioso legado, a esquerda jamais odiou o comunismo. E dado que a esquerda domina o ambiente acadêmico, praticamente ninguém leciona sobre a história maléfica do comunismo.
Motivo número 2
Os nazistas fizeram o Holocausto. E nada se compara ao Holocausto em termos maldade pura.
A perseguição e a captura de praticamente todo e qualquer indivíduo judeu — homens, mulheres, crianças e bebês — no continente europeu e o subsequente envio de todos eles para campos de concentração e trabalho forçado, onde em seguida eram assassinados, foi algo sem precedentes e sem paralelos em termos de perversidade.
Os comunistas mataram muito mais pessoas que os nazistas, mas jamais se igualaram ao Holocausto em termos de sistematização do genocídio. A singularidade do Holocausto e a enorme atenção corretamente dada ao fenômeno ajudaram a garantir ao nazismo uma reputação bem pior que a do comunismo.
Motivo número 3
O comunismo se baseia em teorias igualitárias que soam bonitas e humanistas para os mais ingênuos. O nazismo, não. O nazismo se baseia explicitamente em teorias atrozes.
Intelectuais — inclusive, é claro, os intelectuais que escrevem a história — são, no geral, seduzidos por palavras. Eles tendem a considerar que ações são menos importantes do que palavras e intenções. Por esse motivo, eles raramente dão às horrendas ações do comunismo a mesma atenção que dão às horrendas ações do nazismo. Eles raramente atribuem aos comunistas a mesma responsabilidade que atribuem aos nazistas. Nas raras vezes em que reconhecem as atrocidades dos comunistas, eles as ignoram dizendo que foram perversões do "verdadeiro comunismo", o qual teria sido "deturpado".
No entanto, eles (corretamente) consideram que as atrocidades cometidas pelos nazistas foram as consequências lógicas e inevitáveis do arcabouço teórico do nazismo, o qual não foi deturpado nem pervertido.
Motivo número 4
Os alemães assumiram a responsabilidade pelo nazismo, expuseram completamente suas atrocidades, e tentaram reparar seus erros. Já os russos nunca fizeram nada similar em relação aos horrores perpetrados por Lênin e Stálin.
Muito pelo contrário, aliás. Lênin, o pai do comunismo soviético, ainda é amplamente venerado na Rússia. Quanto a Stálin, como disse o especialista em história da Rússia Donald Rayfield, historiador da Universidade de Londres, "as pessoas ainda negam, assertivamente ou implicitamente, o holocausto de Stalin".
A China fez ainda menos. O país jamais se expiou pelo maior homicida e escravizador dentre todos os comunistas, Mao Tsé-Tung. O governo do país sequer reconhece oficialmente os crimes de Mao, que continua reverenciado na China. Todas as cédulas da moeda chinesa carregam o seu retrato.
Enquanto Rússia e China — e Vietnã, Cuba e Córeia do Norte — não reconhecerem e admitirem as atrocidades que cometeram sob o comunismo, os horrores do comunismo continuarão menos conhecidos do que os horrores cometidos pelo governo alemão sob Hitler.
Motivo número 5
Os comunistas assassinaram majoritariamente seu próprio povo. Já os nazistas mataram relativamente poucos alemães.
A "opinião mundial" — esse termo amoral e praticamente sem significado — considera que assassinatos de membros pertencentes a um mesmo grupo são bem menos dignos de atenção do que o assassinato de quem está de fora. É por isso que, por exemplo, negros chacinando milhões de compatriotas negros na África não obtém praticamente nenhuma atenção da "opinião mundial."
Motivo número 6
Na visão da esquerda, a última "guerra justa" foi a Segunda Guerra Mundial, a guerra contra o nazismo alemão e o fascismo japonês.
A esquerda não considera que guerras contra regimes comunistas sejam "guerras justas". Por exemplo, a guerra americana contra o comunismo vietnamita é considerada imoral. Já a guerra contra o comunismo coreano — e seus apoiadores comunistas chineses — é simplesmente ignorada.

Enquanto a esquerda e todas as instituições influenciadas pela esquerda continuarem se recusando a reconhecer quão atroz, maléfico e desumano foi o comunismo, continuaremos a viver em um mundo moralmente confuso, no qual idéias abertamente comunistas são saudadas por intelectuais influentes e políticos declaradamente simpáticos a este regime são eleitos e respeitados.
Em respeito às vítimas do comunismo, devemos estudar, aprender e divulgar tudo o que elas sofreram sob este regime. Afinal, ainda pior do que ser assassinado ou escravizado é um mundo que nem sequer reconhece que você o foi.

Deonísio da Silva: Nunca tantos emprenharam pelos ouvidos


Nunca o barco chamado Brasil precisou tanto de um Ulisses no comando.

A fofoca tem três lados bonitos: a pessoa não fala de si mesma, por modéstia; está preocupada com a vida da outra, por altruísmo; e só fala pelas costas, pois seria uma indelicadeza dizer o que diz, que às vezes é muito rude, na frente daqueles a quem critica. Prefere, então, falar pelas costas.
Fofocas, celeumas e polêmicas são inerentes à vida democrática. Proibi-las, além de tarefa inócua, seria uma insensatez. Mas é preciso tomar cuidado e proteger-se das devastações que podem causar.
Polêmica tem origem no Grego pólemos, guerra. Foi palavra que migrou do campo de batalha para os parlamentos.
Igualmente do Grego veio celeuma, de kéleuma, o canto cadenciado do chefe dos remadores com o fim de fazer com que todos unificassem o movimento dos remos para o navio avançar.
Já fofoca, de origem controversa, deriva do Quimbundo fuka, remexer, repetindo-se a primeira sílaba alterada de “fu” para “fo”, com provável influência do Banto, e equivale ao Inglês gossip, mexerico.
Só que gossip é de origem religiosa, pois teria o significado de God-sib, a Deus confiado, expressão nascida ao redor de pias batismais, em cerimônias de casamento, em funerais etc., locais propícios a fofocas, como se sabe.
Já o Francês foutriquet, de foutre, do Latim clássico futuere pelo Latim vulgar futere, deu futriqueiro no Português, mas o étimo é o verbo que se tornou o conhecido palavrão para designar o ato sexual, mudado para o eufemismo “fazer amor.”
No canto XII da Odisseia, obra construída oralmente e que foi fixada na escrita por volta do século VIII a.C., Homero conta-nos que para evitar o naufrágio do navio, quando navegava nas proximidades da ilha de Capri, Ulisses tomou duas providências: tapar os ouvidos dos marinheiros com cera e amarrar-se ao mastro da embarcação.
O comandante sabia que o canto das sereias poderia levar o barco de encontro aos rochedos e matar a todos. Ou ainda que, carentes da presença feminina, tanto tempo já no mar sem suas amadas, os marinheiros confundiriam o sibilar dos ventos costeiros com murmúrios amorosos femininos e se lançariam ao mar à procura daqueles sons, morrendo do mesmo modo.
Nós vivemos o reinado das sereias, de seus cantos e de seus feitiços.. Elas são belas, conquanto tenham rabo de peixe, mas fazem um serviço trágico: enfeitiçam aqueles que as ouvem, levando-os à tragédia.
Nunca o barco chamado Brasil precisou tanto de um Ulisses no comando. Pois nunca houve tantos emprenhando o povo pelos ouvidos, uma expressão nascida na Idade Média, quando um arcebispo de Constantinopla, chamado Proclus, fez um sermão em que defendia que Nossa Senhora tinha sido emprenhada pelos ouvidos, ao receber do anjo Gabriel a notícia de que estava grávida do Altíssimo.
Devido a esta crença, imagens cristãs de Nossa Senhora representam a mãe Deus com o ouvido em forma de útero, em cujo interior cresce um bebê.
Em Brasília, cresce um estranho bebê: o país estava melhorando seus índices econômicos quando, de repente, dia sim, dia também, uma fofoca varre todo o território nacional dando conta de que nada vai dar certo.
É um fenômeno muito estranho!

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Eliziário Goulart Rocha: O fim da pilantragem que compensa

Sabe-se agora que naquele segundo turno todos os eleitores foram enganados.

Os milhões de brasileiros que elegeram Fernando Collor em 1989 acreditavam que aquele rapaz destemido, apreciador de um Logan 12 anos, cujos ternos bem cortados e gravatas Hermès contrastavam com o linguajar de boteco de fim de linha, era o sujeito probo e implacável destinado a livrar o país da chaga da corrupção. Outros tantos milhões que levaram Luiz Inácio Lula da Silva à presidência 13 anos mais tarde estavam convictos de que não apenas o Brasil passaria a correr nos trilhos da honestidade como, agora sim, estavam diante do homem providencial.
A montanha de evidências em sentido contrário não foi capaz de revogar a crença de milhões na discurseira que nocauteava os fatos. A viva alma muito viva não apenas se reelegeu como conseguiu transformar um poste em mulher providenciala. Em 2014, enquanto metade do país reelegia Dilma Rousseff, a outra metade depositava sua confiança em Aécio Neves. Apostavam que o senador mineiro acabaria com a bandalheira da era petista. Embora a maioria não desconhecesse alguns de seus pecados, tais derrapadas pareciam coisa de colegial diante do maior esquema de corrupção da história. Sabe-se agora que naquele segundo turno todos os eleitores foram enganados.
Exceto os tontos adestrados de sempre, dispostos a engolir qualquer mentira deslavada de chefes de quadrilha, os brasileiros que votaram em Collor, Lula, Dilma e Aécio não o fizeram por dolo ou ingenuidade. Na maioria, foram seduzidos por canastrões convincentes, assassinos da verdade, profissionais das negociatas e peritos na arte de enganar. Assim como um cidadão decente e pacífico não tem muita chance diante de um bandido com arma de fogo, o eleitor que pensa por si próprio fica indefeso em relação aos bandidos armados com palanques, propinas milionárias e militantes sem noção ou vergonha na cara.
A cada desilusão as pessoas do bem tendem a aprimorar sua percepção acerca da bandidagem. Purificar o tanto quanto possível este processo é trabalho para gerações, mas iniciativas como a Lava Jato de Sérgio Moro contribuem para apressar o sepultamento da pilantragem que compensa.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Missão europeia vai buscar novos planetas habitáveis

Além de um novo observatório espacial, agência ESA autorizou lançamento de satélites com o objetivo de detectar ondas gravitacionais no espaço.

Agência Espacial Europeia (ESA) autorizou nesta semana o lançamento de um novo observatório espacial para buscar planetas habitáveis ​​fora do sistema solar. A missão Plato (sigla em inglês para Planetary Transits and Oscillations of stars) vai tentar descobrir quão comuns são os planetas parecidos com a Terra e recolher dados que possam responder se o sistema solar é incomum, ou até mesmo único no cosmo.
“A missão pode, eventualmente, levar à detecção de vida extraterrestre“, disse em comunicado a Universidade de Warwick, no Reino Unido, que terá uma equipe de astrofísicos participando do projeto.
O empreendimento foi estimado em cerca de 600 milhões de euros, quando foi anunciado, há três anos. Agora, com a aprovação, a sonda passa a ser construída para ser lançada ao espaço em 2026, segundo as projeções da agência.

Missão Plato

Ilustração da espaçonave Plato
Ilustração da espaçonave Plato (CNES/Divulgação)
A missão pretende encontrar planetas com a massa semelhante à da Terra e também super-terras (planetas de massas entre duas a dez vezes a da Terra) que estejam na “zona habitável” de estrelas, ou seja, a uma distância tal que permita a existência de água líquida sobre a superfície. Com 26 telescópios de 12 centímetros de diâmetro cada, a sonda vai analisar aproximadamente um milhão de estrelas, monitorando 50% do espaço de forma contínua.
Dessa forma, a Plato irá se juntar ao observatório Kepler, da Nasa, na busca de planetas fora do sistema solar (exoplanetas). O telescópio espacial americano encontrou, até agora, mais de 2.300 exoplanetas confirmados. Destes, 30 têm menos do dobro do tamanho da Terra e estão na “zona habitável”.
“Vamos saber quais planetas se parecem mais com a Terra e em quais será necessário nos concentraremos para a detecção de vida. De certa forma, Plato vai determinar planetas muito importantes para pesquisas futuras”, afirmou o professor de astronomia Willy Benz, da Universidade de Berna, na Suíça, que participa do projeto.
A missão vai analisar ainda a atividade das estrelas para determinar suas idades, massas e tamanhos e gerar um melhor entendimento do sistema estelar como um todo.

Lisa Pathfinder

Outra missão aprovada pela ESA esta semana é a Lisa (sigla para Laser Interferometer Space Antenna), um trio de satélites cujo objetivo é detectar ondas gravitacionais no espaço. Esses sinais, previstos por Einstein, foram detectados pela primeira vez em 2015 pelo Ligo, uma estação terrestre americana.
Com o custo de um bilhão de euros, dos quais 20% virão da Nasa, a Lisa tem previsão de ser lançada em 2034 e deve apoiar o Ligo na busca por essas ondulações no espaço-tempo – aquilo que os físicos descrevem metaforicamente como o tecido do universo, o ambiente dinâmico onde todos os acontecimentos transcorrem — que se propagam pelo espaço. As ondas gravitacionais, uma espécie de “eco” dos eventos cósmicos, funcionam como uma espécie de nova “janela” para o universo e pode ajudar os cientistas a desvendar eventos misteriosos, como a composição de buracos negros ou da energia e matéria escura.
Impressão artística da espaçonave LISA
Impressão artística da espaçonave LISA (AEI/Milde Marketing/Exozet/Divulgação)

quarta-feira, 21 de junho de 2017

O Brasil foi fatiado entre cinco perigosas quadrilhas






Não há mais nenhuma dúvida de que a classe política brasileira está totalmente contaminada.

Salvo raríssimas exceções, não escapa ninguém e todos, em maior ou menor proporção, tem algum tipo de envolvimento com alguma das quadrilhas que operam neste cenário fétido e absolutamente sem qualquer escrúpulo.

O jornalista Erick Bretas, em artigo publicado numa rede social, foi extremamente elucidativo na identificação dos grupos organizados que atuam no Brasil, buscando vantagens em detrimento da população.

As afirmações do jornalista foram baseadas em análise a partir das delações da JBS, Odebrecht e demais empreiteiras, apontando com extrema lucidez e propriedade que nas duas últimas décadas o país foi fatiado entre cinco grandes quadrilhas.

‘A maior e mais perigosa, diferentemente do que diz o Joesley, era a do PT. Era a mais estruturada, mais agressiva, mais eficiente e com planos de perpetuação no poder. Comandava a Petrobras, vários fundos de pensão e dividia o poder com as quadrilhas do PMDB nos bancos públicos. Sua maior aliada econômica foi a Odebrecht. O chefão supremo era o Lula. Palocci e Mantega, os operadores econômicos. Era o Comando Vermelho da política: pra se manter na presidência eram capazes de fazer o Diabo.’

‘A segunda maior era a do PMDB da Câmara. Seus principais chefões eram Temer e Eduardo Cunha. Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima, Moreira Franco e Henrique Eduardo Alves eram os subchefes. Lúcio Funaro era o operador financeiro. Mandava no FI-FGTS, em diretorias da Caixa Econômica, em fundos de pensão e no ministério da Agricultura. Por causa do controle desse último órgão, tinha tanta influência na JBS. Era o ADA dos políticos -- ou seja, mais entranhada nos esquemas do poder tradicional e mais disposta a acordos e partilhas.’

‘A terceira era o PMDB do Senado. Seu chefão era Renan Calheiros. Seu guru e presidente honorário, José Sarney. Edison Lobão, Jader Barbalho e Eunício Oliveira eram outras figuras de proa. Mandava nas empresas da área de energia e tinha influência nos fundos de pensão e empreiteiras que atuavam no setor. Vivia às turras com a quadrilha do PMDB na Câmara, que era maior e mais organizada.’

‘A quarta era o PSDB paulista, cuja figura de maior expressão era o Serra. Tinha grande independência das quadrilhas de PT e PMDB porque o governo de São Paulo era terreno fértil em licitações e obras. A empresa mais próxima do grupo era a Andrade Gutierrez, mas também foi financiada por esquemas com Alstom e Odebrecht.’

‘A quinta e última era o PSDB de Minas - ou, para ser mas preciso, o PSDB do Aécio. Era uma quadrilha paroquial, com raio de ação mais restrito, mas ainda assim mandava em Furnas e usava a Cemig como operadora de esquemas nacionais, como o consórcio da hidrelétrica do Rio Madeira.’

‘Em torno dessas "big five" flutuavam bandos menores, mas nem por isso menos agressivos em sua rapinagem - como o PR, que dava as cartas no setor de Transportes, o PSD do Kassab, que influenciava ministérios poderosos como o das Cidades, o PP, que compartilhava a Petrobras com o PT, e o consórcio PRB-Igreja Universal, que tinha interesses na área de Esportes.’

‘Havia também os bandos estritamente regionais, que atuavam com maior ou menor grau de independência em relação aos nacionais. O PMDB do Rio e seu inacreditável comandante Sérgio Cabral, por exemplo, chegaram a ser mais poderosos que os grupos nacionais. Fernando Pimentel comandava uma subquadrilha petista em Minas. O PT baiano também tinha voo próprio. Elas se diferenciam das quadrilhas tucanas que estavam apenas circunstancialmente restritas aos territórios que comandavam - mas sempre tiveram aspirações e influência nacionais.’

‘Por fim, vinham parlamentares e outros políticos do Centrão, que eram negociados de maneira transacional no varejo: uma emenda aqui, um caixa 2 ali, uma secretaria acolá...’
‘Digo tudo isso não para reduzir a importância do PT e o protagonismo do Lula nos crimes que foram cometidos contra o Brasil. Lula tem de ser preso e o PT tem que ser reduzido ao tamanho de um PSTU.’

‘Mas ninguém pode dizer que é contra a corrupção se tolerar as quadrilhas do PMDB ou do PSDB em nome da "estabilidade", "das reformas" ou de qualquer outra tábua de salvação que esses bandidos jogam para si mesmos.’

‘E que ninguém superestime as rivalidades existentes entre esses cinco grandes grupos. Em nome da própria sobrevivência eles são capazes de qualquer tipo de acordo ou acomodação e farão de tudo para obstruir a Lava Jato.’

terça-feira, 20 de junho de 2017

O açougueiro predileto de Lula esquarteja a verdade

Joesley Batista aproveitou uma entrevista para assumir de vez a paternidade da meia delação premiadíssima.

Na entrevista concedida à revista Época, Joesley Batista assumiu a paternidade de outra brasileirice repulsiva. Sob a supervisão do procurador-geral Rodrigo Janot e com as bênçãos do ministro Edson Fachin, relator dos casos da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, foi o dono da JBS o inventor da meia delação premiadíssima. Em troca da impunidade perpétua, o depoente conta apenas uma parte do muito que sabe. Para alegria do chefe do Ministério Público, é exatamente essa a parte que arquiva bandalheiras que envolvem seus alvos preferenciais.
Como nos depoimentos cujos trechos mais ruidosos foram divulgados há pouco mais de um mês, também na entrevista a Diego Escosteguy o credor favorito do BNDES não se atreveu a negar o que qualquer bebê de colo está cansado de saber: “Lula e o PT institucionalizaram a corrupção”. Mas quem lidera “a quadrilha mais perigosa do Brasil é Michel Temer”, não o antecessor que concebeu e dirigiu o maior esquema corrupto de todos os tempos. Esse, aos olhos do delator espertalhão, foi sempre um modelo de civilidade e respeito à lei. “Nunca tive conversa não-republicana com o Lula. Zero”, jurou. “Eu tinha essas conversas com o Guido Mantega”.
“Conheci o Lula só no fim de 2013”, mentiu no fim da fantasia. A verdade esquartejada foi recomposta no parágrafo seguinte. “O senhor não era próximo do Lula quando ele era presidente?”, perguntou o entrevistador. “Estive uma vez com o presidente Lula quando assumi o comando da empresa em 2006”, derrapou o entrevistado. O primeiro encontro da dupla, portanto, ocorreu sete anos antes — sete anos excepcionalmente lucrativos. Em 2006, o faturamento da JBS somou 4 bilhões de reais. Saltou para 14 bilhões já no ano seguinte.
De lá para cá, o grupo dos irmãos Batista, anabolizado por empréstimos de pai para filho liberados pelo BNDES, desenhou uma curva ascendente de dar inveja a magnata de filme americano. Em 2016, graças a sucessivos negócios internacionais facilitados pela usina de favores do Planalto, o faturamento bateu em R$ 170 bilhões. Mas Joesley fez questão de registrar que as também “as relações com o BNDES foram absolutamente republicanas”. Nada de conversa não-republicana com o presidente Luciano Coutinho ou diretores da generosa instituição. Quando precisava de outro empréstimo, bastava falar com Mantega.
Ou seja: a corrupção institucionalizada por Lula e seu partido rolou solta por mais de 13 anos, mas Joesley continua concentrando a artilharia em Michel Temer e no PMDB, sem esquecer de reservar a Aécio Neves algumas balas de grosso calibre. Decidido a poupar a mais gulosa e atrevida organização criminosa (ORCRIM, ele simplifica), Joesley segue repetindo, sem ficar ruborizado, que teve como comparsa um único e escasso oficial graduado da tropa de larápios: Guido Mantega, codinome Pós-Itália.
Se cinismo fosse crime, nem a dupla Janot e Fachin conseguiria livrar da cadeia o açougueiro predileto do chefão da quadrilha. Ele mesmo, o governante que criou o Brasil Maravilha com dinheiro roubado do país real.

sábado, 17 de junho de 2017

Rebaixaram o "molusco".., Joesley Batista: “Temer é o chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil”

Em entrevista exclusiva a ÉPOCA, o empresário diz que o presidente não tinha “cerimônia” para pedir dinheiro e que Eduardo Cunha cobrava propina em nome de Temer.

DIEGO ESCOSTEGUY
16/06/2017 - 21h31 - Atualizado 16/06/2017 23h20

Na manhã da quinta-feira (15), o empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, recebeu ÉPOCA para conceder sua primeira entrevista exclusiva desde que fechou a mais pesada delação dos três anos de Lava Jato. Em mais de quatro horas de conversa, precedidas de semanas de intensa negociação, Joesley explicou minuciosamente, sempre fazendo referência aos documentos entregues à Procuradoria-Geral da República, como se tornou o maior comprador de políticos do Brasil. Discorreu sobre os motivos que o levaram a gravar o presidente Michel Temer e a se oferecer à PGR para flagrar crimes em andamento contra a Lava Jato. Atacou o presidente, a quem acusa, com casos e detalhes inéditos, de liderar “a maior e mais perigosa organização criminosa do Brasil” – e de usar a máquina do governo para retaliá-lo. Contou como o PT de Lula “institucionalizou” a corrupção no Brasil e de que modo o PSDB de Aécio Neves entrou em leilões para comprar partidos nas eleições de 2014. O empresário garante estar arrependido dos crimes que cometeu e se defendeu das acusações de que lucrou com a própria delação. 
A seguir, os principais trechos da entrevista publicada na edição de ÉPOCA desta semana. Leia as 12 páginas da conversa com Joesley na edição que chega às bancas neste sábado (17) ou disponível agora nos aplicativos ÉPOCA e Globo+:
ÉPOCA – Quando o senhor conheceu Temer?
Joesley Batista – Conheci Temer através do ministro Wagner Rossi, em 2009, 2010. Logo no segundo encontro ele já me deu o celular dele. Daí em diante passamos a falar. Eu mandava mensagem para ele, ele mandava para mim. De 2010 em diante. Sempre tive relação direta. Fui várias vezes ao escritório da Praça Pan-Americana, fui várias vezes ao escritório no Itaim, fui várias vezes à casa dele em São Paulo, fui alguma vezes ao Jaburu, ele já esteve aqui em casa, ele foi ao meu casamento. Foi inaugurar a fábrica da Eldorado.
ÉPOCA – Qual, afinal, a natureza da relação do senhor com o presidente Temer?
Joesley – 
Nunca foi uma relação de amizade. Sempre foi uma relação institucional, de um empresário que precisava resolver problemas e via nele a condição de resolver problemas. Acho que ele me via como um empresário que poderia financiar as campanhas dele – e fazer esquemas que renderiam propina. Toda a vida tive total acesso a ele. Ele por vezes me ligava para conversar, me chamava, e eu ia lá.
ÉPOCA – Conversar sobre política?
Joesley –
 Ele sempre tinha um assunto específico. Nunca me chamou lá para bater papo. Sempre que me chamava, eu sabia que ele ia me pedir alguma coisa ou ele queria alguma informação.
ÉPOCA – Segundo a colaboração, Temer pediu dinheiro ao senhor já em 2010. É isso?
Joesley –
 Isso. Logo no início. Conheci Temer, e esse negócio de dinheiro para campanha aconteceu logo no iniciozinho. O Temer não tem muita cerimônia para tratar desse assunto. Não é um cara cerimonioso com dinheiro.
ÉPOCA – Ele sempre pediu sem algo em troca?
Joesley –
 Sempre estava ligado a alguma coisa ou a algum favor. Raras vezes não. Uma delas foi quando ele pediu os R$ 300 mil para fazer campanha na internet antes do impeachment, preocupado com a imagem dele. Fazia pequenos pedidos. Quando o Wagner saiu, Temer pediu um dinheiro para ele se manter. Também pediu para um tal de Milton Ortolon, que está lá na nossa colaboração. Um sujeito que é ligado a ele. Pediu para fazermos um mensalinho. Fizemos. Volta e meia fazia pedidos assim. Uma vez ele me chamou para apresentar o Yunes. Disse que o Yunes era amigo dele e para ver se dava para ajudar o Yunes.
ÉPOCA – E ajudou?
Joesley –
 Não chegamos a contratar. Teve uma vez também que ele me pediu para ver se eu pagava o aluguel do escritório dele na praça [Pan-Americana, em São Paulo]. Eu desconversei, fiz de conta que não entendi, não ouvi. Ele nunca mais me cobrou.
ÉPOCA – Ele explicava a razão desses pedidos? Por que o senhor deveria pagar?
Joesley – 
O Temer tem esse jeito calmo, esse jeito dócil de tratar e coisa. Não falava.
ÉPOCA – Ele não deu nenhuma razão?
Joesley –
 Não, não ele. Há políticos que acreditam que pelo simples fato do cargo que ele está ocupando já o habilita a você ficar devendo favores a ele. Já o habilita a pedir algo a você de maneira que seja quase uma obrigação você fazer. Temer é assim.
ÉPOCA – O empréstimo do jatinho da JBS ao presidente também ocorreu dessa maneira?
Joesley –
 Não lembro direito. Mas é dentro desse contexto: “Eu preciso viajar, você tem um avião, me empresta aí”. Acha que o cargo já o habilita. Sempre pedindo dinheiro. Pediu para o Chalita em 2012, pediu para o grupo dele em 2014.
ÉPOCA – Houve uma briga por dinheiro dentro do PMDB na campanha de 2014, segundo o lobista Ricardo Saud, que está na colaboração da JBS.
Joesley –
 Ricardinho falava direto com Temer, além de mim. O PT mandou dar um dinheiro para os senadores do PMDB. Acho que R$ 35 milhões. O Temer e o Eduardo descobriram e deu uma briga danada. Pediram R$ 15 milhões, o Temer reclamou conosco. Demos o dinheiro. Foi aí que Temer voltou à Presidência do PMDB, da qual ele havia se ausentado. O Eduardo também participou ativamente disso.
ÉPOCA – Como era a relação entre Temer e Eduardo Cunha?
Joesley –
 A pessoa a qual o Eduardo se referia como seu superior hierárquico sempre foi o Temer. Sempre falando em nome do Temer. Tudo que o Eduardo conseguia resolver sozinho, ele resolvia. Quando ficava difícil, levava para o Temer. Essa era a hierarquia. Funcionava assim: primeiro vinha o Lúcio [o operador Lúcio Funaro]. O que ele não conseguia resolver pedia para o Eduardo. Se o Eduardo não conseguia resolver, envolvia o Michel.
ÉPOCA – Segundo as provas da delação da JBS e de outras investigações, o senhor pagava constantemente tanto para Eduardo Cunha quanto para Lúcio Funaro, seja por acertos na Câmara, seja por acertos na Caixa, entre outros. Quem ficava com o dinheiro?
Joesley –
 Em grande parte do período que convivemos, meu acerto era direto com o Lúcio. Eu não sei como era o acerto do Lúcio do Eduardo, tampouco do Eduardo com o Michel. Eu não sei como era a distribuição entre eles. Eu evitava falar de dinheiro de um com o outro. Não sabia como era o acerto entre eles. Depois, comecei a tratar uns negócios direto com o Eduardo. Em 2015, quando ele assumiu a presidência da Câmara. Não sei também quanto desses acertos iam para o Michel. E com o Michel mesmo eu também tratei várias doações. Quando eu ia falar de esquema mais estrutural com Michel, ele sempre pedia para falar com o Eduardo. “Presidente, o negócio do Ministério da Agricultura, o negócio dos acertos…” Ele dizia: “Joesley, essa parte financeira toca com o Eduardo e se acerta com o Eduardo”. Ele se envolvia somente nos pequenos favores pessoais ou em disputas internas, como a de 2014.
ÉPOCA – O senhor realmente precisava tanto assim desse grupo de Eduardo Cunha, Lúcio Funaro e Temer?
Joesley –
 Eles foram crescendo no FI-FGTS, na Caixa, na Agricultura – todos órgãos onde tínhamos interesses. Eu morria de medo de eles encamparem o Ministério da Agricultura. Eu sabia que o achaque ia ser grande. Eles tentaram. Graças a Deus, mudou o governo e eles saíram. O mais relevante foi quando Eduardo tomou a Câmara. Aí virou CPI para cá, achaque para lá. Tinha de tudo. Eduardo sempre deixava claro que o fortalecimento dele era o fortalecimento do grupo da Câmara e do próprio Michel. Aquele grupo tem o estilo de entrar na sua vida sem ser convidado.
ÉPOCA – Pode dar um exemplo?
Joesley – 
O Eduardo, quando já era presidente da Câmara, um dia me disse assim: “Joesley, tão querendo abrir uma CPI contra a JBS para investigar o BNDES. É o seguinte: você me dá R$ 5 milhões que eu acabo com a CPI”. Falei: “Eduardo, pode abrir, não tem problema”. “Como não tem problema? Investigar o BNDES, vocês.” Falei: “Não, não tem problema”. “Você tá louco?” Depois de tanto insistir, ele virou bem sério: “É sério que não tem problema?”. Eu: “É sério”. Ele: “Não vai te prejudicar em nada?”. “Não, Eduardo.” Ele imediatamente falou assim: “Seu concorrente me paga R$ 5 milhões para abrir essa CPI. Se não vai te prejudicar, se não tem problema… Eu acho que eles me dão os R$ 5 milhões”. “Uai, Eduardo, vai sua consciência. Faz o que você achar melhor.” Esse é o Eduardo. Não paguei e não abriu. Não sei se ele foi atrás. Esse é o exemplo mais bem-acabado da lógica dessa Orcrim.
ÉPOCA – Algum outro?
Joesley –
 Lúcio fazia a mesma coisa. Virava para mim e dizia: “Tem um requerimento numa CPI para te convocar. Me dá R$ 1 milhão que eu barro”. Mas a gente ia ver e descobria que era algum deputado a mando dele que estava fazendo. É uma coisa de louco.
ÉPOCA – O senhor não pagou?
Joesley –
 Nesse tipo de coisa, não. Tinha alguns limites. Tinha que tomar cuidado. Essa é a maior e mais perigosa organização criminosa deste país. Liderada pelo presidente.
ÉPOCA – O chefe é o presidente Temer?
Joesley –
 O Temer é o chefe da Orcrim da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel, Henrique, Padilha e Moreira. É o grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles. Por outro lado, se você baixar a guarda, eles não têm limites. Então meu convívio com eles foi sempre mantendo à meia distância: nem deixando eles aproximarem demais nem deixando eles longe demais. Para não armar alguma coisa contra mim. A realidade é que esse grupo é o de mais difícil convívio que já tive na minha vida. Daquele sujeito que nunca tive coragem de romper, mas também morria de medo de me abraçar com ele.
ÉPOCA – No decorrer de 2016, o senhor, segundo admite e as provas corroboram, estava pagando pelo silêncio de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, ambos já presos na Lava Jato, com quem o senhor tivera acertos na Caixa e na Câmara. O custo de manter esse silêncio ficou alto demais? Muito arriscado?
Joesley –
 Virei refém de dois presidiários. Combinei quando já estava claro que eles seriam presos, no ano passado. O Eduardo me pediu R$ 5 milhões. Disse que eu devia a ele. Não devia, mas como ia brigar com ele? Dez dias depois ele foi preso. Eu tinha perguntado para ele: “Se você for preso, quem é a pessoa que posso considerar seu mensageiro?”. Ele disse: “O Altair procura vocês. Qualquer outra pessoa não atenda”.  Passou um mês, veio o Altair. Meu Deus, como vou dar esse dinheiro para o cara que está preso? Aí o Altair disse que a família do Eduardo precisava e que ele estaria solto logo, logo. E que o dinheiro duraria até março deste ano. Fui pagando, em dinheiro vivo, ao longo de 2016. E eu sabia que, quando ele não saísse da cadeia, ia mandar recados.
ÉPOCA – E o Lúcio Funaro?
Joesley –
 Foi parecido. Perguntei para ele quem seria o mensageiro se ele fosse preso. Ele disse que seria um irmão dele, o Dante. Depois virou a irmã. Fomos pagando mesada. O Eduardo sempre dizia: “Joesley, estamos juntos, estamos juntos. Não te delato nunca. Eu confio em você. Sei que nunca vai me deixar na mão, vai cuidar da minha família”. Lúcio era a mesma coisa: “Confio em você, eu posso ir preso porque eu sei que você não vai deixar minha família mal. Não te delato”.
ÉPOCA – E eles cumpriram o acerto, não?
Joesley – 
Sim. Sempre me mandando recados: “Você está cumprindo tudo direitinho. Não vão te delatar. Podem delatar todo mundo menos você”. Mas não era sustentável. Não tinha fim. E toda hora o mensageiro do presidente me procurando para garantir que eu estava mantendo esse sistema.
ÉPOCA – Quem era o mensageiro?
Joesley – 
Geddel. De 15 em 15 dias era uma agonia terrível. Sempre querendo saber se estava tudo certo, se ia ter delação, se eu estava cuidando dos dois. O presidente estava preocupado. Quem estava incumbido de manter Eduardo e Lúcio calmos era eu.
ÉPOCA – O ministro Geddel falava em nome do presidente Temer?
Joesley –
 Sem dúvida. Depois que o Eduardo foi preso, mantive a interlocução desses assuntos via Geddel. O presidente sabia de tudo. Eu informava o presidente por meio do Geddel. E ele sabia que eu estava pagando o Lúcio e o Eduardo. Quando o Geddel caiu, deixei de ter interlocução com o Planalto por um tempo. Até por precaução.