quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

José Nêumanne: Uma banda sã e outra podre

Publicado no Estadão

Enquanto saneia a economia, governo Temer mantém hábitos podres da política.

Há uma aparente contradição em termos no noticiário da semana passada. De um lado, sinais positivos começam a aparecer na economia, tornando o otimismo possível, ainda que com cautela. De outro, a pesquisa MDA/CNT flagrou a continuação de um vertiginoso desabamento do apoio popular ao governo que o promove.
“Devemos ter crescimento neste primeiro trimestre. O ponto da virada parece ter sido em dezembro”, disse o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Fabio Kanczuk, a Adriana Fernandes, do Estado. Nas contas do secretário, a reação aparece no desempenho do agronegócio, com uma safra recorde, o que não é novidade para ninguém, de vez que, apesar da tolerância do Estado brasileiro com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outros similares, o setor continua sendo nossa galinha dos ovos de ouro. Mas, para surpresa geral, a alta burocracia da Fazenda garimpou boas novas na normalização dos estoques da indústria automobilística e no aumento do consumo, sobretudo em hiper e supermercados, para alavancar os bens não duráveis. A equipe econômica conta com a tendência de aumento de preços no mercado internacional de minério de ferro e a recuperação da construção civil por causa das medidas recentes de ampliação do programa social Minha Casa, Minha Vida. O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço também entra na lista, seja por causa da elevação para R$ 1,5 milhão do limite para compra da casa própria, seja pela injeção esperada de R$ 30 bilhões no mercado com a liberação de suas contas inativas. A manchete de capa do caderno de Economia & Negócios do Estado de sábado – Brasil registra entrada recorde de investimento estrangeiro em janeiro – pode prenunciar, além da rima, uma solução, parodiando o verso de Drummond.
Oxalá a virada, datada em dezembro último, não signifique que a economia possa ter capotado, mas que tenha chegado ao fundo do poço, a ascensão depois da queda. Aleluia!
O que, então, aconteceu nos últimos dias para a sociedade, em vez de estar aliviada com os bons indícios, ter ficado aborrecida com o governo, a ponto de manifestar o desagrado com este, caindo de 14,6% em outubro para 10,3% agora? Ou seja, levando em conta a avaliação mais recente da mesma pesquisa, o substituto está 0,9 ponto porcentual abaixo da última avaliação da antecessora, à época do desfecho do processo do impeachment dela, qual seja, de 11,2%. Mais preocupante ainda para o atual presidente, e seus aliados do PMDB e do PSDB, é que, ao contrário do que seria de esperar depois do massacre do Partido dos Trabalhadores (PT) nas urnas, Lula subiu na preferência popular para 30,5% dos cidadãos.
A 19 meses do pleito eleitoral, os números relativos à intenção de votos são, na prática, desprezíveis. Eles revelam, entretanto, enorme desconhecimento da massa acerca da absoluta responsabilidade do ex-presidente pela crise que levou o País à quebradeira das empresas, ao desemprego recorde de 12 milhões de trabalhadores desocupados, à queda da arrecadação e a todas as consequências nefastas de 13 anos, 5 meses e 12 dias de desgovernos federais petistas. O descompasso entre a realidade e a impressão popular é explicado pelo talento de comunicador do ex-dirigente sindical, posto em confronto com o amadorismo injustificável da comunicação na gestão de um governante que pretende ser reconhecido como “reformista”.
Esse profundo e evidente paradoxo poderá, de um lado, prolongar o calvário da falta de credibilidade de Temer e, de outro, servir para realizar as pretensões de volta ao poder do “sapo barbudo” de Brizola. Desde o começo a atual gestão padece de uma esquizofrenia institucional aguda: a respeitável equipe de técnicos dá duro para sanear e reconstruir a economia, enquanto a banda podre de políticos faz o diabo para escapar da cadeia.
O presidente faz juras de fidelidade ao inédito processo de depuração, que tenta dar cabo ao conúbio entre gestores corruptos da República e empresários que dilapidam o patrimônio público e desmoralizam a democracia, mas age no sentido oposto. Governa de joelhos para o País oficial e de costas para o Brasil real.
Lula, Dilma e o PT prometiam “mudar tudo o que está aí”, mas levaram aos mais sórdidos exageros a malversação do erário. Isso explica por que o petista Tarso Genro disse ao juiz Sergio Moro que sua grei pratica o caixa 2, crime nocivo às finanças públicas e à competição entre empresas, sem a qual o capitalismo perde a razão de ser. Delatado na Lava Jato como receptador de R$ 7 milhões de propinas da Odebrecht, o ministro da Indústria (!), Marcos Pereira, do PRB do bispo Edir Macedo, confessou, candidamente, que pediu doações para a campanha de seu correligionário Marcelo Crivella. O uso do cachimbo entorta a boca e, no caso, também a ética da fé que ele diz seguir – dos dez mandamentos de Deus, o que proíbe furtar.
Temer indicou e dispensou do expediente seu ministro da Justiça, durante o motim da PM capixaba, que resultaria em 149 mortes, para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele foi acusado de plágio, o que implica falta de notório saber e de reputação ilibada, e pilhado “simulando” sabatina em festa numa chalana, regada a champanhota flutuante. Mas nada abalou suas pretensões ao posto.
O presidente conseguiu ainda do amigo decano do STF autorização para blindar outro amigão das garras da primeira instância. E o abrigou à sombra da mesma Suprema Tolerância Federal em nome da prerrogativa de foro, a mais hipócrita violação da igualdade de todos os cidadãos perante a lei que se pode imaginar em qualquer Estado de Direito.
Diante disso, resta-nos rezar para a banda sã da economia prevalecer, antes que a banda podre da política a afunde no lamaçal da safadeza geral em que estamos atolados.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Grandes marcas de caminhão que você nunca ouviu falar

Já contamos a história do surgimento dos primeiros caminhões e ônibus (se você não viu, clique aqui). Em nosso quadro Retrovisor também sempre mostramos caminhões antigos. Se Europa, e principalmente a Alemanha, é o berço dos veículos comercias, não é de se estranhar então que no começo da era dos veículos automotores, muitas indústrias surgiram nos países de lá. Algumas foram muito grandes, verdadeiros impérios, outras nem tanto, mas muitas delas não sobreviveram. E mesmo em época de internet, onde a gente consegue informações de todos os lados do mundo, ainda é possível descobrir marcas de caminhão que você nunca ouviu falar. Te convidamos agora a dar uma voltinha na história dos caminhões e conhecer essas marcas que fizeram história, mas que hoje viraram peças de museu.

Henschel

Henschel é outra marca de caminhão que você nunca ouviu falar
Modelo da Henschel de 1969
É uma marca alemã, fundada em 1810 e conhecida por fazer locomotivas. Sua sede era na cidade de Kassel, no centro do País. A empresa atuou em diversos setores, incluindo a indústria bélica durante a II Guerra Mundial. Assim como muitas outras empresas alemãs, a Henschel usou mão de obra praticamente escrava com trabalhos forçados dentro de sua fábrica durante a guerra. Talvez por isso a empresa tenha sido quase totalmente destruída por bombardeios.
Henschel é a primeira das marcas de caminhão que você nunca ouviu falar
Henschel é a primeira das marcas de caminhão que você nunca ouviu falar
No pós-guerra a empresa se reestruturou. A divisão de caminhões foi vendida para a Daimler, a mesma do grupo Mercedes-Benz. Porém a empresa não usa mais a marca Henschel desde 1974. Outros setores da companhia passaram por diversas fusões, aquisições e parceiras até ser vendida para a canadense Bombardier em 2002. A planta de Kassel ainda opera até hoje.

Krupp

Os modelos da Krupp fizeram muito sucesso, mas a marca não existe mais
Os modelos da Krupp fizeram muito sucesso, mas a marca não existe mais
Krupp é outra marca alemã que produzia motores, veículos comerciais, caminhões e ônibus. Os veículos começaram a ser fabricados depois da primeira guerra mundial, em 1919, e o último saiu em 1969. Após o fim da fabricação, o grupo Daimler ficou com os concessionários e serviços pós-venda da marca, mas não com a marca em si, que morreu naquele ano.
Modelo Krupp Mustang de 1957
Modelo Krupp Mustang de 1957

Deutz

Caminhões novos da marca você não verá, mas a empresa ainda existe
Caminhões novos da marca você não verá, mas a empresa ainda existe
O logotipo parece foguete né? Mas não é nada disso. A Deutz é outra empresa alemã de motores. Mas a explicação do logo é meio confusa. A Deutz é da cidade de Colônia, norte da Alemanha. Porém na década de 1930 ela comprou a Magirus, empresa de equipamentos para bombeiros de Ulm, cidade no sul do País. Mas parece que a Deutz gostou mais do logo da Magirus que do dela própria e o adotou. O desenho é a torre da catedral da cidade de Ulm com um M de Magirus na base.
Deutz é outra das marcas de caminhão que você nunca ouviu falar, mas ainda dá tempo, já que a empresa ainda existe
Deutz é outra das marcas de caminhão que você nunca ouviu falar, mas ainda dá tempo, já que a empresa ainda existe
A Deutz existe até hoje, atuando também no Brasil com motores voltados ao mercado agrícola. Já a Magirus foi comprada pela Iveco e esse continua sendo o nome de toda a linha voltada para bombeiros da montadora italiana, inclusive aqui no Brasil.

Ernst Grube Werdau

Ernst Grube Werdau é uma das marcas de caminhão que você nunca ouviu falar
Ernst Grube Werdau é uma das marcas de caminhão que você nunca ouviu falar
Mais uma marca alemã, desta vez da cidade de Werdau, centro leste do país. A empresa surgiu em 1898 e fabricou vagões, caminhões, ônibus e trólebus. Mudou de nome várias vezes até 1952, quando adotou a marca em homenagem a Ernst Grube, um político da resistência que foi contra o regime nazista. Ele nasceu na cidade de Werdau e morreu em um campo de concentração em 1945. A empresa era uma estatal e conseguiu sobreviver ao pós-guerra, porém faliu em 2004.

Faun

Faun é uma marca de caminhão que você nunca ouviu falar
Modelo da Faun de 1955
Faun é na verdade uma sigla, o nome real dessa empresa alemã é bem difícil de pronunciar, Fahrzeugfabriken Ansbach und Nürnberg, que quer dizer Fábrica de veículos de Ansbach e Nuremberg, duas cidades da região da Baviera, de onde se originou a fábrica.
Faun é outra das marcas de caminhão que você nunca ouviu falar
Faun é outra das marcas de caminhão que você nunca ouviu falar
Ela foi fundada em 1845, porém a produção de caminhões começou na década de 1930. Originalmente, a Faun era focada em veículos para uso municipal, como coleta de lixo e limpeza de ruas, com o tempo a marca foi se expandindo, mas durante a década de 1960, a concorrência com grandes marcas como MAN e Mercedes-Benz dificultou a vida dos fabricantes menores, por isso a marca encerrou sua produção de caminhões convencionais e ônibus no fim da década. Caminhões especiais foram fabricados para o governo russo da década de 70 até 1990, quando a empresa encerrou de vez a produção de caminhões. No mesmo ano a Faun foi vendida para a japonesa Tadano e hoje seu nome oficial é Tadano Faun GmbH.

Vomag

Vomag é mais uma das marcas de caminhão que você nunca ouviu falar
Vomag é mais uma das marcas de caminhão que você nunca ouviu falar
Com certeza uma das histórias mais cheias de reviravoltas e situações improváveis é a da Vomag, empresa alemã fundada em 1881. A indústria produzia, inicialmente, máquinas de bordar. Em 1902 expandiu seu negócio também para máquinas de impressão. Em 1910 fez a primeira máquina de bordar automática e se tornou um sucesso na Europa. Em 1912 outro sucesso, construindo a primeira impressora offset rotativa. Porém a eclosão da Primeira Guerra Mundial mudou os rumos da empresa.
A partir de 1914 a Vomag começou a construir caminhões com capacidade de carga de 3 toneladas. Essa indústria foi crescendo, assim como a gama de veículos disponíveis. A empresa começou a produzir também artefatos de guerra como granadas, minas e projéteis. Em 1919 a guerra acabou, mas a empresa seguiu em boa fase até a depressão de 1929. Com o mundo em colapso e uma má administração, que rendeu diversos processos por fraude para a empresa, a Vomag abriu falência no começo da década de 1930. No mesmo período o partido de Hitler subiu ao poder e comprou a marca. Ao longo da Segunda Guerra Mundial, a empresa passou a construir também tanques de guerra. Como muitas outras empresas alemãs, a Vomag adotou trabalhos forçados durante o período. O local virou um complexo importante dos nazistas.
Muito provavelmente pela mesma razão, no pós guerra houve uma tentativa de apagar o nome Vomag. A divisão de impressoras saiu do grupo em 1946 e atua até hoje sob o nome Plamag Plauen. O restante foi mudando de nome e de ramo. Hoje a empresa se chama WEMA VOGTLAND Technology GmbH e seu site não traz nenhuma referência a Vomag

Škoda

Škoda é a única de nossa lista que não surgiu na Alemanha
Škoda é a única de nossa lista que não surgiu na Alemanha
Essa daqui não é alemã (logo se vê por esse acento estranho em cima do S). A Škoda é uma empresa da República Checa fundada em 1859. Na época a região ainda fazia parte do Império Austríaco. No começo a empresa fabricava equipamentos de guerra para os militares Austro-Húngaros. Eram locomotivas, navios e outros veículos bélicos. Ela chegou a ser a maior fabricante de produtos bélicos do império antes da Primeira Guerra Mundial, exportando suas armas para Europa e até América Latina.
Depois da I Guerra a empresa começou a expandir sua gama de produtos, não sendo mais exclusivamente uma indústria bélica. Em 1924 ela comprou uma fabricante de automóveis. Os caminhões parecem não ter sido muito importantes para a marca, pois não são lembrados em sua história. Ao longo dos anos a empresa passou por vendas e compras e em 1999 a divisão de carros foi comprada pela Volkswagen e ainda mantém o nome Škoda Autos. Outra divisão, totalmente independente, é a Škoda Transportation, que também segue ativa porém com foco em transporte de passageiros.

Büssing

Büssing é a última de nossa lista de marcas de caminhão que você nunca ouviu falar
Büssing é a última de nossa lista de marcas de caminhão que você nunca ouviu falar
Büssing nos chamou atenção por seu logo parecido com o da MAN, e não é por coincidência. A empresa foi fundada em 1903 por Heinrich Büssing em Braunschweig, centro norte da Alemanha. O primeiro caminhão foi o ZU-550, com motor 2 cilindros a gasolina que levava até 2 toneladas. Nos anos seguintes a capacidade de carga cresceu, até que em 1923 a marca se tornou número um em participação no mercado alemão com o inovador caminhão com três eixos.
Assim como quase todas as outras empresas alemãs que conhecemos até agora, durante a II Guerra Mundial, a Büssing também usou trabalho forçado dos presos em campos de concentração em suas fábricas. A empresa também passou a produzir alguns veículos militares. No pós-guerra a marca lançou modelos cara-chata e teve a MAN como um de seus principais clientes tanto para caminhões quanto para peças. Em 1971 a MAN AG comprou oficialmente a Büssing, passando a se chamar MAN-Büssing e adotando o logo da Büssing, o famoso leão. Com o tempo o nome Büssing foi retirado dos caminhões, mas seu logo de leão é a marca oficial da MAN até hoje.
Büssing de 1953 com o logo de leão que hoje é símbolo dos caminhões MAN
Büssing de 1953 com o logo de leão que hoje é símbolo dos caminhões MAN
Devem existir ainda muitas outras marcas que surgiram e morreram ao longo dos anos, mas que deixaram seus veículos em museus e coleções particulares de amantes de caminhão. Por aqui temos os saudosos e queridos FNMs, que já foram tema de matérias do Pé na Estrada (clique para assistir). Também olhamos vários desses modelas na IAA 2016 e você pode vê-los também clicando aqui. Se você sabe de outras marcas não conhecidas aqui no Brasil mas que fizeram muito sucesso em outros países, mande pra gente. E dessas todas, qual foi a sua preferida? Conte pra gente nos comentários e compartilhe com os amigos do trecho amantes da história do transporte.
Por Paula Toco

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Vovó chinesa de 94 anos protege vizinhos com técnicas de kung Fu

Os vídeos e fotos da nonagenária que protege seus vizinhos e continua participando de lutas locais, se tornaram virais durante os últimos dias.

Apesar de já ter 94 anos, ninguém se atreve a brigar com Zhang Hexian, a avó chinesa que se transformou em uma sensação nas redes sociais do país, graças a suas ágeis e precisas técnicas de kung fu. Os vídeos e fotos desta nonagenária que, segundo a imprensa local, protege seus vizinhos e continua participando de lutas locais, se tornaram virais durante os últimos dias e foram várias as pessoas que expressaram o desejo de serem seus discípulos.
A agência Xinhua publicou nesta segunda-feira uma entrevista com Feng Chuanyin, filho da idosa que vive no município de Ninghai County, na província de Zhejiang, na qual explica que ela pratica artes marciais desde que aos quatro anos seu pai começou a ensiná-la. Feng disse que todos os dias ela se levanta às 5 da manhã, pratica movimentos de kung fu e come macarrão chinês ou sopa de arroz. Desde que seu marido morreu há vários anos cultiva suas hortaliças, corta madeira e cozinha.
“Minha mãe nunca esteve em um hospital e se recupera de resfriados ocasionais após dormir um pouco”, explicou Feng, assegurando que ela não toma nenhum tipo de vitamina ou suplemento. Zhang ensinou a seus filhos, netos e bisnetos esta arte marcial “por razões de saúde e autodefesa”, explicou seu filho, contando que sua mãe lhes diz sempre que “atacar os outros é absolutamente inaceitável”.
Como lembrança de sua vida, Feng conta a história de quando sua mãe encontrou três ladrões em uma montanha e, após lutar e derrubar dois deles, o terceiro fugiu rapidamente do local.

(Com agência EFE)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Governo finaliza plano que libera venda de terras a estrangeiros

A intenção do governo é que o texto seja votado pelo Congresso já após o Carnaval.

O governo trabalha nos últimos detalhes de um projeto de lei para liberar a venda de terras do país a empresas e investidores estrangeiros. O tema, que era considerado fora de questão no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, tem sido tratado diretamente pelo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. A intenção do governo é que o texto seja votado pelo Congresso já após o Carnaval.
A venda de terras a estrangeiros vem provocando polêmicas há algum tempo. Até 1998, uma lei de 1971 permitia que empresas estrangeiras com sede no Brasil comprassem terras no país. Naquele ano, a Advocacia-Geral da União (AGU) interpretou que empresas nacionais e estrangeiras não poderiam ser tratadas de maneira diferente, e, por isso, liberou a compra.
Isso, porém, elevou o temor dos críticos à medida sobre uma “invasão estrangeira” no país, que se acentuou a partir de meados dos anos 2000, com o aumento do apetite chinês por aquisições. Em 2010, por exemplo, o Chongqing Grain Group, da China, anunciou a disposição de aplicar US$ 300 milhões na compra de 100 mil hectares no oeste da Bahia, para produzir soja. Em alguns setores, a crítica era de que negócios desse tipo envolvem o controle de grandes áreas por grupos subordinados à estratégia de uma potência estrangeira, que poderia nem sempre seguir a lógica do Estado brasileiro.
Diante dessa pressão sobre as terras, um novo parecer da AGU, exatamente em 2010, restabeleceu as restrições para esse tipo de propriedade, proibindo que grupos internacionais obtenham o controle de propriedades agrícolas no país. Em 2012, um projeto de lei foi apresentado no Congresso modificando a restrição, mas está com a tramitação parada.
Agora, o deputado Newton Cardoso Júnior (PMDB-MG), relator da nova proposta, já está com uma minuta do projeto de lei em suas mãos. O texto prevê que o investidor estrangeiro poderá comprar até 100 mil hectares de terra (cerca de 1 mil km², ou três vezes a área de uma cidade como Belo Horizonte) para produção, podendo ainda arrendar outros 100 mil hectares. Dessa forma, o investidor internacional teria 200 mil hectares de terra à disposição. Ele acredita que o fim das restrições pode destravar investimentos da ordem de R$ 50 bilhões.
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, no entanto, defende que haja restrições no caso das chamadas “culturas anuais”, como a soja e o milho, dois dos principais produtos de exportação do Brasil.
Cardoso afirma que o projeto de lei não afeta as terras da região amazônica, além de áreas em regiões de fronteira com outros países. Mas a proposta tem sido duramente criticada por organizações socioambientais e entidades de direitos humanos.
(Com Estadão Conteúdo)

Governo Temer: venda de terras a estrangeiros virá acompanhada de reforma agrária.


POR LAURO JARDIM
Givaldo Barbosa
O governo Temer já tem o pulo do gato para afastar qualquer arroubo nacionalista que queira barrar o projeto de lei destinado a liberar a venda de grandes lotes de terras a estrangeiros: vai obrigar quem comprar os lotes a doar 10% da área total para a reforma agrária.
O Planalto avalia que pode, assim, em dois anos, fazer mais pela reforma agrária do que Dilma Rousseff fez em cinco anos. Dilma assentou 140 mil famílias em seu período de governo (FH assentou 540 mil e Lula, 614 mil).  
A venda de terras para estrangeiros está proibida desde 2011, primeiro ano da era Dilma, sob o argumento de "assegurar a soberania nacional em área estratégica da economia e do desenvolvimento".
O projeto de lei que está na Câmara deve será votado ainda este ano.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

“Para os pobres, é dura lex, sed lex. A lei é dura, mas é a lei. Para os ricos, é dura lex, sed latex. A lei é dura, mas estica” *Fernando Sabino

Plenário do STF
Plenário do STF (STF)

Apenas 1% dos réus com foro são condenados, diz levantamento.

De janeiro de 2011 a março de 2016, apenas 5,8% das decisões em inquéritos no Supremo Tribunal Federal tiveram abertura da ação penal.

Levantamento do projeto Supremo em Números, da FGV Direito Rio, mostra que, de janeiro de 2011 a março de 2016, apenas 5,8% das decisões em inquéritos no Supremo Tribunal Federal foram desfavoráveis aos investigados – com a abertura da ação penal. Ainda segundo a pesquisa, o índice de condenação de réus na Corte é inferior a 1%.
No Supremo são julgados políticos – deputados, senadores e ministros de Estado – que detêm foro privilegiado. O tema votou ao debate com a nomeação, pelo presidente Michel Temer, de Moreira Franco como ministro da Secretaria-Geral da Presidência. A nomeação, contestada, teria por objetivo conferir foro a Moreira, citado em delação da Odebrecht, e evitar eventual investigação na primeira instância. Anteontem, o ministro do STF Celso de Mello manteve a nomeação.
No ano passado, a Corte barrou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Casa Civil de Dilma Rousseff. A nomeação do petista – alvo da Lava Jato – também foi questionada na época.
Para o coordenador do Supremo em Números, Ivar Hartmann, na prática, o foro representa uma “vantagem”. “É uma forma de escolher o juiz. Quando Dilma e Temer decidiram nomear Lula e Moreira, optaram por um processo mais longo e com grandes chances de não dar em nada”, disse Hartmann.
No período analisado pelo Supremo em Números, em 404 ações penais, apenas três resultaram em vitória da acusação; em 71 delas o sucesso foi da defesa; 276 prescreveram ou foram enviadas a instâncias inferiores (68% do total); em 34 houve decisões favoráveis em fase de recurso; e 20 permaneceram em segredo de Justiça.
Em relação a inquéritos, foram 987 no mesmo período. Deste total, 57 resultaram em vitória da acusação; em 413 o sucesso foi da defesa; 379 prescreveram ou foram remetidos a instâncias inferiores (38% do total); houve oito decisões favoráveis em fase de recurso e 130 ficaram em segredo de Justiça.
“Existe um princípio básico no Direito de que uma pessoa não pode escolher quem vai julgá-la. Então, esse princípio está sendo violado. A única forma de corrigir esse desvio seria o fim do foro”, afirmou Hartmann.
Moreira Franco
Um dia após manter Moreira Franco ministro, Celso de Mello afirmou nesta quarta-feira, que levará a discussão ao plenário da Corte se houver pedido de recurso dos autores dos mandados de segurança contra a nomeação do peemedebista – os partidos PSOL e Rede. O PSOL já informou que vai recorrer.
(com  Estadão Conteúdo)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

José Nêumanne: Na casa de Noca



O facínora de faroeste anistia-se a si mesmo e o coco de Mussolini troca carnificina na rua por champanhota na chalana.

O facínora de faroeste anistia-se a si mesmo e o coco de Mussolini troca carnificina na rua por champanhota na chalana.

“Eu quero dizer que é constitucional a figura da anistia, qualquer que ela seja”, disse o mais novo Ruy Barbosa da praça. Trocando em miúdos essa frase cretina, pode-se chegar à conclusão de que, se todos os autores de crimes hediondos forem anistiados por uma benemerência de seus coleguinhas parlamentares, a decisão será fiel à Constituição da República? Não o leve a mal, caro leitor. O entrevistado de sábado no Estadão quer apenas anistiar os partidos políticos que cometerem crimes fiscais em campanhas eleitorais. “Delação só deve ser admitida com delator solto”. Será que o distinto cavalheiro, que, por enquanto, está solto, se candidata à delação? Qual o quê! Quer apenas desmoralizar delações de criminosos confessos presos para livrar-se das acusações que pesam sobre seus ombros. A que a Operação Lava Jato poderá levar o Brasil, se não for contida sua natureza de “inquérito universal”? A resposta do distinto foi magnânima: “Não acho que deva ser extinta, mas conduzir ao ponto que (sic) estamos chegando da criminalização da vida pública, é o que nos envia para a tirania”. Ou seja, como já disse o padim Lula, político corrupto que ganha eleição deveria gozar de impunidade. E Papai Sarney fez tanto pelo Brasil que não deveria participar dessa tolice de igualdade de todos perante a lei. Com direito a estender a prerrogativa a seus apaniguados?

O autor dessas frases lapidares (são verdadeiras pedradas!) não tem autoridade nenhuma para proferi-las. Mas tem poder. Ah, isso, tem, sim! Pode crer, preclaro leitor. O cidadão chama-se Edison Lobão, tem 81 anos e é maranhense de Mirador. Adquiriu o conhecimento jurídico com que nos tenta impingir as pérolas reproduzidas no Estadão de sábado em entrevista que deu a Julia Lindner e Caio Junqueira, quando era jornalista (medíocre) de província ou carregando pasta de José Sarney, mercê de quem foi governador do Maranhão de 1991 a 1994, é senador e fez o filho suplente e também titular, enquanto era ministro de Minas e Energia (de 21 de janeiro de 2008 a 31 de março de 2010), no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, depois, durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. No Senado, atuou no chamado “baixo clero” e, no Ministério, desempenhou o papel atribuído pela sabedoria popular a quadro de Cristo em prostíbulo: “a tudo assiste e nada fala”. Pois, sob sua carantonha de facínora de faroeste passou despercebido o maior escândalo de corrupção da História da humanidade: o propinoduto da Petrobrás. Por conta dessa distração, coitado, é investigado pela Polícia Federal (PF) e pela força-tarefa da Operação Lava Jato. É que é acusado de prática de corrupção passiva por delatores premiados, alguns dos quais, por sinal, estão soltos. Embora cumpram pena no conforto do lar, sem carregar as bolotas de ferro dos Irmãos Metralha de Walt Disney, mas tornozeleiras bem menos incômodas. Justiça seja feita a Lobão: ele não podia perceber a roubalheira da Petrobrás mesmo, pois, afinal, ocupava-se em não deixar pedra sobre pedra do setor mineral e energético nacional. Nisso, aliás, funcionou com perícia e astúcia.

O poder fica por conta do grupo do PMDB que, sob a liderança de Renan Calheiros, dá as ordens no Senado da República. A ponto de fazê-lo presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), com prerrogativa de pautar projetos que só serão votados em plenário após passarem por seu crivo. Seu saber jurídico, adquirido na condição de suspeito e acusado, determinará o destino de projetos dos sonhos dele e de mais uma dezena de coleguinhas que frequentam a referida comissão. Tais como a anistia para caixa 2 de partidos e políticos que desconhecem as leis fiscais que as instituições a que pertencem aprovaram por maioria, e o destino dos investigadores que, por ironia do destino, pisam nos seus calos.

A fotografia de André Dusek que ilustra a entrevista do indigitado Grão-Senhor do Norte poderia ser reproduzida e emoldurada na parede da CCJ e também servir de símbolo para a Casa de Noca na qual todos moramos neste país, cuja bandeira clama por “ordem e progresso”, mas onde os políticos preferem anistia só pra eles e instituições policiais e judiciárias amordaçadas e algemadas. Não se trata de uma exclusividade do Poder Legislativo, que tem a agravante de se dizer “representante da cidadania”. No Executivo, chefiado por jurista celebrado, o constitucionalista Michel Miguel Elias Lulia Temer, professor da PUC-SP, exerce-se a mesma caradura com idêntica sem-cerimônia.

Durante nove dias, 147 pessoas (os dados não são oficiais, ou seja, o Estado não os conhece, mas do Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo) morreram na Grande Vitória, desde que as esposas dos policiais militares, reivindicando aumento dos salários dos provedores de seus lares, passaram a ocupar calçadas à frente dos quartéis da PM para evitar que seus consortes saíssem para trabalhar. Desde então, a população capixaba teve interrompidas atividades comezinhas, como frequentar escolas, andar em transporte público e fazer compras. Nesse ínterim, Sua Excelência o constitucionalista-mor se preocupa em censurar veículos de comunicação que noticiam chantagem de hackers que invadiram a intimidade do WhatsApp da primeira-dama, Marcela Temer. E, principalmente, em liberar da enfadonha rotina do serviço o titular do Ministério da Justiça, o também constitucionalista Alexandre de Moraes, para simular sabatina na CCJ do compadre Lobão em madrugadas regadas à “champanhota” de Ibrahim Sued em luxuosas chalanas a deslizarem na superfície do Lago Paranoá.

O excelentíssimo causídico, com seu glabro crâneo à Mussolini, portanto, licenciou-se do cargo e não teve de viajar para cuidar da vida em risco de quem mora em Vitória ou das famílias de cariocas que tentaram assistir ao clássico entre Flamengo e Botafogo no Estádio Nilton Santos, no subúrbio do Rio, domingo à noitinha. Oito torcedores foram baleados (um morreu, outro está em estado gravíssimo) à porta do Engenhão, porque a polícia só foi para as redondezas da praça de esportes depois que o sol sumiu no horizonte e as praias não exigiam mais sua presença.

No lugar do ilustrado Cuca Lustrada, foi a Vitória, em nome do governo, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, que falou grosso, mas nada resolveu. O professor de Direito Modesto Carvalhosa até hoje não entendeu por que tantos constitucionalistas não percebem que, em vez de patrulhar ruas ou transportar meganhas de helicóptero para seus quartéis, o Exército, por ordem do comandante-chefe, poderia ocupar os quartéis, prender os amotinados e assumir o comando da situação. Acrescento que os praças poderiam aproveitar a viagem e retirar, se necessário for no colo, da frente dos portões as senhoras desocupadas que protagonizam um espetáculo grotesco e injustificável, que de tão mambembe nem sequer pode ser comparado ao circo, nobre atividade artística em que brilham bons e honestos palhaços profissionais e temerários e ágeis trapezistas.

Aliás, por falar em espetáculo, o que fazia o casal em prisão domiciliar portando tornozeleiras João Santana e Mônica Moura na noite de sábado no show dos Novos Baianos na concha acústica do Tca, em Salvador? Será que a PF soteropolitana, responsável por seu isolamento da sociedade, estava cuidando de exigir do presidente a substituição do chefe, num dos maiores acintes corporativistas desde que o primeiro ministério, o da Justiça sem Cidadania nem Segurança Pública, foi criado?

Santo Deus! No fim deste conto de terror, o Lobão Mau vai matar o caçador antes que ele retire a vovozinha de sua pança empazinada?